Pedaço do céu

Carter passa as mãos pelo rosto de forma desesperada, tentando fugir de tudo aquilo por pelo menos alguns segundos.

A mulher de feições latinas o olhava aprenssiva, o bebê de pouco menos que um ano se escondia na curvatura do pescoço dela.

— Eu sei que é confuso. — Suspirou. — E sei também que Margareth disse para deixa-lo longe do senhor...

— Quando ela disse? — Carter a cortou.

— Alguns dias antes de morrer Margareth deixou Kael comigo, deu-me seu endereço para caso algum demônio estivesse a espreita, mas mandou que em outro caso eu nunca o procurasse. Disse que o senhor não sabia da existência dela. — Matilda soltou tudo em um só fôlego.

— Mas agora eu sei. — Alegou Carter. — Entre porfavor. — Convidou a mulher que sem exitar adentrou no apartamento.

Nora colocou se de pé, olhava a mulher e o bebê com uma exclamação desenhada em sua face.

— Nora essa é Matilda Soares. — Apresentou Carter.

Nora levantou as sobrancelhas em confusão e deu alguns passos até estar próxima de Matilda.

— Aquela que Margareth citou no diário? — Remeteu se a leitura de dias atrás.

— Sou eu sim. — Matilda sentou se ao ser conduzida por Nora até o sofá.

Carter estendeu a mulher um copo com água e lhe sorriu de modo educado, tentando conquistar sua confiança.

— Sinto me culpada em estar fazendo isso. — Declarou Matilda.

— Isso o que? — Sondou Nora.

Matilda suspirou, o bebê olhava Carter fixamente lhe entendendo os braços e sem exitar Carter o tomou em seu colo.

O garotinho pareceu bastante confortável no colo do tio, como se ali nada pudesse o atingir.

— Preciso entregar Kael aos seus cuidados. — Respondeu Matilda olhando Carter fixamente.

Carter arregalou levemente os olhos. Naquele exato momento ele desistiu do quebra cabeça, era como se após dias em um rompante, ele estivesse passando as mãos sobre as pecas já montadas, as destruindo.

— Não sei se posso. — Alegou. — Porque não pode mais?

— Porque há demônios em todas as partes a procura dele, e eu não posso mante-lo a salvo. — Ela explicou.

— Tem feito isso a meses, e ele está aqui vivo e me parece bem saudável. — Argumentou Carter.

Matilda suspirou, tomou toda a água do copo em apenas um gole.

— Acontece que na semana passada, descobri um tumor em mei cérebro. — Uma lágrima escorreu de seus olhos. — Nem um milagre, pode manter-me aqui por muito mais tempo. — Balbuciou.

Carter e Nora se mantiveram em silêncio. Carter olhava o sobrinho travando uma batalha interna, sobre o que faria com o bebê.

— Não posso. —Suas palavras saíram em um resmungo.

— Mas deve. — Matilda anunciou em um tom imponente. — Kael é uma doce criança, um anjo caído como Margareth me disse.

— Porque um anjo caído? — Questinou Nora.

— Porque é o que o nome dele siguinifica. — Matilda sorriu após pronunciar as palavras.

(...)

4 de Janeiro de 2009

Um novo ano acaba de começar, e com ele veio tantas decisões e estou prestes a realizar um ato imprudente.

Eu reencontrei o anjo, ele confirmou a história do demônio, e disse que estava aqui para me ajudar.
o que parece mentira, mas ultimamente tudo o que eu acho ser uma mentira, no final, é real.

Em poucos meses vou finalmente fechar os portões do inferno.

8 de Setembro de 2009

Eu não consegui, não consegui terminar o ritual e agora estamos sendo seguidos!

O meu doce Kael, meu pequeno anjo caído, eu não pude evitar me apaixonar por ele.

E agora as consequências estão vindo feito avalanche sobre mim, e eu não posso dete-las.

Mas eu vou lutar, até o meu último suspiro, para que as consequências das minhas escolhas não recaiam sobre o meu doce menino...
Sei em quem devo confiar

Quando encontrei me com padre Manuel ele disse que tinha certeza que eu não conseguiria fazer, acreditava tanto nisso quanto na existência de Deus.

Eu fui tola, disse que iria até o final e de que aquilo se tratava de mais um caso, como tantos outros que já enfrentei em minha vida.

Mas esse caso era diferente, pois ele crescia em minha barriga, ele mechia e eu podia senti-lo dentro de mim.
É claro que eu recuei.

E ali, com aquelas palavras, o diário de Margareth acabou, faltando apenas algumas folhas em branco.

Carter fechou o diário, seus olhos correram o ambiente frio de seu apartamento e repousaram em Nora que balançava Kael em seus braços.

Carter não poude negar que seu sobrinho era sua responsabilidade, e que agora ele era seu.

Mas Nora prometeu que estaria ao lado de Carter no crescimento de Kael, que nos três dias na casa do tio, fora apelidado de anjinho por Nora.

Estranhamente a mulher durona que era Nora cedeu espaço para outro Nora que Carter nunca havia visto em toda a sua vida.

Uma parte maternal aflorou-se em Nora, carinhosa e preocupada com o bebê nos longos três dias em que ele estivera com Carter.

— Acabou o diário? — Questionou Nora?

— Sim. Margareth não conseguiu fechar os portões. — Anunciou colocando o caderno sobre a mesinha de centro.

Nora suspirou colocando Kael no pequeno berço comprado de última hora.

— Alguém a impediu? — Questionou.

— Ela mesma. — Carter ficou pensativo por alguns segundos. — Ela mesma não poude terminar porque Kael estava envolvido, e ela o amava demais para coloca-lo no meio disso.

— Será que algum dia teremos resposta? — Jogou-se no sofá. — Sabe, são tantas coisas e pelo que parece ele é a última peça. — Apontou em direção ao berço.

Carter sentou-se ao lado de Nora. A sala do apartamento estava a meia luz, iluminada apenas por um abajur e pela luz da lua que adentrava pela janela.

— Não conseguimos nem encaixar as primeiras peças, quanto mais essa. — Resmungou.

Nora riu se divertindo pela primeira vez em meses, toda aquela história de Margareth estava mechendo profundamente com ela, e o resultado disso era medo, pânico ao virar cada esquina.

Tinha medo se seus vizinhos serem demônios, de seus pais estarem possuídos ou até mesmo Carter, mas Carter já era um demônio, ou tornaria-se um no final da vida.

— Acontece que não analisamos tudo, não temos tudo o qur falta ainda. — Ela disse em um tom ameno.

— O que falta ainda?

— Sua irmã nos contar de verdade o que aconteceu. — Carter riu longamente.

— Seria tão mais simples.

— Com certeza. — Concordou ela. — quer saber? — Questionou ela chamando a atenção de Carter. — Vamos assistir um filme e esquecer essas coisas todas de demônios.

Riu se levantando do sofá e caminhado até a gaveta onde Carter guardava os filmes. Ele parecia estar leve, os olhos deixavam claro que pela primeira vez em meses, estava feliz.

Ele revirou os olhos quando Nora mostrou a ele o filme que iriam assistir naquela noite.

O Exorcismo de Emily Rose, é sério? — Questionou risonho.

— Vivemos um filme mais aterrorizante que esse. — Disse rindo.

Ela colocou o filme que começou a rodar e correu para sentar se ao lado de Carter.

Ela sorriu aconchegando se no peito dele. Carter surpreendeu-se, mas a deuxou ali.

Aquele momento totalmente familiar o deixava mais confortável do que gostava de assumir, e aquela vida mesmo que momentânea parecia doce!

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