Capítulo 33 - "Minutos serão insuficientes"
Thomas dormia tranquilamente enquanto Nix observava suas feições serenas, iluminadas pelos primeiros raios de sol da manhã que começava a clarear. Ela o olhava atentamente, suas sobrancelhas grossas e arqueadas, os cílios escuros e fartos, a sombra de um sorriso nos lábios. Thomas tinha a expressão de um homem saciado, e Nix imaginava que aquela mesma expressão pairasse sobre seu rosto também. Mas contemplar o rosto de Tom há horas tinha um propósito. Ela estava se lembrando do que fizeram pouco tempo atrás, estava marcando aqueles momentos na memória.
Se Nix fosse abençoada com longevidade, queria ainda ser capaz de se lembrar de cada detalhe daquela noite, cada toque, cada carícia, cada sussurro, cada gemido. Queria se recordar do cheiro de seus corpos unidos, do suor, da textura de Thomas. E era só à isso que sua memória teria acesso, pois fizeram amor na total escuridão da noite de forma completamente sensorial, nada visual. Suspirou ainda com os olhos sobre ele, sentindo-se... estranha. Foi exatamente aquilo o que fizeram noite passada e ela não sabia como agir com aquele fato. Apesar de toda a luxúria, o desejo e até mesmo a selvageria do ato, ainda houve afeto. Carinho. Seus lábios apenas se desgrudavam para levarem beijos à outras partes de seus corpos, mas logo voltavam à se unir, sedentos. Suas mãos apertavam com firmeza, mas logo traziam a suavidade de um toque brando e caloroso.
Arrepiou-se ao lembrar da sensação da mão de Thomas deslizando por seu corpo ao retirar seu vestido molhado. Lembrou-se também de como se sentiu ao desnudar-se para ele, de corpo e alma, libertando-se. Fechou os olhos, dobrou as pernas e deitou a cabeça sobre os joelhos. Aquilo mudava tudo e era errado, era tolice e era... maravilhoso. E parecia certo. Quando Thomas a invadiu, preencheu não só seu corpo, mas também uma parte de sua vida que estava vazia há muito tempo. Maldição! Estava soando feito uma menininha afetada e tola e tinha que parar com aquilo imediatamente e lembrar de suas prioridades. Ainda estavam em perigo, tinham que chegar à Cidade Real logo, e se o rei a deixasse viva, guerrear contra a Irmandade. Sim, foco, Nix, repreendeu-se. Um barulho quebrou o silêncio e ela levantou a cabeça, seu olhar indo imediatamente até Thomas que havia despertado e estava se sentando, com o olhar já sobre ela. Estavam cada um numa extremidade da caverna e apenas se encararam pelo que pareceu muito tempo, ambos tentando acostumar-se com aquela nova realidade. Viu o semblante de sono dele transformar-se em apreensão conforme o silêncio se estendia, incômodo.
-- Você parece prestes à pular no meu pescoço -- disse tenso.
-- Isso foi um erro, Thomas. -- mesmo com a distância viu-o entristecer.
-- Entendo... -- disse acenando afirmativamente, com o olhar vago, como se tentasse se convencer daquilo -- Entendo.
-- Entende? -- levantou-se irritada -- Eu acho que não entende, não! -- seguiu até ele mas parou e voltou atrás, perdida, e começou a andar de um lado para o outro -- Isso não estava nos meus planos. E eu sempre tenho um plano, Thomas, sempre! Tenho mais de um, na verdade. E em nenhuma das possibilidades que imaginei dessa nossa fuga isso acontecia. Eu me sinto... ah, céus! -- parou e passou uma mão sobre o rosto, silenciando-se, e voltou a encará-lo.
-- Está arrependida. -- ele anunciou amargo, ainda sentado no chão.
Nix não conseguiu conter o sorriso que curvou seus lábios e já sentia o coração batendo forte no ritmo das longas passadas rápidas que deu ao seguir até ele.
-- Arrependida? Não... -- levantou as saias do vestido, passou uma perna por sobre as dele e sentou-se em seu colo. Imediatamente o olhar de Thomas mudou de tristeza para empolgação e excitação, e a segurou pelas ancas com força -- Eu quero mais.
Um sorriso iluminou seu rosto, fazendo o dourado de seus olhos brilharem ainda mais. Nix levou as mãos aos aos cabelos dele, que puxou de leve, e o beijou. Demoradamente, apaixonadamente. Quando o ar lhes faltou, Thomas interrompeu o beijo e a fitou. Levou uma mecha de seus cabelos negros para trás da orelha e uma mão subiu em suas costas indo até o primeiro botão do vestido.
-- Sei que devemos partir logo, mas... -- a voz dele já estava rouca, estremecida pela devassidão -- podemos tirar alguns minutos para nos divertirmos mais. O que acha?
-- Acho que minutos serão insuficientes. -- levou sua boca até o pescoço dele e o beijou, depois beijou logo abaixo da orelha e mordeu seu lóbulo com delicadeza -- Preciso de pelo menos algumas horas com você, vossa graça.
Ele jamais se fartaria dela e já tinha plena consciência disso. Nix era inebriante. Era o oásis em meio ao deserto. Era a brisa num dia quente. Era o abrigo durante a tempestade. Abriu um sorriso ao perceber a ironia de que fora justamente aquilo que os uniu: um abrigo durante a tempestade.
-- Do que está rindo? -- a voz de Nix soou sonolenta.
Olhou para baixo buscando o cinza de seus olhos que estavam firmes sobre ele, sempre atentos. Acariciou os cabelos dela que se espalhavam por sua perna e pelo chão. Tom estava sentado, as costas apoiadas na parede e ela estava deitada sobre sua capa negra, apoiando a cabeça em seu colo de maneira relaxada. O suor das atividades deles ainda brilhavam em sua face corada pelo esforço e pelo prazer, e só aquilo foi suficiente para Thomas querer possuí-la mais uma vez.
-- Preciso ter um motivo para sorrir? -- perguntou e lhe deu uma puxada na orelha de leve.
-- Precisa, se você não for um idiota. -- deu de ombros -- Ou um demente.
-- Não sou nenhum dos dois, querida. -- encheu sua voz de autoridade diplomática, o que a fez revirar os olhos.
-- Se ri sem motivos então é um dos dois, sim! -- zombou -- Em minha opinião você é um idiota. Mas ser um demente também é possível.
-- Criatura cruel. -- fingiu-se de indignado -- Terei de provar que sou um homem são.
-- Boa sorte com isso. -- ela lhe deu um sorriso tão esplendoroso que os raios de sol tornaram-se sombrios em comparação.
Deus, ele estava tão malditamente derretido quanto um adolescente inexperiente.
-- Você. -- deu um peteleco no nariz dela -- Meu motivo de rir foi você, Nix.
-- Eis que a solução dessa dúvida vem à tona. -- o sorriso dela desapareceu e suas sobrancelhas se uniram em preocupação -- Você é demente. Está louco, pobrezinho.
Ambos riram com leveza e divertimento, aproveitando aquela conversa sem sentido, tola e despreocupada. Talvez a primeira deles, mas Tom esperava fervorosamente que não fosse a última pois aquilo era tão bom. Tê-la ali, rindo junto dele, seu corpo macio colado ao dele, seus lábios tão próximos... O riso cessou e Thomas deslizou um dedo por sua face, desde a têmpora descendo até seus lábios, contornando-os.
-- Você é linda. -- ele disse -- Tão linda que faz meu estômago revirar toda vez que olho para você.
-- Thomas, você tem uma forma peculiar de fazer uma mulher se sentir especial. -- ela se levantou e se sentou em seu colo, passando os braços por sobre seus ombros, levando as mãos à sua nuca onde iniciou uma carícia deliciosa -- Você sabe que... -- suspirou e colou sua testa na dele -- Eu gosto de você. Contra todos meus instintos e bom senso eu gosto de você.
-- Não sei bem se isso foi um elogio ou ofensa. -- brincou mas sentiu seu coração acelerar, ameaçando explodir em alegria.
-- Eu também não sei. -- ela se afastou e cravou seu olhar no dele, tão sincero e intenso que ele sentiu-se mergulhar naquele cinza cristalino -- Você me chamou de covarde e...
-- Me desculpe por aquilo. -- ele a interrompeu.
-- Não se desculpe, Thomas. Você só disse a verdade. Eu escondo meus medos até de mim mesma, mas há alguns que eu não sou capaz. Eu morro de medo de aranhas.
-- Aranhas? -- disse, perplexo -- Aranhas?
-- Tenho verdadeiro pavor! -- deu um meio sorriso -- E também de brócolis.
-- Você só pode estar brincando. -- ele riu.
-- Não estou. Sinto arrepios só de imaginar aquilo no meu prato. -- estremeceu teatralmente -- E amarelo.
-- A cor? -- gargalhou -- Isso é bizarro, Nix!
-- Amarelo cai muito mal em mim. -- assumiu num dar de ombros -- Realmente muito mal. E tem você.
-- Está com medo de mim? -- o riso acabou, mas ele sentiu o ar ser carregado, crepitando sentimentos e emoções.
-- Tenho medo de perdê-lo. -- disse num sussurro -- Mas também... tenho medo de estar com você.
-- Nix...
-- Não! -- colou um dedo em seus lábios, silenciando-o -- Me deixe acabar. Como eu disse antes, isso não estava nos meus planos. Eu não sei o que será de nós e eu não quero decidir isso agora, então só vamos seguir em frente.
-- Juntos? -- perguntou esperançoso.
Nix abriu um ínfimo sorriso, tão pequenino que pareceu tímido. Foi tão destoante dos anteriores que ela lhe oferecera desde a noite anterior, mas foi sem dúvidas o mais significante. Foi o sorriso que mudou tudo.
-- Juntos. -- ela concordou e selou o destino deles num beijo ardente.
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