• 4 •

votem, comentem e digam o que estão achando.

dêem play na música: Juro - Banda Ego

boa leitura 💕
__________________________________

- Você precisa perder essa mania! - Digo tentando tampar meu rosto enquanto ela continuava disparando flashes contínuos.

- Não da sabe... - Lud abaixa a câmera e me encara. - Com uma vista linda dessa é impossível não tirar no mínimo umas cem fotos...

Ela posiciona a câmera no rosto novamente e continua.

- Sério, se você continuar me tratando assim eu vou ficar mal acostumada.

Ela coloca a câmera ao seu lado e engatinha até mim.

- Eu só tô dizendo a verdade baby. - Seguro seu rosto com cuidado e a puxo dando alguns selinhos estalados. - Hmm, quem vai ficar mal acostumada sou eu com todo esse dengo...

Me permito sorrir ao ouvir sua voz manhosa e abro os olhos encarando ela. Lud me observava profundamente. Nossos narizes estavam colados e eu podia sentir sua respiração se misturando com a minha.

- É que não dá pra ficar longe da sua boca por muito tempo.

- E quem disse é pra ficar? - Ela diz selando nossos lábios e vai espalhando os beijos em meu pescoço.

Começo a rir pelas cócegas que sentia e ela se junta a mim. Lud se deita ao meu lado e me puxa para si, me posicionando sobre seu peito. Abraço seu corpo escondendo meu rosto na curva de seu pescoço e ela começa a fazer um leve carinho em meu cabelo.

- Você é tão cheirosa! - Minha voz sai um pouco abafada e sinto ela sorrir.

- Eu tenho cheiro de quê?

- De morango...

- Morango?

- Sim.

- E o que mais?

- Hmm... Eu não sei dizer, nunca senti um cheiro tão bom...

Sua risada invade meus ouvidos e sinto meu coração bater forte.

- Se você tivesse que definir meu cheiro em uma palavra, qual seria?

Inspiro novamente o ar sentindo aquele aroma tomar posse de meus pulmões e deixo minha mente vagar afim de encontrar algo que definisse. Não precisei ir muito longe, afinal, aquela palavra martelava em minha mente a todo momento sempre quando estávamos juntas.

- E então?

Sorrio inspirando o ar mais uma vez.

- Já sei do que você tem cheiro!

- E do que é?

Levanto meu rosto e a encaro. Lud sorria abertamente pra mim de uma forma linda.

- Você tem cheiro de amor!

Seus olhos faíscam em um brilho intenso e eu me perco ali. Lud sorri e segura delicadamente em minha nuca me puxando pra um beijo casto.

Já faziam duas semanas que Lud e eu ficamos juntas naquela tarde na praia e desde então estamos nos vendo com certa frequência. No começo foi difícil pra mim, visto que eu tinha a coordenação motora de um bebê recém nascido quando ia falar com ela, as palavras simplesmente sumiam e eu ficava na base do "uhum" vendo ela falar, mas aos poucos fui conseguindo me soltar mais e agora já conseguimos conversar sem que eu parecesse uma criança que ainda não sabe falar. Apesar disso, todas as vezes em que recebia uma ligação dela ou quando chegava uma nova mensagem, meu coração acelerava e meu estômago se revirava em nervosismo e entusiasmo. Quase todos os dias Lud me visita quando eu estou quase fechando a loja. Ela sempre chega no final da tarde, me ajuda com tudo o que eu preciso e então ficamos conversando por horas. Depois ela me acompanha até em casa e ficamos curtindo a companhia uma da outra entre beijos e risadas.

Mesmo já sabendo sua resposta, sempre fazia questão de chamá-la pra subir até meu apartamento, mas ela dizia que era melhor não porque não queria apressar as coisas entre nós. Apesar de estarmos juntas todas as tardes, ainda não tivemos um encontro oficial. Às vezes ela me chama pra caminhar um pouco na praia ou em algum parque da cidade e apesar de amar esses momentos com ela, eu quero muito dar o próximo passo.

- Eu tenho cheiro de amor? - Ela pergunta arqueando uma das sobrancelhas assim que encerramos o beijo.

- Sim!

- Gostei... - Seu sorriso se abre ainda mais e eu apoio meu queixo sobre seu peito observando aquele rostinho lindo.

Lud tinha os olhos mais intensos e instigantes que já vi. Seus traços eram delicados e muito bem acentuados. Sua voz era meu som favorito junto de sua risada. Tudo nessa mulher é perfeito! Eu amo os carinhos que ela me faz, seus toques sempre me arrepiam da cabeça aos pés sem que ela nem ao menos se esforce pra isso.

- Eu gosto de ficar com você. - Arregalo os olhos quando percebo que deixei aquilo escapar.

Já estava começando a se tornar algo normal. Ludmilla me hipnotiza de uma forma tão profunda que meus pensamentos simplesmente saem pela minha boca sem que eu ao menos me dê conta.

- Eu também gosto de ficar com você, baby! - Ela diz pincelando a ponta de meu nariz e eu sorrio.

Estávamos agora em nosso lugar favorito, a praia de Grumari. Lud adora me trazer aqui pra ficarmos observando o por do sol enquanto conversamos sobre todo tipo de coisa. Eu sempre acabo perdendo a hora quando estou com ela. A verdade é que quando estamos juntas o tempo passa rápido demais. Por causa disso acabei levando algumas broncas de Larissa na semana passada, ela odeia quando chego tarde em casa. Lari ainda não havia engolido a história entre mim e Lud, Larissa ainda mantinha a birra do começo, mas agora ela já não demonstrava tanto.

- O que essa cabecinha tanto pensa hein? - Sua voz surge me tirando de meus devaneios e eu sorrio.

Volto a deitar minha cabeça em seu peito e traço seu maxilar com meu dedo indicador.

- Nada demais...

- Não quer me contar?

- Eu tava pensando se... - Levanto a cabeça e a encaro. - Você quer ir jantar lá em casa?

Lud franze o cenho e sorri confusa.

- Só eu e você?

- Você pode chamar suas amigas se quiser...

- E quando seria isso?

- Quando você puder.

Ela desvia o olhar suspirando.

- Seria um jantar de quê?

- Só um jantar. Pra gente se conhecer melhor...

- Hum... Que tal sábado? - Ela me encara sorrindo.

- Que vem?

- Não, nesse.

- Mas é amanhã!

- Por isso mesmo!

Sorrio ansiosa por ter escutado um sim dela pela primeira vez.

- Ok... Combinado!

- Uh, já tô nervosa.

- Até parece... - Solto um riso anasalado e volto a deitar sobre seu peito.

- É sério. Preciso pensar na minha roupa sabe...

- Besta! - Dou um leve tapa em seu ombro e ela ri.

- Linda!

- Cafajeste.

- Gostosa! - Paraliso quando ouço aquela palavra saindo de uma forma tão arrastada de sua boca.

Encaro a garota e Lud me lança um sorriso um tanto... Malicioso? Meus olhos migram daquelas órbitas castanhas e caem sobre seus lábios tão macios e convidativos. Não penso muito e apenas faço o que me dá vontade. Me abaixo capturando seu lábio inferior e puxo dando uma leve mordida. Lud fecha os olhos e então puxa minha nuca com cuidado afim de aprofundar o beijo. Dessa vez era diferente. Normalmente quando nos beijamos é com todo carinho e cuidado possível, mas esse beijo... Esse beijo é quente, necessário e excitante. Lud segura minha nuca com vontade enquanto brinca com sua língua serpenteando sobre a minha em uma dança sincronizada. Sinto sua outra mão se repousar em minha cintura aonde ela deixa um aperto gostoso. Escorrego meus dedos por sua bochecha e vou descendo minha mão apertando seu seio levemente, descendo por sua barriga definida e parando em sua cintura. Lud suspira forte quando dou uma leve chupada em sua língua e me beija com ainda mais vontade, voracidade e urgência. A mão que estava em minha cintura desliza até minha bunda aonde ela aperta com vontade. Solto um gemido baixo entre o beijo e deslizo minha mão um pouco mais pra baixo quando sinto algo rígido.

De repente ela para na hora e separa beijo. Lud me empurra e se senta de costas pra mim enquanto encara o céu e murmura alguma coisa que não sou capaz de ouvir.

- O que foi? - Pergunto meio desnorteada tentando entender o que aconteceu.

- Er... Acho que tá na hora da gente ir embora!

- Mas...

- Já tá ficando tarde! Tá escuro e você tem que trabalhar amanhã! - Lud pega a mochila que estava ao seu lado e abre. - Vai indo que eu vou guardar minhas coisas.

- Mas Lud... - Toco seu ombro na tentativa de fazê-la me olhar.

- Agora Brunna! - Sua voz sai ríspida e seu tom era alto e sério.

Afasto minha mão e ajeito minhas coisas que estavam sobre o pano me levantando dali e indo em direção a moto.

Já não era a primeira vez que aquilo acontecia, na verdade já estava se tornando frequente. Sempre quando o clima entre nós esquenta, Lud se afasta ou diz que é melhor ir embora. Também não era a primeira vez que sentia aquilo em sua cintura. Eu não sabia o que era, mas sempre quando nossos carinhos se tornavam um pouco mais intensos, lá estava. Lud sempre mantinha nossos corpos distantes quando estávamos nos beijando. Não me deixava tocar seu corpo da cintura pra baixo e sempre quando algo acontecia, como agora pouco, sempre ficava de costas e reclamando baixinho. Eu já estava começando a me sentir mal por causa disso. Não havia falado com ninguém sobre porque achei que talvez fosse coisa da minha cabeça, mas nada mudava a minha idéia de que Ludmilla não sentia atração por mim.

Eu sei, é meio contraditório dizer isso, afinal de contas ela sempre me acompanha até em casa mesmo sem ter motivo, sempre corresponde meus beijos e carícias. Ela adora passar tempo comigo e o faz porque quer, mas por qual motivo ela age desse jeito quando o clima esquenta? Por que ela não me deixa toca-la e se afasta quando o beijo fica mais intenso? Será que ela não me acha atraente ou bonita o suficiente pra querer algo a mais comigo?

Pensar naquilo já estava começando a me irritar. Eu nunca tinha sido tratada assim por ela, com tanta rigidez e era muito ruim.

- Vamos? - Ela diz se aproximando com a mochila em mãos na frente do corpo.

Apenas assinto e pego o capacete colocando na cabeça. Lud observa meus movimentos e eu me sento na moto me ajeitando e esperando por ela. O caminho até minha casa foi desconfortável, ao menos pra mim. Durante todo o percurso fiquei imaginando o que diabos estava acontecendo com ela ou comigo mas nada fazia sentido. Lud estaciona a moto e eu desço sem nem esperar ela desligar. Tiro o capacete e jogo nela de qualquer jeito. Ajeito minha bolsa no ombro e caminho a passos largos até a entrada do prédio.

- Brunna! - Ignoro seu chamado e continuo caminhando segurando as lágrimas que insistiam em alagar meus olhos. - Brunna, espera! - Sinto sua mão segurar forte em meu braço e me viro fuzilando-a.

Ludmilla me encara com o cenho franzido, confusa.

- O que aconteceu?

- Eu não sei, me diz você! - Digo sentindo raiva se apossar se mim.

- Do que tá falando?

- Do jeitinho especial que me tratou! Mal me deixou falar, praticamente me mandou embora daquela praia, gritou comigo!

Ela fecha os olhos e afrouxa sua mão em meu braço.

- Desculpa! Não foi minha intenção!

- Então qual é sua intenção, Ludmilla? Ficar me enrolando ate cansar e jogar fora quando arrumar uma figurinha nova?

- O quê?

Puxo meu braço me soltando de seu aperto e limpo as lágrimas teimosas que insistia em rolar.

- Eu sei o quão ridículo vai soar, mas toda vez é a mesma coisa! Eu mal posso chegar perto que você fica toda esquisita! Toda vez que o beijo se intensifica o mínimo você se afasta e vai embora. - Sinto um nó se fechar em minha garganta e tento ao máximo não deixar minha voz embargada me atrapalhar. - Se você não se interessa por mim é só falar poxa. Não fica gastando o seu e o meu tempo, se você não quer nada comigo então...

- Para de falar! - Ela segura meus lábios com o indicador e o polegar enquanto me encarava seriamente. - Não é nada disso!

- É o que então?!

Lud respira fundo e me solta. Ela coça a cabeça em sinal de nervosismo e volta a me encarar.

- Olha, eu me sinto atraída por você! Você é uma mulher incrível Brunna. Você é linda, elegante, é sexy e muito interessante! Nada disso tem a ver contigo, é uma coisa minha...

- E o que é essa coisa então?

Percebo seu corpo se enrijecer com aquela pegunta e Lud fica alguns segundos tentando formular uma frase.

- Olha, faz assim... - Ela se aproxima de mim e me segura pela cintura mantendo uma certa distância entre nossos corpos. - Amanhã eu venho aqui, nós jantamos e depois a gente conversa sobre isso. Pode ser?

Desvio meu olhar e encaro um ponto fixo no meio do nada. Aquilo já estava começando a me encher.

- Ei. - Ela segura meu queixo me fazendo encará-la novamente. - Pode ser?

Respiro fundo sentido meus pulmões trabalharem.

- Pode...

- Ok então. Que horas?

- Às 20h00.

- Tá marcado! Amanhã a gente vai conversar com calma e eu prometo responder toda e qualquer pegunta sua, ok?

- Ok.

- Então tá... Agora me dá um beijo aqui. - Ela sorri minimamente e eu me xingo por não conseguir resistir àquela cara linda.

Me aproximo dela abraçando seu pescoço e lhe dou um beijo casto de despedida. Nada muito profundo, afinal, não queria que terminasse daquela maneira de novo.

- Vou te mandar mensagem quando chegar em casa, ok?

- Tá bom...

- Fica bem!

- Você também.

Ela me da mais alguns selinhos e me solta indo até sua moto. Lud se senta sobre ela ligando-a logo em seguida e sai dali buzinando duas vezes. Entro no prédio e subo pelo elevador até o apartamento. Tranco a porta e jogo minha bolsa no sofá depois de pegar meu celular indo direto pro meu quarto.

- Oi magrela, já chegou?!

- Oi, já... - Solto um lufada de ar e me sento na cama tirando os sapatos.

- Ih, que houve? - Ela se senta na cama atrás de mim.

- Ai Lari, a Lud...

- Ok. - Ela se levanta calçando os chinelos e pegando seu robe. - Me passa o endereço da vagabunda que eu vou dar uma surra nela agora!

- Não! Não é isso.

Larissa me encara desconfiada.

- O quê então?

- Ela tem agido de uma forma... Diferente...

- Como assim?

Respiro fundo me ajeitando melhor na cama.

- Toda vez quando as coisas começam a ficar mais... Sabe?! Intensas... Ela para! Diz que quer ir embora, inventa desculpa... Sei lá é estranho.

- Estranho... Mas isso é bom!

Encaro minha amiga que tinha um sorrisinho satisfeito no rosto.

- Como assim bom?

- É bom ué. Isso é sinal de que ela te respeita e talvez esteja esperando o "momento certo"...

Me levanto da cama me aproximando dela e toco sua testa.

- Quem é você e o que fez com minha amiga?

Ela ri alto revirando os olhos e volta a se sentar.

- É sério Bru. Pensa bem, na primeira vez que vocês se encontram você viu aquela cena ridícula com a tal Cinthya. Talvez ela queira mostrar que você não é só mais uma pra ela ué...

Continuo encarando minha amiga que tinha um olhar de superioridade como se tivesse acabado de descobrir a coisa mais interessante do mundo.

- Espero que seja isso mesmo...

- Calma amiga, pior seria se fosse o contrário!

Concordo mentalmente com aquilo e ela da um beijo no topo de minha cabeça. Saio dali pegando minha toalha e indo pro banheiro, eu precisava de um bom banho e uma noite de sono bem dormida afinal, o dia amanhã seria cheio e eu ainda precisava servir um jantar.

Tomo um banho rápido e relaxante e saio já vestindo meu pijama. Larissa já estava dormindo e ressonava baixinho na cama. Me ajeito melhor em baixo do lençol e deixo o sono me levar aos poucos enquanto relembrava meu dia e agradecia mentalmente.

{...}

- Brunna!

- Hummm...

- Acorda, tá na hora.

Me remexo na cama virando para o outro lado e puxando o edredom até cobrir minha cabeça.

- Que horas são?

- 10h15.

Abro os olhos de uma vez sendo atingida em cheio pela claridade e fecho novamente.

- PORRA LARISSA! EU TO ATRASADA!

- Eu sei, por isso te acordei!

- Argh! - Levanto da cama ainda tentando enxergar alguma coisa e meu corpo inteiro se arrepia quando sinto o chão gelado abaixo de meus pés.

Caminho rapidamente até o banheiro ainda meio zonza e entro no box já ligando o chuveiro e arrancando minha roupa do corpo.

- Já sabe o que vai fazer no jantar hoje? - Ela diz entrando no lugar e se sentando no vaso.

- Não, algo simples eu acho...

- Quantas amigas ela vai trazer?

- Não sei... Duas, três no máximo...

- Hum...

Desligo o chuveiro me enrolando na toalha e quase caio no box. Larissa se levanta e me segura com força enquanto eu ria de desespero. Saio do banheiro com ela em meu encalço e vou até o closet. Escolho uma roupa simples, um short preto de cós alto e uma camiseta também preta com uma estampa do Will Smith, calço meu all star preto e pego uma bolsa pequena. Deixo meus cabelos soltos e faço uma leve maquiagem. Uma última olhada no espelho e saio do apartamento correndo até o elevador.

Em poucos minutos já estava na floricultura. Rafa estava me esperando na porta já impaciente e eu apenas ignorei sua birrinha.

- Bru, posso te perguntar uma coisa? - Ele diz se colocando a minha frente do outro lado do balcão.

- Pode.

- Você e aquela garota estão namorando? - Encaro o rapaz um tanto assustada com sua audácia.

- Que garota?

- A fotográfica.

Inspiro o ar tentando conter minha irritação. Eu odeio que se metam em minha vida.

- Não que isso seja da sua conta, mas sim, nós estamos juntas.

- Nossa... - Ele solta um riso debochado. - Uau, eu pensei que você tivesse bom gosto...

- Como é?

- Bem, você sabe, nós tínhamos algo e...

Não consigo conter a gargalhada e deixo o som estridente da minha risada inundar o local.

- Nós? Tipo, eu e você? - Ele confirma e eu volto a rir. - Ok Rafael, chega de mexer com fertilizante, eles já estão mexendo com seus neurônios!

- Você pode dizer o que quiser Brunna, mas você sabe que essa é a verdade! Você me beijou naquela festa...

- Garoto eu tava bêbada! - Ele para de falar e me encara. - Uma garota doida apareceu e beijou a Ludmilla e eu fiquei puta da vida! Por isso eu quis ir embora, por isso eu te beijei... Em condições normais eu nunca faria isso!

- Ah não?!

- Não!

- Por que?

- Porque não Rafael! Pelo amor de Deus, olha pras circunstâncias!

- Você prefere ficar com aquela coisa do que comigo? - Ele diz entre dentes e eu sinto meu sangue ferver.

- Eu acho bom você tomar cuidado com suas palavras.

- Quem deveria tomar cuidado é você. Não sei o que se passa na sua cabeça por deixar aquela coisa te tocar...

- Chega! - Grito batendo a mão no balcão e ele se assusta. - Você não precisa gostar da Ludmilla e eu sei bem os seus motivos, mas isso não te dá o direito de falar dela desse jeito!

- Você tá defendendo ela?

- Sim Rafael, eu tô! E tem mais, se o fato de Ludmilla e eu estarmos juntas te deixa tão incomodado assim, então seria melhor pro bem estar de todos que você cedesse seu lugar nessa loja pra alguém que saiba separar as coisas.

- Espera! Tá me demitindo?

- É o que parece?

- Por causa dela Brunna? - Permaneço em silêncio e ele bufa. - Inacreditável...

Ele tira o avental e o joga em cima do balcão. Observo o garoto pegando sua mochila no canto da loja e saindo, batendo a porta com tudo. Era só o que me faltava mesmo, a essa altura do campeonato levar bronca de um adolescente por estar saindo com alguém. Mereço isso?

Depois daquela leve discussão, continuei fazendo meu trabalho até o momento em que vi o relógio marcando 16h30 da tarde. O dia hoje na floricultura foi leve, tive apenas dois clientes e fiquei o resto do tempo apenas ajeitando algumas coisas.

Desligo o computador e pego minha bolsa junto de meu celular. Saio da floricultura trancando a porta e vou até meu carro. Coloco a chave na ignição ligando o motor e meu celular toca, conecto o aparelho no bluetooth do carro e começo a sair do lugar.

- Alô?

- Oi princesa.

Meu sorriso se abre sozinho ao escutar aquela voz.

- Oi baby, tudo bem?!

- Tudo. Só to ligando pra visar que a Patty e Daiane aceitaram jantar com a gente hoje.

- Que ótimo! Vocês tem alguma preferência?

- Bom, nós somos três fotógrafas, que moram sozinhas e estão acostumadas a comer miojo com Tang toda noite, então não...

Solto uma riso anasalado e viro a direito logo após dar seta.

- Tudo bem então, acho que já tenho algo em mente pra essa noite.

- Com você cozinhando não vai me surpreender em nada se ficar bom.

- Você é tão otimista demais.

- Você que é perfeita em tudo que faz, meu anjo.

- Vamos ver né...

- Bom, eu só liguei pra avisar mesmo. Daqui a pouco estaremos aí.

- Ok, vou estar esperando.

- Tchau princesa, beijo.

- Beijo. - A chamada fica muda e eu encerro a ligação. - Eu te amo!

Suspiro extasiada e finalmente estaciono meu carro na garagem do prédio. Desço pegando minha bolsa e passo por Sérgio cumprimentando ele com um sorriso cordial. Subo de elevador até meu apartamento e entro dando de cara com Larissa.

- Já chegou bebezinha?! Sua namorada não veio te trazer hoje?

- Não, mas daqui a pouco ela chega!

- Comprei o que você pediu. - Ela aponta para o balcão da cozinha me mostrando as sacolas de supermercado.

Vou até elas e tiro os produtos de lá. Decidi cozinhar algo fácil e que tivesse poucas chances de darem errado, não queria passar vergonha na frente de Lud e suas amigas logo de cara. Optei por fazer uma lasanha simples e arroz napolitano, que se consiste em "assar" o arroz com presunto, mussarela, milho e mais alguns ingredientes. Lavo as mãos na pia e já começo a preparar tudo.

- E então... - Lari se aproxima se sentando no banco em frente ao balcão. - Tá ansiosa pra esse jantar?

- Um pouco...

- Por que? - Ela se debruça sobre a bancada apoiando a cabeça nas mãos.

- Não sei dizer... Apesar de já nos conhecermos, eu acho que realmente tô gostando dela, quero que saia tudo perfeito sabe?!

- Meu Deus Brunna! - Ela se aproxima com os olhos arregalados e eu paro de cortar a cebola para encará-la.

- O que?

- Você não tá só apaixonada por ela...

- Como assim?

- Brunna, você não me engana! Eu te conheço a muito tempo e sei muito bem quando alguma coisa tá acontecendo!

- Larissa, do que você tá falando?

- Quando você fala dessa garota sua cara parece que vai rasgar com o sorriso que você dá, quando você fala sobre o que sente seus olhos brilham e você fica com uma áurea de adolescente apaixonada!

Me sinto um pouco exposta quando ouço aquela descrição tão detalhada sobre mim. Algo que eu amava mas me irritava profundamente em Larissa era isso, ela me conhecia melhor do que eu mesma.

- Aí amiga nada a ver! - Digo desviando o olhar e espalhando o molho no pirex.

- Ah não... Você tá amando essa garota, não tá?!

Solto a concha na hora e encaro minha amiga. Sinto meu rosto esquentar e tinha certeza de que já estava vermelha.

- Sim... - Digo comprimindo os lábios e ela salta do banco dando um tapa na testa.

- Merda! Eu sabia! - Lari da a volta no balcão e aponta pra mim. - Brunna...?

- Eu sei, mas esse tipo de coisa não dá pra controlar! - Digo exasperada movendo minhas mãos.

- Como...?

- Não sei amiga, só sei que quando vi já tava sentindo...

- Você...?

- Não! Não... - Ela me encara desconfiada e eu fecho os olhos. - Quase...

- BRUNNA!

- MAS NÃO FALEI! - Grito mais alto tentando acalmá-la e ela mantém a pose.

- Isso é bom?

Respiro fundo tentando me acalmar novamente e me aproximo dela.

- É maravilhoso!

Lari deixa um sorriso aliviado surgir em sua face e me abraça.

- Você tem certeza?

- Eu acho que sim...

- Ok... Mas olha. - Ela separa se desfazendo do abraço e me segura firme olhando em meus olhos. - Se aquela garota algum dia pensar em te machucar eu juro que caço ela até o inferno!

Arregalo os olhos um tanto assustada. Lari era extremamente protetora e eu sabia bem do que ela era capaz.

- Tudo bem, se ela fizer algo eu mesma peço pra você caçá-la.

- Ótimo! - Ela solta meus braços e leva uma das mãos no peito, mais especificamente no coração. - Aí meu Deus, minha menina cresceu tanto... Eu tô emocionada!

- Deixa de ser besta garota! - Dou um leve tapa em seu ombro e volto para os preparativos do jantar.

Termino de montar a lasanha e a deixo separada, ainda não iria colocar para assar, queria serví-la quente. Começo a preparar o arroz enquanto Lari sai do banho e começa a arrumar a mesa com a louça. Assim que ela termina tudo, vem até mim afim de me ajudar e me dar um tempo pra que eu pudesse me arrumar. Passo as coordenadas do que ela deveria fazer e vou em direção ao banheiro, eu precisava de um banho urgente.

Tiro minhas roupas jogando-as no cesto e entro no box ligando o chuveiro. A água gelada começa a cair sobre meus ombros me dando a sensação de relaxamento e refrescancia no mesmo instante. Fico ali parada alguns minutos deixando meus pensamentos vagarem e só depois de devidamente relaxada, começo meu banho.

Meu cabelo estava preso em um coque firme e eu apreciava a sensação da espuma em meu corpo. Um dos meus passatempos favoritos é esse: tomar banho! A sensação de limpeza do corpo e da alma era algo que me relaxava, me deixava tranquila e me fazia viajar pra outras dimensões dentro de minha própria mente enquanto inalava aquele aroma maravilhoso que o sabonete deixava em minha pele.

Termino meu banho e saio dali indo em direção ao meu closet. Dou uma rápida olhada em meu guarda roupa afim de achar algo que me agradasse. Era apenas um jantar entre amigas na minha casa, não precisava impressionar ninguém com uma roupa chique ou algo assim... Decidi por usar um cropped amarelo de mangas longas e uma calça de couro preta, nos pés decidi colocar uma bota de cano curto também preta. Soltei meus cabelos optando por deixá-los lisos e fiz uma maquiagem leve destacando um poucos meus olhos.

Dou uma última olhada no espelho me certificando de que estava tudo em seu devido lugar, dou meia volta afim de observar o quanto aquela calça realçava minhas curvas e quando meus olhos param na minha bunda, tive de admitir.

- Eu sou gostosa pra caralho...

Saio do closet deixando minha toalha estendida ali e vou em direção a porta do quarto. Antes de abrir, ouço algumas vocês vindas da sala de estar e uma em especial fez meu estômago se revirar em nervosismo. Respiro fundo e giro a maçaneta saindo do quarto e caminhando até a sala. Larissa conversava com as garotas que estavam de costas pra mim. Minha amiga para de falar olhando sobre os ombros delas e me oferece um sorriso encorajador. Dou mais alguns passos ficando um pouco mais próximas e uma por uma, elas se viram afim de me encarar. Primeiro Patty, depois Daiane e por último e não menos importante, Ludmilla.

- Uau!

- Caralho...

- Brunna! - Lud diz caminhando em minha direção me oferecendo aquele sorriso que me desmonta inteira. - Você tá linda! - Ela diz soltando um suspiro logo em seguida e eu sorrio em resposta.

Corro meus olhos sobre seu corpo capturando cada milímetro daquele monumento a minha frente. Lud também estava perfeita. Ela usava um conjunto estampado, uma calça cargo e uma jaqueta aberta e um top preto por baixo, nos pés uma sandália de salto da Versace e seus cabelos estavam soltos e bem mais lisos, sua maquiagem era leve mas destacavam seus olhos e boca, é... Ela tava de tirar o fôlego!

- Você também tá linda, baby! - Ela se aproxima de mim ainda sorrindo e segura minha nuca me dando um selinho demorado.

Seguro sua cintura e retribuo o gesto na mesma intensidade. Ela se afasta minimamente e me encara, seus olhos brilhavam intensamente e eu estava completamente hipnotizada.

- Como você consegue ficar ainda mais bonita a cada vez que eu te vejo? - Ela sussurra tocando as pontas de nossos narizes e eu solto um leve riso com o toque.

- Eu ia te perguntar a mesma coisa! - Mordo levemente seu lábio inferior assim que termino de falar e ela fecha os olhos aprofundando um pouco mais o beijo.

Ficamos ali mais alguns minutos em nossa bolha até que ouvimos alguém atrás de nós pigarrear.

- Desculpa atrapalhar o casal, mas a gente tá com fome! - Larissa diz apontando pra elas e as meninas apenas concordam fingindo irritação.

- Vamos jantar então... - Digo puxando Lud até a mesa e ela me dá mais um selinho.

- Ah, eu trouxe isso! - Ela diz estendendo duas garrafas de vinho tinto pra mim e eu agradeço pegando-as e colocando sobre a mesa.

- Vou servir a mesa. - Digo chamando Larissa afim de obter sua ajuda e pego a lasanha de dentro do forno.

Coloco tudo sobre a mesa e logo as meninas começam a se servir. Observo seus gestos com uma certa ansiedade preenchendo meu ser e dou um sorriso satisfeito quando vejo seus rostos contorcidos em deleite depois de provarem a primeira garfada.

- Meu Deus Brunna! - Daiane diz colocando a segunda garfada na boca. - Isso aqui tá incrível!

- Tá mesmo! - Patty concorda sorrindo. - Arrasou demais!

- Minha amiga detona né?! - Lari diz toda orgulhosa e as meninas riem concordando.

- Fica esperta hein Ludiene. - Daiane diz chamando atenção dela. - Se vacilar com a Barbie, eu sou a próxima da fila...

- Tá louca, caralho?! - A garota da um tapa na cabeça de Dai que faz uma expressão de dor.

Rio da interação das duas e então volto a observar Lud.

- Você não vai falar nada? - Pergunto em um tom baixo e ela me fita com aquele sorriso lindo.

- Tá tudo perfeito baby, assim como você. - Sorrio em êxtase com aquilo e nossas amigas soltam um sonoro "own" em sincronia.

- Obrigada. - Respondo me inclinando afim de selar nossos lábios e ela ela sorri.

- Eu disse que não me surpreenderia se saísse bom, mas eu devo admitir, eu tô surpresa sim! Você superou todas as minhas expectativas!

Continuamos comendo em meio a conversa e algumas risadas. Durante todo o jantar Ludmilla fazia questão de me encarar vez ou outra com seu sorriso perfeito e fazia um leve carinho em minha mão. Larissa e Daiane se deram super bem, as duas eram completamente loucas e adoravam atazanar minha vida e a de Lud contando algumas histórias embaraçosas sobre nossas vidas. Patrícia não ficava atrás, mas diferente das duas outras, ela era mais tranquila, somente ria de algumas coisas que as meninas falavam. Percebi que algumas vezes quando Daiane entrava em alguma história, Lud a olhava com certa reprovação e ela dava um jeito de encurtar a história. Não entendia muito bem o motivo daquilo, mas resolvi não falar nada.

- E como vocês se conheceram? - Pergunto apontando paras as três e tomo mais um gole de vinho.

- Lud e eu somos primas. - Daiane começa a explicar com um sorriso singelo. - Sempre fomos muito ligadas uma a outra e nossa relação sempre foi muito forte.

- Nós temos a mesma idade. - Lud acrescenta e Dai concorda. - O mesmo gosto musical, quase a mesma linha de raciocínio, o mesmo senso crítico...

- Enfim, somos quase a mesma pessoa! - Ela conclui e todas sorrimos concordando.

- E onde a Patty se encaixa nisso tudo?

As três trocam olhares cúmplices como se guardassem um segredo nacional.

- Patrícia e Daiane namoraram na época da escola. - Lud confessa e eu arregalo os olhos com aquela informação.

Encaro Larissa que tinha a mesma expressão incrédula que eu.

- Isso é sério? - Minha amiga diz tirando as palavras de minha boca.

- Sim! Eu conheci a Patty primeiro, ela era da minha sala e logo quando ela abriu a boca e começou com as loucuras dela eu já gostei, me identifiquei sabe?! - Ela bebe mais um gole de vinho. - Daiane era de outra turma, quando nós fomos pro intervalo e ela colocou os olhos na minha prima, foi amor a primeira vista.

- É. - Dai toma a palavra e abraça lateralmente a menor ao lado dela. - Ela já logo de cara começou a me dar idéia sabe?! Veio jogando charminho pra cima de mim e tal...

- E você como uma boa descarada, amou isso.

- Nunca neguei gata. - Dai reponde mostrando a língua e Patty revida.

- Daiane sempre foi descarada. A Lud me alertava sobre isso no começo, mas depois eu fui me entendendo com essa cabeça dura e não demorou muito pra gente começar a namorar.

- E vocês ficaram juntas por quanto tempo?

- Dois meses. - Elas respondem juntas em uníssono e entao caem na gargalhada tendo Lud as acompanhando.

- Antes disso, elas ficaram numa paquera intensa de seis meses. - Ela diz limpando o canto dos olhos. - Quando finalmente engataram o namoro, a Patty viu que minha prima não era a princesa encantada que ela imaginava e decidiu terminar.

- E mesmo assim vocês se tornaram amigas? - Senti o espanto na voz de minha amiga e continuei apenas ouvindo.

- Na verdade não. Eu continuei amiga da Lud só e me afastei da Daiane... Eu ainda gostava muito dela e não dá pra ser amigo de ex quando se tem sentimento.

- Fato! - Todas dissemos em uníssono gerando algumas gargalhadas.

- Mas como eu sempre tava com minha prima em todo e qualquer lugar, ela não teve como me evitar por muito tempo.

- E foi aí que eu entendi que era melhor superar tudo isso e seguir a vida. A Dai pode até não ser a melhor pessoa pra se namorar, mas ela é uma ótima amiga e a amizade dela vale super a pena.

As duas se encaram com os olhos brilhando e a cumplicidade delas estava refletida em seus olhares. Devo admitir, elas eram lindas e até que formavam um belo casal, mas a amizade daquelas duas era genuína e extremamente pura.

- Bom, depois que nos formamos nos ensino médio eu não quis fazer faculdade. - Lud diz me tirando de meus devaneios.

- É, a doida aí quis dar uma de Discovery Chanel e foi viajar pra fazer intercâmbio. - Daiane diz torcendo o nariz.

- Nos abandonou por um ano, simplesmente sumiu! Não atendia celular, não respondia mensagens, só falava com os pais uma vez por mês e olhe lá.

- E quando voltou, decidiu que queria ser fotógrafa. Assim, do nada!

- Fez uma pancada de cursos profissionalizantes, comprou algumas câmeras e foi trabalhar em uma agência defasada.

- Ei! - Lud protesta e Patty dá de ombros.

- Quando Lud nos contou que queria viver da arte, eu não pensei duas vezes! - Dai enche mais uma vez sua taça de vinho. - Tranquei meu curso na faculdade sem pestanejar, mesmo com meus pais sendo contra, e fui com ela embarcar em mais essa loucura.

- Eu ainda demorei um pouco pra maturar a idéia, sempre fui o tipo de pessoa que pensa muito, mas no final acabei ingressando nessa também.

- E hoje nós somos donas de uma agência independente! - Lud concluiu com um sorriso orgulhoso. - O que começou defasado hoje está novinho em folha, nós temos uma equipe de 16 profissionais e somos a número 1 em recomendações pra grandes marcas.

- Uau! - Disse realmente impressionada. Não imaginava que elas eram tão boas assim no que fazem.

- Então todas vocês são fotógrafas... - Lari diz pela primeira vez depois de um tempo e todas concordam. - Já fizeram algum ensaio nu uma da outra? - Ela pergunta e as garotas caem na gargalhada enquanto eu procurava um buraco pra enfiar minha cara.

- Larissa! - Dou um tapa em seu ombro e ela resmunga passando a mão no local. - Que vergonha cara!

- Imagina Bru, a gente tá acostumada. - Lud diz recuperando o fôlego e eu reviro os olhos.

- Essa garota ainda vai me matar de vergonha.

Lud passa o braço atrás de minha cadeira e me dá um beijo na bochecha.

- Eu acho extremamente adorável quando você fica vermelhinha de vergonha... - Ela sussurra em meu ouvido fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.

Encaro ela e seus olhos brilhavam. De repente uma felicidades imensa fez meu coração transbordar. Nossas amigas estavam se dando bem e a noite estava maravilhosa. Lud finalmente aceitou vir em minha casa e agora estávamos aqui, curtindo a companhia uma da outra sem nenhum tipo de receio na maior vibes série adolescente da Netflix.

- Ok, eu preciso tirar uma foto de vocês assim! - Ouço a voz de Daiane me tirando de meus devaneios e encaro a garota.

Ela abre a mochila e tira de lá uma câmera fotográfica parecida coma de Lud.

- Me dêem um sorriso!

- Eu não sei fazer isso... - Digo já entrando em desespero. Nunca me achei uma pessoa fotogênica.

- Vem cá... - Lud puxa meu rosto com delicadeza e sussurra uma piadinha em meu ouvido me fazendo rir alto. Ela me solta e me encara também rindo e então o flash é disparado.

- Ficou linda! - Dai grita chamando nossa atenção e então nos mostra a foto no visor da câmera.

Realmente, a foto ficou linda!

Continuamos conversando por mais algumas horas enquanto aproveitavamos a sobremesa, sorvete de abacaxi ao vinho e flocos. Óbvio que quem escolheu o com teor alcoólico foi Larissa, quem mais poderia ser... Depois de mais algumas taças de vinho e a muitas gargalhadas as meninas decidiram que era hora de ir embora. Já passava da 1h30 da manhã e depois de muita insistência da minha parte, elas aceitaram ir embora de táxi. Daiane voltaria amanhã afim de buscar sua moto já que ela e Patty vieram juntas e Lud veio sozinha.

- Mais uma vez, obrigado pelo jantar Brunna, tava delicioso! - Patty diz me abraça apertando.

- Obrigada Patty! Foi um prazer te conhecer melhor!

- O prazer foi todo meu, não via a hora de poder ver de novo a garota que tá tirando minha amiga de órbita. - Ela diz e Lud dá um leve soco em seu ombro com o cenho franzido.

Patty sorri pra mim e eu respondo da mesma forma.

- Ei Barbie! - Dai se aproxima e me abraça também. - Já pode ir pro Masterchef gata, tava muito bom!

- Até parece... Adorei as histórias da Lud que você me contou.

- Se quiser que eu te conte mais e só marcar outro jantar.

Sorrio de sua gracinha e ela vai em direção a Larissa. As duas conversavam um pouco distante e pareciam ter se entendido muito bem, nunca vi minha amiga tão solta daquela forma com alguém que ela havia acabado de conhecer e se eu não a conhecesse talvez, poderia jurar que ela estava flertando com Daiane.

- Vou acompanhá-las até lá em baixo quando o táxi chegar e então eu subo pra gente conversar, ok? - Lud sussurra em meu ouvido me dando um leve susto por não ter visto ela chegar por trás.

- Ok. - Respondo encarando aquelas órbitas tão intensas e ela me da um rápido selinho.

Me despeço das meninas com mais alguns rápidos abraços e as acompanho até o elevador.

- Cuida da minha amiga, hein?! - Daiane sussurra me lançando um sorriso e eu apenas concordo com a cabeça.

Aceno com a mão vendo as portas de metal se fecharem e volto para o meu apartamento. Larissa já estava tirando a mesa e organizando tudo na lava louças.

- Parece que alguém aqui gostou da prima gostosa... - Digo chamando sua atenção e ela leva um pequeno susto.

- Quem? Eu? - Ela diz tirando as garrafas de cima da mesa. - Impressão sua...

- Hum, sei... Eu te conheço Larissa!

Ela para de costas e então se vira com um sorriso enorme nós labios.

- Ta tão na cara assim?

- Tá!

Minha amiga da um gritinho agudo e então vem pulando até mim. Começo a rir de seu jeitinho eufórico.

- Ela é bem legal... Bonita pra caramba... Mas é como as outras duas disseram, ela é descarada!

- Aí amiga, você também é...

- Realmente. - Ela diz dando de ombros. - Quem sabe a gente não dá certo...

Lanço um sorriso incentivador pra ela e então ouço a porta da sala sendo aberta. Lud nos encara e sorri sem graça.

- Amiga. - Digo baixinho chamando a atenção de Lari.- Cê pode dar uma licencinha pra gente?

- Claro!

Ela vai em direção a porta e abraça Lud se despedindo. É, pelo visto minha amiga finalmente derrubou as barreiras que ela havia levantado. Lari vai até a porta e Lud continuava me encarando com um sorriso nervoso. Larissa puxa a porta e antes de fechá-la sinaliza um "Me conta tudo depois" e eu apenas aceno minimamente para ela. A porta é fechada e Lud solta uma lufada de ar.

- Então... - Ela diz vindo em minha direção em passos calculados.

- Então...

- Oi! - Ele encolhe os ombros e coloca as mãos nos bolsos da calça.

- Oi! - Ofereço meu melhor sorriso e ela apenas aponta para o sofá em um pedido mudo pra que eu fosse até lá.

Me sento no sofá ao seu lado e Lud apertava os dedos em um claro sinal de nervosismo. Desvio o olhar encarando a TV afim de esperar ela se sentir confortável pra começar a falar.

- Então... Bru. - Ela me chama e volto a olhar pra ela.

Lud tinha um sorriso nervoso no rosto. Seu corpo estava afundado no encosto do sofá como se estivesse sendo engolida por ele. Seus olhos estavam um tanto vagos.

- Pode falar. - Tento transmitir calma em meu olhar e seguro sua mão.

Estava gelada e levemente trêmula. Lud respira fundo de olhos fechados como se tomasse coragem e então me encara.

- Eu não sei bem como te explicar isso então só vou dizer ok? - Concordo com a cabeça e ela se ajeita melhor no sofá. - Todos nós temos algo que nos torna especial, certo?! - Assinto novamente e ela engole em seco. - Você por exemplo nasceu com esse sorriso lindo. Isso faz de você alguém especial. - Sinto meu rosto corar levemente e sorrio para ela. - Eu também nasci com algo... Diferente.

Lud faz uma longa pausa e começa a apertar o pano de sua calça afim de descontar seu nervosismo. Aperto levemente seus dedos e faço um carinho ali.

- Você quer me contar o que tem de diferente? - Ela assente, insegura, e eu apenas sorrio. - Tudo bem...

- Bru... Antes da minha mãe engravidar de mim, ela desejou muito ter uma menina. Um certo tempo se passou e ela descobriu que estava me gerando. Foi pura alegria porque ela sempre quis uma filha. Tudo ocorreu muito bem durante a gravidez, ela teve uma pequena decepção mas isso passou assim que nasci. - Franzo o cenho não entendendo bem o rumo daquela conversa mas apenas concordo a incentivando. - Quando eu nasci foi pura festa de todos da família. Eu era a primeira filha e meu pai enchia o peito todo orgulhoso pra me apresentar, mas com o passar dos anos as coisas mudaram.

Lud faz uma longa pausa me encarando e eu tinha certeza que estava com um enorme ponto de interrogação na testa.

- O que mudou?

Ela se levanta e começa a caminhar de um lado para o outro no meio do sala.

- Quando eu entrei na adolescência, meu corpo começou a se desenvolver, mas algo estava fora do lugar... Ou melhor, algo estava no lugar errado. - Arqueio as sobrancelhas tentando entender o que ela estava falando. - Meus pais me levaram em alguns médicos e todos davam o mesmo diagnóstico. Minha mãe foi pura euforia, ficou muito feliz com a descoberta, já meu pai demorou um pouco pra se acostumar com a idéia. A partir desse dia minha vida mudou e eu passei a entender melhor quem eu era e o porque de me sentir diferente do que as pessoas viam e falavam sobre mim. - Ela para de andar e volta a se sentar. Lud segura minhas mãos me encarando e eu podia ver o pavor em seu olhar. - Brunna, eu não sei se você já ouviu falar sobre isso e sei que vai achar estranho. Eu vou entender se você quiser terminar tudo entre nós e se afastar, eu tô acostumada com isso e vou ficar bem, mas eu peço pra que antes disso, tente entender, ok?!

Eu já estava completamente assustada com aquilo. Não imaginei que a conversa seria tão séria e não conseguia entender o sentido daquelas palavras. Algo estava no lugar errado. Diagnóstico. Descoberta. Decepção. Por que raios eu iria me afastar dela?

- Ok...

Ela fecha os olhos inspirando o ar no que parecia ser um ato de coragem e então fala de uma vez só.

- Brunnaeusouintersexual.

Lud vira o rosto para o outro lado enquanto ainda espremia os olhos fortemente. Suas mãos tremiam e seu corpo estava rígido.

- Você o quê?

Ela solta uma lufada de ar.

- Eu. Sou. Intersexual.

- E o que seria isso?

Lud vira seu rosto em minha direção e ainda de olhos fechados volta a falar.

- Eu tenho... Um... Pênis. - Ela diz a última palavra junto de um suspiro cansado.

Travo no lugar e continuo encarando seu rosto. Tá, por essa eu não esperava...

- Ok.

Ela abre os olhos em surpresa e me encara. Meu rosto estava imparcial, minha respiração tranquila e minha mente vagava em alguma pergunta que eu gostaria de fazer.

- Ok?! - Ela pergunta incrédula.

- Sim...

- Como assim ok?!

Dou de ombros sorrindo levemente.

- Tudo bem.

Lud solta minhas mãos e se levanta.

- Brunna, você ouviu o que eu disse?

- Sim.

- Até que parte?

- Até a parte que você disse que tem um pênis.

Ela da um passo para trás ainda me encarando em confusão.

- E tá tudo bem pra você?

- Sim! - Me levanto indo em sua direção e abraço.

Encosto minha cabeça em seu peito e entrelaço meus braços em sua cintura. Fico ali alguns minutos ouvindo seu coração palpitar rapidamente enquanto ela permanecia rígida.

- Bruna, não! - Ela solta meus braços e vai até o outro lado da sala ficando de frente pra mim. - O que isso quer dizer?

- Quer dizer que tá tudo bem.

- Mas por quê? - Ela altera o tom e eu travo o maxilar.

- Ok, primeira de tudo: Não grita comigo, eu odeio isso!

- Desculpa...

- Segundo: Por que você tá tão desesperada assim? Eu já disse, tá tudo bem.

- Ok mas... - Ela caminha até o sofá novamente e se senta. - Não era pra ser assim. Pelo menos... Eu não esperava que fosse...

- Como assim? - Me sento ao seu lado e ela me encara.

- Desde o momento em que nasci até meus doze anos, todos achavam que eu era um menino mesmo eu sabendo que não era. Quando descobriram sobre minha condição foi um horror. Pessoas da família que sempre me trataram tão bem passaram a me chamar de aberração. - Sua voz começa a embargar e seus olhos já estavam marejados. - Eu perdi amigos, parentes próximos e até os professores me tratavam mal. Eu precisei remoldar toda a minha vida, tive que mudar de cidade, de escola, de guarda roupa, de nome, tudo! - Suas lágrimas começaram a rolar, grossas e pesadas. - Sempre quando alguém descobria sobre mim me tratava feito um bicho, até meu próprio pai demorou pra me aceitar. Eu tô acostumada com a rejeição e a maldade das pessoas, então ouvir de você que tá tudo bem é no mínimo... Estranho. - Ela solta o ar com pesar e seus ombros relaxam.

Disfarçadamente me livro dos vestígios de algumas lágrimas que rolaram em meu rosto e puxo ela pra um abraço. Assim que nossos corpo se colidem ela solta o choro que estava preso e não sabia dizer se era de hoje ou de anos atrás. Aperto forte meus braços ao redor de seu corpo e me encosto ainda mais no sofá fazendo ela se deitar sobre mim. Lud abraça meu pescoço e solta alguns soluços altos que faziam seu corpo todo tremer. Faço leve carinho em seus cabelos enquanto sussurro palavras de conforto dizendo que estava tudo bem e que eu estava ali.

Aos poucos ela vai relaxando. Os soluções diminuem e seu abraço se afrouxa.

- Tá mais calma? - Pergunto baixinho com a voz branda e ela apenas concorda com a cabeça. - Olha pra mim... - Ela me encara e seus olhos estavam vermelhos e inchados.

Limpos suas lágrimas com calma enquanto ela fecha os olhos aproveitando meus toques. Coloco uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha e dou um longo beijo em sua testa seguido por um beijo em cada olho. Lud me encara com seus olhos brilhando, como sempre, e eu apenas sorrio em resposta.

- É agora que você me manda sumir pra sempre da sua vida? - Ela diz já quase voltando ao estado que estava e eu apenas a seguro mais forte negando com a cabeça.

- Eu não vou fazer isso!

- Não?

- Claro que não, meu amor! Eu não tenho motivos pra isso!

- Mas eu...

- Eu sei! - Digo limpando outra lágrima dela que insistiu em rolar. - Mas isso não é motivo suficiente pra me fazer desistir de algo tão bom!

Assim que termino minha frase ela abre um sorriso tímido e eu me derreto com aquela imagem.

- Você... - Lud se ajoelha sobre o sofá e segura minhas mãos. - Você tem alguma pergunta?

- Algumas...

- Quais? - Seus olhos agora demonstravam toda a vontade de falar sobre aquilo.

- Esse era o motivo de você sempre se afastar quando as coisas esquentavam entre nós? - Ela concorda balançando a cabeça frequentemente eu rio com aquilo. - Ok...

- Mais alguma coisa?

Respiro fundo pensando em algo que gostaria de saber.

- Por que não me contou antes?

Ela engole e seco e então se ajeita no sofá.

- Eu tive medo.

Seguro em sua mão olhando no fundo de seus olhos.

- Do que?

- Da sua reação... De você se afastar de mim, de me achar uma abe... - Seguro seus lábios impedindo ela de dizer aquela palavra e Lud relaxa.

- Eu não sei se você percebeu, mas eu tô completamente apaixonada por você. - Sinto meu coração acelerar ao dizer aquelas palavras e ela arregala os olhos. - Eu não quero que você sinta medo de se abrir comigo, porque seja lá o que for, eu não vou simplesmente te abandonar ou te afastar de mim! Eu imagino que não deve ter sido fácil tudo o que você passou e ainda passa, mas eu quero que sabia que você não tá mais sozinha... - Me permito sorrir vendo ela prestar atenção em cada palavra que eu dizia. - Eu tô aqui com você, amor!

Um sorriso iluminado se rasga em seu rosto e ela pula em meu colo me abraçando apertado.

- Você me chamou de amor duas vezes. - Ela sussurra em meu ouvido e eu solto uma risada.

Lud é extremamente manhosa e isso só me fez ficar ainda mais apaixonada por ela.

- Você gosta quando te chamo assim? - Pergunto assim que ela sai do meu colo.

- Muito!

- Tudo bem, meu amor! - Digo fazendo um carinho em seu rosto e ela se incline sobre mim me beijando.

Nossas línguas se mexiam em sincronia enquanto nossas cabeças viravam para lados opostos. O beijo era calmo e intenso e demonstrava tudo aquilo que sentíamos. Ela segura firme em minha cintura enquanto eu arranhava levemente sua nuca. Lud se deita parcialmente sobre mim e eu já começava a sentir seu membro dando alguns sinais de vida. Aos poucos ela vai se afastando e cessa o beijo com alguns selinhos demorados.

- Merda... - Ela resmunga se sentando no sofá se virando de costas.

- Você não precisa mais fazer isso. - Digo segurando seu seu braço com cuidado e ela solta o ar.

- Você vai achar estranho...

- Basta você me explicar o que tá acontecendo. - Repondo dando de ombros e ela relaxa o corpo se ajeitando melhor no sofá.

Lud abre lentamente suas pernas e leva as mãos até seu membro.

- Quando eu fico excitada, ele da sinal de vida e por conta disso ele dói um pouco.

Faço uma careta imaginando seu desconforto.

- Então era por isso que você praguejava tanto...

- Sim...

- E quando me mandava ir na frente...

- Era pra tentar disfarçar que o Júnior tava acordado.

Solto uma gargalhada alta e quase caio do sofá. Lud segura meu braço e me encara com certa confusão estampada eu seu rosto.

- O que foi?

- Júnior? - Pergunto secando as lágrimas de meus olhos. - Não tinha um nome mais bonito?

- Vai falar mal do nome dele agora?

- Nunca meu amor! - Digo selando nossos lábios e não consigo segurar o riso. Lud me empurra levemente e acaba rindo junto comigo.

Me ajeito melhor no sofá sentando em suas pernas lateralmente e abraço seu pescoço.

- Já que resolvemos essa parte, eu devo dizer. - Encaro seus olhos com toda sinceridade. - Me desculpe por ter dito aquelas coisas ontem.

- Tá tudo bem. - Ela diz colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha e então começa um leve carinho em minha bochecha. - Você não sabia, não precisa se desculpar...

Me inclino um pouco e selo nossos lábios. Lud entrelaça seus dedos em meus cabelos e logo pede passagem com a língua a qual eu cedo de primeira. Eu amava sentir seus beijos, seus toques aveludados, sua língua macia serpenteando a minha de forma única. Eu nunca havia provado um beijo tão bom e que se encaixava tão bem no meu.

Separo nossos lábios quando sinto algo duro embaixo de mim e solto uma risada anasalada.

- Ele não dorme não?!

- Nah... - Lud diz fazendo uma careta e eu rio de sua gracinha.

Depois de mais alguns minutos namorando entre beijos, amassos e mãos bobas ela finalmente decide ir embora. Já eram 3h40 da manhã e quanto mais ela demorasse, mais perigoso poderia ficar.

Acompanho Lud até a entrada do prédio aonde o táxi já esperava e selo nossos lábios em um beijo de despedida. Observo o carro andar até sumir de minha vista na saída da rua e entro de volta. Chego em meu apartamento e termino de arrumar algumas coisas. Vou pro banheiro afim de tomar um banho rápido antes de dormir e quando saio, vejo Larissa já em minha cama dormindo profundamente. Entro debaixo das cobertas e coloco meu celular para carregar quando vejo algumas notificações, abro um sorriso na hora quando vejo e quem se tratava.


_____________________________________________

👀
como estamos?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top