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votem, comentem e digam o que estão achando.

boa leitura 💕
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6 meses depois

Meu corpo balançava de acordo com a melodia animada da música. Cantarolo algumas partes que sabia enquanto assistia ao show de minha esposa. End Of Time da Beyoncé tocava ao fundo no último volume e Ludmilla cantava enquanto fazia a coreografia e eu assistia tudo com um sorriso enorme pregado nos lábios. Seis meses haviam se passado desde nosso casamento e a vida não poderia ser melhor. Depois que você se casa, ouve discursos prontos sobre "vida de recém não é fácil", "o primeiro ano é sempre o mais difícil", "aos poucos tudo da certo", mas a nossa realidade era diferente.

Desde que decidimos morar juntas, a um ano e meio atrás Ludmilla e eu sempre tivemos uma convivência incrível. Nunca tivemos problemas com organização da casa, com a forma como administramos nossas tarefas, com os horários uma da outra e principalmente, nunca tivemos uma briga feia. Óbvio que algumas discussões bobas surgiam as vezes, como todo casal normal, mas não durava mais que cinco minutos.

Ludmilla e eu pensávamos como uma só mente. Tudo entre nós fluía bem, justamente por sermos tão parecidas.

- MEU DEUS EU AMO ESSA!

Ela grita, me tirando de meus devaneios e eu rio. A cada nova música que surgia na playlist, um jeito diferente se fazia presente, era engraçado como ela amava todas as músicas que tocavam, afinal, ela tinha feito a playlist.

- Canta, amor! - Ela vem para o meu rumo, segurando a vassoura que fingia ser um microfone.

Eu não tinha o mesmo dom que ela em relação ao canto, mas me aventurava em algumas coisas e ela adorava. Eu já ouvi dizer que o amor é cego, mas não sabia que também era surdo.

- Vou dar uma olhada no forno! - Avisei e ela apenas acena com a cabeça, concordando.

Eu estava terminando o jantar enquanto ela varria a sala. Ludmilla havia me dito que sentiu vontade de comer escondidinho de carne seca, e eu, como uma ótima esposa, me propus a fazer sua vontade.

Abri o forno sentindo o aroma delicioso da comida e desliguei o fogo. Coloquei o suco sobre a mesa que já estava posta e a chamei. Lud se sentou, abaixando o volume da TV e coloquei a forma sobre a mesa. Seus olhos brilharam quando a servi do primeiro pedaço e então, esperei que ela desse a primeira garfada afim de saber seu veredito.

Ela gemia baixinho, como se aprovasse, seus olhos estavam fechados e sua boca tinha o esboço de um sorriso. Não era a primeira vez que eu cozinhava, mas sempre ficava ansiosa para saber sua opinião.

- Isso aqui... - Ela aponta o preto com o garfo. - Tá uma delícia!

Sorrio em resposta e só então começo a comer. O jantar foi regado de conversas sobre nossos respectivos dias, Lud já começava a colocar seu plano de abrir a galeria de fotos em ação e eu não poderia me sentir menos orgulhosa.

- E você pensou sobre aquele assunto? - Ela me encara com certa cautela.

- Sim...

- E então?

A alguns meses atrás, ela apareceu em casa esbaforida, falando sem parar sobre como já sabia sobre o que iria fazer para colocar seu plano em ação...

Flashback On

- ...Os suspeitos foram levados para a delegacia afim de prestar depoimento, a polícia informou que...

- AMOR! - Ouço seu grito e coloco a TV no mudo.

- NO QUARTO! - Respondo e cinco segundos depois ela aparece na porta.

- VOCE NÃO VAI ACREDITAR!

- O que?

Ela mantinha o sorriso pregado no rosto e eu me perguntava se suas bochechas não estavam doendo.

- Lembra aquela oferta que eu tinha dado a um cara no AP que a gente viu?

- Sim.

- Ele aceitou!

Ela diz entusiasmada.

Dois meses depois que nos casamos, Lud recebeu uma proposta para montar um editorial da revista Vogue Brasil, lá acabou conhecendo um dos fotógrafos mais famosos do ramo, Walter Firmo, que lhe teceu elogios nada discretos sobre suas técnicas e visão profissional. Os dois logo começaram a se entender e Ludmilla não conseguiu conter sua enorme vontade de expor seus futuros projetos, o que deixou o homem feliz e satisfeito com a mente brilhante de minha esposa. Algumas semanas depois, Ludmilla recebeu uma proposta para expôr suas fotografias em uma galeria famosa de São Paulo, ela aceitou, mas com o tempo, o rumo da conversa foi mudando.

Acabou que ela simplesmente decidiu não esperar mais e quis abrir sua própria galeria de arte, procurou um local aonde poderia dar início no tão esperado sonho e quando achou, deu uma oferta irrecusável.

- Pois é! O cara aceitou e eu acabei de comprar o salão! EU VOU ABRIR MINHA PRÓPRIA GALERIA, VIDA!

- Amor... ISSO É INCRÍVEL! - Digo extremamente feliz por ela e a abraço forte.

- Ele disse que posso ir lá de novo quando quiser, mas que o contrato já está pronto e que seria melhor já assinar pra deixar tudo nos conformes.

- Sim, ele tem razão.

- Mas... Tem mais uma coisa... - Ela diz coçando a cabeça, um claro sinal de nervosismo.

- O que?

- Bem, como eu quero abrir a galeria lá, demoraria um certo tempo até deixar tudo do jeito que eu quero, eu ainda preciso escolher as fotos da primeira exposição, sem contar que eu também queria me programa pra inauguração e tudo mais.

- Sim...

- Então... Eu queria que ficar lá por um tempo...

Começo a sentir um aperto em meu coração. Lud e eu ficávamos o tempo todo grudadas e só de imaginar que precisaria ficar longe dela, me doía.

- Ok...

- Mas aí eu pensei o seguinte, já que eu vou abrir minha galeria e realizar meu sonho lá, e por conta disso preciso passar a maior parte do tempo longe, coisa que eu não quero, eu imaginei que tipo... Nós poderíamos... Morar... Lá... - Ela termina a sentença abaixando gradativamente o tom de voz e abaixa o olhar.

- Morar lá? Morar... Em São Paulo?

- Sim...

Ok. Ela me pegou de surpresa.

- Amor...

- Vida, pensa, seria ótimo! Você poderia abrir uma filial da floricultura lá, em um espaço maior, conseguir mais clientes, e eu iria fazer o que quero também.

Paro um pouco, refletindo sobre sua idéia.

- É... Seria uma boa.

- Pois é, não?! E eu posso te ajudar a achar um lugar bacana, até mesmo comprar e...

- Não! - A interrompo, segurando sua mão. - Não quero que gaste seu dinheiro comigo.

- Não é meu dinheiro, é nosso!

- Menso assim...

- Você não gostou da ideia?

- Claro que gostei! Mas é que... - Suspiro, desesperançosa. - Minha família toda é do Rio amor, seria estranho ficar longe deles.

- Mas não é pra sempre vida, só até nos estabilizarmos. Sem contar que São Paulo é ali, não fica tão longe assim...

Encaro seus olhos brilhantes e esperançosos.

- Posso ao menos pensar em tudo isso?

- Claro. - Ela diz me dado um rápido selinho - Use o tempo que precisar.

Flashback Off

- Bem, eu pensei em tudo e acho que seria uma ótima idéia! - Digo certa de minha decisão e ela me encara, sorrindo.

- Sério?

- Sim! Seria bom expandir os negócio e abrir novos horizontes, mudanças as vezes fazem bem.

Ela salta da cadeira me puxando para um abraço e eu sorrio, feliz.

- Obrigada, meu amor! Por confiar em mim e me ajudar! Muito obrigada!

A abraço de volta com vontade.

- Eu sempre vou te apoiar em seus sonhos, meu amor!

Ficamos mais algum tempo daquela forma e então ela solta. Lud me da alguns selinhos e então logo terminamos de comer.

[...]

O dia havia começado com tudo. Fui despertada com os beijos de minha esposa e estes logo se transformaram em mais uma manhã regada de carícias e sexo. Nunca me cansaria disso. Assim que terminamos de nos arrumar, tomamos nosso café da manhã e Lud resolveu me levar até a floricultura.

Depois daquele acidente quase horrível que ela sofreu, Lud me prometeu que aposentaria sua moto e assim ela o fez. Daphne se encontrava na garagem do prédio coberta por um plástico preto. As vezes ela dava uma volta ou outra afim de deixar o motor ativo, mas depois que ela comprou um carro - depois de muita chantahem emocional da minha parte - ela agora sempre fazia questão de me levar e buscar no trabalho afim de estarmos juntas por mais tempo.

Assim que surgiu a oferta de abrir sua própria agência em São Paulo, Ludmilla conversou com seu chefe sobre o que planejava fazer, assim ele teria tempo de contratar um substitui para ela. O que nos dava um pouco mais de tempo para ficarmos juntas, já que sua jornada de trabalho diminuiu consideravelmente.

- Permita-me, minha rainha. - Ela diz abrindo a porta do carro para que eu saísse.

- Muto obrigada. - Sorrio em resposta e logo caminhamos juntas até a porta da floricultura.

Assim que entramos, começo a organizar as coisas em seus devidos lugares. Ligo o computador e arrumo a mesa que ficava atrás do balcão alto. O sino da porta toca e nós duas olhamos. Rafael entrar, assim que seus olhos se levantam do chão e pairam sobre Ludmilla, ele se força a mudar a expressão e a cumprimenta com um aceno de cabeça. Ela retribui o gesto, então o garoto passa por nós indo até os fundos da loja.

- Ele ainda tá magoadinho?

- Para! Deixa o garoto.

- Ah, me poupe.

Desde que contei a Rafael que iria me mudar, ele vem agindo de modo estranho. Entendo seus motivos, mas ainda assim, não acho que ele deveria levar tão a sério tudo isso. Afinal de contas, não é como se fossemos trabalhar juntos para sempre. Eu não queria deixá-lo com a responsabilidade de tocar a floricultura quando saísse, afinal ele era apenas um garoto e tinha outros planos como cursar uma faculdade e arrumar um emprego melhor, em sua área. Por isso, iniciei um processo afim de achar alguém bom o suficiente e que se comprometesse a trabalhar para mim, como gerente. A tarefa não era fácil, mas eu já tinha alguns candidatos.

- Eu já disse o quanto você está linda hoje?

Sorrio em resposta sentindo meu rosto corar.

O sino da porta toca mais uma vez chamando minha atenção, encaro a entrada da loja e vejo um rosto conhecido.

- Bom dia sr. Luiz! - Digo com animação, fazia algum tempo que não o via.

- Bom dia, menina. - Ele responde em um sorriso automático.

O homem caminha até o balcão e Ludmilla o cumprimenta com um aperto de mão.

- Sr. Luiz, essa é Ludmilla, minha esposa.

- Oh, muto prazer Ludmilla. Devo dizer, vocês formam um belo casal. Terão lindos filhos.

- Obrigado. - Respondemos em uníssono, sorrindo feito bobas. - E então, um buquê de rosas amarelas, certo?

- Não... Hoje eu quero um buquê de rosas brancas.

- Oh, tudo bem. - Vou até o fundo e refaço o buquê que já estava pronto, colocando as flores mais bonitas. Enfeito com o laço vermelho que era de praxe e volto até a entrada. - Aqui está! - Entrego a ele. - E como está Dona Lourdes?

Um breve e intenso silêncio se faz presente e ele hesita.

- Ah minha linda, Lourdes descansou. - Ele diz com um traço de dor na voz e meu coração se aperta. - Ela se foi a três dias, infelizmente já estava fraca demais e não aguentou a última cirurgia.

Minha garganta se fecha em um nó fazendo a dor latente em meu peito se intensificar.

- Meus sentimentos. - Lud diz enquanto eu não conseguia proferir uma única palavras.

- Obrigada minha filha. Mudei a cor das rosas porque antes, o que eu queria era desejar a minha paixão, a alegria e a melhora, mas agora, tudo o que eu desejo é que ela finalmente tenha paz.

- Sr. Luiz eu... - Tento dizer algo mas meu cérebro se nega a funcionar. - Meu sentimentos.

- Obrigada filha, eu creio que foi melhor assim, eu não posso ser egoísta a ponto de desejar tê-la aqui, sabendo que isso a faria sofrer, mas não deixa de doer.

- Eu posso imaginar...

- Mas não fique triste minha menina, tudo está bem e ela descansou. Isso é só o que importa. - Ele tira o dinheiro ds carteira afim de pagar o buquê, e depois que me entrega, volta a me encarar. - Deixe-me dizer uma coisa, eu posso ver o quanto o amor de vocês é puro e bom, nunca deixem isso se esvair. Existem pessoas que nasceram para ficarem juntas, e vocês, com certeza se encaixam nessa definição.

Apenas sorrio, ainda sentindo o baque da notícia e então, ele se despede e sai. Encaro minha esposa que me olhava tentando definir o que eu sentia. Saí de trás do balcão e me joguei em seus braços sentindo seu carinho em minhas costas. Eu nunca imaginaria que dia Lourdes pudesse falecer. Apesar de nunca tê-la conhecido, sempre ouvi e vi a paixão que Luiz tinha quando falava de sua esposa tão amada. Me lembrei do dia em que Ludmilla sofreu aquele acidente de moto e da sensação angustiante de vê-la em uma cama de hospital, não era nada comparado ao caso de dona Lourdes mas ainda assim, eu senti medo de perde-la.

- Ei, tá tudo bem? - Ouvi sua voz suave sussurrar em meu ouvido.

- Tá sim. Só estou um pouco surpresa.

- Entendo.

Fiquei em seus braços mais alguns segundos até que ela começou um assunto aleatório. Lud sempre sabia o que fazer nessas horas.

- Preciso ir agora, ok? Ainda tenho que passar no estudo pra resolver algumas coisas.

- Tudo bem, me liga quando chegar lá?

- Claro!

Ela me dá um beijo rápido sai, acenando com a cabeça assim que passa pela porta.

[...]

- Então já está praticamente tudo certo?

- Praticamente.

- E você vai embora mesmo? - Sinto uma leve tristeza no timbre de voz de minha amiga e a olho rapidamente.

- Não é pra sempre. São Paulo é aqui do lado, nós iremos voltar pra passar um tempo aqui.

- Eu sei amiga, mas não vai ser a mesma coisa. - Lari responde mordendo seu pastel. - Nós nos vemos quase todo dia.

- Ainda podemos fazer isso, por vídeo chamada.

- Você odeia ligação.

- Eu sei, mas posso tentar gostar por você. - Ela sorri, ainda triste. - E claro, você também pode ir nos visitar sempre que quiser.

- Hum, ok... E você vai mesmo pegar seu apartamento de volta?

- Ainda não sei... Lud tem seus bens, sua casa e tudo o mais e eu sinto que preciso ter as minhas próprias coisas também sabe? Quando fomos morar juntas eu não vendi meu apartamento, então ele ainda está em meu nome, talvez eu o recupere se conversar com o síndico.

- Com toda certeza ele vai te dar de volta, aquele cara sempre te adorou.

- É... Quem sabe...

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👀
como estamos?

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