XLI
Draco normalmente sempre sabia o que fazer em questões desesperadoras ou de pressão.
Ele se saía bem quando precisava terminar uma prova em cinco minutos — sendo que não havia nem feito metade das questões, ou quando ele tinha um trabalho para entregar e decidiu começar a fazer de madrugada na véspera do dia de entrega.
Mas agora, vendo o corpo de Harry Potter no chão, sem tencionar um único músculo, Draco não sabia o que fazer.
Os dois haviam acabado de derrotar Voldemort, era para tudo ficar bem.
Malfoy ansiava em explicar tudo para Harry sobre o que seu pai o falou a respeito da missão de Voldemort. Diria que gostaria muito de poder contá-lo, mas tinha medo de Potter decidir nunca mais olhar na sua cara novamente. Bom, definitivamente seria melhor do que ele ter descoberto por Lucius.
Draco teria o preparado inicialmente, indo à um lugar onde ele saberia que os dois estariam sozinhos e sem o risco de serem expostos a nada, também sem ninguém os bisbilhotando, o que era muito comum em Hogwarts. Tentaria o explicar tudo o que ocorreu no seu último verão, antes de efetivamente contar a verdade para Harry, mas aparentemente os nossos planos nunca saem como o planejado.
E agora, tendo a visão do corpo inerte de Potter, Malfoy somente concluiu a sua hipótese, afirmando que nada ocorre como o planejado.
Draco correu até ele — depois de pegar de volta a varinha de Harry, que Voldemort havia "confiscado" — notando que o seu peito subia e descia em uma velocidade muito lenta e curta, como se respirar fosse algo difícil. Malfoy sentia cada fibra de seu corpo tremer, a preocupação sobre Harry aumentava cada vez mais ao notar que ele não abria os olhos.
Mesmo sentindo todas as partes de seu corpo dormentes, Draco agachou-se, passou um braço por debaixo das pernas do moreno e o outro pelo seu tronco, o pegando no colo estilo noiva. Suas pernas pareciam fraquejar ainda mais, pelo esforço feito de magia, mas ao ver a expressão serena de Harry, abriu um pequeno sorriso que fez com que ele criasse forças e continuasse andando até as grandes portas de carvalho que foram esculpidas manualmente há muitos anos.
Se Draco já estava se sentindo cansado pelo fato de ter posto demasiada magia em seu feitiço com a ajuda de uma varinha, Potter provavelmente estaria completamente esgotado pelo fato de ter utilizado uma grande quantidade e sem nenhum objeto para transparecer a magia.
Colocando todo o seu peso em uma perna só, Draco chutou os portões com toda força que conseguia centralizar em seu pé esquerdo e o vento gélido do crepúsculo invadiu suas narinas e seu pescoço descoberto, fazendo seus pelinhos loiros eriçarem.
Neve ainda caía ao redor, deixando todas as árvores cobertas pelo branco dos flocos de gelo. O puro branco invadiu seus olhos, que estavam acostumados com escuridão da masmorra, fazendo Draco sentir vontade de tapar a sua visão e foi inevitável tentar levantar o braço para realizar tal ato.
Malfoy sentiu seus dentes baterem contra si por conta do frio, então agarrou-se mais ao corpo desmaiado em seu colo e deu alguns passos, sentindo a dificuldade aumentar a cada um deles.
Draco sentia que as suas pernas eram como gelatinas e ele mal conseguia se manter em pé, o peso parecia triplicar em cima de si, mesmo Harry não sendo nada pesado e eles provavelmente haviam perdido alguns quilos por ficarem tanto tempo sem ingerir nenhum alimento.
Queria simplesmente sentar no chão e ficar lá, sentado, esperando que viesse algo que os tirassem dali, mas não viria, ninguém viria salvá-los.
Mas ele não poderia desistir, ele nunca se perdoaria se algo de ruim acontecesse a Harry. Potter havia literalmente se entregado para Lucius mesmo depois de saber parcialmente da verdade e mesmo assim aceitou ir.
Draco precisava fazer o mesmo por ele.
Pelos dois.
O loiro conseguiu dar mais alguns longos passos, chegando fora da área da Mansão Malfoy, o que pareceu ser um peso tirado de seus ombros, algo que ele estivesse aguentando por tanto tempo, simplesmente ido embora em segundos. Simples assim.
Draco andou por — baseado em seus cálculos — três horas. Já estava começando a escurecer e o frio somente aumentava, fazendo com que o vento trouxesse mais flocos de gelo para a sua face, o impossibilitando de enxergar muita coisa. O cabelo de Harry estava repleto de pequenos pontilhados brancos, cobertos pela neve. Os fios loiros de Draco provavelmente estariam no mesmo estado, mas os cristais de gelo não seriam tão visíveis por conta da tonalidade similar.
Malfoy andava em um ritmo constante, de passos lentos, mas estáveis. Já não sentia mais as suas pernas e sua mente poderia dizer que ele estava em um transe. Malfoy havia coberto a cabeça de Harry com o capuz de seu casaco, que várias vezes caía, mas ele sempre o colocava de volta, não aceitando deixar que Potter passasse frio, mesmo que inconscientemente.
Não se permitia pensar em milhares de "e se..." para a reação de Harry a conversa que os dois precisavam ter.
Se Draco permanecesse com esse pensamento durante todo esse tempo, se renderia a doce loucura. Por isso, lutava bravamente contra a sua própria mente, a impedindo de lhe enviar pensamentos como aqueles.
A impedindo de destruí-lo.
Preferia mil vezes pensar cenários imaginários, como ele fazia antes de dormir.
O loiro ficava cada vez mais cansado, temia que as suas pernas de repente falhassem e ele simplesmente fosse incapaz de continuar andando. Mas ele continuava com o sua missão constante, os levando de volta para, no mínimo, a moradia mais próxima. Infelizmente a Mansão Malfoy era afastada de tudo e as casas que rodeavam de longe a casa pertenciam a pessoas nada confiáveis, então Draco preferiu continuar com a sua caminhada. Mais dolorosa, mas segura.
Seria demasiadamente mais fácil se eles pudessem simplesmente aparatar e chegar em Hogwarts como em um piscar de olhos, mas o corpo deles estava fraco e Draco não conseguiria aparatar em um estado como esse, além de Harry estar muito fraco para tal.
Um barulho de uma voz baixinha atraiu a atenção de Malfoy, que virou a cabeça para os lados, procurando pelo dono dessa voz.
— Aqui em baixo, Senhor Malfoy — Dobby proferiu alegremente, mas com uma preocupação sobrevoando a sua voz, direcionando o olhar para o corpo desacordado de Harry.
— Dobby? O que você faz aqui? — Draco perguntou, surpreso pelo elfo saber onde eles estavam e ter chegado em um momento tão oportuno.
— Oh! Dobby sente quando o Senhor Harry Potter precisa de ajuda, então Dobby prestou atenção no que o Senhor Snape estava dizendo. Dobby o ouviu resmungar algo como "Harry Potter é tão estúpido de ter ido até a Mansão Malfoy sozinho", então Dobby aparatou até a mansão, mas ela estava vazia. Dobby caminhou seguindo as pesadas na neve. Dobby estranhou que só haviam dois pés, mas Dobby chegou até aqui — respondeu alegremente, orgulhoso de si. — O Senhor Harry Potter está bem? — perguntou preocupado, dando pequenos pulinhos para tentar ver o rosto do moreno.
— Ele ficará bem — Draco o assegurou, voltando a olhar para o rosto calmo de Harry. — Dobby? — indagou, encarando o elfo com uma feição cansada e desgastada.
— Sim, Senhor Malfoy? — inquiriu, o tom de voz de alguém que estava esperando para receber uma ordem para que fizesse algo, demonstrando querer realmente ajudar.
— Você pode aparatar para qualquer lugar, certo? — o elfo assentiu veemente, escutando o sonserino com atenção. — Então, por favor, nos leve de volta para Hogwarts, de preferência direto para a Ala Hospitalar, se isso for possível — o capuz que estava na cabeça do moreno caiu novamente. Draco bufou irritado, o ajeitando na cabeça de Harry pela décima quinta vez.
— Dobby leva vocês de volta! — afirmou alegremente, feliz em estar os ajudando de alguma forma.
O elfo segurou firmemente na mão pálida de Draco, que agarrava o corpo desacordado de Harry com força contra o seu peito como se ele fosse a coisa mais preciosa do mundo, se preparando para a sensação irritante de letargia que sempre acompanhava as aparatações.
A tão familiar área branca da enfermaria surgiu ao redor dos três, o calor do ambiente aquecido entrou em contato com a sua pele, fazendo Malfoy soltar um suspiro agradecido pelo ardor que se instalava dentro de si.
Madame Promfrey — que estava analisando um paciente — levantou de susto ao notar as três novas pessoas no ambiente, mas não passou tanto tempo analisando quem eram, e sim, que havia uma pessoa desmaiada e outra que nitidamente precisava de seus cuidados.
Ela pediu perdão ao paciente que estava atendendo, alegando que precisava tratar de pessoas mais urgentes no momento, e foi correndo em direção ao loiro, solicitando que ele deitasse Harry na maca vazia mais próxima, enquanto enchia o garoto de perguntas.
"O que aconteceu com vocês dois?"
"Por que tem um elfo doméstico na minha enfermaria?!"
"Draco, sente-se! Você está prestes a desmaiar também, não seja tolo!"
Malfoy parecia relutante em decidir o que fazer. Ele deixou Potter em uma cama vazia, vendo a enfermeira correr para atendê-lo as pressas, iniciando vários feitiços, analisando o nível de magia de Harry.
Draco se sentia cansado e dormir com certeza o faria bem, mas ele temia que acordaria sem ter Potter em seus braços, ou pior, o moreno não querer mais vê-lo.
O moreno provavelmente se sentiria confuso em ver que ele não estava mais na Mansão Malfoy lutando contra Voldemort, e sim, em Hogwarts. Draco precisava estar lá com ele.
Malfoy pediu silenciosamente para que Dobby fosse até o seu quarto e desse atenção para o gato deles. Ele havia feito um feitiço que colocava a ração no pote de comida do Ash quando estivesse no horário dele comer. O gato era livre para andar pelos corredores de Hogwarts a noite — assim ele estaria sozinho e em paz —, mas provavelmente estaria se sentindo sozinho e desamparado sem ter nem Draco nem Harry com ele por esse longo tempo.
O loiro queria poder trazer o Ash para a Ala Hospitalar e ficar ali com ele, mas se Poppy visse, ela provavelmente ficaria muito irritada e com certeza expulsaria de vez Malfoy dali, então era melhor que o gato permanecesse sozinho por mais um curto período de tempo.
Madame Promfrey, após realizar diversos feitiços, parou e olhou para Malfoy, vendo o loiro, enfim, sentar na cadeira que estava ao lado da cama de Harry, mas ainda parecia desamparado, sem saber ao certo o que fazer.
— Draco, sente nessa outra maca, eu preciso realizar os mesmos feitiços em você, aparenta não estar muito melhor do que Harry — Poppy indicou a cama que ficava ao lado da do moreno, mas Malfoy recusou, negando com a cabeça.
— Eu estou bem, não vou sair do lado dele — afirmou decidido, mantendo o seu olhar preso em Potter, que não mudava a expressão nenhuma vez.
— Meu querido, vá descansar, ele ficará bem — o assegurou, abrindo um sorriso reconfortante para o sonserino, que assentiu, acalmando-se internamente ao receber a informação de que Harry ficaria bem, mas ele ainda não poderia sair do seu lado.
Draco pegou a mão de Potter na sua e deixou um beijo casto, entrelaçando seus dedos e descansando a cabeça na parede que estava atrás de sua cadeira.
— Draco, eu temo lhe dizer, mas se você não é um paciente, não poderá passar a noite aqui, ao menos que me deixe te examinar.
— Tudo bem — aceitou, revirando os olhos pelo fato de ter que soltar a mão de Harry.
O sonserino caminhou impacientemente para a outra cama, vendo Poppy realizar os mesmos diversos feitiços nele, sentindo-se melhor a cada instante.
Ela ia com calma, fazendo com que Malfoy degustasse de cada instante do sentimento de calma e relaxamento que invadia seu peito. Suas pernas estavam menos dormentes e ele já conseguia voltar a senti-las, mas mesmo assim, alegou que ainda estava sentindo dor e que precisaria passar um longo período de tempo na Ala Hospitalar, pelo menos até Harry voltar a consciência.
Madame Promfrey, já conhecendo o aluno, somente assentiu, contendo o riso do usual drama de Draco Malfoy.
— Você poderia chamar o meu padrinho? Eu preciso falar sobre algumas coisas com ele, por favor — pediu, vendo-a assentir novamente, indo para outra área da enfermaria, provavelmente o seu dormitório, onde ela contactaria Snape.
Quando saiu da vista do sonserino, Draco levantou rapidamente para fora de sua cama, indo até a cadeira onde estava, e voltou a entrelaçar seus dedos, ficando feliz ao notar que a pele de Harry estava mais quente, voltando a sua temperatura usual.
Não precisou esperar por muito tempo pelo seu padrinho, já que Severus praticamente invadiu a enfermaria, indo em direção ao loiro, com uma expressão confusa e preocupada.
— Onde você esteve? — o mestre de poções inquiriu, sua voz saindo exigente e áspera, pedindo por uma resposta.
— Meu pai me raptou e me levou até a Mansão Malfoy, Harry foi até lá sozinho, mas ele acabou ficando preso junto comigo... — Draco começou a explicar, vendo o padrinho escutar tudo atentamente, como se estivesse anotando todas as palavras de Malfoy mentalmente. — Lucius veio, Hazz o desmaiou. Voldemort veio, Voldemort foi embora. Nós pegamos a minha varinha que estava no bolso de Lucius. Voldemort nos encontrou e então o matamos — explicou simplório, como se aquilo fosse a coisa mais normal e simples do mundo.
— Então deixa eu ver se entendi corretamente, Potter foi até a Mansão Malfoy sozinho mesmo? Eu achava que era somente um rumor espalhando — Snape perguntou, um tom de indignação na voz, como se estivesse desapontado com o garoto.
— Depois de tudo que eu te digo, e você só prestou atenção nisso?! — Draco indagou irritado, tentando não elevar demais a voz para não acordar Poppy e os outros pacientes.
— Sim — respondeu com um sorriso irritante no rosto, tirando a paciência do loiro.
— Não me importa, eu só quero que você vá até a Mansão Malfoy e encontre Lucius, tenha certeza de que ele será levado para Azkaban e nunca mais saia de lá. Eu estou disposto a comparecer ao tribunal e dizer todas as coisas que eu tenho para conseguir acabar com a sua vida e eu creio que Harry também — fazia carinho no dorso da mão do moreno para se distrair, aquilo o acalmava.
Snape assentiu, girando a sua longa capa preta e saindo da Ala Hospitalar tão rápido quanto entrou.
Draco ajeitou-se na cadeira, procurando uma posição minimamente confortável dentro naquela poltrona dura. Mas se estivesse sentando ao lado de Harry, tendo completa certeza de que ele estava seguro e não corria nenhum risco de vida, ele já estava satisfeito.
Tinha os olhos pesando e implorando para serem fechados, mas ele não podia se deixar adormecer nem por um segundo, precisava ter certeza de que estava presente quando Potter acordasse, mesmo que isso levasse dias.
Qualquer coisa ele poderia tomar algumas gotas da poção Morto-Vivo, que o deixaria acordado por um longo tempo, mesmo que ocorresse altas chances de haver efeitos colaterais perigosos.
Malfoy tinha a sua outra mão apoiando seu queixo, que quase sempre caía pela quantidade de noites mal dormidas que ele acumulou, mas um barulho diferente da neve caindo fora da janela chamou a sua atenção, assustando-o pela voz áspera e repleta de mágoa que saiu da boca de Harry.
— Por que você está aqui?
xxxxxx
Amo uma treta, eita.
Dobby um amor de pessoa, amo tanto ele.
Vou admitir que até eu me emocionei e surtei com esse capítulo, enfim a autora emocionada.
Votação para eles se resolverem com uma conversa madura —>
Esse capítulo é dedicado para a Malu_moon_ .Obrigada pelo spoiler da tua fic KKKKKKK.
Não se esqueçam de votar <3
4 capítulosss
Amo vocês, até terça que vem!
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