Capítulo 17

UMA BOA CONVERSA COM CARLOS


Se passaram alguns dias desde o incidente, e Augusto não apareceu nas aulas da faculdade, deixando Maurício bem apreensivo. Não queria nada com o ex amigo, mas também não desejava mal a ele. Ficava imaginando o que estaria acontecendo com o outro, mas não tinha vontade alguma de ligar e saber notícias do Guto.

No momento, a única coisa que povoava sua cabeça era se encontrar com Otávio, deixando sua ansiedade estava num nível alto, fazendo-o olhar o relógio da sala de aula a cada instante, chamando atenção de um dos colegas que estavam próximos dele. Não conseguia nem prestar atenção nas explicações literárias do professor. Estava inquieto demais para sair e se encontrar com o loiro o quanto antes. Balançava a perna de forma frenética, sem nem perceber.

- O que está pegando, cara? Até parece que quer ir ao banheiro! - Perguntou o colega, rindo baixo.

- Preciso ir embora, logo! - Bufou impaciente.

- Entendi. - Disse o colega, baixando a cabeça na tentativa de se concentrar no livro aberto à sua frente.

-Você soube algo do Augusto? - O olhou receoso.

- Eu?! Você quem precisa dizer! O cara sumiu! - Arqueou a sobrancelha. - Vocês sempre estavam juntos.

- Infelizmente... - Balbuciou para si mesmo. - Preciso ir!

- Cê tá "loco", cara?! E o resto da aula? - Sussurrou.

- Pode me dizer depois se tiver algo de importante? - Perguntou já guardando seu material.

- Claro! Nem esquenta! - Deu de ombros.

O encaracolado, pediu desculpas ao professor, que o olhou sem entender nada e saiu da sala a passos apressados, já mandando uma mensagem para Otávio, sem perder tempo. Tinha consciência que o homem estava no trabalho e provavelmente ocupado, mas sentia que algo ruim estava para acontecer. Como uma intuição, mas não sabia bem como definir.

Pode vir me pegar? Eu não tô me sentindo bem.

Sentou em um dos bancos disponíveis no corredor, roendo as unhas. Pulou ao ver que seu celular vibrou ao receber uma resposta.

Anjo, eu estou no meio do serviço. Vou tentar dar uma desculpa e sair. Talvez demore um pouco.

- Que merda! - Olhou, ao receber mais mensagens.

Mas você tá bem? Aconteceu alguma coisa? Aquele emo azulado tá te incomodando de NOVO?

Sorriu pela preocupação do mais velho. Sempre tinha a sensação de segurança, quando Otávio o tratava daquela forma. Mandou uma mensagem de volta:

Não.

Apenas quero ir embora e ficar com você. Algo ruim vai ACONTECER. EU SINTO! TÔ ME SENTINDO INQUIETO!

Esperou alguns instantes, que mais pareciam horas e a resposta dele chegou:

Tudo bem, vidente! Vou tentar ser rápido aqui.

Ou darei um jeito, ok?

Revirou os olhos, o achando um imbecil por não levar sua preocupação a sério. Pegou sua mochila, caída no chão e foi até a frente da faculdade. Sentia uma pressão no peito. Precisava de ar puro caso contrário, iria ter um ataque de ansiedade. Andava de um lado para outro, pensando o que poderia dar errado. Ficou esperando alguns minutos, mas o tempo parecia uma eternidade para mudar os segundos, no relógio do celular.

- Maurício! - Olhou rapidamente para a voz que o chamou, vendo Carlos se aproximar.

- Oi! Mas, o que você tá fazendo aqui? - Falou, confuso.

- Otávio pediu pra vir te pegar. - Ergueu os braços.

- Você não mora em outra cidade? - Franziu a testa.

- Sim, mas eu estava por aqui, pra conversar com ele e seu namorado pediu pra eu tirar férias, na marra! Parece que quer minha ajuda em algo.

- Ah claro... - Baixou os ombros. - O roubo do relógio?

- É, isso mesmo! - Sorriu. - Falando assim, até parece algo comum, como regar umas plantinhas... - Riu.

- Eu tento não pensar muito, apesar de ainda achar meio bizarro. - Acompanhou-o na risada.

Iam conversando, enquanto se aproximavam do carro do asiático.

- Quer que eu te leve pra sua casa ou o apartamento dele? - Abriu a porta para o adolescente.

- Hum.... Não quero que meu pai pergunte o porquê de estar em casa mais cedo.

- Seu pai? Relaxa. Ele não tá em casa. - Ligou o carro e começou a dirigir.

- Como que você.... Esquece! - Balançou a mão. - Acho que vou querer que me leve pro apê do Otávio! Nunca fui lá!

- Nunca?! - Arregalou os olhos.

- Não. Nunca fui. - O olhou sem entender.

- Otávio é um idiota mesmo! - Riu. - Mas, mudando de assunto! Ele me disse que você estava passando mal. Tem a ver com aquele seu amigo smurf?

Antes de responder, Maurício caiu na gargalhada. Apesar de não estar com espírito para brincadeiras, pensava que a cada dia eles tinham um apelido novo envolvendo Augusto. Um tempo depois que já tinha se recuperado das risadas, olhou para a estrada, sem vontade de encarar Carlos, dando um longo suspiro, resolveu responder o outro:

- Mais ou menos. Eu não sei, na real! Tô com um mau pressentimento, entende? Parece que algo vai dar errado e Otávio não liga! - Disse, frustrado.

- Já vi isso acontecer, antes. - Engoliu a seco. - Você precisa relaxar. Já tentou se informar se ele está bem, em casa ou algo assim? - Carlos, falava com ele ao mesmo tempo que dirigia.

- Augusto disse que ia descobrir o passado do Otávio. Acha que é isso?

- É bem possível. Esse Augusto não pareceu ser alguém que desiste facilmente. - Disse, estacionando em frente ao prédio em que Otávio morava.

Antes de descer, Maurício, visivelmente preocupado, olhou diretamente para Carlos, antes de fazer a pergunta que o incomodava:

- Acha que o Guto faria algo contra Otávio, Carlos? - Falou, engolindo seco.

- Bom, ele te sequestrou, não? Mas não fique assim, ok? Otávio não é um menino inexperiente, garoto. E ele tem a mim! - Piscou, despreocupado e saindo do veículo em seguida.

- Em que andar é? E como vamos entrar? - Falou, colocando a mochila nas costas.

- No primeiro andar. Nem precisamos de elevador e até parece que já não nos conhece! - Sorriu.

Entraram no prédio, subindo dois lances de escada, chegando ao primeiro andar. Pararam em frente a uma porta branca. Carlos estalou a língua no céu da boca e se agachou, levantando uma das pedras que haviam em um dos vasos decorativos, revelando um buraco. Enfiou a mão, tirando de lá uma chave.

- Viu? -Mostrou a chave, ajeitando a pedra falsa no lugar.

- Vocês dois já não me surpreendem mais! Como você sabia?

- "Facinho"! Vem? - Carlos falava, girando a chave na fechadura, abrindo a porta pra trás.

- Por que ainda me admiro? -Riu.

Ao entrarem, a primeira coisa que Maurício viu foi a foto de Otávio, Carlos e uma mulher entre os dois, no meio do aparador de entrada. Estavam abraçados nela e em frente a um conversível vermelho, que gritava dinheiro. O garoto deu assobio.

- Esse carro ficou tão destruído que mandamos direto para o ferro velho. - O maior estremeceu, ao lembrar. - Dá saudades dela.... Uma garota incrível!

Maurício queria quebrar aquele clima e não sabia bem o que dizer. Olhou para a foto mais uma vez e mudou de assunto.

- É a Jennifer, não é mesmo? - Disse, olhando para Carlos.

-Exatamente. Uma menina incrível. - Sorriu, saudoso.

- Foi neste carro que o acidente aconteceu? - Murmurou, alisando a imagem de Otávio, por instinto.

- Foi nele, sim. Otávio sofreu por um longo tempo, se culpando. - Encarou a foto. - O engraçado é que Otávio pediu para um policial tirar esta foto pra gente, bem antes daquele dia. - Riu, desolado. - Seu namorado não tinha medo de nada! Era atrevido!

- Agora não quer sair do trabalho pra me buscar. - Cruzou os braços. - Aquele ridículo!

- Antes, ele não tinha nada a perder, Maurício. Quer dizer, pensava que não tinha nada a perder. - Suspirou. - Agora ele tem você, esse emprego normal, tem uma vida comum. Ele não pode mais fazer as próprias regras. Assim, como eu.

- Mesmo assim, aceitou pegar o relógio do meu pai com ele. - O olhou, em desafio, rindo.

- O que não se faz por um amigo apaixonado, não é mesmo? - Ergueu os braços em rendição.

- Acho que você não sabe, mas.... Otávio roubou uma caneta do chefe dele! - Riu, ao contar.

- Pelo amor de Deus! Uma caneta? Eu vou matar esse idiota! - Massageou as têmporas. - Mas devolveu, certo??

- Não sei, acho que sim. - Falou, enquanto se afastava, olhando tudo ao redor e jogando a mochila num sofá azul escuro.

- Por isso que eu não queria me mudar! Ele é um imbecil impulsivo! Uma caneta! - Bufou.

- Ei! Não fala assim dele! - Riu. - Obrigado pela carona, Carlos. Acho que só precisava conversar e me distrair. - Falava, ao mesmo tempo que olhava os belos quadros na parede.

- Sem problemas, garoto. Eu não tenho muito o que fazer agora. Sabia que já decorei a senha da porta da sua casa e os horários em que sua mãe e seu pai estão ausentes? - Sentou no sofá.

- Sério?! Uau! São muitas coisas pra lembrar! Como você faz?? - Virou-se na direção do rapaz, que estava jogado no sofá.

- Memória fotográfica. - Apontou para a própria testa. - Poderia ter usado isso em algo útil. - Riu.

- Você deve ter ido bem em todas as provas da faculdade. - Sentou ao lado dele.

- E como! - Sorriu, orgulhoso. - Otávio roubava os gabaritos.

- Meu Deus! Ele não passou por mérito? - Perguntou em choque.

- Bom! Era seu mérito abrir a porta do escritório do professor, pegar o documento, levar pra eu decorar e depois deixar como achou, sem ser visto pelas câmeras. - Piscou o olho para ele

- Ouvindo você falar, não parece difícil. - Murmurou.

- Falei que ele tinha mérito. - Deu de ombros.

- Mas não tá certo! Agora vocês estão oficialmente aposentados! - Falou, franzindo a testa. - Otávio tá me ligando. - Mostrou o aparelho.

- Me dá aqui! Tive uma ideia! - Riu e atendeu no viva-voz. - Fala!

- Onde Maurício está? Por que tá com o celular dele?

- Como assim? Você pediu pra eu só pegar as coisas dele na faculdade. Foi o que eu fiz, seu garoto deixou no armário e vim pra sua casa. - Seu tom destoava do sorriso que tinha no rosto, amava incomodar o loiro.

- Em que mundo eu pediria para pegar as coisas de alguém e não a própria pessoa?

- Bom... eu acho que entendi errado... - Segurou o riso.

- Não responde! Nem quero saber a desculpa que ia me dá! - Era nítido em seu tom o nervosismo. - Se ele não está com você, então, tá com quem?

- Sei lá! O garoto é seu! - Colocou o indicador na própria boca, indicado para o mais novo não rir. - Ele deve ter saído com alguns amigos, vocês não estão oficialmente juntos, de qualquer forma. Ele é jovem e merece se divertir e....

- Nossa! Muito obrigado pela ajuda! Vou me lembrar disso na porra do seu funeral! Eu vou te matar, japa desgraçado!

- Tadinho, Carlos!! Deu de irritar o meu loiro da terceira idade! - Pegou o celular, dando risada.

- Maurício!? Você estava aí o tempo inteiro?!

- Sim! Foi ideia do Carlos te irritar! Não tenho nada com isto, apesar de achar engraçado! - Riu. - Desculpa!

- Loiro da terceira idade? Sério?!

- Se eu sou seu garoto, nada mais justo! - Riu.

- Ah! Ele tem um bom ponto. - Carlos gritou, dando risada.

- Você fica quieto, eu ainda quero te matar! - Bufou. - Você tá bem, anjo?

- Tô, sim. Agora, tô bem. - Tapou a boca para não rir de Carlos fazendo menção de vomitar. - Para de rir dele, que maldade!

- É isso! Eu vou matar esse ninja hipster falsificado!

- Já pensou que alguém do seu trabalho está ouvindo?

- Eles vão entender se eu explicar que meu namorado e meu único amigo se juntaram pra zoar com a minha cara!

- Namorado? Você tem um? - O encaracolado perguntou divertido.

- Não fala assim, anjo. - Murmurou. - Sabe que gosto de você e quero namorar com você!

- O garoto já te colocou uma coleira! - Carlos riu alto. - Isso é engraçado de assistir, cara!

- Vai a merda! Eu ainda vou te matar! Me deixa chegar aí. - Resmungou.

- Estamos te esperando no seu apê. É só vir e me matar. - Riu mais um pouco. - Aliás, precisamos discutir alguns detalhes, amiguinho.

- Tudo bem! Daqui uma hora mais ou menos, tô saindo daqui e vou direto pra casa. Carlos, pelo amor! Faça algo para Maurício comer? Anjo, até daqui a pouco! E você, Carlos, vai a merda outra vez.

Desligou.

- Ele não me tratava assim antes. A culpa é sua, Maurício. - Apontou para o mais novo, que riu. - Quer um refrigerante? Um sanduba?

- Eu vou querer, sim! Tô louco de fome!

Carlos se levantou, indo até a cozinha, abriu a geladeira e ficou preparando um sanduíche, pegando dois refrigerantes.

- Valeu! - Sorriu, vendo-o preparar um lanche.

- E como está seu relacionamento com seus pais, garoto?

- Ah.... Meus pais vivem por aparência, Carlos. São dois estranhos, vivendo uma mentira e isso tá me cansando.

Carlos foi até ele, alcançando um prato com sanduíche e o refrigerante.

Sentou ao seu lado.

- Olha só. Eu não conheci meus pais, portanto não sei se posso dar algum conselho em relação a isto, mas posso lhe dizer que nada é pra sempre. - Bateu de leve em sua coxa. - Até mesmo esta situação toda que você vive com eles. Logo irá se formar e sair de casa, arranjar um trampo, morar sozinho. Estas coisas da vida adulta. - Deu um gole em seu refrigerante, antes de continuar. - Tenta não deixar estas vibrações pesadas atrapalharem seus estudos, ok?

- É, eu sei... Mas, nenhum filho quer ver os pais se tratarem com tanto fingimento. - Deu uma mordida no sanduíche.

- E aí? Tá gostoso? Sou quase um "chef" em sandubas! - Riu, jogando o corpo pra trás, no sofá.

- Hmmm... Uma delícia! Obrigado! - Falou, dando um gole do refrigerante gelado.

- Eles tiveram a chance de mudar e não fizeram. São adultos e não tem nada que você possa fazer para mudar. - Sorriu, largando a latinha sobre a mesa à sua frente. - Cada um tem seu destino, amiguinho!

- Sim... Eu sei.

- Apesar de tudo, ainda são seus pais. Isto é o que importa! Eles sabem que você é gay?

- Minha mãe, Carlos! - Se ajeitou pra contar. - Ela me surpreendeu alguns dias atrás! Acredita? Mas meu pai... Aquele nem a pau que vai aceitar ter um filho "boiola" - Falou, dando ênfase à última palavra, dobrando dois dedos das mãos.

- Não fica assim, ok? Não se sinta inferior ou diminuído, por conta do preconceito dele. Algumas pessoas não estão preparadas para respeitar as diferenças. - Chegou mais perto do garoto, sorrindo. - Nunca deixe que opiniões desnecessárias como esta, te façam infeliz, ok? - Sorriu, apaziguador.

- Obrigado, Carlos. É bom ouvir coisas positivas, às vezes. - Sorriu, tímido.

Ficaram conversando até que ouviram barulho na porta e Otávio entrando em casa.

- Vem aqui! - Otávio correu atrás de Carlos.

- Me protege, Maurício! - Riu desviando do amigo. - Só era uma brincadeira! Socorro!

- Otávio, deixa ele! - Ficou na frente do mais velho, selando os lábios rapidamente. - Foi engraçado, você precisa admitir.

- Achando graça da minha preocupação. Que coisa feia, para um anjo! - Cerrou os olhos. - Vem cá... Tava com tantas saudades! - O abraçou.

- Para de ser tão meloso! - Carlos fez uma careta. - Você não era assim antes...

- Você! - Apontou na direção do amigo. - Fica quieto! Não vê que estou ocupado? - Apertou o mais novo contra si. - Eu fiquei tão preocupado com você, anjo! Já comeu? Ele cuidou bem de você?

- Acho que vou vomitar... - Disse Carlos, fazendo sinal com o dedo em direção a boca.

- Sai, Carlos. Só sai! Obrigado por tudo e tchau!

- Mas, não íamos acertar...

Otávio abriu a porta, sem tirar os olhos de Maurício, esperando que o amigo entendesse o convite.

- Ok.... Já tô saindo... Ninguém liga se eu sair, não? Tô saindo! - Saiu, se despedindo dos dois, fechando a porta atrás do casal, que estavam abraçados.

- Gosto tanto de sentir seu cheiro, Otávio.... Me acalma... - Gemeu baixinho.

- Está tudo bem com você, meu anjo? Você me deixou tão nervoso! - Falou, beijando o encaracolado.

De um beijo suave, foi se tornando cada vez mais quente e exigente, fazendo Maurício quase perder o fôlego, se apoiando nos ombros largos do loiro. Estava entre a parede e o peito do maior, fazendo com que sentisse um calor por toda a extensão do seu corpo.

- Me beija mais... - Fechou os olhos, se deixando levar pela sensação que estava sentindo.

Otávio sabia que aquele não era o momento. Não era assim que ele desejava que fosse para o encaracolado.

- Maurício... Espera. Vamos com calma, anjo.

- Você não me quer? - Falou choroso.

- Preciso levar você pra casa, agora. Não é isto! É claro que desejo você! Mas, ainda quero que seja num encontro especial! Você merece que seja algo especial como você, meu pequeno.... Eu...

- Você? ....

Otávio foi cortado pelo celular dele, que vibrava alto no bolso do jeans, se afastando do menor, para atender. Passou a mão pelos cabelos, exasperado. Não queria que nada atrapalhasse aquele momento com Maurício, mas a vida real o chamava e até agradeceu o destino, pois não sabia se conseguiria aguentar mais, ter o outro tão perto, sem avançar o sinal.

- É do trabalho. Preciso atender, anjo. - Até ele se surpreendeu com o tom ronco da sua voz, de tão excitado que estava.

Se afastou, indo até o sofá, sentando com o corpo pra frente. Atendeu, tentando manter a postura, mas a imagem de Maurício, tão doce e entregue às suas carícias, não saia da sua mente.

- Alô? Sim, é ele!

Maurício, se aproximou, ficando parado a sua frente, com um olhar frustrado. Otávio não queria magoá-lo, mas ele tinha suas razões para se segurar e não avançar com o encaracolado. Desejava ser alguém inesquecível e que oferecesse o melhor que um relacionamento poderia oferecer. Para ele, que travou toda e qualquer reação emocional, se deixou envolver por um garoto tão especial. Ele realmente estava gostando do Maurício.

- Vou pra casa, Otávio. Daqui a pouco minha mãe chega da aula de yoga.

- Um instante, sim? - Falou para a pessoa do outro lado do aparelho. - Eu vou chamar um carro de aplicativo para você. Espera só um minuto?

- Um minuto. - Maurício disse, pegando sua mochila largada no sofá.

Minutos depois, o carro que o loiro pediu, estava à frente do prédio, aguardando Maurício. Os dois desceram juntos, se despedindo com um demorado abraço.

- A gente vai se falar mais tarde? - Disse, antes de embarcar.

- É só me ligar, que largo tudo pra falar com você!

- Larga mesmo? - Disse, já sentado no banco de trás do carro, colocando o cinto e agarrando a mochila contra o peito, visivelmente chateado. - Não foi o que eu vi hoje.

Otávio não teve tempo de dizer qualquer coisa. Mas sabia que nada adiantaria, já que o outro não iria compreender frustrado daquele jeito. Logo aquele bico todo iria se desmanchar. Mesmo assim, Otávio sorriu ao vê-lo fazendo beicinho, ao entrar no carro.

- Meu anjo.... Fica lindo de beiço virado! - Riu, entrando de volta no prédio.

(3239 palavras)


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top