Capítulo dez
Aquela manhã o alarme soou bem cedo, fazendo as presidiárias reclamarem em suas camas. Naquele dia teriam a modalidade de esportes e, para as que fossem praticar, teriam que ir se alimentar mais cedo.
Chaeyoung se levantou e saiu da cela sem dizer nada, o que Mina já estava ficando acostumada, afinal nas últimas quatro manhãs havia sido exatamente assim.
Ela sabia que, eventualmente, Chaeyoung acabaria tendo que falar com ela, igual fez nos dias anteriores nos horários das refeições. Ela havia mentido também, deveria então sustentar o que disse e seguir se acercando à maior
Mina dizia para si mesma que não ficaria correndo atrás igual na primeira manhã onde havia compartilhado a cela com Chaeyoung. A menor se mostrou inflexível e fria, o que em realidade incomodou muito Mina e, por esta razão, acabou percebendo que Chaeyoung, de um jeito ou de outro, sempre se aproximava.
— Bom dia! — Nay disse assim que Mina se sentou em sua frente e bocejou. — Vejo que dividir a cela com sua namorada está te deixando exausta.
— Sim, claro. — Mentiu. Seu forte sono se devia à noite insone que teve graças a uma mulher da cela ao lado, que roncava incrivelmente alto.
— Aí vem ela. — Nay disse, soltando seu ronco junto com sua risadinha graciosa.
— Ela quem?
— Bom dia de novo, princesa. — Chaeyoung sussurrou, se sentando ao seu lado com uma perna para cada lado do banco, antes de deixar um demorado beijo em seu rosto. Mina se conteve para não revirar os olhos.
De novo? Ela sequer havia desejado um bom dia para ela.
— Bom dia! — Mina respondeu, mordendo sua maçã.
— Ficará no meu time, não é? — Chaeyoung perguntou e Mina a olhou confusa. — Você é nova e sempre uma ficava de fora, agora que você chegou poderia ficar no meu time de futebol.
— Eu odeio futebol, Chaeyoung. — Mina reclamou e Chaeyoung suspirou.
— Por favor... — Ela insistiu, distribuindo beijos ao longo do pescoço de Mina. O olhar de Mina foi para a policial Younggi, que sequer se importou daquela troca de carícias ali.
— Não faça isso. Estamos em público. — Mina falou, fitando-a intensamente e Nay riu.
— Não se preocupem por mim. — A ruiva respondeu, roncando mais uma vez. — Vou ir me juntar à minha mulher.
— Nay, não prec...
— Muito gentil de sua parte. — Chaeyoung cortou Mina, que a fuzilou com os olhos. A ruiva sorriu antes de pegar sua bandeja e se afastar. — Parece um porquinho, mas é fofo. — Chaeyoung disse sorrindo e Mina suspirou.
— Poderia parar de me beijar daquele jeito? — Mina perguntou e Chaeyoung arqueou uma sobrancelha.
— Não é como se eu fizesse porque gosto. Precisamos disfarçar. — Chaeyoung disse friamente e Mina fitou sua bandeja. — Vai ficar no meu time?
— Tenho outra escolha? — Mina perguntou e Chaeyoung sorriu.
— Tem. O time de Bora. — Mina a olhou surpresa e a menor sorriu vitoriosa.
— Está bem, ficarei no seu time.
— Foi o que pensei. — Chaeyoung falou, se virando para frente e começando a comer. O silêncio se instaurou entre elas, até Mina resolver falar algo.
— Por que não quer ser minha amiga?
— Costumo conversar mais com pessoas que fazem algo útil neste lugar. — Chaeyoung disse secamente e Mina se calou. Estava irritada demais, pela ausência do sono, para aguentar desaforos da menor e, como tinha a plena ciência de que ela estava sendo ajudada a troco de nada, preferiu se calar.
O fato de Chaeyoung ser extremamente carinhosa com ela perto dos outros e o completo oposto quando estavam sozinhas a molestava também, mas melhor do que ser estuprada, não?
O horário do jogo chegou e ela caminhou calada até o campo. Ficou no time verde com Chaeyoung, o que gerou olhares faiscantes de Bora. Mina era terrível no jogo, mas ninguém jamais reclamava de sua falta de habilidade, afinal era a "mulher" de Chaeyoung e todas respeitavam demais.
— Falta! — A juíza, que era outra presidiária, gritou, ao ver Bora dar um carrinho em Scar. Mina, ao ver a garota reclamar de dor, correu em sua direção e viu que de alguma forma Scar sangrava intensamente no tornozelo.
Ela rasgou o tecido da calça da garota e cuidadosamente deu a volta com o pano na região, tratando de estancar o sangue.
— Não se mova! — Ela disse ao ver a garota tentar se levantar. — Mantenha sua mão pressionando o lugar sem usar força, coloque apenas pressão, porque se quebrou algo, a força vai machucar.
— Desde quando é médica, Myoui? — Chaeyoung perguntou cruzando seus braços.
— Não sou e não entendo nada, mas tive algumas experiências na minha adolescência com a minha... — Ela parou sua frase e se levantou. — Com alguém próximo.
— Bom trabalho, Myoui. — A médica do presídio disse ao se aproximar de Scar. Mina assentiu e se aproximou de Chaeyoung.
— Útil o suficiente agora, Son? — Mina provocou e Chaeyoung até tentou, mas foi inevitável rir.
— Está brincando? Um laço com um pedaço de calça rasgada? Qualquer um faria. — Chaeyoung disse e Mina semicerrou os olhos.
— Eu acho que você gosta da minha campainha e está se fazendo de chata. — Mina disse sorrindo e Chaeyoung arqueou uma sobrancelha.
— E em qual parte de nossas conversas frias você deduziu isso?
— Na parte onde você me ajuda sem pedir nada em troca. — Mina disse se aproximando mais dela.
— Talvez eu só tenha um bom coração.
— Às vezes você sorri ou ri de algo que eu digo.
— Às vezes eu posso estar de bom humor.
— Acho que estou com fome. — Mina disse aleatoriamente, esperando pela reação de Chaeyoung para comprovar sua teoria.
— Tenho algumas bobeiras em nossa cela. Vamos, você mal comeu no café da manhã. — Chaeyoung falou e Mina sorriu vitoriosa.
— A-há! Viu só? Até se preocupa comigo.
— Alucinando desse jeito eu deveria me preocupar mesmo. — Chaeyoung disse e Mina soltou uma risada nasalada.
— Por alguma razão você se importa comigo, Son. — Mina disse se aproximando ainda mais. — E eu vou descobrir o porquê.
— O que está fazendo? — Chaeyoung perguntou friamente ao ver Mina sorrir e enlaçar os braços em sua cintura.
— Temos que disfarçar. Foi você que disse, se lembra? — Mina perguntou e Chaeyoung arqueou uma sobrancelha.
— Está tentando fazer com que eu me contradiga? — Mina mordeu o lábio inferior de forma atentada e riu.
— Eu não. Só estou te abraçando. — Ela replicou plenamente e Chaeyoung negou com a cabeça.
— Myoui! — A voz da médica soou e a maior a fitou, ainda abraçada à Chaeyoung. — Ainda não nos apresentamos. Sou a doutora Ko Heejin. — Falou, estendendo a mão para Mina, que só soltou de Chaeyoung para apertar sua mão antes de voltar a abraçar a menor. — Você leva jeito com isso. Se quiser ajudar na enfermaria eu ficaria agradecida e em sua ficha ainda constaria isso. Pode ajudar a diminuir sua pena. — Chaeyoung cravou o olhar na morena de cabelos lisos e corpo curvilíneo.
— Minha pena não pode ser reduzida, mas eu ficaria feliz em ajudar.
— Ótimo, te espero esta tarde?
— Qualquer horário? — Mina perguntou confusa.
— Qualquer horário, depois disso podemos discutir o que mais te agrada. — Mina assentiu e a mulher se despediu cordialmente antes de se retirar.
— Acho que o jogo acabou. Melhor irmos para a cela. — Chaeyoung disse se desvencilhando da maior, que assentiu, seguindo-a.
— Espere! — Mina disse, correndo para chegar ao seu lado e entrelaçar seus dedos nos de Chaeyoung. A menor bufou e apressou o passo.
Ali ela percebeu que, de algum modo, seu toque surtia efeito em Son. Ela só precisava descobrir se era de uma forma positiva ou negativa.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top