1 - Um chute nunca foi tão prazeroso

Eloise optou por usar um vestido branco e de renda lisa, acompanhado de uma sandália de salto fino e um penteado com uma flor branca presa à sua orelha; Nos lábios, um batom em tom nude, e no restante do rosto, uma maquiagem leve. Após toda a produção, a jovem encarou o seu reflexo no espelho e sorriu, com receio do que estava prestes a fazer.

A morena respirou fundo, em seguida pegou sua bolsa em cima da escrivaninha e se dirigiu à porta, parando no meio do caminho, como se detida por algo. Sua consciência? Ela ficou em pé no mesmo lugar durante o que pareceu uma eternidade e olhou para trás, quase desistindo; mas ela já estava decidida, e isso não foi um empecilho. Eloise seguiu adiante e saiu.

Talvez a moça devesse realmente repensar no que estava prestes a fazer, mas o seu coração estava tão despedaçado que, mesmo pensando em desistir, ela o faria. Eloise entrou no carro e foi de encontro ao casamento. Sim, o casamento de Tyler.

Com sede de vingança, ela desceu de seu carro com a postura altiva, torcendo para não deixar transparecer o quanto o seu coração estava destroçado, assim como a sua dignidade.

A cerimônia era ao ar livre, e Jane, a noiva, escolheu tudo com carinho, pensando nos mínimos detalhes. Aquele era o casamento dos sonhos de Jane. Todos os dias, ela pensava na marcha nupcial, na caminhada até o altar e, principalmente, em como o seu noivo, Tyler, era o cara perfeito para ela.

Jane sempre teve em mente uma ideia formada sobre como seria o casamento perfeito, aliás, desde sua infância, ela colecionava vários cadernos, onde anotava tudo o que imaginava sobre esse momento. Em nenhum de seus planos e anotações, a jovem pensou na remota possibilidade de que a ex-mulher de seu noivo fosse aparecer para atrapalhar todos os seus planos.

Eloise se sentou em uma das últimas cadeiras do local da cerimônia e reparou em cada detalhe do ambiente: as cadeiras transparentes que davam um ar de naturalidade ao ambiente, mesmo sendo ao ar livre; a passarela com arcos de rosas brancas e, claro, o altar que estava lindo, feito de madeira bem polida. "Que lugar incrível", pensou Eloise.

Apenas nesse momento, Eloise percebeu como as pessoas a olhavam estranho. Aquilo, definitivamente, estava relacionado ao fato de ela estar de branco, assim como a noiva estaria. Para os convidados, aquilo era, além de uma falta de noção, uma falta de respeito com a noiva; mas para a jovem Eloise era o primeiro passo e, até então, único do seu plano contra o ex-marido.

No momento em que Eloise correu o olhar pela passarela que dá acesso ao altar, ele apareceu em seu campo de visão. Tyler estava sorridente e muito bonito, vestido em seu terno azul. Vê-lo daquele jeito deixou a jovem zangada, mas também triste e pensativa sobre a péssima ideia que teve de aparecer vestida de branco e, ainda por cima, sem ser convidada.

O plano que Eloise preparou para se vingar do ex estava indo por água abaixo, apenas pelo fato de ela não conseguir conter o turbilhão de emoções que consumia suas entranhas. Se isso foi um sinal de alerta, ainda haveria tempo de voltar atrás? A moça se levanta, um pouco agachada. Seu intuito era ir embora e desistir daquele plano idiota, mas naquele momento todos os convidados se levantaram, movidos pelo som da marcha nupcial.

Era tarde demais para a Eloise. Era tarde demais para voltar atrás.

Com passos lentos e um deslocamento suave ao som da marcha nupcial, a noiva surgiu com um vestido longo sem volume, revestido de renda e tule. Jane escolheu se casar com o cabelo solto e luminoso, totalmente liso, grande e preto. Na cabeça, apenas um diadema simples, e no rosto, um dos maiores adereços, um enorme sorriso.

Eloise sentiu raiva ao olhar para a noiva, pois aquela mulher estava se casando com o seu homem, o seu Tyler. Assim que Jane passou pelo primeiro arco de rosas que cobria a passarela, notou a presença de Eloise. O semblante da noiva ficou estupefato ao vê-la de branco e, principalmente, por não conhecer a mulher que decidiu estragar a tradição.

Quando chegou ao altar, Jane já não estava mais com um sorriso estridente, mas Tyler nem percebeu, pois em seu âmago, ele se sentia feliz e realizado por ver a Jane ao seu lado no altar. O pastor começou a realizar a cerimônia e tudo corria bem até a bendita frase.

— Se alguém é contra esta união, fale agora ou cale-se para sempre — o pastor disse apenas para cumprir o protocolo da cerimônia, com um largo sorriso, provavelmente por realizar mais um casamento.

Todos os convidados se olharam com expectativa e tensão. Eloise tentou controlar o nervosismo e a raiva que a estava consumindo fechando os olhos com bastante força. Não houve tempo hábil para desistir do seu plano, mas a jovem poderia ao menos tentar dissipar todo o amargor que estava consumindo os seus pensamentos, até conseguir sair correndo dali. Contudo, assim que ela reabriu os olhos, deparou-se com várias pessoas olhando-a. Os convidados demonstravam estar confusos, mas Tyler, não. O noivo sabia o porquê daquela mulher estar ali.

O desespero começou a tomar conta dos pensamentos e do corpo de Tyler, porém ele não deixou de notar a flor branca artificial presa à orelha de Eloise. Era impossível não reconhecê-la, pois foi ele mesmo quem a deu à moça.

— Quem é essa garota? Por que ela está de branco, prestes a estragar o meu casamento? — Jane perguntou a Tyler com raiva, quase como um sussurro, tentando não tirar o sorriso dos lábios. Ao mesmo tempo, a noiva fuzilava Eloise com os olhos.

Tyler até tentou raciocinar uma boa resposta para todas as perguntas de sua noiva, mas não conseguiu. Naquele momento, ele só queria se esconder e omitir a mentira que criara.

— Eu sou contra este casamento! — Eloise gritou, involuntariamente.

Ela cerrou os punhos, enquanto lágrimas começavam a se formar em seus olhos, e sua garganta a doer, por estar seca. A jovem saiu de onde estava, caminhou até o meio da passarela e olhou fixamente para Tyler com um misto de raiva e decepção.

— Com a traição eu até me conformo, mas como você pôde se casar apenas três dias depois do nosso divórcio?

— Espera aí... Você era casado, Tyler?! — Jane perguntou gritando, enquanto os convidados começaram a cochichar, espantados com aquela revelação.

O fato de Tyler ter sido casado não era exatamente um problema, contudo a grande questão era que nem a sua atual noiva tinha conhecimento disso. Jane com certeza se sentiu enganada pelo futuro marido.

Tyler deu alguns passos vacilantes para trás, sob os olhares inquisidores de Eloise e Jane, em seguida ofereceu a todos os presentes um sorriso nervoso.

— Vamos lá, Tyler, eu mereço uma explicação — Eloise o provocou. — Nós fomos casados por um ano e, de repente, você resolveu que nós não tínhamos mais "química". Três dias depois, essa vagabunda está prestes a roubar o meu marido — ela disse, apontando para Jane.

Naquele momento, Eloise já tinha saído completamente de si e esquecido da quantidade de espectadores — entre amigos e familiares dos noivos — que havia ali. Jane arregalou os olhos, boquiaberta com a afirmação da Eloise sobre o seu casamento com o Tyler, mas, principalmente, sobre a acusação que fez sobre ela.

— Como é que é? — Jane falou sem acreditar.

— Agora ficou surda? — rebateu Eloise.

A cada manifestação de Eloise, os convidados faziam exclamações de espanto. Jane mordeu a língua, com um semblante enraivecido, e pensou em avançar na mulher à sua frente, mas engoliu sua fúria. Ela continuou na espera de uma resposta de seu futuro marido, mesmo com a certeza de que, a partir dali, ele passaria a ser seu quase futuro marido. Ela não se casaria mais com ele.

Enquanto isso, os convidados estavam completamente surpresos com aquela cena inusitada. Alguns até soltaram algumas risadas, mas não conseguiram tirar o foco de Eloise e Jane em conseguir respostas de Tyler.

O pai do quase noivo, nervoso com toda aquela situação, levantou-se e caminhou até o filho.

— A nossa reputação está acabada — o senhor Smith sussurrou no ouvido de Tyler, potencializando o nervosismo do filho, não apenas pela tragédia de seu casamento, mas também porque o seu pai, em nenhum momento, pensou em como ele se sentia.

— Eu quero uma explicação, Tyler Smith — Jane pediu, fingindo tranquilidade, enquanto se imaginava matando a pessoa que estragou a realização do seu maior sonho desde a adolescência. — Agora! — ela exclamou histérica, cuspindo em Tyler e dando-lhe um tapa no braço, enquanto ele apenas a olhava.

Eloise caminhou até o altar e olhou para o seu ex, assim como para Jane.

— Chega de enrolação, Tyler Smith. Desembucha! — Eloise falou em um tom de voz ainda mais áspero e, no mesmo instante, seu ex-marido olhou para o pai e abaixou a cabeça, parecendo envergonhado.

— Vamos a um lugar mais reservado — Tyler sugeriu e, logo em seguida, engoliu em seco.

Jane respondeu-o saindo do local e indo para uma área a poucos metros dali, onde seria realizada a festa de casamento. Sem exitar, Eloise seguiu Jane, e Tyler foi logo atrás, deixando todos os convidados boquiabertos e especulando entre si sobre um possível desfecho para aquela confusão.

O local onde seria a festa também era a céu aberto e estava cuidadosamente decorado com aros cheios de rosas brancas que faziam uma cobertura na área onde ficavam as mesas que, por sinal, estavam bem postas. As iluminações ainda não tinham sido ligadas, mas dava para notar os jogos de luzes e o lustre de cristal que dava um toque ainda mais sofisticado ao local.

Ao chegar àquela área, Jane se deteve na entrada e engoliu em seco ao ver a pista de dança enorme onde ela pretendia dançar com seu futuro marido, e o palco com espaço para comportar até uma banda, onde ela faria uma declaração para o homem que amava. Isso durou apenas alguns segundos, mas pareceu uma eternidade, pois um filme passou pela cabeça da Jane. Instantes depois, Eloise chegou e, logo em seguida, Tyler.

— Vamos lá, Tyler, comece a falar — Jane exigiu.

Eloise se postou ao lado daquela mulher, a qual minutos antes ela odiava. As duas queriam uma explicação, principalmente Eloise, pois as coisas que ela imaginava, quando saiu de casa com seu plano de acabar com um casamento, não eram a realidade.

— Eu fui mesmo casado. — Jane ia proferir um palavrão, porém Tyler a interrompeu. — Mas eu posso explicar.

Antes de continuar a falar, Tyler passou uma das mãos pelo rosto, para retirar a camada de suor que se formou em seu nariz. O rapaz estava claramente bastante nervoso e enrolado nas suas próprias mentiras.

— Então, explique-se e logo, Tyler — Eloise falou ao seu ex, tentando permanecer o mais serena possível.

— Jane, eu era casado com Eloise, a moça que está ao seu lado e... — Tyler engoliu em seco, pois o que tinha para falar não era algo legal para uma mulher ouvir. — Ao mesmo tempo, eu namorava com você.

Jane olhou pasma para aquele homem que ela achava que conhecia; enquanto isso, Eloise só pensava em estrangular o ex.

— Eu preciso me sentar — Jane falou, sentindo-se mal, e andou até a primeira cadeira que avistou.

— Por incrível que pareça, estou com bastante tempo livre hoje, Tyler. Então, conte-nos os detalhes — Eloise disparou, enquanto pegava uma cadeira e se sentava ao lado de Jane.

Tyler apoiou o rosto nas mãos, depois esfregou-o por alguns segundos e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu culpa. Ele não queria mais carregar aquele fardo.

— Depois de nos casarmos, eu senti que tinha cometido um grande erro — Tyler falou, olhando para Eloise. — Não me leve a mal. Eu estava realmente apaixonado por você, mas não sentia que tínhamos algo seguro, principalmente pela forma precipitada como decidimos nos casar. Nesse período de dúvidas, meu pai, que não aprovava nosso casamento, apresentou-me a Jane em uma viagem da empresa.

Tyler desviou sua atenção para Jane, olhando-a com todo pesar e tristeza de seu coração.

— Jane e eu ficamos juntos por um mês inteiro, e eu senti um fogo que, há meses, eu não sentia com você — ele falou e apontou para Eloise.

— Isso foi pesado — afirmou Eloise, como um sopro.

A jovem tinha consciência de que seu casamento estava indo de mal a pior, mas ouvir aquilo do homem que amava doeu, ainda mais naquela situação. As palavras de Tyler fizeram Eloise pensar que apenas ela sentiu algo por ele; a recíproca não existiu naquele casamento.

— Isso é tão cruel, Tyler. Esse sentimento que você diz sentir por mim não te faz menos canalha — Jane disse a ele, sentindo uma dor no peito.

Por mais que Jane não conhecesse a moça ao seu lado e, minutos antes, tivesse sentido vontade de esganá-la por ter destruído o seu casamento dos sonhos, sentiu-se mal pelo que seu quase futuro marido fez. Aquele comportamento dele não foi digno.

— Eu sei e peço perdão por isso — Tyler pediu.

Ao ver o semblante de Tyler e um pedido de desculpas que não lhe pareceu muito sincero, Eloise riu e bufou em seguida.

— Perdão nenhum me fará voltar no tempo, para um momento seguro onde eu nunca tivesse te conhecido — Eloise disse, e Tyler engoliu em seco ao ouvir a afirmação de sua ex. — Mas continue a contar sua história — A jovem pediu, balançando a mão direita.

— Meu pai gostava da possibilidade de uma união com Jane...

— Claro, ela tem dinheiro — Eloise o interrompeu, lembrando dos clichês que leu e assistiu ao longo de sua vida.

— Sim, essa é a verdade — Tyler concordou com sua ex, deixando Jane ainda mais melancólica.

— Como você teve coragem? — Jane o questiona. — Eu... Eu deveria ter percebido.

— Não se culpe. Esse canalha que é a podridão de toda a situação — Eloise disse, apontando para o ex-marido, no intuito de consolar Jane.

Tyler sabia que se continuasse a falar, iria piorar ainda mais sua situação, mas esconder mais alguma parte da história já não faria sentido.

— Sendo honesto, o que Jane e eu temos é fogo. — Jane arregalou os olhos com a afirmação do rapaz. — Eu traí Eloise, e meu pai me incentivou a manter as duas vidas, porque Jane é filha de um cara poderoso. Havia a possibilidade de firmar uma sociedade com meu futuro sogro, e isso seria incrível para alavancar a credibilidade da empresa da minha família. Então, eu aceitei a ideia do meu pai.

Naquele momento, Jane conheceu um novo sentimento, e não foi bom. A moça se sentiu usada, mas não ousou dizer uma só palavra, pois queria ouvir o restante da história.

— Durante um ano, eu vivi uma vida dupla. Decidi ficar com Jane por causa do meu pai, mas o que aconteceu com o passar do tempo foi que, com ela, eu me sentia mais à vontade — Tyler admitiu. — Enfim, chegamos a este momento, com meu pai furioso do lado de fora, e duas mulheres incríveis, à minha frente, querendo me matar.

Eloise não conseguiu controlar uma risada sarcástica.

— Você ainda tem a audácia de dizer isso, depois de tudo o que fez com nós duas? Canalha! — Eloise disse.

— Mas é a verdade. Vocês são incríveis, e eu, o tolo da história.

Eloise continuou rindo, enquanto Jane demonstrava que não estava entendendo nada. Contudo, a jovem advogada já havia percebido que Tyler estava apenas tentando limpar sua barra. O rapaz não passava de um bom mentiroso, mas, daquela vez, não conseguiu enganá-la.

Jane ficou parada, olhando para o chão e tentando engolir as lágrimas que queriam descer pelo seu rosto. Depois de respirar mais algumas vezes e se irritar um pouco pelas risadas da mulher ao seu lado, sua ficha, enfim, caiu. Ainda assim, Jane notou que aquelas risadas também eram uma válvula de escape para Eloise.

— Melhor você ir embora — Jane disse ao advogado mentiroso que quase se tornou seu marido, mantendo a compostura.

— Não devemos deixar essa situação assim. Deveríamos, pelo menos, fingir que está tudo resolvido...

Jane soltou o ar pela boca, mordeu os lábios e olhou para o lado antes de gritar vários palavrões ao ar. Ela até tentou se controlar, mas quando Tyler menos percebeu, o pé de Jane já estava indo em sua direção. A moça deu um chute no pênis do rapaz.

Instantaneamente, ele soltou um grito estridente, colocando a mão em seu pequeno amigo. A dor consumiu seu corpo, pois Jane não foi muito generosa em seu chute. Enquanto isso, Eloise continuava rindo de toda aquela situação.

E assim Eloise e Jane se tornaram mais que amigas, Friends de chifreh ksksks

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