Capítulo cinquenta e um

— Pa-ra. — Mina, que já estava vestida e pronta, parou na porta do quarto onde Chaeyoung estava com Mia ao ouvir Chaeyoung falando.

— Paa-laa. — A garotinha repetiu com muito esforço, tendo o riso suave de Chaeyoung como resposta.

— Pa-ra. Rrra-ra. — Deu ênfase no erre que não saía da criança, ouvindo um suspiro em resposta.

— Eu não sei. Cansei. — Mia disse, fazendo Mina rir internamente e se encostar na parede do lado de fora. — Não consigo e você vai ficar brava.

— Hey, não seja impaciente, tudo bem? — Chaeyoung disse e Mina espiou pela brecha da porta a menor agachada no chão enquanto penteava os cabelos da garota que estava sentada sobre a cama. — Nenhuma semente vira árvore da noite para o dia. — Avisou brandamente. — Você planta uma semente e com cuidado diário e muita paciência ela cresce e vira uma linda árvore, não de repente.

— Eu sou igual uma árvore? — A criança perguntou e Chaeyoung sorriu amplamente, fazendo Mina cruzar os braços esperando pela resposta da menor.

— Todos nós somos como uma árvore em crescimento. — Chaeyoung disse. — Por isso temos que tratar todos com muito carinho e nunca falar coisas feias para as pessoas. — Ela disse terminando de arrumar o cabelo da garota e deixando a escova sobre a cama antes de puxá-la para perto e plantar um beijo em sua testa. — Palavras feias podem machucar as pessoas e, bem, seria o mesmo que arrancar várias folhas de uma linda árvore enquanto ela floresce.

— Então... Eu preciso aprender devagar e você precisa ter muita calma, está bem? — Mia perguntou. — Para não machucar as minhas folhas. — Mina suspirou bobamente com um sorriso encantado nos lábios ao ver Chaeyoung conversar pacientemente com sua sobrinha.

— Eu jamais machucaria as suas folhas. — Chaeyoung disse, se levantando.

— Nem as da titia? — Chaeyoung negou com a cabeça, estendendo uma mão para a criança, que segurou a mesma e ficou em pé na cama, rindo quando Chaeyoung a levantou e a embalou em seus braços para morder de leve sua barriga.

— Nem as da sua tia. — Replicou docemente conforme ria. — Agora vamos lá porque você tem que começar com a pré-escola e eu preciso ir nessa entrevista agora.

— Se você conseguir esse emprego me compra um sorvete? — Mia perguntou e Chaeyoung assentiu.

— Compro, mas você precisa continuar praticando o seu erre. Nada de desistir fácil, uh?

— Combinado. — Mia disse abraçando Chaeyoung e fazendo uma careta ao ver Mina do lado de fora da porta. — Hey, a titia está escutando escondido. Deve ficar de castigo. — Alertou a Chaeyoung, que virou sua cabeça apenas para ver Mina rir com a expressão culpada antes de entrar no quarto com as mãos para o alto.

— Tudo bem, vocês me descobriram. — Falou rindo, soltando um gritinho agudo ao sentir um braço de Chaeyoung a puxar para si.

— Se queria dividir o abraço era só falar, não precisava ficar ouvindo nossos segredos. — Chaeyoung disse para sua namorada, que então sorriu.

— Eu vim te avisar que você vai se atrasar, mas esperei terminarem a conversa de vocês. Parecia importante. — Disse sinceramente.

— Certo. — Chaeyoung disse, deixando um beijo no rosto de Mia antes de colocá-la no chão.

— Leva um casaco porque está frio e leva dinheiro para comer algo caso você demore. — Mina disse e Chaeyoung riu.

— Tudo bem. — Chaeyoung respondeu. — Não esquece que precisamos ir ao mercado comprar comida de verdade. Você gasta uma fortuna com comida por encomenda e cozinhar te faria economizar mais de trezentos por cento.

— Mas eu terei que cozinhar. Não vejo vantagem. — Mina disse sinceramente, fazendo Chaeyoung rir alto.

— Eu cozinho, sua preguiçosa. — Sussurrou, dando um rápido selinho em Mina antes de pegar suas coisas.

— Heey, que fique claro que não é preguiça de cozinhar. — Mina falou enquanto seguia Chaeyoung até a porta. — É preguiça de aprender a cozinhar.

— Não deixa de ser preguiça. — Falou nervosamente ao pisar do lado de fora do apartamento.

— Vai correr tudo bem, não precisa ficar nervosa. — Mina falou e logo cessou o riso ao ver Chaeyoung agitada. — Você é a melhor e vai arrasar nessa entrevista. — Completou, puxando uma última vez a garota para um selinho antes de ajeitar sua roupa. — Boa sorte, amor. Agora chute o traseiro dos outros, porque essa vaga já é sua.

— Obrigada, Minari. Vou voltar com esse emprego. — Ela disse respirando fundo. Mina sorriu e assentiu.

— Assim que se fala. — Mina alentou e Chaeyoung sorriu.

— Nos vemos mais tarde.

— Até lá. — A maior disse, vendo Chaeyoung mandar um beijo no ar e se afastar.

— Você também não pode machucar as folhas da tia Chaeyoung, está bem? — Mina se assustou ao ver que Mia também a havia seguido até ali.

— Ah não? — Ela perguntou fechando a porta. — E por quê?

— Eu gosto dela. — A garotinha disse baixinho, como se fosse um segredo. — Ela é boa.

— Não vou machucar as folhas dela. Minha meta é juntarmos nossas raízes para fortalecer nossas árvores, que tal isso?

— Eu gostei. — Mia disse feliz. — Eu gosto de viver com a Chaeyoung e com você. Tomara que dure para sempre.

— Bem, eu também espero. — Disse sorrindo.

— Agora vamos lá porque eu tenho que te levar para a pré-escola. — Falou, sorrindo ao ver o carinho que sua sobrinha já tinha por Chaeyoung em tão pouco tempo. Bem, realmente não tinha como não se encarinhar por Chaeyoung uma vez que ela era sempre tão maravilhosa.

[...]

— Eu adorei a senhorita. — O homem disse sorridente, fazendo o sorriso de Chaeyoung se ampliar. — Comunicativa, decidida, espontânea. Tem o perfil que eu busco para uma verdadeira vendedora.

— Eu realmente agradeço o elogio. — Chaeyoung disse, vendo o homem se levantar do outro lado da mesa e sorrir.

— Só espere um minuto... — Disse, vendo a garota assentir.

A garota respirou fundo e sorriu sozinha. Havia ido muito bem em sua entrevista e ela tinha certeza de que aquilo ali era a vida lhe dando uma segunda chance. Seus olhos castanhos viram o homem caminhar até o computador no final da sala e esperou pacientemente.

O homem, que se via encantado por Chaeyoung, viu uma vendedora em potencial para sua loja. Foi com um enorme sorriso que ele digitou os dados dela no sistema, fazendo seu sorriso murchar na mesma hora. Ele piscou lentamente antes de pigarrear e caminhar até ela novamente.

— Bem, senhorita Son... — Ele começou levemente incomodado pela situação. — Eu estava verificando seus antecedentes e vi que, bem... Você não se encaixa no perfil da empresa. Sinto muito! — O sorriso de Chaeyoung morreu no mesmo momento. A garota piscou lentamente por alguns segundos, tratando de processar as informações que acabara de receber.

— Mas você acabou de me dizer que eu tenho o perfil para...

— Sinto muito. — Ele repetiu sorrindo fraco, não a permitindo terminar sua frase. Ela negou levemente atônita e o fitou indignada.

— Você sabia que não contratar alguém por preconceito não é algo muito honrado, não é? — Ela perguntou sentindo-se decepcionada.

— Eu não havia notado que a vaga foi preenchida. Um grande equívoco de minha parte. — Falou falsamente. Chaeyoung trincou a mandíbula e respirou fundo, assentindo.

— Claro. — Ela disse, se levantando no momento seguinte.

— Mas boa sorte. Tenho certeza de que conseguirá algo rápido. — Ele disse e ela assentiu, pegando sua pasta sobre a mesa e ajeitando seu cabelo. — A saída é logo ali.

— Conheço o caminho. — Ela disse sorrindo fraco. — Obrigada por me receber, de qualquer forma. Com licença. — Falou cordialmente, se afastando dali em total silêncio.

Ao pisar do lado de fora do local ela sentiu seu estômago se comprimir em seu interior. Por alguma razão ela havia se sentido humilhada naquela situação. Ao que parece, seu passado não a abandonaria tão cedo e o pior de tudo, como olharia na cara de Mina após ter sido rejeitada por algo que disse que conseguiria?

A realidade lhe atingiu em cheio: Tudo o que falara na prisão para Mina sobre não ser ninguém era a mais pura e sincera verdade. Ela era uma ninguém. Não prestava nem para arranjar um emprego.

Sentiu-se estranhamente deprimida, porém espantou os maus pensamentos. Ela não desistiria de arranjar um emprego, precisava pagar Mina, um sorvete para Mia e seguir o conselho que deu a Mia sobre não desistir fácil.

Ao refletir bem, decidiu colocar um sorriso falso em seu rosto e voltar para suas garotas, contudo, antes precisaria chorar seu fracasso sozinha.

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