Capítulo 52 - "Vocês colocaram minha vida em risco!"
Sua visão escureceu por alguns segundos quando seu pai a informou sobre o destino que estavam tomando. Nenhuma conversa aconteceu depois da revelação do rei, e ambos mergulharam em reflexões profundas que nenhum deles se sentia confortável em compartilhar. Jamais passou por sua mente que o corpo de Cassandra tivesse sido enterrado ali tão perto de Abenforth, o anúncio final de seu eterno amor, tão claro que beirava o desrespeito para com sua verdadeira esposa. Mas enquanto subia uma colina, pisando sobre a grama macia do cemitério, Nix pensou que aquilo na verdade era o esperado. Cassandra pode não ter sido desposada, mas foi o único e verdadeiro amor do rei.
Uma construção memorial repousava no topo da colina, de onde se podia ver todo o cemitério banhado na luz dourada da manhã que fazia o mármore branco resplandecer. O jazigo era como uma minúscula capela, cercado por uma grade de ferro ornamentado que foi aberta por uma chave que o rei trazia no bolso. Entraram e instantaneamente o cheiro de velas atingiu suas narinas. Dezenas delas estavam espalhadas pelo lugar, mesmo que não fosse escuro lá dentro. Pelo contrário, haviam dois vitrais coloridos que permitiam a entrada de luz tornando o ambiente um tanto mágico, celestial. Apesar de ser um lugar comumente considerado mórbido, sentiu paz ali. Seguiu até o fim do pequeno corredor, encontrando duas largas colunas de mármore esverdeado. Uma delas trazia uma janela de vidro, ocultando em seu espaço interno uma urna de cerâmica azul claro com arabescos dourados. Acima, uma pintura de sua mãe. Imediatamente lágrimas lhe embaçaram a visão, a saudade apertou seu peito tomando-lhe o fôlego.
-- Este é o seu. -- a voz de seu pai a chamou, puxando-a de sua dor.
Nix virou a cabeça na direção da outra coluna que o pai apontava. Confusa, o encarou por um instante tentando entender o que o homem tentava lhe mostrar. Compreendeu apenas ao notar seus ombros, anteriormente alinhados, caídos com o peso de sua amarga tristeza. Retornou seu olhar para onde ele apontava, agora com mais atenção. Naquela coluna não havia uma urna, apenas a pintura de uma menininha de cabelos negros e olhos cinzas. Faltava-lhe um dente da frente, mas aquilo não a impedia de sorrir abertamente numa expressão brilhante e alegre. Sentiu um aperto na garganta.
-- Um ano depois de seu desaparecimento, Zaya me obrigou a perder as esperanças de reencontrá-la. -- o rei tinha um olhar perdido, encarando a pintura de Cecilie, mas sua mente estava além -- Eu a procurei por um ano inteiro, foi nessa época que Willk conseguiu forças em sua luta contra mim. Nesse ano, eu negligenciei minhas obrigações pois tudo em minha mente era você. Willk usou minha fraqueza para conseguir apoio e validar sua posição.
"Sentimentos são fraquezas", a voz de seu antigo mestre soou em sua mente, lembrando-a de seus ensinamentos e sua falta de escrúpulos.
-- Eu perseverei por um ano, então desisti. -- seus ombros pareceram cair ainda mais, Nix não queria ouvir aquela história mas não teve forças para interrompê-lo -- Mas eu precisava me despedir. Precisava deixar sua marca no mundo, o sinal de que esteve aqui, de que você era importante, de que foi amada. -- desceu o olhar até o chão -- Então enterrei um caixão vazio. Apenas Thomas e eu estivemos presentes em seu funeral, o dia mais triste que já vivi em minha vida, até mesmo pior do que quando perdi Cassandra. Junto desse caixão, enterrei minha esperança de reencontrá-la.
Virou-se para encará-la de frente, e as lágrimas contidas que viu em seus olhos, a expressão torturada em sua face, aumentaram ainda mais o aperto na garganta dela.
-- Todos me diziam que já estava morta, que meus esforços eram em vão, que deveria focar em meu reino, em fazer do meu herdeiro um bom sucessor. Me perdoe, Cecilie. Eu deveria ter procurado mais, deveria ter virado o mundo de cabeça para baixo até encontrá-la. De todos os lugares possíveis, eu nunca pensei que estaria justamente no lugar mais óbvio! Esteve entre meus inimigos esse tempo todo! Tudo o que fez, minha filha, tudo o que fizeram a você... eu partilho a culpa. Eu, verdadeiramente, sinto muito. Eu... -- sua voz falhou devido à emoção -- Eu a amo. Sempre amei e sempre amarei, mesmo que me odeie.
Abenforth perdeu a luta com as lágrimas que umedeciam seus olhos, e elas caíram grossas molhando seu rosto abatido. Sentiu uma vontade ferrenha de abraçá-lo, aninhar-se naqueles braços que tanto sentiu falta, que tanto rezou para reencontrar. Mas conteve-se, pois aquilo era demais para ela naquele momento. Deu uma tossida para limpar a garganta enquanto guardava suas emoções e acalmava seu coração acelerado.
-- O senhor teve um motivo para ter me deixado naquele orfanato? -- perguntou apreensiva, temendo a resposta -- Um bom motivo?
A resposta de seu pai determinaria tudo a partir dali.
-- Sim, Cecilie. -- garantiu, livrando-a de seus temores -- Eu tive.
A leveza que a invadiu foi sem tamanho. Expirou profundamente como se um peso lhe houvesse sido tirado da alma.
-- Então eu ouvirei sua história. -- prometeu e o pai soltou um suspiro aliviado -- Mas não hoje. -- virou-se novamente para a pintura de Cassandra -- Agora eu quero conversar com minha mãe.
O rei partiu logo após, prometendo enviar a carruagem de volta em seguida, e garantindo que poderia ficar ali o tempo que desejasse. Nix sentou-se no chão, apoiando as costas na parede e desabafou. Contou à Cassandra todos os infortúnios que aconteceram após sua morte. Contou também as coisas boas e naturais, coisas que toda menina diz à sua mãe. Disse-lhe sobre o constrangimento de sua menarca, que aconteceu durante uma sessão de treinamento com Willk onde pensou ter sido gravemente ferida pelo homem. Também narrou sobre sua primeira bebedeira aos dezesseis anos, onde passou mal dois dias consecutivos devido à uma violenta ressaca. Seu castigo, ao ter sido descoberta por Willk que retornou de viagem um dia antes, fora ter de beber meia garrafa de uísque, o que lhe garantiu mais um dia de dor de cabeça terrível. Nix pegou-se sorrindo ao contar à mãe esses relatos, que agora distantes, pareciam normais. Contou-lhe sobre seu primeiro beijo, sobre sua primeira vez com um homem e sobre Thomas. Principalmente sobre Thomas.
A hora do almoço chegou e se foi, um criado foi enviado com uma cesta de alimentos para ela. Comeu um pão com carne e queijo, enquanto dizia à Cassandra tudo o que aconteceu desde que reencontrou o pai. Confidenciou que aos poucos sua raiva estava sendo substituída por compreensão, mas que rejeitava tal sentimento.
-- Sinto-me mal por odiá-lo, mamãe. -- tomou um gole do suco de laranja que foi enviado junto do pão -- Maldição, à quem quero enganar? Eu não o odeio, eu só... quero que sofra tanto quanto sofri. Mas ele já sofreu, não é? Ainda assim... é difícil abrir mão do meu orgulho e perdoá-lo. A senhora entende?
Encarou a pintura da mãe, ansiando por uma resposta. Era surreal como sentia a presença da mulher ali, mas não era suficiente. Jamais seria. Queria o abraço e o calor, o riso solto e as palavras carinhosas da mãe. De repente, aquela cripta serviu apenas para anunciar ainda mais a falta que Cassandra fazia em sua vida. Seria assim que seu pai se sentia a cada vez que visitava aquele lugar? Os dois buracos em seu coração sangravam quando atravessava aquelas portas, assim como o dela naquele momento? Mamãe morreu, mas meu pai está aqui... e parece... ah, não posso ceder tão facilmente, pensou consigo, decidindo que era hora de partir.
Levantou-se e recolheu suas coisas. Beijou a ponta do indicador e depositou o carinho na bochecha da mãe que lhe sorria eternamente naquele belíssimo retrato. Prometendo voltar em breve, saiu e trancou o lugar com a chave que seu pai lhe dera, garantindo que lhe providenciaria uma imediatamente. O retorno até o castelo foi rápido, e quando deu por si estava desembarcando no pátio. Pensou no que poderia fazer, já que não queria passar a tarde de maneira ociosa. Decidiu procurar Thomas e arrastá-lo até algum lugar onde pudessem retomar o treinamento que estivera dando à ele nas últimas semanas. Adentrou o castelo apressadamente, rumando direto até os aposentos do duque. Quando estava prestes à alcançar o corredor do quarto, ouviu uma conversa em voz baixa acompanhada de passos lentos, que pareciam se distanciar de onde estava.
Diminuiu o ritmo de seus passos, tornando-os silenciosos enquanto aguçou a audição para investigar o que ali acontecia. As vozes pareciam pertencer à Abenforth e Thomas, e também pareciam exaltadas.
-- ... entendo sim, mas Cecilie precisa saber. -- seu pai disse, incisivo.
-- Ainda não é o momento, majestade. -- contrariou Tom -- Cecilie está passando por coisas demais, sequer aceita ser chamada por seu verdadeiro nome, certamente não vai conseguir lidar com tudo de uma vez.
-- Pobrezinha. Imagine a decepção quando descobrir que o próprio tio a transformou numa assassina. -- a raiva estava evidente na voz do rei.
Ao ouvir a declaração, algo se agitou nela. Willk era... seu tio? Mestre Willk na verdade era irmão do rei? Aquilo não fazia sentido, mas ao mesmo tempo explicava muita coisa.
-- O senhor acha que ele fez isso deliberadamente? -- perguntou Thomas curioso.
-- Ora, mas é claro que sim. William sempre soube de meu relacionamento com Cassandra, que existia desde antes de ele ser deserdado. Certamente descobriu a identidade de Cecilie assim que colocou os olhos nela, e tomou minha filha de mim. -- um soco na parede foi ouvido -- Diabos! Se tivesse me chantageado pedindo o trono em troca dela eu teria aceitado! Por que ele a escondeu por tanto tempo, Thomas? Eu não entendo!
-- Por que assim você sofreria mais. -- a voz do duque era sombria -- Ele conseguiu o que queria.
-- Não completamente, já que Cecilie está aqui agora, comigo, graças à você. Quando vai acontecer o casamento?
-- Ainda não toquei nesse assunto com ela.
-- Bem, não irei apressá-los. Para um casal que está destinado desde sempre, vocês estão se saindo bem sem minha interferência.
Um zunido invadiu seus ouvidos com aquelas palavras. Sequer aceita ser chamada pelo verdadeiro nome, o próprio tio a transformou numa assassina, destinado desde sempre... Estavam escondendo coisas dela, agindo por suas costas. Saiu de seu esconderijo pronta para confrontá-los.
-- O que o senhor disse? -- sua voz saiu miseravelmente frágil.
Os dois homens arregalaram os olhos. Thomas pareceu empalidecer, assustado ao ser pego em flagrante.
-- Nix... -- tentou, mas ela o interrompeu.
-- Não! -- encarou seu pai -- Repita o que disse.
-- Cecilie, vamos conversar civilizadamente. Há coisas que precisam ser esclarecidas antes que...
-- Eu pedi para repetir. -- disse entredentes, já no limite de sua paciência.
-- Estava dizendo à Thomas que não irei interferir no relacionamento de vocês. Afinal, você é prometida à ele desde sempre e não irei apressar o casamento mesmo que já tenha aceitado e...
-- Casamento? -- interrompeu o pai, indignada -- Mas que casamento?
-- Thomas me disse que aceitou o pedido dele. -- lançou seu olhar até o homem, que empalideceu ainda mais até ficar tão branco quanto pergaminho novo -- Então eu presumi que já houvessem acertado os detalhes.
Por um momento, ficou absolutamente sem reação. Sua mente ficou vazia e estática enquanto ela encarava um Thomas apreensivo à sua frente. Depois ficou tentada à procurar sua adaga e atacar o homem, mas com desamparo recordou estar desarmada.
-- Sobre Willk, conversaremos depois. -- disse ao pai.
Deu as costas aos homens e saiu dali em passos largos e furiosos. As mãos fechadas em punhos, os olhos ardendo com lágrimas contidas. Ouviu uma voz conhecida lhe chamar por seus dois nomes, mas ignorou e apenas correu para fugir dele. Sentimentos verdadeiramente são fraquezas, afinal. Sentiu-se decepcionada, traída, ao descobrir Thomas escondendo informações dela. Eles estavam juntos, não deveriam ser uma equipe? Confiar um no outro, contar tudo um ao outro. Ela havia lhe mostrado a dimensão de seu sofrimento, permitiu que conhecesse cada uma de suas vulnerabilidades. Aquele maldito homem sabia perfeitamente o quanto prezava pela relação deles, o quanto arriscou por ele, e mesmo assim traiu sua confiança. Finalmente alcançou seus aposentos e ali entrou com a força de uma tempestade. Porém ao tentar fechar a porta, uma perna forte não permitiu.
-- Me deixe explicar o que ouviu. -- pediu Thomas forçando sua entrada.
-- Eu entendi perfeitamente bem o que acabei de ouvir. -- tentou com mais afinco fechar a porta mas não foi capaz -- Eu ouvi você conspirando com meu pai pelas minhas costas.
-- Cecilie, me deixe entrar!
-- Não! -- gritou, fazendo ainda mais força.
Mas que merda, pensou ouvir Thomas resmungar. No mesmo instante ele resolveu usar toda sua força para invadir o quarto. Percebendo que não conseguiria contê-lo por muito mais tempo, decidiu abrir a porta logo de uma vez, o que quase derrubou o homem aos seus pés. Afastou-se dele enquanto Thomas recuperava o equilíbrio, furiosa e magoada.
-- Nada do que você me disser agora irá me acalmar, Thomas. -- avisou -- Melhor conversarmos depois.
-- Acha que vou conseguir fazer isso? -- parou em frente à ela, com expressão aflita.
-- Você conseguiu confabular com meu pai, não foi? -- acusou, raivosa -- Estavam escondendo coisas de mim!
-- Não venha com essa, Cecilie! -- irritou-se -- Quando tocamos em qualquer assunto de seu passado você nunca quer saber, nunca permite que falemos nada!
-- Mas isso não diz respeito só ao meu passado, Thomas! Diz respeito ao futuro também! Preciso saber dessas coisas quando for enfrentar Willk. Acha que ele não vai usar nosso parentesco como uma arma para me desestabilizar? Para tentar me ludibriar mais uma vez? Vocês colocaram minha vida em risco!
Sua voz já estava rouca de tanto gritar, mas Thomas não falava mais baixo.
-- Isso jamais iria acontecer, Cecilie, até mesmo porque nunca permitiremos que sequer se aproxime de Willk novamente.
-- Oh! -- levou uma mão ao peito, totalmente exasperada -- Mas quem é você para permitir que eu faça algo ou não? Nem mesmo meu pai tem esse poder sobre mim!
-- Nem que precisemos trancá-la numa cela, você nunca mais se aproximará da Irmandade. Você já lutou o suficiente, Cecilie, e...
-- Eu o matarei se fizer isso, Thomas! -- apontou-lhe um dedo trêmulo -- Se sequer cogitar essa ideia insana mais uma vez!
-- Precisa entender de uma vez que não está mais sozinha! Que há pessoas que se preocupam com você!
-- Bem, vocês tem uma maneira estranha de demonstrar! Escondendo informações de mim! -- bateu o dedo no peito dele com força.
Imediatamente Thomas agarrou seu pulso e o prendeu ali. O silêncio após seu último grito foi ensurdecedor e intenso, oprimindo-os com o peso daquele momento.
-- Estávamos tentando protegê-la. -- garantiu num dar de ombros -- Apenas isso, Cecilie.
-- Nix. -- o corrigiu, puxando seu pulso violentamente, afastando-se dele.
-- Não. -- recusou com expressão entristecida -- Já chega disso. Seu nome é Cecilie.
-- Eu sei que meu nome é esse, seu idiota! -- explodiu novamente -- Quer saber, eu não quero mais conversar com você! Saia.
-- Não vou. -- cruzou os braços e fincou os pés no chão -- Ainda temos um outro assunto para falar.
-- Nós não temos, não. Saia.
-- Não sem antes nos resolvermos. -- passou as mãos pelos cabelos castanhos já bagunçados -- Cecilie, eu soube há pouco que fomos prometidos um ao outro na infância. Eu queria lhe dizer, queria mesmo, mas achei que aquilo a afastaria de mim.
-- O que quer dizer com isso?
-- Temi que você me recusasse apenas para contrariar as expectativas de seu pai. -- disse timidamente.
-- Mas de onde você tirou que eu o aceitaria para início de conversa? -- agora foi ela quem passou as mãos pelos cabelos, os puxando para evitar partir para cima dele, tamanha raiva que sentia -- E por que eu ainda estou falando com você? -- saiu caminhando até a porta e a abriu, apontando-lhe a saída.
-- Você aceitou. -- Thomas disse, ainda parado onde estava, completamente desolado -- Disse que não se arrependia de ter se permitido se enfraquecer. Você disse sim.
-- Deixe de dizer mentiras! -- rugiu para ele.
-- Não é mentira! -- aproximou-se dela -- Você disse isso à caminho da Cidade Real, enquanto delirava com o veneno em seu corpo.
-- E você tomou isso como confiável? Palavras de uma mente entorpecida pelo veneno? Só pode estar brincando...
-- Sim, eu acreditei naquelas palavras. -- parou em sua frente -- Pois elas foram mais sinceras do que você é consigo mesma a respeito de seus sentimentos!
Não podia acreditar naquilo. Mergulhou fundo naqueles olhos castanho dourados tão intensos, tão límpidos, e sentiu-se estremecer. Não, já chega de se permitir fraquejar. Thomas precisava aprender a não esconder nada dela, precisava entender que confiança é algo que não se restaura com um pedido de desculpas e algumas justificativas tolas. Manteve-se firme, apenas encarando-o impassível, sua habitual máscara de frieza estampada em suas feições.
-- Eu te amo, Cecilie. -- assumiu seus sentimentos com um sorriso e um dar de ombros conformado -- Profundamente. O que mais quer de mim?
-- Quero que vá embora.
Nix viu uma centelha se apagar nos olhos dele. Viu a tristeza se juntar ao interior antes apenas angustiado. Viu o discreto aceno afirmativo que deu ao mostrar que compreendeu seu pedido, sua ordem. Viu quando decidiu dar-lhe a solidão que tanto queria. Mais do que tudo, viu os passos que o afastaram dela enquanto Thomas ia embora sem olhar para trás.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top