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votem, comentem e digam oq estão achando.

boa leitura 💕
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- Aqui nós temos a cattleya walkeriana, também conhecida como a rainha das orquídeas. A cattleya walkeriana é uma das orquídeas mais perfeitas disponíveis na natureza. Ela está disponível em algumas regiões do Brasil e é estimada por cultivadores do mundo inteiro, sendo que em alguns casos, pode custar mais de R$4000,00. - O instrutor fala enquanto eu anotava cada palavra em meu bloquinho.

Haviam chego em Holambra pela manhã, tive cerca de meia hora pra poder me arrumar e correr pra primeira excursão.

- A cattleya purpurata, mais uma orquídea que o Brasil nos apresenta, é uma das mais famosas entre os cultivadores de cattleya. Ela é epífita e possui...

Termino de escrever as últimas palavras da descrição quando sinto uma mão em meu ombro. Me viro e levo um pequeno susto quando vejo a pessoa ali, parada, sorrindo pra mim com aquele olhar tão íntimo.

- Lívia? - Pergunto desacreditada.

- Brunna! - Ela sorri ainda mais. - Quanto tempo!

Da um passo a frente e me abraça forte. Fico paralisada por alguns segundos, ainda tentando processar a intimidade, e enfim rodeio meus braços por seu corpo, afim de retribuir o gesto.

- Uau! - Ela diz assim que me solta, me olhando de cima a baixo. - Você tá ainda mais linda!

- Ah, que isso... - Sorrio, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. - Mas então, o que faz aqui?

- Eu moro aqui!

Abro a boca, surpresa.

- Em Holambra?

- Isso mesmo. - Ela confirma sorrindo.

- Meu Deus, que sortuda!

- Sim! Eu sei, eu sei...

Sorrio pra ela e me permito reparar em sua fisionomia. Lívia estava tão linda quanto eu lembrava. Seus cabelos loiros ainda eram os mesmos, mas estavam mais claros, com mais ondas e bem mais bonitos. Os olhos azuis continuavam completamente sedutores, seu corpo tinha mais curvas e seu rosto era parecido com o de um anjo.

- E você? O que faz na cidades das flores? - Ela pergunta ainda sorrindo e me pego hipnotizada vendo aqueles dentes tão brancos e bem alinhados.

- Flores! - Sorrio. - Eu sou florista, trabalho com isso e sou completamente apaixonada.

- Uau! Parece que alguém finalmente achou sua vocação.

- Sim! Eu amo meu trabalho, tenho minha própria floricultura...

- Hum, mulher de negócios... - Aceno, concordando. - Sabe, eu sempre tive uma queda imensa por mulheres empreendedoras. São tão livres! - Sinto-me corar levemente. - Vai ficar aqui até quando?

- Vou embora amanhã pela tarde.

- Hum, sendo assim. - Ela se aproxima mais e eu prendo a respiração. - Você vai sair pra jantar comigo hoje a noite, e isso não é um convite e sim uma intimação.

- Ah, Lívia eu realmente gostaria, mas...

- Na-não Brunna, você vai! Eu não aceito 'não' como resposta.

- Você não mudou nada!

- Não mesmo. - Ela sorri, convencida. - Já você, só melhora com o tempo. - Seu tom de voz sai baixo e sedutor.

Sinto meu corpo arrepiar levemente. Eu sempre gostei de sua voz. Lívia era minha antiguíssissima crush de faculdade. Era ela quem sempre arrumava convites pra festas e calouradas arrastando a mim e Larissa junto a ela. Ah, que época boa...

- Aqui. - Ela me estende um cartão. - Esse é meu número, me manda o endereço do seu hotel e eu te pego as 19 horas, ok?

- O..k...

- Ótimo. Te vejo mais tarde. - Ela pisca e então se vai. Assim, como se nada tivesse acontecido.

Sinto minas pernas levemente bambas e uma sensação estranha na boca do estômago. Talvez não tenha sido uma boa ideia aceitar esse... reencontro.

[...]

Salto para fora do elevador e caminho até as portas do hotel. Lívia havia chego a alguns minutos e mandou avisar em meu quarto. Eu ainda estava um pouco nervosa com a situação mas decidi que não havia mal nenhum, eram somente duas amigas se reencontrando depois de tantos anos. Certo?

- Brunna! - Ela acena sorrindo e então viu até ela. - Você está linda!

- Obrigada. - Tento chegar até a porta do carro mas ela é mais rápido e abre, para que eu possa entrar. Droga... O carro começa a sair e meu nervosismo só aumenta. - Então... Aonde vamos?

- Ah, é surpresa. Mas tenho certeza que vai gostar.

Rodamos pela cidade por cerca de vinte minutos. Ela fez questão de mostrar alguns dos pontos turísticos e eu fui ficando casa vez mais confortável. Finalmente me tranquilizando e percebendo que eu nem deveria estar assim tão nervosa...

- Chegamos! - Ela puxa o freio de mãos do carro e salta dele. Em questão de segundos está abrindo a porta e me oferecendo a mão para que eu saísse. Lívia entrega a chave ao vallet e entramos no que parecia ser um restaurante japonês.

Droga, eu havia me esquecido o quanto ela me conhecia.

- Se eu não me engano, você ainda ama comida japonesa. Certo?

- Uhum...

- Que bom.

A atendente nos guia até nossa mesa e então nos sentamos. Lívia faz seu pedido e eu faço o meu. Tudo casual até demais. O nervosismo começa a aflorar em minha pele novamente e sinto minhas mãos pegajosas.

- Sabe, durante todos esses anos eu me perguntei como você estaria. Mas nunca imaginei que pudesse ficar ainda mais linda do que era. - Ela diz com aquela pinta de galanteadora.

- Obrigada. Você também está radiante.

- E então, o que mais me conta. Além de ser uma empresária de sucesso, o que mais Brunna Gonçalves anda fazendo?

- Bem, eu me mudei pra São Paulo a pouco mais de um ano...

- Deixou o Rio? Uau, nunca imaginei. Como isso aconteceu?

- É. Bem, minha esposa recebeu uma proposta muito boa de trabalho porém, ela precisaria se mudar. Então decidimos ir. Aproveitei também pra expandir meus negócios e aqui estamos.

- Nossa, que incrível. - Lívia bebe um gole de vinho, me encarando entre os cílios com os olhos semicerrados. - Então você se casou, hã?

- Sim! A quatro anos.

- Nossa... Então é uma relação séria mesmo.

- Muito séria.

- Filhos?

- Ainda não, mas já estamos resolvendo essa questão.

- Poxa, nunca imaginei você como mãe... Como esposa sim, inclusive costumava sonhar acordada com o dia que me diria 'sim', mas filhos... Uau!

Decido ignorar seu comentário.

- Por que a surpresa?

- Não sei bem explicar, nunca imaginei que você seria capaz de levar uma vida tão seria e regrada.

- Bem, seria eu sempre fui, porem também sei me divertir. E sobre as regras, bem... Eu faço minhas próprias regras, então...

Bebo meu vinho tentando manter a sensação de relaxamento, quando de repente sinto seu pé roçando levemente em minha perna, de baixo para cima.

- Que bom, gosto de mulheres independentes, donas de si. Aprecio muito, muito mesmo.

- Lívia, o que você tá fazendo?

- Nada demais. Você quer que eu pare?

- Não acho isso apropriado.

- Você quer que eu pare? - Ela repete, dando ênfase no movimento e concentrando ainda mais seu olhar em mim. Seus olhos flamejam, ela mordisca o lábio inferior e sinto meu estômago se revirar.

Era uma armadilha. Como pude ser tão burra em não ter percebido antes? O restaurante om música clássica, a luz de velas, o vinho, a conversa, seu tom de voz, sua insinuação. Eu sabia que deveria ter recusado sua proposta mas ao mesmo tempo sentia falta de minha amiga. Queria matar a saudade , botar o papo em dia, mas ela queria algo mais. Ela sempre quis algo mais. Não só comigo, com todos. Eu a conhecia bem demais pra saber o que exatamente o que ela estava atrás e mesmo assim me deixei levar. Burra. Burra. Burra!

Me levanto imediatamente da mesa e jogo o guardanapo no prato, furiosa, irritada, frustrada.

- Foi bom te ver, Lívia. Mas agora preciso ir.

Ela também se levanta, confusa.

- Mas ainda tá cedo, você nem terminou seu prato.

- Prefiro comer no hotel. Obrigada. 

- Ei, aonde você vai? - Ela segura meu braço quando tento passar.

- Eu já disse, vou embora. Está tarde e eu nem deveria estar aqui.

- Ah, qual é Brunna. Relaxa um pouco, aproveita a noite.

- Vou fazer isso, no meu quarto, na minha cama, com minha esposa! Não tenho mais tempo nem saco pra aguentar essas suas brincadeiras indecentes. Se você não me respeita, eu mesmo irei me respeitar por nós duas, e além disso, irei respeitar a minha esposa! Agora, com licença, eu tenho um táxi pra pegar.

Saio dali em questão de segundos, deixando-a em pé, parada no centro do salão do restaurante com todos a olhando. O que ela fez foi jogo baixo, foi sujo, nunca me senti assim antes. Fazer esse tipo de coisa quando se esta na faculdade e não tem nada além de livros pra ler e matérias pra zerar tudo bem, agora, ser uma mulher adulta, cheia de responsabilidades e continuar agindo como uma adolescente cheia de hormônios pra mim já é um pouco demais. E eu não sou desse tipo.

Pego um taxi na porta do restaurante e em menos de  15 minutos estou no meu quarto, no hotel, embaixo das minhas cobertas. Pedi o jantar assim que cheguei, tomei um banho e sai ouvindo o garçom bater na porta. Vesti uma blusa de Ludmilla que trouxe comigo e deitei debaixo do edredom fofo e macio da cama de casal. Liguei a TV em um canal qualquer, ouvindo o falatório enquanto pensava no que tinha acabado de acontecer. Me sentia mal, como se realmente tivesse feito algo errado, como se tivesse traído minha esposa. O peso da culpa caiu sobre mim como uma pedra de granito gigante. Estiquei o braço e alcancei o celular em cima da mesa de cabeceira, desbloqueei a tela e fui no número marcado como favorito, esperei chamar duas, quatro, seis vezes, ate cair na caixa postal. Desliguei e mandei uma mensagem de texto. Preciso conversar com você. Amanhã, assim que chegar. Boa noite, eu te amo!

Me sentia culpada. Com uma sensação de peso no peito. O coração e a garganta amarrados em um nó. Mas além disso, também algo estranho, que não tinha a ver comigo. Pensei em Ludmilla, alguma coisa tinha acontecido. Tentei me manter relaxada, afinal, nada havia acontecido. Nada chegou a acontecer. Respirei fundo, me acalmei, abaixei a tv e deixei o sono me levar. Era mais fácil dormir com barulho quando eu tinha que dormir sozinha, e assim foi, até cair em um sono profundo e tranquilo.

Amanhã.

Amanhã vai ficar tudo bem. 

Acordo com o sol acariciando meus rosto. Esqueci de fechar as persianas do quarto ontem a noite mas isso não me incomoda. Me levanto indo direto ao banheiro, faço minha higiene e logo volto para o quarto afim de terminar de arrumar tudo e ir embora pra casa de vez. Visto uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa preta larga, coloco um boné cor de rosa e um tênis de cano alto branco, estou pronta pra ir embora.

Depois de fazer o check out e organizar tudo, pego um táxi até o aeroporto quase na hora de embarque. Entro no avião respirando fundo e deixando tudo de ruim que aconteceu para trás. Depois de 25 minutos de voo finalmente chego em São Paulo. Tento ligar para Ludmilla algumas vezes, já que tínhamos combinado que ela me buscaria no aeroporto, mas só cai na caixa postal. Decido ir de taxi mesmo, afinal, ainda é cedo e ela deve estar dormindo. Minha mulher merece um descanso.

Não demora muito e chego no condomínio, graças a Deus o transito hoje estava bom. Subo com minhas malas ate meu apartamento e entro. Coloco as malas ao lado da porta.

- Amor? Já acordou? - Olho em volta em sinal de Ludmilla. - Vida?

Talvez ela saiu pra comprar o café da manhã.

Quando dou um passo a frente, entrando de vez em casa, sinto algo diferente. Realmente uma sensação. Algo na atmosfera do apartamento estava diferente, estranho. Foi como se de repente me sentisse como uma estranha dentro de minha própria casa. Vou ate a cozinha e pego um copo d'agua. Pego as malas e vou levando-as ate o quarto afim de separar as roupas sujas das limpas. A porta, que estava semiaberta, logo se abre quando a empurro com o pé, então tudo fica embaçado.

Ouço vidro se quebrado e a sensação de  água em meus pés, como se estivesse prestes a ser engolida por uma onda gigantesca. Tento piscar mas meus olhos continuam abertos, estáticos. Meu coração acelera, meu sangue corre mais rápido em meu corpo. Minha cabeça parece girar, minha boca seca. Percebo então que o copo que eu segurava havia caído de minha mão. O som o vidro se chocando com o chão as fez despertar.

Ludmilla.

E Cinthya.

As duas, ali. Sentadas na cama. Juntas. Nuas.

- Brunna? - Ouço ao longe aquela voz rouca tão familiar soprando meu nome e meu estômago se embrulha. - Amor... O que?

Só então ela parece perceber. Se olha e vê que da cintura pra cima, nada a cobre. Então olha para o lado e percebe que a mulher que esta ali, ocupando o meu lado da cama, também esta nua, ao seu lado.

- Cinthya? - Seu tom parece de surpresa. E medo. - O que você tá fazendo aqui? - Ela diz se levantando rapidamente e se cobrindo como pode com o lençol.

- Como assim? - A vagabunda responde. - Você me chamou pra cá!

- O QUE? - Ludmilla grita, confusa. Ela olha pra mim.

- Bru, amor... Calma!

Por fim, consigo tirar os olhos da cama, de Cinthya, e a encaro.

- Amor, eu não sei o que aconteceu! - Ela diz, tentando algo que ainda não consegui entender o que era.

- Lud, eu acho que ela já sabe. - A garota diz e volto a encara-la.

- CALA A BOCA! - Ludmilla grita e eu pareço despertar de um pesadelo.

Um pesadelo. Era isso o que parecia. Apenas um sono ruim. Eu ainda estava no hotel? Estava dormindo? Aquilo era um sonho ruim gerado pelos pensamentos que tive antes de dormir devido ao que aconteceu durante aquele jantar? Era o que parecia. Ate que...

- Amor! - Ela vem ate mim e segura em meus braços. - Fala comigo, por favor! 

Não era um sonho ruim. Não era um pesadelo. Olho para suas mãos em meus braços e sinto a temperatura de sua pele na minha. Ela estava me tocando e eu senti. Era real.

Olhei para ela. Para seu rosto. E então para seu corpo despido. Para as roupas jogadas no chão como se tivessem pressa de tira-las. Para a cama desarrumada. Para a garota ainda sentada lá, no meu lugar, na minha cama, com a minha mulher, sem roupa ou pudor algum, um esboço de sorriso repuxando as pontas de seus lábios. E entaõ tudo aquilo me atingiu de uma só vez, como um tapa na cara que você não vê de onde nem quando vem. Ludmilla me traiu.

Ela me traiu.

Senti como se meu coração fosse um vaso de cristal que caiu no chão de uma altura de vinte metros e se partiu em migalhas, em pó. E então, meu corpo inteiro doeu. Uma dor lacerante, aguda e forte, em todos os lugares ao mesmo tempo. E então o choro veio mas ficou preso na garganta. Não saía nem que eu forçasse. Encarei Ludmilla novamente e então me dei conta de que não conseguia olhar para ela. Sentia nojo. Ânsia. Meu estomago inteiro se revirava mesmo que estivesse vazio. Senti meu rosto molhando e me dei conta de que uma lágrima teimosa escorreu sem minha permissão mas já não fazia diferença naquele momento.

- Você me da nojo. - Foi tudo o que consegui dizer, olhando naqueles olhos castanhos que tanto amei um dia, mas que agora, nem saberia dar nome ao que sentia.

Ludmilla me solta dando um, dois, três passos atrás.

- Não! Você não pode acreditar nisso, acreditar nela! 

- Não tem no que acreditar. - Cinthya responde, como se quisesse me desafiar.

- CALA A BOCA! - Grito em sua direção e ela se assusta, me encarando com os olhos arregalados. - Pega teus trapos e some da minha casa. - Digo em um tom de voz nem eu mesma reconhecia. Ela por sua vez não se move. Apenas me encara com aquele sorrisinho nojento. - Você não me ouviu? Tudo bem. Eu te ajudo. 

Sinto meu corpo se mover sem que eu perceba ou ao menos ou dê algum comando. Atravesso o quarto em segundos, recolhendo aquelas roupas imundas e a seguro forte pelo braço, capaz de fazer minhas unhas afundarem na pele e na carne. Ela grita reclamando mas eu não estou ouvindo nada. A puxo junto de mim , fazendo com que ela tropece em seus próprios pés, pronta para jogá-la janela a baixo, porém não posso fazer isso. Apesar de tudo não quero ser presa. 

Saio quarto a fora levando a cachorra comigo, enquanto ela tropeça, xinga, grita e tenta se soltar, mas quanto mais ela faz qualquer uma dessas coisas, mais eu a aperto, com mais ódio. 

- Sua louca, me solta! - Ela grita tentando acertar um tapa mal dado. 

Me irrito com a possibilidade dessa vadia encostar um único dedo em mim e meu sangue ferve ainda mais. Perco a cabeça, apesar de tentar não fazer isso, e tão rápido quanto esse pensamento vem, minha mão voa até sua cara lhe acertando em cheio um tapa. Ela grita, e então um filete de sangue aparece no canto de sua boca, mais uma vez ela tenta me acertar. Seguro sua mão e a torço para o lado lhe acertando outro tapa, dessa vez ela perde o equilíbrio e cai no chão, a partir desse momento, tudo passa como um flash diante do meus olhos.

Existe uma coisa que a raiva faz com seu cérebro. Um acesso tão rápido que quase nada é realmente gravado, você só se lembra de alguns momentos, alguns breves momentos que seus olhos cheios de ódio mal conseguem perceber.

Me lembro de vê-la no chão. Me lembro de minhas mãos agirem tão rápido que sua cabeça mal ficava parada. Me lembro de ouvir um grito e então alguém tentando me levantar. Me lembro de tentar me soltar e acertar um tapa em quem estava atrás de mim também. Me lembro de alguém dizer VOCE VAI MATÁ-LA. E então eu parei. Aquela frase realmente me fez parar, com medo do que eu realmente poderia fazer. Quando finalmente a solto, percebo que seguro alguns fios de seus cabelos entre meus dedos, seu rosto tem alguns resquícios de sangue, havia um corte em seus supercilio, seu nariz sangrava e o corte em sua boca parecia maior. Me levanto de cima dela, me colocando de pé. Dou três passos para trás e respiro fundo. Pego as roupas que havia soltado, a levanto do chão com toda a grosseria que consegui, abro a porta do apartamento e a joguei para fora, mal me importando se iria cair novamente ou não. Fecho a porta com tudo, me viro para Ludmilla e ela já estava vestida novamente.

- Brunna... O que você fez?

- O que eu deveria fazer com você também!

Fui ate o quarto e peguei as malas que tinha deixado lá, pego algumas outras peças de roupas jogando em uma mochila de qualquer jeito e então vou ate a sala novamente.

- Aonde você vai?

- EMBORA! - Grito o mais forte que consigo. - Eu não consigo ficar aqui.

- Amor, vamos conversar. 

- Sobre o que? Eu ter pego você na cama com outra? Eu ter visto obvio? A quanto tempo isso tá rolando?

- Nada aconteceu!

- Ah jura? Então porque você tava NUA, COM AQUELA VAGABUNDA?

- EU NÃO SEI! 

- E VOCE QUER CONVERSAR SOBRE O QUE ENTÃO?

Ela se cala. Seus ombros caem, um sinal claro de rendição. 

Eu estava magoada. Ferida. Com ódio. Não sabia direito o que fazer ou falar.

- Eu tive a chance sabe? - Digo com toda a mágoa e amargura. - De fazer isso. De te trair, ontem. - Respiro fundo , tentando segurar as lagrimas. - Encontrei uma amiga da faculdade que não via a muito tempo, ela me chamou pra jantar. Restaurante chines, vinho, luz de velas... Fletes descarados. 

- Você só tá tentando me machucar.

- To mesmo! - Digo com raiva. - Mas sabe o quê, nada do que eu disser vai realmente te machucar tanto quanto você! Você me destruiu Ludmilla. Parabéns.

- Bru, por favor!

- CALA A BOCA LUDMILLA! Eu não quero ouvir sua voz! Eu não quero mais olhar pra sua cara!

- Não fala assim, por favor.

Respiro fundo, cansada de segurar as lágrimas e as deixo sair. Abro a porta e saio do apartamento. Entro no elevador e aperto o térreo. Eu só queria sair dali o mais rápido possível. Eu só queria sumir. Pra sempre.

Algumas semanas depois...

- Você não pode tá falando sério!

Respiro fundo mais uma vez tentando manter a calma.

- Eu não tenho porquê brincar com esse assunto.

- Brunna, por favor! - Ela se aproxima e segura minha mão com cuidado. - Você precisa acreditar em mim!

Fecho os olhos suspirando fundo.

- Não complica as coisas...

- Bru. - Lud se aproxima mais me segurando suavemente pelos braços. Seu rosto estava tão perto que pude sentir seu hálito doce batendo contra o meu. - Por favor amor, não faz assim!

Encaro seus olhos e eles demonstravam muita dor e sinceridade. Eu queria poder acreditar nela, queria poder confiar em suas palavras, mas não era tão fácil assim. Não depois de tudo o que vi. Ela se aproxima mais colando nossos corpos e eu fecho os olhos assim que seus lábios tocam os meus. Um beijo calmo é iniciado, delicado, doce. Eu quase me deixo envolver por ele.

Quase...

- Ludmilla, não! - Me afasto empurrando ela. - Eu já disse!

- Brunna...

- Eu quero o divórcio! - Digo com a voz firme porém sentindo toda mágoa sair de mim e ela me encara.

- Você não pode acreditar naquela mulher! - Sua voz começa a embargar e ela tenta se aproximar, mas eu dou um passo para trás pedindo distância. - Que droga, Brunna!

- Não complica as coisas!

- Eu tô complicando? Você tá me pedindo divórcio por causa de uma mentira!

- Ludmilla, eu vi!

- Você não viu nada!

- Ah não? Eu chego em casa e vejo você e aquela puta na cama quase peladas e isso é nada? - Grito já sentindo as lágrimas rolarem. - Tinha que ser justo com ela, Ludmilla?

- BRUNNA EU NÃO FIZ NADA! - O grito agudo e falhado sai e ela desaba no choro. - Eu juro que eu não fiz nada! O que você precisa pra acreditar em mim?

- Eu só quero o divórcio.

- Não! Por favor! - Ela caminha até mim e eu dou alguns passos para trás até sentir a parede atrás de mim. - Acredita em mim! - Lud se ajoelha e segura uma das minhas mãos. - Eu juro que to falando a verdade Brunna! Eu juro!

- Me solta.

- Não! Não faz isso! Não vai embora!

- Ludmilla, levanta.

- Não! Eu tô aqui Brunna, de joelhos aos seus pés, porque eu quero que acredite em mim! Eu tô te implorando, por favor!

- Você sabe que fazendo isso as coisas só vão piorar, certo?

- Brunna, por favor! Me ouve!

- Chega! Eu não vou ficar aqui. - Tento me soltar e ela agarra minhas pernas quase me fazendo cair. - Ludmilla, me solta!

- Não! Eu não posso ficar sem você Brunna! Eu não posso te perder!

- Pensasse nisso antes de transar com aquela vagabunda.

- Eu não fiz isso! Você precisa acreditar em mim!

Sinto lágrimas grossas rolarem por meu rosto e sabia que ela também não estava diferente. Consigo, com muito custo, soltar seus braços e corro até o sofá pegando minha bolsa.

- Brunna!

- Meu advogado vai entrar em contato com você em breve. - Vou até a porta e vejo ela ainda ajoelhada chorando copiosamente. - Adeus, Ludmilla.

- Não! Não faz isso! Vamo conversar!

Saio do apartamento fechando a porta e engulo o choro ouvindo seu grito chamando meu nome. Caminho o mais rápido que posso e entro no elevador, aperto o botão do térreo e quando finalmente penso que estarei livre, ele para no quinto andar. Precisei respirar fundo algumas vezes pra não xingar a velha chata que entrou.

Ela me oferece um sorriso amarelo e eu retribuo da mesma forma.

- Dia bonito né menina?

- Uhum.

Continuo encarando o visor mostrando os números em vermelho, torcendo pra que chegasse no térreo logo. A senhora que até então mexia em alguma coisa na bolsa, distraidamente, se vira pra mim na maior inocência.

- E como vai a esposa, querida?

Sinto uma pontada forte no coração, talvez o último pedaço dele se quebrando.

- Bem.

- Hum... - Ela ajeita a bolsa no ombro e encara o visor também. - E vocês? Estão bem?

Encaro ela e sorrio tentando não pular no pescoço daquela velha.

- Estamos muito bem! Obrigada!

- Que bom... - Ela volta a olhar para frente mas me encara de novo. - A quanto tempo estão casadas mesmo?

Respiro fundo controlando meus nervos.

- Cinco anos.

- Uh, bastante tempo...

- É!

O silêncio se instaura e o térreo estava quase lá.

- Já pensaram em filhos?

Me virei pronta pra xingar aquela múmia quando a porta do elevador se abriu a minha frente.

- Tenha um ótimo dia, dona Helena!

Saio sem nem esperar a resposta e corro até meu carro passando pela portaria e ignorando qualquer um que estivesse ali. Destravo o alarme do carro e entro jogando minha bolsa no banco do passageiro. Coloco a chave na ignição e dou partida saindo o mais rápido que podia daquele lugar.

Começo a andar pelas ruas caóticas de São Paulo e o trânsito congestionado só me dava ainda mais raiva. Ligo o rádio na intenção de fazer as coisas ficarem um pouco melhores mas me arrependo no mesmo instante.

Assim que ouvi os primeiros acordes da melodia, não consegui continuar segurando e o choro que estava entalado em minha garganta, saiu rasgando meu peito de dentro para fora. A música que Ludmilla havia cantado pra mim em nosso casamento, tocava alto no rádio.

Me permito finalmente desabar depois de dias guardando tudo aquilo dentro de mim. Uma mistura venenosa de raiva, mágoa, tristeza e dor. Eu não conseguia perdoá-la. Não conseguiria nunca esquecer aquela cena asquerosa. Nunca conseguiria deixar isso pra lá.

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👀
como estamos?

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