XI

Quando Harry chegou na torre de astronomia, havia a leve brisa da noite invadindo o local e o ar estava úmido, por conta da chuva recente, que tinha acabado de cessar. O ambiente estava iluminado pela luz da lua que se podia se ver presente pela janela. Esporadicamente, dava-se para ouvir algo, somente o barulho dos pássaros era audível, que ressoavam como uma música.

Passou a mão pelas paredes empoeiradas e foi até o parapeito apreciar a vista. O moreno precisava tomar um ar e de um lugar para pensar. Nesses dias, ele se manteve ocupado com os estudos para esquecer sobre a dor da perda de Sirius e toda sob toda pressão que ele estava passando, ainda mais com Dumbledor repetindo o quão perigoso Voldemort estava ficando.

Ver o seu amigo morrer diante de seus olhos e não poder fazer nada a respeito era... doloroso.

No ano passado, ele havia sido possuído por Voldemort e ele teve aqueles sonhos perturbadores que não param.

Nesse ano, eles voltaram com tudo e o menino está ainda mais paranóico e com medo, medo do futuro, medo do que pode acontecer se ele falhar.

Harry estava tentando desvendar seus sonhos, porém ele não conseguia pensar muito nisso sem ficar mal, porque tudo o lembrava de Sirius, em como ele foi irresponsável em ir até lá em um ato de impulso, sem pensar nas consequências que o seu ato poderia trazer. Mas por outro lado, ele também tinha salvado a vida de Arthur, e tudo porque ele apareceu em seu sonhos. Não poderia permitir que com Sirius seja só uma suposição e deixá-lo morrer lá.

Nesse dia, os sonhos tinham diminuídos, ele estava até estranhando. Já que na vida de Harry Potter não se tem paz por um minuto sequer. O moreno sabia que eles voltariam, só não sabia quando.

Ele tinha medo de se tornar mal ou Voldemort machucar quem ele ama, pela conexão que eles tem. Tentava não lembrar muito disso, mas sempre que pensava em família e conforto ele pensava em Sirius ou em seus pais, que estavam mortos.

É claro que ainda tem o Lupin, Hagrid e os Weasley. Mas ele nunca se sentiu verdadeiramente em casa.

Em sua única chance de morar com algum parente sem que o maltratassem ou abusarem, ele perdeu essa oportunidade já que essa pessoa morreu. E ainda por cima tinha toda a pressão que o mundo bruxo colava nele. Sobre ser "o escolhido" para salvar o mundo mágico. Ele sabia que tinha que fazer isso, já que todos os anos o mesmo quase morre. Ou luta com Voldemort. Era como se fosse o único objetivo que ele tinha de vida, nunca tinha pensado muito no que fazer depois de Hogwarts, era só sobreviver para matar Voldemort e depois... lidar com a perda.

Era muita coisa para uma criança de 16 anos. Ele era só um menino.

Várias lágrimas cintilantes escorreram por suas bochechas. Ele soltou leves soluços e mais lágrimas começaram a sair.

Doía muito lembra-se dessas coisas...

Ele estava concentrado vendo alguma estrela específica e ouviu um ruído vindo das escadas.

Eram barulhos de passos e eles vinham pausadamente. Harry já desconfiava quem podia ser, então nem se moveu. Ele permaneceu imóvel no parapeito.

Draco chegou e o ambiente absorveu um silêncio sepulcral.

Logo quando ele chegou, avistou Harry lá e estava indeciso se ia para outro lugar ou permanecia ali. Ele percebeu que Potter não estava incomodado então foi para o outro lado da torre, tendo uma visão perfeita do moreno.

Após alguns minutos, Harry virou-se e procurou pelos olhares de Draco.

Ele viu olhos cansados e com olheiras bem profundas. Estavam parecidos com os dele, porém os do moreno estavam inchados e avermelhados, diferente dos do loiro, que não transmitiam nada.

Malfoy estava com a cabeça virada para a janela, pegando um pouco de vento, que batia em seus cabelos e faziam leves movimentos. Mas permaneciam — como sempre — bem arrumados e penteados. Bem diferente dos de Harry, que eram rebeldes e ficavam espetados para várias direções diferentes.

— Potter... você está chorando? — Perguntou preocupado, chegando mais perto do moreno.

— Ahn... n-não — respondeu secando as lágrimas, virando-se para o outro lado.

— O que aconteceu? — O olhou de esguelha, esboçando um olhar enigmático.

Draco não estava entendendo o porquê de Harry estar assim. Ele raramente chorava e tinha uma vida perfeita, já que era adorado por todos e recebia muita atenção.

— Eu... vim p-para pensar sobre umas coisas. N-nada de mais — respondeu, sua voz pairando no ar denso.

— Hm, sei — resmungou mexendo nas mãos, ele não queria invadir o espaço pessoal de Harry, mas estava ficando preocupado com ele. — Sabe, você pode me contar o que está acontecendo. Naquele dia no banheiro, mesmo eu não tendo te explicado nada, você me acolheu e me ajudou indiretamente — a voz do loiro ressoou entre o vento.

Harry ponderou e Draco sopesou para ver o que era melhor a fazer.

Ele não gostava de muito de contato corporal com pessoas que ele não tinha muito afeto.

Já que a sua família não o faça carinho nem amor. Claro que sua mãe, Narcisa dava, mas Lucius sempre fazia algo para atrapalhar.

Mas Harry havia o ajudado naquele momento de desespero e pânico.

Ele não podia continuar a agir como se nada tivesse acontecido.

Como se aquele beijo impulsivo não significasse algo.

Será que Draco Malfoy estava apaixonado por Harry Potter?

Ele não tinha certeza de seus sentimentos por ele. Mas estava começando a achar que eles eram mais do que inimigos.

Malfoy era gay e disso ele tinha certeza. Sempre foi gay e gay sempre será.

Olhou para cima e viu Harry com os olhos marejados, quase transbordando-se. Draco levantou-se por impulso e chegou perto de Harry.

Ele foi andando lentamente no começo e quando chegava mais perto, ia apressando o passo.

Potter chegou para traz rapidamente por intuito e arregalou os olhos, como se fosse automático.

Malfoy estranhou o ato, ele nunca teve problemas com toques pelo, o que ele sabia.

Só poderia ter uma razão para aquilo: traumas com abuso e violência.

Ele chegou-se mais perto e encostou em suas mãos. O moreno logo tirou suas mãos dele e deu mais dois passos para trás. Ainda dava-se para ver a pequena cicatriz que estava escrito "não devo contar mentiras".

— Harry...?

— O q-quê? — Balbuciou, voltando a olhar para ele, enrijecendo o corpo quase imperceptivelmente.

— Me diga o que está acontecendo. Talvez eu possa ajudá-lo —

— E-eu não sei se vou c-conseguir explicar tudo direito — disse soluçando, recebendo um aceno em aprovação.

— Tudo bem, você não precisa falar agora de não quiser — ele assentiu com a cabeça.

Harry não sabia muito para onde ir, então escorregou suas costas pela parede e caiu no chão. Ele levantou as duas pernas e as abraçou com os braços. Colocou a cabeça entre as pernas e permaneceu ali, se permitindo sangrar. Draco diante daquela situação, não podia deixar de fazer alguma coisa. Então foi até Potter e sentou-se em frente a ele.

O moreno continuava fungando e o choro não diminuía. Quando isso iria parar?

Malfoy chegou mais perto dele e o abraçou.

Ele passou as mãos em volta do corpo de Harry, puxando-o para mais perto. Potter continuou com os braços encolhidos, mas se agarrou a camisa de Draco. Era como uma borboleta encolhida em seu casulo. O loiro entranhou seus dedos nos cabelos do moreno tentando confortá-lo.

— Shii, vai ficar tudo bem — o reconfortou, e Potter apenas se segurou mais em Malfoy, procurando conforto.

— Eu estou aqui é nada pode acontecer com você — afirmou, transmitindo segurança para o outro.

Depois de alguns momentos assim, Harry levantou sua cabeça, que estava apoiada no peito de Draco, e disse:

— Obrigado, Malfoy — agradeceu, sorrindo de lado.

— Agora acha que me consegue dizer o motivo disso?

— E-eu acho que sim — balbuciou, as palavras se embaralhando enquanto ele falava.

— Ok, não se apavore e tente respirar — falou, acariciando as mãos do outro, em um carinho singelo.

Harry achou melhor contar tudo, Draco estava diferente e ele achava que podia confiá-lo.

— Eu estava assim sobre m-muitas coisas juntas... tem a morte de Sirius — escorreu uma lágrima. — Tem a morte do Cedrico — outra lágrima — os meus pais... — parou de falar.

— Mas você não tem os seus tios? Pelo que eu ouvi falar eles te tratavam bem — o loiro indagou, confuso em relação a isso.

— Não — soltou uma risada forçada — eles me trataram que nem lixo. Nem comida direito eles me dão. E ainda por cima de batem. Eu sofri buyling na escola trouxa por conta que tinha que usar as blusas largas do Duda, já que eles não me davam outras.

— Oh, desculpe eu não sabia — fez um carinho em suas costas e acena para ele continuar.

— Em geral, é que eu nunca tive uma família e tenho o peso do mundo bruxo inteiro nas minhas costas, e o fato de eu me culpar por todas as mortes que tem tendo, se eu tivesse feito mais alguma coisa-

— Você não precisa se culpar, Harry. Já  está fazendo muitas coisas por todos, não tem nenhum problema errar, errar é humano — o reconfortou, passando a mão em suas costas, fazendo pequenos círculos com os dedos.

Harry cogitou em falar sobre os pesadelos, mas achou melhor conquistar mais a confiança de Draco para contar algo tão sério assim. Já que no ano anterior os seus sonhos eram meia parte verdade. Esse ano pode não ser diferente.

— Mais alguma coisa que queira botar para fora? — Draco perguntou gentilmente, sorrindo para o mesmo.

— T-tem, mas eu estou tão cansado... — falou, piscando os olhos que insistiam em fechar.

— É, eu também — admitiu.

— Eu vou tirar um cochilo rápido, depois volto para a torre da Grifinória — disse saindo do abraço de Draco e se deitando no tapete que tinha ali.

Ele se colocou em posição fetal e dormiu.

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Estava tudo borrado.

Tinha muitos barulhos e vários gritos. Quase não dave-se para ouvir alguma coisa só.

Tinha pessoas gritando o seu nome, ou só gritando nomes aleatórios.

Ele tentava andar mas seus pés estavam muito pesados que pareciam chumbo. De longe ele avistou uma imagem familiar. Tentou gritar mas sua voz não saia. Sua garganta ardia.

O moreno estava no cemitério que ele foi no quarto ano em hogwarts. Na terceira tarefa do torneio.

Esse cemitério o assustava e perseguia pelo último ano inteiro. Pânico tomou sua voz e ele soltou um berro aterrorizante. Quem estivesse ouvindo ficaria apavorado com aquilo.

Ele ouviu uma voz específica vindo de nenhum lugar. A voz estava baixa no início, mas depois foi se aumentando.

— Potter!

— Potter, acorda!

— HARRY!

Harry acordou em um estrondo e estava desnorteado.

Draco estava debruçado sobre ele e seus olhos tinham pura preocupação e pavor.

— O que aconteceu? Você só tinha ido dormir e eu só ouvi berros. Parecia que alguém estava te lançando um crucio.

Potter tentou falar, mas sua voz ainda estava muito embargada.

— Céus, Potter, você está péssimo.

Ele passou os olhos por seu corpo e viu que o menino estava todo suado e o peito subia e descia rapidamente. Malfoy levou a mão até a testa do outro e tirou uma mecha de cabelo que estava em frente a cicatriz.

— Harry, parece que sua cicatriz está pegando fogo — ele pôs a mão na linha em formato de raio em sua testa, que nem tinha percebido que estava doendo como um inferno.

O loiro percebeu que o outro ainda estava muito apavorado então foi para trás dele. Cercou-o com seus braços compridos transmitindo segurança. Aos poucos sua respiração foi se regulando e ele ficou mais calmo. Potter apoiou sua cabeça no peito do outro e cobriu o rosto com as mãos.

— F-foi só um pesadelo. Já estou acostumado.

— Só um pesadelo? Para quem estava vendo o seu estado era um filme de terror. Você parecia possuído, eu te chamei várias vezes e você não acordava — riu com aquilo, tentando aliviar o clima.

O moreno queria ter a abstinência de não contar o que ocorreu no sonho para ninguém. Mesmo contando para Dumbledor, ele não conseguia aprender oclumência. E muito menos conseguiria dizer nada agora.

— E-eu acho melhor eu ir. Já está bem tarde e Ron e Mione devem estar preocupados. Obrigado, Malfoy.

Draco assentiu, sentindo que o moreno precisava descansar, assim como ele. Viu Harry sair de lá a passos pesados, deixando a Torre de Astronomia.

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