Capítulo 12

UMA MENTIRA DE CABELO AZUL

     No apartamento de Augusto, o rapaz viu o telefone de Maurício tocar sendo um número desconhecido.

- Seu celular tá tocando! – Gritou.

Maurício, que estava tomando banho, tentou responder, mesmo debaixo do chuveiro:

- Quem é?

Augusto foi até o banheiro, abrindo a porta, sem cerimônia alguma:

- Olha, eu não sei. É um número desconhecido, cara.

- Atende pra mim, por favor? Mas acho que são aquelas operadoras chatas! – Riu.

- Tudo bem... – Aceitou a ligação. – Alô?

- Maurício? É você?

- Quem quer falar com ele? – Arqueou a sobrancelha.

- Aqui é o Otávio.

(Silêncio)

- Esse não é o número dele. Sinto muito. – Sorriu.

- Quem é, Guto? – Colocou a cabeça para fora do box.

- Acho que é engano, amor. Estão procurando por um tal de André. – Riu alto.

- Eu não acredito. Fala, sério... – Suspirou.

- É, moço! Aqui não tem André, não. Acho que ele te passou o número errado de propósito! Foi mal!

- Desculpa aí, cara! – Maurício gritou rindo.

(Otávio engoliu a seco ao ouvir o encaracolado)

- Qual a dificuldade de passar o telefone pra ele, cara?

- Ai, ai...

(Ele ouviu o outro estalar a língua no céu da boca)

- Passa o telefone para o Maurício, agora! – Berrou ao telefone.

Desligou na cara de Otávio

- Quer que eu bloqueie? Pra não se confundirem novamente?

- Não precisa. Dificilmente bloqueio um número. Vai que algum amigo muda de número e pega aquele. Sei lá!

- Bom! Você quem sabe! – Disse, enquanto bloqueava o número.

- Aii! Entrou shampoo no meu olho! – Bufou. – Isso arde!

Augusto sorriu, ouvindo ele dizer o porquê preferia shampoos infantis, usando vários argumentos. Gostava de Maurício e não abriria mão dele.

De madrugada, Maurício foi até a cozinha roubar algo para comer, usando o celular. De repente, recebeu mensagem de outro número desconhecido.

Eu não sei se você vai ler isso, mas me perdoa por não ter chegado na hora. Só quero te encontrar de novo.

Franziu a testa ao ler aquilo. Será que era quem ele pensava que era?

Resolveu ligar para o número, esperando alguém atender.

- Puta merda! Você atendeu!

O encaracolado paralisou ao ouvir aquela voz.

- O....Otávio? – Murmurou.

- Sim! Sou eu! – Riu de nervoso.

(Silêncio)

-Tinha todo um discurso, mas agora só sei pensar o quanto tô com saudades de você!

- Fala logo o que você quer, Otávio. – Suspirou.

- Ok! Eu sei que está bravo. Você tem razão pra estar. Mas eu posso explicar a demora! Me deixa explicar ao menos!

(Silêncio)

- Maurício? Você está aí?

- Você não apareceu, Otávio. – Disse tentando não chorar. – Você me falou que se não aparecesse, era pra eu te esquecer. Por que isso agora?

- Eu sei o que disse! Fui idiota em ter dito aquilo! Nunca quis que me esquecesse! Eu não consigo te esquecer! – Tossiu por falar rápido demais.

(Silêncio)

- Não desligue! Eu apareci, Maurício! Eu juro! Vi você e seu... seu namorado? – Sua voz estava falha por tossir muito.

- Por que demorou tanto? – Enfim, conseguiu falar.

- Eu... Só um minuto. – Tentou puxar o ar. – Carlos!

Maurício franziu a testa sem entender o que estava acontecendo do outro lado da linha.

- Oi? Eu sei que não me conhece. O Otávio está passando mal, podem continuar a conversa amanhã?

- Passando mal? Como assim? Por quê? – Perguntou preocupado.

- Acho que ele mesmo poderá te explicar isso. Quando não estiver parecendo um velho tossindo, né? – Riu. – Pode aparecer amanhã na faculdade?

- Bom... Acho que sim. – Balbuciou. – Como ele tá?

- Um velho tossindo. E é claro, tentando pegar o celular de mim! Pode aparecer as três da tarde?

- Combinado, então. Eu vou aparecer. – Suspirou.

- Beleza, então!

- Mas, e se vocês não aparecerem?

- Quer dizer que eu precisei levar ele para o hospital. Mas nos espera, por favor! – (Desligou)

Maurício apertou o telefone contra o peito, já não sentindo mais fome. Ele agora morria de preocupação, pois Otávio parecia mal realmente, ao mesmo tempo, raiva por estar se sentindo um trouxa. Sentia um nó subindo pela traqueia, sufocando a vontade de chorar.

"Otávio não pode sumir e aparecer do nada, dizendo que sentia saudades! Isto tudo dói tanto!" – Pensou, enquanto segurava a vontade de chorar.

Otávio estava tão ansioso para encontrar Maurício, que quase não dormiu, incomodando um Carlos que apenas não o xingou por estar internamente feliz pelo amigo.

Maurício contou a Augusto o que tinha acontecido, deixando o rapaz irritado com aquilo.

- Acha que vale a pena ir? – Cruzou os braços. - Depois de todo esse tempo? – Os dois estavam sentados na pequena mesa de jantar, um de frente para o outro.

- Eu quero saber o que aconteceu, Guto! Ele parecia doente e honesto no que dizia.

- E quem garante que não era fingimento para acobertar o tempo que sumiu? – Arqueou a sobrancelha.

- Por isso eu vou até lá! Para descobrir. – O encarou, decidido.

- Eu não vou com a lata deste cara, viu! Ele não te deu valor, some e agora surge como se estivesse tudo bem! – Ergueu os braços, quase gritando

– Guto, por que tá tão resistente sobre eu encontrar o Otávio? Você vive dizendo que ele nunca se deu ao trabalho de se explicar. Pois bem! É o que ele vai fazer hoje. Qual o problema?

- Sei lá! Tenho medo dele te machucar de novo. Eu estive todo esse tempo ao seu lado e você ficou com ele por uma semana apenas! – Suspirou. – Não é justo, cara!

- Justo? – Franziu a testa. – Isso não é uma competição, Augusto! – Levantou, indignado.

- Maurício... – Tentou controlar a raiva. – Ele te enganou uma vez e vai te enganar novamente.

- Eu vou ir com ou sem você! – Levantou-se.

Foi em direção ao quarto para pegar sua mochila, já estava lá tempo demais e estava na hora de tomar suas próprias decisões. Sentia-se preso a uma amizade com cara de relacionamento sério e tóxico.

Augusto bateu na mesa com raiva. Parecia que tinha subestimado a capacidade de Maurício de ser decidido no que queria. O encaracolado parecia alguém que não questionava e só obedecia. Mas agora, via o quanto estava errado.

Perto das três da tarde, o de cabelos coloridos resolveu ir com Maurício para se encontrar com Otávio. Não facilitaria as coisas para o outro.

Na casa de Otávio, Carlos tentava acordar o loiro a todo custo.

- Você precisa ir encontrar o Maurício, seu idiota! – O balançou vigorosamente.

- O que? ... – Balbuciou grogue pelo remédio.

- Vamos! Não pode se atrasar de novo! – O puxou para fora do sofá, derrubando-o – Otávio! Quer perder essa chance de ficar com ele? – Berrava.

- Não! Não mesmo! Vamos! – Levantou, bocejando. – Que horas são?

- Quase três Horas. – Riu, ao vê-lo se assustar. – Você está horrível, mas não acho que ele vai ligar muito! Vem logo! – Segurou-o pelo braço.

Guiou o amigo até o carro, que ainda parecia cansado. O ajudou a se sentar no banco do carona, fez a volta, sentou-se ao seu lado, colocando o cinto.

- Esse remédio te derruba mesmo, hein!

- Pior que é! E não sei porque me dá tanto sono. – Suspirou. – Pelo menos daqui a pouco paro de tomar.

- Um conselho. Tenta não morrer tossindo na frente do garoto. – Caiu na gargalhada.

- Vai a merda? Obrigado. – Resmungou.

Chegando no local, Carlos, manobrou o carro, estacionado quase em frente a faculdade. Olhou ao redor e não conseguiu ver Maurício. Saíram do veículo e andaram até a frente da faculdade, olhando em todas as direções.

- Nos atrasamos tanto assim? – Otávio perguntou apreensivo.

- Não. Só dez minutos. – Franziu a testa. – Acha que ele não te esperaria?

- Não sei... – Olhou em volta. – Que merda! – Passou a mão no rosto.

- Relaxa, ok? Vem aqui e se encoste na parede. Vamos esperar mais. Talvez ele tenha atrasado um pouco. – Se encostou na parede ao lado do amigo.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

- Acho que ele não vem. – Murmurou.

- Otávio, calma. – O olhou. – Você vai contar sobre tudo?

- Não sei, acho que sim. O que eu tenho a perder?

- A liberdade? – Arqueou a sobrancelha. – Literalmente!

- Não acho que ele contaria ao pai. – Cruzou os braços. – Ou contaria?

- Pelo amor de Deus, Otávio! Me deixou até nervoso! – Tirou uma carteira de cigarros do bolso e pegou um. – Me dá o isqueiro.

- Não tá comigo, eu não fumo.

- Eu vi você pegar. – Estendeu a mão.

- Você não perde o olho! – Riu e jogou o isqueiro.

- Olha quem fala! O mão leve. – Acendeu o cigarro, tragando.

Ficaram esperando até Carlos apagar a "bituca" na parede.

- Acha que a gente deve ir embora? – Falou duvidoso de que o menor chegaria.

Foi perguntar para um carro dobrar a esquina, se aproximando.

- É o carro do emo. – Fez com a cabeça em direção ao carro.

Carlos riu pelo apelido, enfiando as mãos nos bolsos.

Maurício saiu do veículo ao lado de Augusto. Vieram atravessando a rua, quando os olhos deles se cruzaram de longe. A mesma emoção de antes, surgiu.

- Oi? – Otávio tentou não sorrir grande.

- Oi. – O mais novo o olhou. – Você parece bem mal.

- Eu tô melhorando. – Colocou as mãos no bolso. – E você parece com dezenove ainda. – Brincou.

- Obrigado! – Revirou os olhos rindo.

Se virou na direção à Carlos, sorrindo:

- Você é quem conversou comigo por telefone?

- Sim, sou o Carlos. Amigo que ficou cuidando desse idiota ao invés de ir pra festa e arranjar uma namorada! – Deu de ombros.

- O que aconteceu pra você ter ficado doente? – Franziu a testa, na direção do loiro.

- Bom! Naquele dia, estava chovendo bastante e para variar, meu carro tinha pifado. Eu vim de casa a pé e cheguei atrasado. – Suspirou.

- Não sabia que tinha vindo... - Murmurou

- Eu não terminei. – Levantou o indicador, surpreendendo o encaracolado. – Eu te vi entrar no carro dele e por coincidência, ele também me viu. – Riu sem humor.

- Isso é verdade? – Maurício olhou para Augusto.

- Claro que não! – Cruzou os braços.

- Por que está mentindo? – Arqueou a sobrancelha. – Você me olhou diretamente. E eu ali, passando mal.

- Eu não tô mentindo! Qual a dificuldade de assumir que não veio?

- Faz sentido! Eu simplesmente sumo por não querer nada com Maurício, mas de alguma forma milagrosa, eu mudo de ideia e corro atrás do número dele. – O olhou com tédio. – Ainda bem que nem todo adolescente é tão burro assim!

- Como conseguiu meu número?

- Bom, a gente foi até a pousada, Carlos conversou com a Cecília e Amada me passou seu número. – Deu de ombros.

- Você foi até lá só pra conseguir meu número? – Sorriu grande.

- Sim. Levei alguns xingamentos da Amada, algo bem a cara dela. – Riu.

- Uau! – Murmurou.

- No dia, até gritei seu nome. Mas acho que não me ouviu pelo barulho da chuva.

- Eu ouvi! – Disse empolgado. – Eu ouvi! – O abraçou apertado pelo pescoço. – Você veio me ver!

- Sim, mas antes de cumprir com a minha promessa, eu quero te contar tudo e você decide se quer sair comigo. – O afastou de si.

- Me contar o que? – Franziu a testa.

- Você vai contar na frente do emo? O cara te deixou pra morrer na chuva. Eu não confiaria! – Carlos riu alto.

- Ei! Eu não sou emo, idiota! – Disse, irritado.

- Ah, mais uma coisa! – Sorriu. – Eu te liguei, mas seu namorado atendeu e fingiu ser engano pra não te passar o telefone. André, se não me falha a memória.

- Por que você fez isso?! – Maurício o olhou.

- Eu... – Tentou pensar em uma desculpa. – Tenha dó! Você o conheceu por uma semana!

- Uuuuhh! – Carlos levantou as sobrancelhas e gesticulou as mãos. – Alguém tá com ciuminho!

- Fica quieto! – Otávio bateu em seu braço.

- Eu sei que a gente só conversou por uma semana, por isso que eu queria sair com ele aqui fora. – Respondeu para Augusto.

- Ah! E ele não é meu namorado. É só meu amigo. – Corou, fazendo o loiro sorrir por sentir saudades de o ver tímido.

- Por que você não espera no seu carro? – Carlos disse, empurrando Augusto até o veículo. – Se ele te quiser, vai embora de carona com você. – Bateu em seu ombro.

- Eu não vou deixá-lo com um cara que nem conhece direito! – Falava alto, tentando se desvencilhar de Carlos.

- Vai ter que passar por mim. Como vai ser? É melhor não teimar, garoto. – Riu.

- O que eles estão conversando? – Maurício perguntou, olhando os dois mais afastados.

- Nada importante. – Balançou a mão. – Eu realmente preciso te contar o que eu realmente fiz e o motivo da minha cicatriz.

- Otávio, você não precisa me contar. – Franziu a testa. – Você se fechou várias vezes na pousada quando começava a falar demais.

- Por isso que quero contar. – Suspirou. – Eu quero que fique comigo sabendo de tudo e não a metade.

- Bom, se vamos contar segredos, eu tenho um também! Eu já derrubei achocolatado no vídeo game do meu primo pois eu não tinha ganhado igual. – Fez uma careta. – Falei que tinha sido ele.

- Você é precioso! – Sorriu. – Meio mimado, mas precioso.

- Ele mereceu! – Deu de ombros, rindo. – Eu já "colei'' em matemática e química.

- Você é um monstro! Não conseguiria te perdoar depois dessa.

- Fala sério. O que quer me contar?

- Na minha cabeça era mais fácil falar sobre isso. – Coçou a nuca.

- Começa do começo. Simples! – Alisou o rosto do loiro.

- Certo! Sabia que este dia chegaria. – Tentou sorrir. – Só espero que você não acabe me odiando depois de tudo. – Tossiu.

- Tem certeza que quer falar aqui? – Maurício estava preocupado.

- Vou contar tudo, mas terei de resumir, porque levaria horas e não sei se estás preparado...

- Eu estou já há muito tempo, Otávio.

- Pois bem. Eu vou te contar. - Suspirou fundo

E foi o que Otávio resolveu fazer.

Começou explicando o início de tudo. Horas depois, sentiu um mal-estar repentino, pois ao terminar sua história, poderia ter de abrir mão do sentimento, que estava nutrindo pelo garoto à sua frente, que o olhava com seus belos olhos. Sua reação ainda era enigmática, deixando Otávio apreensivo.

Numa distância segura, Carlos que tentava impedir que Augusto interrompesse a conversa, olhava os dois, rezando que o garoto absorvesse de maneira gentil. Caso contrário era bem provável que seu amigo desistiria do amor.

(2446 palavras)

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