AMOR 02
Amor: quando você deseja a outra pessoa, sente um afeto e carinho por alguém em especial.
Era assim que Julieta Mancini sentiu aos doze anos, quando Carlo Barbieri pegou sua caneta rosa que caiu no chão, os fios de cabelo loiros reluzentes, a pele clara como as nuvens do céu e os olhos tão azuis que poderia se afogar naquele oceano. Ela lembra perfeitamente a sua fala.
— Uma dama como a senhorita não deveria se abaixar para pegar esse objeto fútil.
Logo em seguida ele sorriu galanteador, a garota suspirou fundo, sentiu sua mão suar e o coração palpitar tão rapidamente que parecia que ele ia parar de vez em algum momento.
Nesse dia, correu pelos corredores da enorme escola tão desesperada que quando chegou ao carro onde o motorista estava, ele lhe perguntou se havia corrido uma maratona porque suas bochechas com sardas estavam tão rosadas, e ela apenas respondeu que precisava conversar com a mãe, mas o que ela não sabia era que naquele dia que começou com um sentimento confuso resultaria em uma punição severa.
Quando chegou na residência com os cabelos ruivos bagunçados, e o uniforme molhado de suor recebeu um olhar severo de Giorgia Mancini. Mas Julieta não se importou porque precisava urgente comentar sobre o que havia acontecido consigo dentro da sala de aula.
— Mamãe, acho que talvez possa estar doente. — relatou sentando-se no sofá branco batendo os pés um no outro.
— Querida, porque não disse logo. — A mulher verificou sua testa para encontrar um possível resquício de febre. — O que está sentindo? — indagou segurando sua mão suada.
— Quando Carlo Barbieri devolveu minha caneta e sorriu, senti meu coração bater tão rápido. — respondeu, e olhar de espanto no rosto da Mancini mais velha era nítido.
— Ah! Isso se chama amor. — ela sorriu para a filha.
— É ruim? — perguntou preocupada.
— Não, querida. Pelo contrário, é maravilhoso. — passou a mão pela longa extensão do cabelo ruivo da garota. — Eu já me senti assim, a anos atrás. — sorriu triste e os olhos lacrimejados.
Naquela noite, Julieta soube que sua mãe estava errada, porque Tommaso Mancini apareceu quando ela estava já preparada para dormir, esperando apenas o seu "boa noite" que nunca recebeu porque o homem estava furioso, quando Giorgia lhe contou que sua amada filha estava apaixonando-se pela primeira vez.
— Julieta, sua mãe me informou que está sentindo interesse por um garoto. — pronunciou com a voz alterada.
A menina ajeitou a postura e encarou o olhar frio de seu pai sobre si.
— Estou amando, papai. — sorriu inocente. — Isso não é bom? — indagou animada esperando pela mesma resposta que recebeu de sua mãe mais cedo.
— Não, é horrível! Nós Mancini não amamos ou possuímos qualquer outro sentimento parecido como esse. — respondeu furioso quase aos berros.
Julieta se assustou com o pai, nunca tinha presenciado ele tão irado como estava agora. Apesar de já o ter visto bravo, mas não chegava aos pés da fúria que sentia naquele momento.
— Mamãe falou que era bom. — retrucou.
— Ela está louca! — Gritou andando de um lado para o outro. — Escute bem, vou repetir apenas uma vez, você não pode sentir isso por ninguém, eles não são dignos da sua fraqueza. — apontou o dedo em seu rosto, ele estava próximo do seu corpo minúsculo em comparação ao seu.
— Eu gostei de sentir isso, papai. — falou baixinho e se encolheu.
— Não! Você não gostou.
A garota sentiu um ardor em seu rosto, como estivesse queimando, observou a mão de Tommaso Mancini próximo ao local, as lágrimas brotaram em seus olhos pela dor que aquele tapa havia deixado, mas não era apenas isso, ela havia visto como seu pai poderia ser cruel. O homem saiu logo em seguida, a deixando sozinha no escuro, afogando-se com seu choro a noite inteira.
Porém o que marcou aquela noite não foi apenas a agressão contra si, mas os gritos altos de Giorgia Mancini, porque o marido também lhe agrediu, Julieta não entendeu no momento, apesar de ficar aterrorizada com os barulhos altos e também perguntar diversas a sua mãe o que era aqueles roxos no seu braço no outro dia.
Seu pai nunca lhe pediu desculpa, não havia nenhum resquício de culpa, depois de uma semana voltou a tratá-la normalmente como uma filha amada.
A segunda vez que Julieta Mancini sentiu novamente seu coração acelerar e um queimor pelo seu corpo, foi aos quinze anos, conversava todos os dias com o garoto, sempre trocando afeto, como abraços fortes, carinho nos fios de cabelo e beijos inocentes na bochecha. Quando Pier Rossi a convidou para ser o seu par com um buquê de flores vermelhas, ela aceitou porque seu pai concordou que a garota poderia ir, porque seria bom para os negócios, Stefano Rossi, pai de Pier possuía uma empresa de advogados renomados em Milão, e Tommaso Mancini precisava de aliados desse porte. Mas ele fizera ela prometer que não deixaria que aquilo passasse apenas de uma noite de diversão, e repetiu as mesmas palavras daquela noite terrível, "Os Mancini não amam", e ela tentou colocar aquilo na cabeça, porém era impossível quando estava ao lado de Pier.
O garoto possuía uma pele negra brilhosa, com os cabelos cacheados e era cortado no estilo undercut, e os olhos marrons intensos que apenas de olhar-lo por muito tempo ela sentia seu corpo arder e suar de tão quente que estava.
Na noite do baile, eles dançaram a noite inteira, ao som de músicas clássicas, já que a escola não permitia outro estilo, mas ela não se importava com isso, porque bastava apenas estar aos braços do garoto que parecia que tudo ao redor deles sumia.
— Você é tão bonita, que é provável que o sol tenha inveja. — ele comentou provocando uma gargalhada da garota.
— Eu gosto do seu jeito brincalhão. — comentou enquanto passava a mão pelo terno preto do rapaz.
— Pensava que diria não logo de início, por causa de seu pai, ele é bastante rígido consigo, mas fiquei surpreso por ele concordar com tudo isso. — sorriu.
Ela retribuiu com um sorriso falso, porque sabia de todo o plano de Tommaso por detrás deste convite.
— Você sente sua mão suar o tempo todo e parece que desaprendeu a respirar? Porque eu sinto toda vez que estou ao seu lado. — indagou mordendo os lábios e encarando o chão.
— Eu sinto mais do que isso, meu corpo parece que vai entrar em combustão quando toco no seu. — ele respondeu a puxando mais para si, até que ficaram colados.
Delicadamente ele levantou seu rosto com o dedo indicador para que Julieta voltasse a lhe encarar, aproximou-se lentamente de seus lábios até o tocarem. Naquele momento, ela sentiu que poderia estar nos céus com maciez dos lábios de Pier, a calmaria que eles movimentavam a boca, fazendo com que durasse mais, ela não poderia dizer que tivera uma noite mais extraordinária que aquela, mas novamente ela estava errada, porque também ela se tornou um pesadelo.
Ao chegar em casa, notou um silêncio incomum no local, as luzes apagadas e apenas a da cozinha que estava acesa, caminhou até o local sem pressa alguma. E quando chegou notou Tommaso Mancini com um copo cheio de whisky, ele a encarou com fúria exatamente igual na mesma noite em que ele bateu em seu rosto, ela estremeceu com sua presença porque tinha medo do que vinha logo a seguir.
— Vejo que se divertiu muito hoje a noite. — bebeu um gole de sua bebida.
Julieta aproximou-se mais do homem, talvez pudesse mentir sobre os relatos sobre o baile.
— Sim, papai. Estive em ótimas companhias. — comentou breve.
Ele riu amargo.
— Qual o ponto alto de sua noite? — indagou a encarando com os olhos vermelhos.
— Nenhum, apenas passei a noite dançando. — respondeu sem transparecer que estava mentindo.
— Não acredito! — Levantou da cadeira furioso. — Além de fazer a única coisa que impus para sair com Pier Rossi, ainda está mentindo na minha casa e na minha presença. — berrou e se aproximou de seu corpo.
— Não sei do que está falando, papai. — rebateu, e colou suas costas na parede.
— Olhe para você, está apaixonada por ele. Quantas vezes precisarei repetir? Você nunca poderá deixar que esse sentimento floresça, não enquanto eu estiver vivo. — passou a mão pelo cabelo descontrolado.
— Não entendo o porque, eu gostei de beijar ele. — gritou enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Aquelas últimas palavras foram fatais para o que viria logo a seguir. Tommaso puxou o cinto de sua calça, e não se importou em olhar em qual direção o acessório iria contra o corpo de sua filha, que foi exatamente na sua perna direita. Foram incontáveis vezes que ele a agrediu, enquanto proferia palavras de baixo calão, e repetindo que ela não sentia aquilo, porque era uma Mancini. Ele parou quando ouviu o choro que antes era alto se tornar cada vez mais fraco porque Julieta não tinha mais forças.
O homem a encarou encolhida no chão, sem importar-se com o que aconteceria com ela naquele resto de noite, subiu para seu escritório. A garota ficou minutos agachada deixando que a dor a consumisse por inteiro, o cinto havia deixado diversas marcas em todo seu corpo, se lembra de apenas quando Giorgia Mancini, a abraçou, lhe conduziu até o quarto e a fez dormir. Mas o que sempre passou na cabeça de Julieta era como seu pai havia descoberto? A resposta era simples, Francesco tinha visto tudo, quando fez questão de dizer que ficaria de olho nela a noite inteira para Tommaso.
A última vez em que Julieta Mancini amou, ocorreu aos dezoito anos, recente para sua idade atual de vinte um, ela ainda se lembra como hoje o sabor dos doces lábios de Mario Greco. Um amor de verão, que aconteceu quando foi para Verona, um verdadeiro clichê.
Andrea Romano convenceu sua família que você precisa de férias longe de Milão antes de começar a universidade de moda, o que ao citar apenas isso deixava Tommaso frustrado, porque o futuro que havia planejado não existia milhões de papéis rabiscados com vestidos espalhados por toda sua mansão, mas sim papéis sobre notícias do mundo político com sua filha estudando ciências política.
Assim que chegaram na cidade, foram ao um restaurante que ficava em frente rio Adige, conheceu Mario exatamente ali, ele era um garçom daquele local, e na primeira vez que ela o viu sentiu seu corpo vibrar com aqueles olhos castanhos claros. Possuía um corpo musculoso, com os cabelos castanhos que iam até o comprimento dos ombros.
Eles conversaram naquela noite enquanto ele a acompanhava de volta para o hotel que estava hospedada, porque Andrea havia saído horas antes dizendo que precisava de diversão, a deixando sozinha. Ao concluir aquela noite, Mario prometeu que viria cedo no outro dia para passearem por Verona. E assim ocorreu, ás oito da manhã, ele estava na sua porta batendo para que pudessem sair.
Durante todos os quinze dias que passou ali, o homem a levou nos pontos turísticos: a arena, catedral gótica, igreja românica de São Zeno, Castel Vecchio, ponte Scaligero e local que marcou toda aquela experiência, a casa de Julieta, onde eles se beijaram debaixo da estátua da jovem e assim passaram os últimos dias, se beijando e eternizando as memórias que criaram.
Ele dizia que seria o seu Romeu, e no final, não foi, porque no mesmo dia em que ela precisava voltar, a Mancini terminou com tudo, porque seu corpo ainda lembrava-se das dores que as chicotadas daquela noite, não queria passar por isso de novo ou então até pior, ela aceitou de fato até hoje que não poderia amar, que ali em Verona havia sido sua despedida a todas aqueles turbilhões de emoções que sentia quando se apaixonava por alguém. Naquela noite derramou lágrimas com saudades dos beijos de Mario Greco, porque nunca mais o veria.
Julieta Mancini determinou que nunca mais haveria outra pessoa, estava destinada a não ser uma fraca, assim como todo sua família.
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