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votem, comentem e digam oq estão achando.
boa leitura mores 💕
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- ELA O QUÊ?
- Ai Larissa, não grita.
- Mano que cafajeste! - Ela me entrega a xícara de café e eu bebo.
Sinto minha boca amargar na hora.
- Como ela pôde fazer isso? Te chamar pra sair estando compromissada?
Eu permanecia em silêncio. Depois que apaguei no carro acordei com Rafa tentando me ajudar a entrar no prédio. Ele subiu comigo até o apartamento e me entregou a Larissa. Devido ao meu estado deplorável, ela apenas me deu um banho e me colocou na cama. Acordei com uma dor de cabeça torando, mal consegui abrir os olhos quando acordei. Eu não sou muito de beber e por conta disso minha ressaca é daquelas pesadas.
Quando acordei minha amiga já estava sentada na mesa me esperando pra conversar. Contei tudo a ela e a garota surtou.
- Quer dizer, ela queria te usar é isso? Como se você um objeto ou algo assim?
- Eu não sei Larissa...
- Ah mas eu sei! - Ela se senta novamente e segura minha mão. - Brunna, se afasta dessa garota! Esquece ela, segue sua vida. O que mais tem nesse Rio de Janeiro é sapatão, você vai achar uma pra chamar de sua.
- Eu não quero uma sapatão Larissa, eu só quero ficar quieta.
Minha amiga se cala e eu continuou tomando meu café. Toda essa situação só fazia minha cabeça doer ainda mais.
- Tem outro coisa...
- Vai dizer que ela fudeu com a garota na sua frente também?!
- Não!
- O que então?
Respiro fundo e coloco a xícara sobre a mesa.
- Eu beijei o Rafa.
Larissa me encarava com os olhos arregalados.
- Espera! Quê?
- Ele tava na festa...
- Como ele entrou?
- A prima dele tava ajudando a organizar. Quando a Lud veio atrás de mim eu acabei trombando com ele, ela chegou perto e eu o beijei.
Ela bate a mão na testa e se encosta na cadeira.
- Puta que pariu Brunna! Se você queria pegar criança pra criar a gente ia numa casa de adoção.
- Não é nada disso! Eu só tava chateada, bêbada, não pensei direito e quando vi ela chegando perto, beijei ele.
- Por quê?
- EU NÃO SEI!
Sinto minha cabeça latejar e me levanto indo em busca de um remédio. Entro no quarto indo em direção ao móvel que ficava ao lado da cama e ela vem atrás de mim.
- Não fala disso com ele!
- Quê?
- Finge que esqueceu. Você tava bêbada, com raiva, sei lá... Só, não fala nada com ele!
Tomo o remédio com um pouco de água e a encaro.
- E se ele vier falar comigo?
- Você diz que não se lembra. - Ela diz dando de ombros.
- Você é podre.
- E você é boba! Pelo amor de Deus, tanta gente na festa e vai beijar logo ele?
- Eu não preciso de alguém que me julgue agora.
Ela respira fundo e se senta na beirada da cama junto a mim.
- Eu não tô te julgando. É só que, essa situação toda é foda amiga. - Lari se vira pra mim e segura minhas mãos. - Você conheceu uma doida e começou a gostar dela do nada e já saiu machucada. Eu não quero que você passe por esse tipo de coisa.
- Amiga, eu tô bem.
- Tem certeza?
Inspiro fundo encarando nossas mãos.
- Não. Mas vou ficar.
Larissa me encara preocupada e então me puxa pra um abraço. Ela não era muito de abraçar, sempre foi dura na queda, mas ela sempre soube o momento certo de tal ato. De demonstrar que estava ali por mim e que tudo ficaria bem. Isso era o que eu mais amava nela.
- É bom essa garota rezar pra nunca me encontrar! - Ela diz assim que quebra o contato. - Se não ela vai ver a surra que vai levar!
Sorrio pra minha amiga me levantando da cama indo em direção ao banheiro. Eu precisava de um banho pra acordar de verdade. Entro no cômodo fechando a porta e ligando o chuveiro enquanto prendo o cabelo em um coque. Tiro meu pijama e entro no box fechando a porta de vidro, sentindo a água morna relaxar meus músculos. O efeito do remédio já começava a aparecer. Dou continuidade no banho mas não estava afim de demorar muito ali, afinal, já estava atrasada pro trabalho.
Saio do banheiro me enrolando na toalha e vou em direção ao closet, o dia hoje estava em uma temperatura agradável então resolvi colocar uma roupa mais leve, uma calça pantalona de malha cinza com algumas listras pretas, um cropped branco e um sutiã de renda que ficava um pouco a mostra. Solto meu cabelo deixando ele completamente liso e faço uma maquiagem leve. Calço um par de tênis brancos e pego minha bolsa em cima da cama. Confiro a hora no celular e saio do quarto.
- Como estou? - Pergunto à minha amiga que terminava de arrumar a louça na pia e dou uma voltinha em meu próprio eixo.
- Gostosa! - Ela responde e lanço um sorriso a ela.
Vou em direção a porta e sinto uma leve pontada no peito quando vejo o girassol que havia ganho em cima da mesinha. Saio do apartamento indo em direção ao elevador e aperto o botão do estacionamento.
- Bom dia Sr. Sérgio! - Cumprimento o homem que me olha de cima a baixo com um sorriso casto.
- Bom dia Srt. Brunna, está linda hoje!
- Você acha mesmo?
- Tenho certeza!
Agradeço o homem lhe desejando bom trabalho e vou em direção ao meu carro. Entro nele colocando minha bolsa no banco do passageiro e coloco meus óculos escuros. Dou partida no carro e começo a sair dali. O trânsito, como sempre, estava agitado. Chego na floricultura sem muitos problemas e estaciono vendo Rafa já na porta. Desço do carro e o garoto me encara sorrindo de orelha a orelha. Reviro os olhos já imaginando o motivo de sua alegria logo pela manhã e tiro os óculos me aproximando.
- Bom dia Bru!
- Bom dia Rafa... - Coloco a chave na maçaneta destrancando a porta e entro no estabelecimento.
Giro a placa de fechado e vou direto pro balcão. Ligo o computador já conferindo alguns pedidos e Rafa se aproxima amarrando o avental.
- Como você tá? - Encaro o rapaz que ainda tinha o mesmo sorriso no rosto.
- Bem e você?
- Muito bem!
Sorrio sem mostrar os dentes em resposta e volto minha atenção para a tela a minha frente.
- Sua amiga cuidou bem de você? - Ele diz chamando minha atenção e eu inspiro o ar antes de encará-lo.
- Sim. Ela sempre cuida.
- Que bom...
Termino de conferir os pedidos e imprimo algumas folhas com os endereços.
- Bru, sobre ontem...
- O que tem? - Me viro pra ele tentando não transparecer minha falta de paciência em meu tom.
- Eu só queria saber... Se você se lembra de algo...
Inspiro fundo puxando o máximo de oxigênio que conseguia.
- Bom, eu me lembro de ter ido em uma festa, bebido demais e... - De repente a voz de minha amiga ecoa na minha cabeça. Finge que esqueceu. Você tava bêbada, com raiva, sei lá... Só, não fala nada com ele. - E depois eu tava acordando.
Assim que termino a frase o sorriso do garoto morre e o leve brilho de seus olhos desaparece.
- Ah... - Rafa deixa seus ombros caírem e eu sinto um leve aperto no peito. - Entendi...
- Tinha mais alguma coisa que eu deveria lembrar? - Pergunto não percebendo o que aquilo poderia causar, mas já era tarde.
- Bem... Sim.
- O quê?
- Do nosso beijo. - Sinto uma leve pontada na cabeça ao ouvir aquilo e me arrependo na hora de ter tocado no assunto.
- Rafa...
- Eu sei o que você vai dizer.
- Sabe?
- Sim! Que estava bêbada e que não quis fazer aquilo, mas a real é que se não quisesse, não teria feito.
- Na verdade...
- Sabe Bru. - Ele se aproxima mais escorando o ombro no balcão e me encara com um sorriso torto nos lábios. - Eu sempre tive uma queda por você e sei que você também sente algo por mim. Talvez você não saiba ainda, mas não dá pra negar os fatos. Pena nisso, gatinha.
Permaneço estática apenas observando a audácia daquele garoto enquanto ele se afasta indo para o outro cômodo. Eu deveria ter ouvido o conselho de Larissa e ficado quieta, porquê agora estava mais do que claro que acabei de arrumar mais um problema pra minha cabeça.
Respiro fundo tentando não pensar naquilo por enquanto e continuo meus afazeres. Eu havia recebido duas novas encomendas de flores pra clientes importantes e não tinha tempo pra ter que lidar com um adolescente emocionado.
Ouço o sino da porta tocar e encaro o primeiro cliente do dia.
- Bom dia.
- Bom dia, posso ajudar?
- Espero que sim, você tem rosas azuis?
- Sim.
- Eu quero um buquê com 25 delas, por favor!
- Só um minuto! - Saio dali oferecendo meu melhor sorriso e vou até o outro cômodo.
Visto as luvas protetoras e começo a separar algumas flores. Percebia vez ou outra alguns olhares de Rafa sobre mim mas ignorava todos e continuava focada no que tava fazendo. Volto para a área principal da floricultura com o buquê já pronto e em mãos e entrego para o rapaz que tinha um brilho intenso de felicidade nos olhos.
- Nossa, são lindas!
- De tirar o fôlego!
O rapaz escolhe um dos modelos de cartões que estavam disponíveis e começa a escrever. Desvio meu olhar para meu computador e começo a organizar algumas coisas ali.
- Quanto ficou? - Faço a soma dos valores rapidamente na calculadora enquanto ele arruma o cartão no meio das flores.
- R$55,00.
- Aqui! - Ele me entrega o dinheiro trocado e eu apenas agradeço guardando na caixa registradora.
Assim que o rapaz sai continuo minhas anotações. Rafa havia saído para fazer algumas entregas. Quando tudo já estava devidamente anotado me permito vagar nos pensamentos que tanto me martelavam a mente.
A noite passada continuava viva em minha mente, por mais que eu tivesse bebido muito, eu ainda me lembrava de muita coisa. A forma como meu coração acelerou quando vi Ludmilla me chamando para dançar, o jeito que ela me olhava como se tentasse ver o interior de minha alma. Seus toques macios e suaves em mina pele, nossa proximidade quando saímos da pista afim de tomar um pouco de ar. Eu ainda não acreditava que ela realmente iria me beijar. Era pavorosa a forma como eu havia me apaixonado por ela de uma forma tão rápida. Isso nunca havia acontecido comigo.
Eu já havia tido alguns relacionamentos, mas nada que me fizesse sentir as famosas borboletas no estômago ou fogos de artifício estourando dentro de mim por conta de um olhar ou um beijo. Meu relacionamento mais longo durou 2 anos. Dois anos com uma pessoa que me tratava como uma verdeira princesa, mas que nem mesmo se eu quisesse, conseguia lhe retribuir todo aquele sentimento. No começo achei que tudo iria se acertar algum dia, mas quando ela começou a falar sobre casamento e filhos, eu entrei e pânico e resolvi terminar. Não era como se eu não quisesse isso, mas eu só não sentia vontade de querer aquilo com ela. Sempre achei casamento algo extremamente sério, algo que você só deve fazer quando se sente seguro, quando se tem amor, paixão e certeza de que é com aquela pessoa que você pretende ficar. Filhos então, é algo que demanda mais responsabilidade ainda. Sempre tive vontade ser mãe mas sabia que só iria fazê-lo quando tivesse condições financeiras e psicológicas para tal.
Em todos os meus dois relacionamentos, o sentimento que tive era mais de gratidão do que amor em si. Eram pessoas maravilhosas que me trataram muito bem, talvez bem até demais, mas que nunca me fizeram sentir algo surreal da forma como eu imaginava que seria. Mas com Ludmilla não foi assim, eu literalmente havia visto aquela mulher uma única vez na vida e foi o suficiente para que eu caísse aos seus pés completamente fora de mim. Eu a desejava de uma forma carnal e sentimental. Eu a queria e sentia vontade de tê-la pra mim. Seus olhos eram tão intensos que eu poderia jurar que havia uma galáxia inteira dentro deles, sua boca tão bem desenhada e convidativa me fazia sentir um leve formigamento em meu interior e uma ânsia gigantesca em querer senti-los. Suas mãos tão firmes e suaves me deixavam louca. Me lembro dela tocando minha perna algumas vezes no meio de nossas conversas como se fosse algo normal, como se tivessemos uma relação íntima. Sem perceber o que estava fazendo, como se fosse natural, ela me abraçou lateralmente enquanto conversava banalidades e eu me senti protegida sabendo que ela estava ali do meu lado. Os rápidos olhares que trocamos naquela noite foram mais que necessários pra me fazer querer ficar ali com ela independente do tempo e das pessoas. O fato de saber que ela havia falado de mim para sua amiga foi o que mais me tirou de órbita. Eu queria saber seus motivos, o que ela havia falado, se ela estava tão perdida e confusa com os próprios sentimentos quando eu. Somente agora, parando pra pensar, posso ver o quanto fui impulsiva em fazer o que fiz. Assim que vi aquela garota desconhecida se apossar de alguém que eu queria, entrei em conflito comigo mesma e me praguejei por ser tão fraca.
Aquela garota era linda, devo admitir. Um sorriso charmoso, o cabelo bonito e muito bem alinhado, elas pareciam um casal daqueles comerciais de margarina que passa na TV. O choque que Ludmilla levou ao ter sido pega de surpresa por ela foi o que mais me intrigou, era como se ela não esperasse por aquilo, todos ficaram em silêncio com o ato repentino da garota. Eu queria ter ficado pra poder ouvir o que ela iria dizer mas na hora, a única coisa que me pareceu certa, foi sair dali o mais rápido que pude. Não queria ter que assistir meu sonho de consumo se esvair pelos meus dedos mesmo nunca a tendo em mãos.
Levo um susto quando sinto algo tremer em meu bolso e saio de meus devaneios pegando o celular e o atendendo sem nem ao menos olhar na tela.
- Alô?
- E aí, passou a dor? - Ouço a voz de minha amiga do outro lado da linha e abro um sorriso casto por sua preocupação.
- Sim, já tô bem melhor.
- Ótimo! É assim que eu gosto. O muleque falou alguma coisa?
- Você não vai acreditar! - Puxo a cadeira me sentando nela e coloco os pés sobre a mesa em minha frente. - Acredita que ele me disse que sempre teve uma queda por mim?
- Uau, que novidade... - Ela diz e um tom de deboche e poderia jurar que estava revirando os olhos.
- Tem mais, ele virou e disse que talvez eu não saiba ainda, mas que eu também gosto dele. Falou que não dá pra negar os fatos e ainda me chamou de gatinha!
Ouço sua risada escandalosa do outro lado e foi necessário afastar o celular de meu ouvido. Acabo me entregando e rindo também, essa era de longe a melhor forma de encarar tudo isso.
- Olha devo admitir, o muleque tem coragem.
- Coragem mesmo, porque a noção passou longe né.
- Ai amiga, como você se sente sabendo que é a homenageada da semana na punheta do de menor?
- Larissa! Que nojo! - Repreendo ela que mais uma vez solta uma gargalhada e dessa vez quem revira os olhos sou eu. - Eu até pensei em falar algo, mas fiquei quieta...
- Melhor coisa que você faz! Ele tá se iludindo sozinho.
- Sozinho não! Eu o beijei.
- Amiga você tava bêbada! Pelo amor...
- Mesmo assim, se eu não falar nada vai ser pior.
- Nah, deixa ele quebrar a cara, é assim que a gente aprende.
- É, nisso eu tenho que concordar...- Solto o ar frustada e começo a rabiscar qualquer coisa em um papel que havia ali.
- Ainda pensando na fotógrafa gostosa?
- Ai amiga, eu até tava tentando esquecer sabe, mas não teve jeito... Ela não sai da minha cabeça.
- É minha amiga, a paixão faz isso.
- Eu que o diga.
- Mas daqui a pouco passa, logo essa vai ser só mais uma história pra gente se lembrar e rir.
- Você acha?
- Tenho certeza Bru! Ela não foi atrás de você e você não foi atrás dela, cês nem se conhecem, daqui a pouco tudo isso passa e você vai tá pronta pra outra.
- Assim espero amiga!
- Vai ser, confia!
- Ok... - Largo a caneta na mesa e me encosto na cadeira deixando um longo suspiro escapar.
- Preciso ir agora, fica bem e se cuida.
- Você também!
- Tchau super Nanny. - Ela começa a gargalhar e eu apenas reviro os olhos pra aquela gracinha.
Encerro a chamada e levo um susto quando percebo que já estava na hora do almoço. Apesar de só ter tomado um café preto de café da manhã, eu não estava com muita fome então decidi comer qualquer coisa só pra forrar o estômago. Pego minha bolsa e saio da floricultura avisando o horário que iria voltar com uma das plaquinhas e caminho até a lanchonete que ficava do outro lado da rua. Entro no local cumprimentando alguns funcionários que eu já conhecia e vou até o balcão. Compro um lanche natural e um suco, peço pra embrulhar para viagem já que iria dar uma volta pelo bairro afim de absorver um pouco de ar puro.
O dia estava lindo, o céu aberto completamente azul sem nuvens nenhuma, o sol estava quente mas não o bastante pra ser desconfortável, pássaros voando e cantando, o vento fresco e leve balançava o topo das árvores. As pessoas passavam na rua e me cumprimentavam com um leve aceno de cabeça ou um sorriso vez ou outra e eu apenas retribuía. Decido me sentar em um banco que havia ali perto e termino de comer meu "almoço".
Eu moro no Rio desde quando nasci, meus pais são daqui e eu cresci nessa cidade, que pra mim era mais como um santuário. Óbvio que tinha lá seus problema de administração, mas nada comparado com a beleza e magnitude da cidade. Meus pais também eram daqui, Jorge e Miriam se conheceram no trabalho dela, minha mãe ainda estava começando a trabalhar como enfermeira no hospital Samaritano quando um homem entrou na emergência alegando que precisava de um curativo. Minha mãe foi designada para cuidar dele e quando o tal homem levantou a camisa, ela levou um susto. Meu pai havia se metido em uma briga com um tio afim de defender seu irmão mais novo e levou uma facada na lateral da barriga. Até hoje eu não sei o motivo da briga, mas o corte não foi tão profundo. Meu pai chegou no hospital andando e queria que somente que colocassem um band-aid e dessem um anti-inflamatório, minha mãe quase entrou em surto e demorou pra convencê-lo de que ele precisava de cuidados mais específicos. Depois de muita insistência da parte dela por conta da teimosia dele, meu pai levou oito pontos e precisou ficar em observação por oito horas. Quando finalmente teve alta, chamou minha mãe pra jantar, ela não viu motivos pra negar e os dois saíram do hospital juntos já que o plantão dela já havia acabado. Com a blusa rasgada e suja de sangue mesmo meu pai a levou pra comer um podrão de um amigo dele e os dois ficaram conversando na rua até às duas da madrugada. Depois daquele dia nunca mais se separaram e estão casados até hoje. Meus pais sempre foram um grande exemplo pra mim, não só de seres humanos mas de companheiros. Jorge era extremamente cuidadoso e amoroso com minha mãe, nunca nos deixou faltar nada e sempre esteve presente em minha vida e na de meu irmão. Mia também não era diferente, ela tem um temperamento forte mas um coração gigante. Até hoje ela me trata como uma bebê o que eu não reclamo de forma alguma.
Desde criança eu sempre imaginei que iria ter uma relação como a deles, que um dia iria conhecer alguém na qual me amaria como nunca fez antes, mal sabia eu que esse tipo de coisa não acontece assim, tão fácil.
Disperso meus pensamentos e me levanto do banco afim de voltar pro trabalho. Já passava das duas da tarde e eu ainda tinha algumas coisas pra fazer na floricultura. Olho para os dois lados antes de atravessar a rua tendo a certeza de que era seguro, assim que chego em frente a vidraçaria da floricultura sinto meu coração saltar dentro do meu peito. Será que eu realmente estava vendo aquilo?
Seguro a maçaneta com as mãos trêmulas e abro a porta entrando no local.
- Eu não vou deixar!
- Você é dono dela por acaso?
- O que tá acontecendo aqui? - Pergunto fechando a porta atrás de mim e paro para observar aquela cena.
Rafael estava com o dedo apontado na cara da garota, seu maxilar trincado, o rosto vermelho revelando a raiva que sentia. Ludmilla não estava diferente, sua respiração estava levemente alterada e ela lançava um olhar mortal para o garoto.
Assim que os dois me encaram logo tratam de disfarçar. Rafa vai para trás do balcão e Lud relaxa os ombros sorrindo. Aquele maldito sorriso.
- Não foi nada Bru, ela já tava indo embora.
- Cala boca garoto!
- Você não manda em mim!
- Chega! - Os dois se calam mas continuam se encarando.
Caminho até eles deixando minha bolsa sobre o balcão.
- Minha loja não é lugar de briga! Não quero que um cliente entre aqui e presencie essa cena pavorosa de vocês dois!
- Foi ela quem começou! - O garoto grita apontando pra Ludmilla que bate na mão dele.
- Não me interessa! Se vocês querem brigar vão fazer isso na rua e bem longe daqui!
Os dois continuam se encarando e eu solto uma lufada de ar.
- Será que eu posso falar com você? - Ela finalmente me encara e se aproxima.
- Eu disse que você tava ocupada Bru, mas ela não quer sair.
- Pode deixar que eu sei cuidar de mim, Rafael! - O garoto me encara incrédulo e eu faço um sinal com a mão pedindo privacidade.
Ele tira as luvas com certa raiva e sai bufando e batendo os pés.
- Eu queria conversar sobre ontem. - Lud se aproxima um pouco mais e sinto minhas pernas fraquejarem.
- Eu não quero falar sobre isso...
- Mas eu quero! Brunna, não foi nada daquilo que você pensou...
- Eu não pensei em nada! - Ela para e me encara. Sustento meu olhar e quando percebo que ela não iria falar mais nada, respiro fundo ajeitando meu cabelo. - Olha, você não me deve nenhuma satisfação. Nós não temos nada! - Sinto uma pontada no peito quando digo aquelas palavras.
- Eu sei que não devo, mas eu quero me explicar! Sinto que preciso.
- Ludmi...
- Não Brunna! Por favor... - Ela segura minha mão e coloca sobre seu peito, mais precisamente em seu coração. - Me deixa falar.
Respiro fundo tentando manter o último fio de sanidade que eu tinha. Ela estava tão próxima de mim que seu cheiro invadia minhas narinas sem nem ao menos pedir permissão. Suas mãos seguravam as minhas com delicadeza e seus olhos me penetravam de uma forma insana.
- Ok... - Digo em um fio de voz e pigarreio logo em seguida. - Pode falar.
- Eu não queria conversar sobre isso aqui.
- Não posso sair agora, tô em horário de trabalho.
- O muleque não pode cuidar sozinho?
Mordo levemente meu lábio inferior demostrando meu nervosismo enquanto pensava em algo. Eu queria muito poder sair dali com ela.
- Lud...
- Por favor Bru! - Sinto meu coração parar por um segundo quando ouço ela me chamar daquele jeito.
A filha da puta percebeu o que aquilo me causou porque no instante seguinte um sorriso cafajeste se fez presente em seus lábios.
- Rafa! - Gritei o garoto que apareceu logo em seguida em um flash. - Eu vou dar uma saída e não sei quando volto. Você acha que consegue ficar aqui?
- Você vai sair com ela? - Encaro o garoto fuzilando-o. - Tá, eu fico...
- Tranca tudo e amanhã você me devolve a chave.
Pego minha bolsa em cima do balcão e caminho pra fora da floricultura com Ludmilla em meu encalço ainda segurando minha mão. Eu mal conseguia sentir o chão abaixo de meus pés com aquela sensação. Assim que a porta se fecha atrás de nós penso em ir até meu carro mas ela me puxa para outra direção.
Caminho até a esquina com ela quando a garota para de repente.
- Pega! - Ela me entende o objeto e eu arregalo os olhos assim que entendo o que iria acontecer.
- Você tá louca né?
- Por que?
- Eu não vou subir nisso aí!
- Ei! - Ela se abaixa sobre a moto e a abraça como se tentasse protegê-la. - Não fala assim dela poxa. Não liga pra ela filha... - A garota sussurra acariciando a lataria e eu não conseguia acreditar naquilo.
- Desculpa, mas eu não ando de moto. - Digo estendendo de volta o capacete pra ela.
A garota encara minha mão e sorri logo em seguida pegando o objeto.
- Eu também não. Morria de medo de cair e me ralar toda, mas sabe. - Ela caminha até mim e encaixa o capacete em minha cabeça travando o feicho em seguida. - Na vida a gente precisa aprender a superar nossos medos.
Estava pronta pra rebater seu argumento quando ela se posiciona atrás de mim e sinto suas mãos me segurarem com firmeza. Ludmilla me levanta do chão e me coloca sentada na moto. Solto um gritinho em surpresa e ela se senta na minha frente ligando logo em seguida.
- Segura firme, princesa! - A garota acelera e assim que entramos em movimento, agarro sua cintura com meus dois braços sem me importar com a força que usava.
Ludmilla começa a fazer um ziguezague no trânsito, cortando alguns carros afim de pegar todos os sinais abertos. Eu estava encolhida atrás dela, apertando sua cintura com toda força enquanto mantinha meus olhos fechados. Sempre tive medo de motos e depois de sofrer um pequeno acidente com meu pai, quando criança, tudo só piorou. Estávamos saindo da garagem de casa quando ele perdeu o equilíbrio e caiu me levando junto. Não me machuquei muito, apenas fiz alguns ralados, mas foi o bastante pra nunca mais querer subir em um veículo com duas rodas de novo.
- Aprecie a vista, princesa! - Ouço sua voz sair entrecortada por conta do vento que batia em seu rosto. - Sinta a liberdade!
Abro levemente os olhos e tudo não passava de um borrão. As pessoas, lojas, carros, tudo passava tão rápido diante de meus olhos que mal conseguia reconhecer as formas e cores. Endireito minha postura deixando minhas costas eretas e solto um pouco sua cintura. O vento começou a bater contra meu rosto e meus cabelos voavam com o vento.
- Se você fechar os olhos e abrir os braços, vai parecer estar voando! - Ela grita e percebo que Lud sorria.
Um sorriso diferente, mais aberto e descontraído, como se ela estivesse gostando de me proporcionar aquela sensação e devo confessar, eu também estava.
Decido seguir seu conselho e fechos os olhos novamente, dessa vez com mais calma. Abro levemente os braços quando percebi que já estávamos um pouco mais afastadas dos outros carros. O vento continuava batendo em meu rosto com certa força e dessa vez, sem segurar em nada, eu realmente tinha a sensação de estar voando. O barulho do motor era a única coisa que eu ouvia, a sensação de liberdade e adrenalina começaram a tomar conta de mim e foi inevitável não sorrir. Eu nunca tinha sentido nada assim antes e era bom, era muito bom!
- Segura, já estamos chegando! - Ela diz e só então percebo que eu estava em pé na moto atrás dela.
Não sei como fiz aquilo nem de onde tirei coragem, mas não me importei muito. Voltei a me sentar e segurei sua cintura dessa vez com mais cuidado. Lud foi desacelerando a moto até finalmente pararmos, ela estacionou no local adequado e desceu me ajudando a fazê-lo logo em seguida.
Lud se aproximou tirando meu capacete enquanto mantínhamos o contato visual. O sol batia em seus olhos deixando-os um pouco mais claros. Seu sorriso ainda continuava ali intacto. Ela guarda os dois capacetes no compartimento e pega a mochila jogando sobre suas costas segurando uma das alças no ombro direito. Ludmilla segura minha mão e caminha comigo.
Estávamos na praia, o sol das quatro da tarde já começava a escurecer e uma brisa levemente gélida começava a se fazer presente.
- Aqui! - Ela diz parando em um local um pouco mais afastado dos banhistas.
Lud abre a mochila e tira um pano grande de lá. Ela estende o pano no chão e coloca sua bolsa sobre ele se sentando e então me encara, da dois tapinhas no chão ao seu lado e eu não demoro muito pra me sentar também.
- Você tem uma bela moto.
- Aquela velharia? - Ela diz sorrindo. - Obrigada! Ganhei de presente.
- Sério? De quem?
- Do meu pai. Ele me deu assim que terminei de tirar minha habilitação.
- Uau...
Lud me encara e sorri. Ela levanta sua mão trazendo até meu rosto e sinto meus músculos enrijecerem. Lud tira uma mexa de cabelo que insistia em ficar em minha boca e a coloca atrás de minha orelha.
- Você é linda! - Sinto meu rosto queimar com aquele elogio e abaixo meu olhar encarando minhas unhas. Ouço ela soltar um riso anasalado e então ficamos em um silêncio profundo porém confortável. - Eu adoro vir pra cá esse horário... - Ela diz depois de um tempo.
- Por que?
- A vista! - Ela aponta a nossa frente e então encaro o mesmo que ela.
O sol da tarde já começava a baixar e pintava o céu com tons de laranja, amarelo e violeta. Alguma nuvens deixavam um rastro por ali e toda aquela beleza se refletia na água do mar calmo. A brisa batia de leve fazendo nossos cabelos dançarem levemente e o cheiro da água salgada nos embreagava. Fecho os olhos por alguns instantes somente apreciando aquele som das águas indo e vindo molhando a areia e trazendo uma sensação de paz e tranquilidade instantânea.
- Acho que nunca vou me cansar de te olhar... - Ouço sua voz rouca invadir meus pensamentos e a encaro.
Lud mantinha aquela mesmo sorriso charmoso em seus lábios e seus olhos brilhavam intensamente com a luz do sol sob eles.
- Por que me trouxe aqui? - Decido ir logo ao assunto evitando rodeios.
- Eu quero conversar.
- Ok...
Ela respira fundo e então se aproxima mais.
- Sobre o que aconteceu na festa ontem, eu não queria que você tivesse visto aquilo.
Arqueio as sobrancelhas sugestiva e ela arregala os olhos.
- Não! Veja bem... - Ela suspira e coça a nuca demostrando seu nervosismo. Lud fecha os olhos como se tentasse se concentrar e então volta a me encarar. Ela segura uma de minhas mãos que estava repousada em meus joelhos e começa a falar. - Quando eu te vi na floricultura te achei incrivelmente linda. Você me chamou atenção e eu ainda não consegui descobrir o porquê. Foi isso o que eu falei pra Daiane. - Ela confessa sanando minha dúvida e então toma fôlego. - Quando você foi entregar as flores, não imaginava que iria te ver tão cedo e aquilo me fez sentir ainda mais atraída por você. Na festa a gente se divertiu muito, era como se já nos conhecêssemos... Foi muito bom!
- Sim. Até sua namorada chegar.
- Aí é que tá! - Ela engole em seco antes de continuar. - Cinthya não é minha namorada!
- Não? - Pergunto arqueando uma de minhas sobrancelhas e ela concorda.
- Não! Ela é uma das modelos que trabalha comigo como regular e ela era a organizadora da festa. Nós já havíamos ficado algumas vezes mas nada muito sério. Ela tem os pegas dela e eu...- Ela faz uma pausa e pela primeira vez a vejo ficar sem graça. - Bom, eu já tive minhas aventuras, mas não tenho nada com ninguém e as duas sabem disso.
Continuava quieta apenas escutando aquilo tudo. Lud parecia estar sendo sincera e eu não tinha motivos pra desconfiar dela, afinal, nós não tínhamos nada.
- Ok, eu acredito em você.
- Mesmo?
- Sim.
Ela sorri novamente e meu coração transborda.
- O que você e Rafael tem? - Pergunto em um impulso e percebo ela travar o maxilar.
- Ele é primo da Cinthya e jura por tudo que eu a traí. Ele não entende que ela e eu nunca tivemos nada e mesmo ela tendo conversado diversas vezes, o garoto prefere acreditar que eu sou cafajeste.
- Ele não tá tão errado assim...
- Ei! - Ela diz fingindo ofensa e empurra meu ombro. Sorrio com a brincadeira e volto pro lugar. - Você gosta dele?
Encaro a garota, incrédula com aquela pergunta e sem conseguir me conter começo a rir.
- Tá louca? - Digo puxando fôlego tentando cessar o riso.
- Ué, você deu mó beijão nele...
- Aquilo foi imaturo e errado. E eu tava bêbada.
- Parece que eu não sou a única cafajeste aqui...
- Ei! - Dessa vez sou eu quem a empurra e Lud continuava sorrindo abertamente pra mim.
E eu? Bom, eu me encontrava cada vez mais perdida e apaixonada por aquela deusa.
Permanecemos ali mais alguns minutos observando alguns pássaros voarem e o sol se pôr a cada minuto. Algumas pessoas já começavam a ir embora e outras apenas curtiam os últimos minutos de sol em uma caminhada tranquila. Fecho os olhos por alguns instantes e aprecio a brisa bater em meu corpo. O clima estava agradável, nem muito quente nem muito frio, o que era raridade no Rio. Era bom apenas ficar ali, reclinada sobre meus braços ouvindo aquele som tão relaxante das ondas se quebrando, com a cabeça leve e meu corpo relaxado. De repente ouço o som de um clique e abro os olhos encarando uma Ludmilla com um sorriso sapeca nós lábios mordendo a pontinha da língua. Ela segurava sua câmera de fotografia e me encarava como uma criança que tinha feito arte.
- Você não fez o que eu penso que fez, certo?
- Não. - Ela diz disfarçando com a cara mais deslavada do mundo.
- Você não tirou uma foto minha?
- Ah, isso... Sim.
Abro a boca em sinal de surpresa e ela solta uma gargalhada descontraída e eu poderia dizer que aquele era um dos meus sons favoritos.
- Você também me chamou atenção logo quando nos vimos. - Digo de um vez e ela me encara curiosa.
Não sei de onde tirei coragem pra dizer aquilo. Saiu sem querer me pegando totalmente desprevenida, mas agora era tarde demais para voltar atrás.
- Sério? - Ela pergunta se ajeitando melhor e cruzando as pernas ficando de frente pra mim.
- Sim! - Respiro fundo e e a encaro. - Quando te vi correndo em minha direção confesso que senti medo mas depois... Depois eu só senti... - Deixo a frase morrer enquanto encarava aqueles castanhos tão intensos.
Ludmilla me observava como se eu fosse a obra de arte mais valiosa do mundo. Seus olhos brilhavam intensamente e sua expressão denunciava o interesse em minhas palavras.
- Sentiu? - Ela pergunta se aproximando ainda mais e meus olhos migram para aqueles lábios que pareciam tão macios e saborosos.
- Senti... Vontade... - Ludmilla continuava se aproximando e era cada vez mais difícil controlar minha respiração, visto que meu coração decidiu sambar dentro do meu peito.
- Sentiu vontade quê Brunna? - Lud sussurra e fecho os olhos engolindo em seco. - Me fala... - Ela continuava me encarando e assim que nossos olhares se cruzaram novamente, senti um arrepio percorrer todo meu corpo. - Seja lá o que for, eu faço!
Fecho os olhos quando ela fica a milímetros de meu rosto e sinto o calor que sua pele emanava se embrenhando no meu. Seu hálito fresco de hortelã batia contra meus rosto me fazendo suspirar.
- Eu senti vontade... - Senti minha garganta secar e abro um pouco os olhos encarando seus lábios. - Disso!
Me inclino minimamente e selo nossos lábios. E então tudo acontece. Do jeito como havia imaginado. Era apenas um simples roçar de lábios mas que foi capaz de me tirar de órbita. Senti meu corpo levar um leve choque e meu coração palpitar em meus ouvidos devido a pressão. Cinco segundos, foi o tempo que durou aquele selinho calmo. Me afasto levemente dela e ainda de olhos fechados seguro o sorriso que insistia em querer sair. Abro os olhos e encaro Ludmilla que estava da mesma forma que eu, um sorriso satisfeito estava no canto direito de sua boca e lá me encarava com olhos ainda mais brilhantes.
- Engraçado isso... - Ela diz depois de um certo tempo em silêncio.
- Por que?
Lud sorri nervosa.
- Porque eu queria fazer isso! - Antes mesmo que eu pudesse pensar, sinto sua mão se repousar delicadamente sobre minha nuca e ela me puxa para mais perto de si selando nossos lábios novamente.
Em um minimo movimento Lud abre seus lábios sobre os meus e sua língua entra pelo pequeno vão me causando um arrepio forte em todo meu corpo. Suas unhas acariciam levemente minha nuca e eu seguro em um de seus ombros afim de trazê-la ainda mais perto de mim. Nossas línguas se encontram e eu solto um suspiro pesado quando sinto elas se enrolarem em uma dança sincronizada. Nosso beijo se encaixava de uma forma perfeita, parecia que já havíamos nos beijado um milhão de vezes, como se nossas bocas já fossem íntimas uma da outra. Ela leva sua outra mais até meu rosto e deixa um leve carinho em minha bochecha. Giro minha cabeça para o lado oposto do dela afim de aprofundar mais o beijo e Lud não demora a corresponder. Ouvíamos os suspiros sofrêgos que ambas soltavam pelo contato e nossa única vontade era de continuar. Lud desliza sua mão que estava em meu rosto pela lateral do meu corpo até chegar em minha cintura. Ela aperta levemente o local me fazendo soltar um gemido baixo e me puxa para mais perto de si. Entrelaço meus braços em seu pescoço e começo a brincar no beijo, ora mordendo seu lábio inferior, ora chupando levemente sua língua. Aos poucos o a necessidade de oxigênio se faz presente e ela rompe o beijo com alguns selinhos colando nossas testas em seguida.
- Uau! - Foi tudo o que consegui dizer com a respiração ainda ofegante.
Lud sorri fazendo uma leve carícia em minha cintura e ficamos ali por alguns instantes tentando reestabelecer nossas respirações enquanto aquele beijo fazia questão de ser revivido em minha memória.
- Você beija muito bem! - Ela diz se afastando levemente e eu sorrio sentindo minhas bochechas esquentarem.
- Obrigado, eu acho...
Encaro quelas órbitas castanhas que estavam um pouco mais claras. Suas pupilas estavam levemente dilatadas, suas bochechas tinham uma leve coloração avermelhada e seus lábios estavam inchados e um pouco mais rosados, simplesmente irresistíveis.
- Você não sai da minha cabeça, Brunna. - Ela diz quase em sussurro e meu coração acelera com aquelas palavras. - Você realmente mexeu comigo de uma forma que ainda não consegui entender, mas eu gosto.
Sorrio com aquela confissão.
- Você também mexeu comigo! Desde a primeira vez que te vi não consegui parar de pensar em você.
Lud abre mais ainda seu sorriso e me puxa para um abraço desengonçado, porém gostoso. Escondo meu rosto em seu pescoço e seu cheiro me invade. Era amadeirado e levemente doce, um aroma que nunca havia sentido antes e não sabia dizer se era perfume ou seu cheiro natural, mas era bom. Era muito bom. Assim que ela afrouxa o contato deixo minhas mãos escorregarem em seu corpo e sinto algo diferente em sua cintura. Parecia... Rígido?
Lud fica tensa na mesma hora e se afasta. A encaro confusa e desço meu olhar até sua cintura mas ela é mais rápida e puxa a mochila cobrindo a região.
- E-eu acho que... E-eu preciso ir... Já tá meio tarde e...
- Ok! Tudo bem. - Digo concordando percebendo o quanto ela havia ficado nervosa.
Lud se levanta ainda segurando a mochila a frente de seu corpo.
- Tá tudo bem?
- Tá! Só vai indo na frente pra mim arrumar as coisas aqui e já te alcanço! - Ela diz tudo em um fôlego só e percebo que ela estava nervosa e um pouco desconfortável.
Confesso que achei estranha sua atitude, ela estava tão solta e de repente mudou. Decidi não confronta-la, não queria a deixar ainda mais desconfortável então apenas fiz o que ela pediu. Peguei minha bolsa me levantando logo em seguida e bati as mãos em minha calça me livrando da areia. Lud permanecia de costas e murmurava algo que eu não conseguia identificar. Dou de ombros ignorando aquilo e vou em direção a moto. Alguns longos minutos depois ela aparece novamente sorrindo sem graça e abre o compartimento da moto. Lud me entrega o capacete e eu o coloco. Subo no veículo e espero ela terminar de se arrumar.
- Desculpa. - Ouço sua voz surgir e a encaro.
- Tudo bem, mas... Eu fiz algo?
- Não! - Ela morde o lábio inferior em sinal de nervosismo. - Você não fez nada, eu só... É bobagem.
- Tá tudo bem! - Sorrio tocando levemente seu braço e ela relaxa sorrindo de volta.
Lud monta na moto e logo saímos do lugar. Depois de alguns minutos sentido aquela sensação incrível novamente, finalmente chegamos na floricultura. Desço da moto lhe entregando o capacete e ela levanta a viseira do seu afim de me encarar melhor.
- Eu adorei sair com você. - Digo um pouco tímida e ela sorri colocando uma mexa de meu cabelo atrás de minha orelha.
- E eu adorei sua companhia! Quero sair contigo mais vezes!
- Pode me chamar quando quiser...
- Você poderia me dar seu número.
Sinto meu estômago se retorcer em nervosismo e não consigo evitar de sorrir. Concordo com a cabeça sentindo as palavras se embolarem em minha garganta e ela sorri me entregando o celular. Gravo meu número salvando meu contato e entrego novamente a ela.
- Agora sim posso te ligar...
- Vou esperar ansiosa!
Ela sorri novamente e me puxa pela cintura. Lud levanta um pouco o capacete e com a outra mão segura minha nuca me puxando para um beijo casto. Seus lábios se abrem levemente e ela me da alguns selinhos pouco mais encorpados. Ela se afasta aos poucos e eu a encaro. Trocamos sorrisos e mais alguns beijos até que me afasto de vez e sigo até meu carro. Ela liga a moto e sai dali buzinando duas vezes e fazendo um leve aceno com a cabeça e eu entro no veículo jogando minha bolsa no banco do passageiro. Coloco a chave na ignição e então meu celular toca.
Tiro ele da bolsa e encaro a tela estranhando aquele número desconhecido.
- Alô?
- É só pra ter certeza de que não me passou o número errado. - Ouço sua voz do outro lado e o sorriso se faz presente sem esforço. Poderia jurar que ela estava da mesma forma.
- Não teria motivos pra isso.
- Nunca se sabe...
Ficamos em silêncio por alguns segundos apenas ouvindo a respiração uma da outra.
- Vou deixar você ir pra casa, se cuida hein!
- Pode deixar, você também!
Encerro a ligação e guardo o celular de volta na bolsa. Inspiro o ar por alguns segundos e então me permito ter um leve surto. Começo a gargalhar enquanto balançava as mãos eufórica. Ludmilla me beijou! Ela quis me beijar! Ela ficou pensando em mim depois que me viu! Ela pediu meu número e me ligou pra confirmar! ELA ME ACHA LINDA, PORRA!
- Ok Brunna! - Digo para mim mesma restabelecendo minha respiração. - Se controla!
Ligo o carro e saio dali indo pra casa. Durante todo o percurso minha mente vagava sem permissão pelas lembranças do que tinha acontecido. Me lembrava daquele beijo que foi tão perfeito e sincronizado que ainda me assustava um pouco. Sentir seus lábios nos meus, sua língua tocando a minha, suas mãos me tocando de uma forma tão intensa e suave, era como se eu tivesse dado meu primeiro beijo da vida toda. Foi perfeito, intenso, quente e arrebatador. Sua respiração batendo contra a minha, suas palavras, seu sorriso, seus olhos, TUDO! Ludmilla é perfeita e eu estou ainda mais apaixonada por ela!
Estaciono o carro em minha vaga sem mais problemas e vejo a moto de Lari estacionada ali também. Pego minha bolsa e saio correndo do carro em direção ao elevador.
- Cuidado menina! - Sérgio diz sorrindo e eu aceno para ela. - Não vai se machucar!
- Pode deixar, Sérgio!
Entro na caixa de metal completamente eufórica e aperto o botão que me levava até meu andar. Assim que o elevador apita e as portas se abrem, saio de lá com a chave em mãos e bato na porta de Larissa apertando a campainha sem parar.
- Já vai, caralho! - Ela abre a porta em um supetão e eu a encaro exibindo meu melhor sorriso. Larissa mantinha a expressão fechada e seus olhos semi cerrados. - Que é Patati?
Reviro os olhos e mantenho o sorriso.
- Eu preciso te contar algo! - Abro a porta de meu apartamento e entro já tirando minhas roupas.
Lari vem atrás de mim e fecha a porta.
- O que foi dessa vez? Não vai dizer que você comprou outro vibrador...
- Não! Foi melhor!
- Melhor que um vibrador?
- Sim!
Ela me encara com os braços cruzados e então sua expressão desconfiada muda completamente e ela arregala os olhos.
- Você transou!
- Quase isso! - Digo saindo dali de lingerie e vou em direção ao banheiro.
- Pera... QUÊ?
Termino de tirar minhas roupas colocando-as no cesto e entro no box ligando o chuveiro.
- Ludmilla foi atrás de mim!
- AH NÃO, BRUNNA!
- AH SIM!
- Isso é melhor que vibrador e sexo?
- Larissa! - Chamo sua atenção jogando um pouco de água nela e a garota me fuzila com o olhar.
- Tá, fala...
- Ela apareceu na floricultura e disse que queria conversar. - Começo a me esfregar com a bucha ainda mantendo o mesmo sorriso.
- Hum...
- Aí eu subi na moto dela...
- Ela tem moto?
- Sim.
- Sapatão...
Abro um pouco o box colocando a cabeça pra fora e a encaro com uma das sobrancelhas arqueadas.
- Você também tem moto! - Digo como se fosse óbvio e ela me encara surpresa.
Larissa tenta formular uma frase mas tudo o que se dava pra ouvir era um som confuso saindo de sua boca.
- Mas ela é diferente!
- Diferente como?
- Ué! Ela... Ela... Conta logo Brunna!
Solto uma gargalhada pelo seu nervosismo e continuou meu banho.
- Aí nós fomos pra praia! A gente conversou um pouco e você não vai acreditar no que ela me disse!
- O quê?
- Que pensou em mim! - Encaro ela que me olhava com a expressão em puro tédio. - Ela disse que pensou em minha amiga! Que desde a primeira vez que me viu não conseguia me tirar da cabeça e que não entendia o porque!
- E você?.
- Falei que tava do mesmo jeito! Ai disse que desde quando a gente se viu pela primeira vez eu senti vontade de beijar ela e sabe que aconteceu?
- Ela te beijou?
- Não! Eu beijei ela! - Larissa me encara arregalando os olhos e arqueado as sobrancelhas.
- VOCÊ FEZ O QUE? - Ela da um tapa na porta.
- EU BEIJEI ELA!
- MENTIRA! - Lari grita praticamente entrando no box.
- VERDADE!
- E AÍ?
- E AÍ QUE FOI MÁGICO AMIGA! - Fecho os olhos relembrando melhor aquele beijo. - FOI INCRÍVEL!
- TÁ MAS E ELA?
- ELA ME BEIJOU DE VOLTA!
Ela solta um grito histérico e começa a pular, eu me junto a ela na loucura tomando cuidado pra não levar um tombo no box.
- Chega! - Ela para na hora e volta a ficar séria. - E depois?
- Ah, foi basicamente isso... Ah, ela tirou uma foto minha! - Termino de lavar meu rosto e o enxáguo.
- Hummm... Alguém vai ser homenageada pela DJ hoje.
- Larissa! - Chamo sua atenção fechando o chuveiro e saindo do box.
Me enrolo na toalha e saio do banheiro com ela em meu encalço. Me seco e visto o pijama que havia separado enquanto Lari arruma a cama.
- Aconteceu uma coisa meio estranha. - Digo pegando o creme hidratante dentro do móvel ao lado da cama.
- O quê?
- Depois do beijo ela me abraçou...
- Estranho mesmo.
- Não isso, idiota!
- Ah.
Espalho o creme nas mãos e começo a passar em minhas pernas. Larissa se deita na cama em baixo do edredom e apenas observava.
- Quando eu fui soltar o abraço, sem querer toquei na cintura dela e senti uma coisa meio dura sabe?
Lari arregala os olhos.
- Será que ela tem uma arma?
- Não... Não parecia ser uma arma.
- E você lá sabe como é uma arma garota?
- Amiga, não era duro tipo algo sólido, era mais como algo... Rígido... Sabe? Mas era... Macio?
- Você relou nela sem querer ou ficou apalpando a garota?
- Foi sem querer, mas deu pra sentir...
- Vai ver era o celular dela.
Começo a aplicar o creme na outra perna.
- Mas macio?
- Ah sei lá, quem tocou foi você..
Termino de hidratar minha pele e guardo o creme de volta.
- Vai dormir aqui? - Me deito na cama em baixo do edredom enquanto ligo o ar condicionado.
- Ah, eu não ia, mas já que você insiste tanto...
Sorrio pra garota que se deita atrás de mim e me abraça pela cintura. Apago a luz do abajur e respiro fundo ainda me lembrando da tarde incrível que tive ao lado daquela mulher maravilhosa. Ouço meu celular vibrar e pego ele logo em seguida.
Bloqueio a tela do celular o colocando pra carregar logo em seguida e me ajeito na cama. Percebo que ainda tinha o mesmo sorriso idiota no rosto o qual passei exibindo durante todo o dia, mas eu não ligava, afinal de contas, Ludmilla havia me beijado e ela queria sonhar comigo essa noite. Nada iria tirar a minha felicidade.
E por momento achei que estava enganada. Esse talvez seja o meu conto de fadas.
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como estamos até aqui?
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