Era quase onze da noite e Peter estava no alto de um prédio olhando a vizinhança do Queens, as ruas do bairro já começavam a ficar silenciosas e quase desertas, as lojas já estavam fechando deixando apenas a iluminação dos postes na rua.

Observando mais um pouco, ele viu uma movimentação estranha próximo a entrada de um beco e vozes alteradas, parecia ser um assalto. O garoto começou a jogar suas teias até se aproximar do local e ver que um grupo de seis homens, alguns com facas, cercavam uma garota de moletom vermelho e capuz na cabeça de forma que ela ficasse sem saída. 

— Me deixem passar — pediu a menina apertando as alças da sacola nas mãos.

— Primeiro vamos ver o que você tem aí boneca — um deles apontou para a sacola da menina — Depois pensamos se deixamos vocês irem.

— É melhor me deixarem ir — ela abaixou a cabeça — Ou vai ser pior.

— Para quem?

— Vocês.

Os homens riram em deboche antes de começarem a avançar para cima dela, Peter estava a ponto de interferir quando a menina tirou o capuz revelando ser Kiara.

Foi questão de segundos que se Peter piscasse perderia alguma cena. Kiara avançou para cima do homem mais próximo dela, dando um chute no estômago, antes de dar uma rasteira e pegar uma garrafa quebrada pressionando próximo da garganta.

— Um passo e ele morre — ela disse em tom alto para os outros sem tirar os olhos do homem que imobilizava — Melhor não arriscarem.

— Peguem essa vadia! — ele esbravejou.

Kiara sorriu de lado antes de fechar a cara e fazer um corte da sobrancelha ao queixo do homem, que gritou de dor na hora.

Antes que os outros cinco viessem para cima de Kiara, ela viu dois deles ficaram presos na parede por teias e os outros três começaram a lutar com alguém quase oculto pelas sombras do beco.

O momento de distração dela foi o suficiente para o homem embaixo de si levantar, mas os reflexos dela foram mais rápidos ainda para desviar do ataque dele com uma faca e fazê-lo bater na parede do beco. Kiara fechou as mãos em punho e começou a socar o homem como havia aprendido, primeiro pelo nariz para deixar tonto, depois na boca e por fim o queixo antes de ser afastada do bandido, agora desmaiado.

— Ei! Ei! Já está bom, ele já está apagado.

A Keene respirou fundo olhando para o homem e por garantia, deu um chute nas costelas do mesmo, antes de ser afastada pelo Homem-Aranha.

— Ok, valentona, já chega — disse o herói após prender os homens de forma que não pudessem escapar.

— Eles...eles...argh! Como dói — disse segurando as mãos com os nós dos dedos vermelhos de sangue — Porra! Tinha me esquecido como dói socar tanto alguém sem proteção.

— Você faz muito isso? — Peter perguntou surpreso por debaixo da máscara, afinal Kiara não fazia o tipo valentona.

— Aprendi por precaução, sabe como é, ser mulher nos dias de hoje infelizmente não é fácil, então só faço isso com quem merece muito — sorriu sem graça — Valeu pela ajuda Homem-Aranha, agora entendo porque o pessoal da escola gosta de você.

— Ah, tô aqui pra isso, cuidar das ruas. Está indo para casa?

— Tô. Eu só vim comprar minhas Pringles porque não tinha, mas já tô voltando pra casa.

— Quer companhia?

— Hã, você não tem que vigiar as ruas?

— Posso fazer um mini intervalo, e acho que seria melhor ir no médico — ele apontou para as mãos da garota, agora levemente inchadas — E eu não ficaria em paz sabendo que você está desse jeito.

— Desse jeito?

— Assustada e machucada.

Kiara pensou em retrucar, não estava assustada ou com medo, apenas puta da vida por não acertar mais uns socos no homem, mas estava cansada e não queria correr o risco de ser assaltada novamente.

— Tudo bem então — deu de ombros — Como vai funcionar? Você vai caminhar ao meu lado? 

— Estava pensando no meu modo, se não se importar.

Ela assentiu e se ajeitou antes de ouvir um murmúrio pedindo licença, a mão do Homem-Aranha foi para sua cintura segurando-a em um aperto firme próxima ao seu corpo, enquanto as dela foram para o seu pescoço.

— Se segura.

Quando sentiu os pés saindo do chão, ela os enganchou na cintura do herói e agarrou sua sacola com suas preciosas batatinhas o máximo que pode. O friozinho na barriga era algo bom, dava uma sensação de adrenalina que a impedia de ficar de olhos fechados e aproveitava as luzes da cidade.

— Meu prédio é aquele — apontou para o edifício — Pode parar no terraço.

Peter jogou mais algumas teias até chegar no lugar e parar com segurança no terraço do prédio.

— Entregue.

— Valeu — ela falou saindo do colo do herói e sorrindo para o mesmo — Eu posso te pagar pelos seus serviços de hoje?

— P-pagar?

Peter arregalou os olhos por trás da máscara, normalmente o pagamento que os heróis recebiam em filmes após ajudar a mocinha eram um beijo. 

Kiara estava querendo beijá-lo?

— Toma, seu pagamento — a menina retirou uma Pringles sabor original da sacola e estendeu ao herói — Sei muito bem o que o clichê pede, mas não sou tão clichê assim. 

— Ah, valeu.

Ele pegou a latinha da batata e sorriu por debaixo da máscara, aquilo era muito melhor que um beijo por enquanto.

— Te agradeço por hoje mais uma vez Homem-Aranha — Kiara sorriu — Você é muito legal.

— Sou? — Peter perguntou vendo ela assentir — Hã...foi legal ver você Kiara.

— Você sabe meu nome?

Peter gelou e se amaldiçoou, maldita boca grande!

— É, tem um cara que trabalha pro senhor Stark que falava bastante de você. Quer dizer, eu acho que era você porque ele disse que era uma coreana, e você é a única coreana bonita aqui.

— Me acha bonita? — ela perguntou achando graça o herói estar ficando atrapalhado e falante, exatamente como uma cena de alguém que havia visto na escola.

— A-acho.

— Agradeço o elogio — Peter achou fofo as bochechas da menina estarem levemente coradas — Preciso ir agora, e imagino que você também.

— É, eu tenho que ir.

— Bom, venha me ver em qualquer noite Homem-Aranha, é legal conversar com você.

— Está bem. Se cuide e boa noite.

Kiara acenou observando o herói sair jogando as teias e "voando" pelos prédios. Ela desceu as escadas que davam para o seu apartamento, e depois de tomar um rápido banho para colocar seu pijama além de fazer curativos nas mãos, pegou o elevador que dava para o laboratório e foi até sua mesa onde havia as gravações do almoço na escola.

— Kira, analise as vozes de Peter Parker e do Homem-Aranha e me mostre a compatibilidade — pediu abrindo uma latinha das suas batatas favoritas. 

O sistema começou a análise quando seu celular tocou e o nome de Pepper apareceu na tela.

— Oi Pepper.

— Oi Kiara, atrapalho? Estava dormindo?

— Oh não, estou fazendo...trabalho da escola.

— Eu não quero atrapalhar.

— Eu já terminei, não se preocupe. Tem algum problema?

— Não, sem nenhum problema, apenas liguei para saber como você está?

— Eu tô bem, e você e a Maguna?

— Bem também. Estava pensando se não quer jantar conosco amanhã de noite, isso é, se não for te atrapalhar com as aulas do dia seguinte.

Kiara pensou por um tempo na reunião de família, fazia tempo que não encontrava Pepper e a última vez que viu Morgan ela ainda era um bebê balbuciando as primeiras palavras.

— Eu estou disponível, podem vir para cá se quiserem, eu sei cozinhar algumas coisas.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Então pode ser às oito? 

— Combinado — Kiara olhou o visor que Kira mostrava no computador e arregalou os olhos — Até amanhã então.

— Até. Boa noite querida.

— Boa noite, dê um beijo na Maguna por mim.

A Keene encerrou a ligação e sorriu vendo que a compatibilidade entre Peter e o Homem-Aranha era de 98%, seu sexto sentido nunca falhava.

— Peguei você, Parker.

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Notas da autora: Kiara descobriu quem é o Homem-Aranha, agora a pergunta é quando ela vai dizer ao Peter.

Me digam o que estão achando, gosto de saber a opinião de vocês.

Até o próximo!