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- Você não pode tá falando sério!
Respiro fundo mais uma vez tentando manter a calma.
- Eu não tenho porquê brincar com esse assunto.
- Brunna, por favor! - Ela se aproxima e segura minha mão com cuidado. - Você precisa acreditar em mim!
Fecho os olhos suspirando fundo.
- Não complica as coisas...
- Bru. - Lud se aproxima mais me segurando suavemente pelos braços. Seu rosto estava tão perto que pude sentir seu hálito doce batendo contra o meu. - Por favor amor, não faz assim!
Encaro seus olhos e eles demonstravam muita dor e sinceridade. Eu queria poder acreditar nela, queria poder confiar em suas palavras, mas não era tão fácil assim. Não depois de tudo o que vi. Ela se aproxima mais colando nossos corpos e eu fecho os olhos assim que seus lábios tocam os meus. Um beijo calmo é iniciado, delicado, doce. Eu quase me deixo envolver por ele.
Quase...
- Ludmilla, não! - Me afasto empurrando ela. - Eu já disse!
- Brunna...
- Eu quero o divórcio! - Digo com a voz firme porém sentindo toda mágoa sair de mim e ela me encara.
- Você não pode acreditar naquela mulher! - Sua voz começa a embargar e ela tenta se aproximar, mas eu dou um passo para trás pedindo distância. - Que droga, Brunna!
- Não complica as coisas!
- Eu tô complicando? Você tá me pedindo divórcio por causa de uma mentira!
- Ludmilla, eu vi!
- Você não viu nada!
- Ah não? Eu chego em casa e vejo você e aquela puta na cama quase peladas e isso é nada? - Grito já sentindo as lágrimas rolarem. - Tinha que ser justo com ela, Ludmilla?
- BRUNNA EU NÃO FIZ NADA! - O grito agudo e falhado sai e ela desaba no choro. - Eu juro que eu não fiz nada! O que você precisa pra acreditar em mim?
- Eu só quero o divórcio.
- Não! Por favor! - Ela caminha até mim e eu dou alguns passos para trás até sentir a parede atrás de mim. - Acredita em mim! - Lud se ajoelha e segura uma das minhas mãos. - Eu juro que to falando a verdade Brunna! Eu juro!
- Me solta.
- Não! Não faz isso! Não vai embora!
- Ludmilla, levanta.
- Não! Eu tô aqui Brunna, de joelhos aos seus pés, porque eu quero que acredite em mim! Eu tô te implorando, por favor!
- Você sabe que fazendo isso as coisas só vão piorar, certo?
- Brunna, por favor! Me ouve!
- Chega! Eu não vou ficar aqui. - Tento me soltar e ela agarra minhas pernas quase me fazendo cair. - Ludmilla, me solta!
- Não! Eu não posso ficar sem você Brunna! Eu não posso te perder!
- Pensasse nisso antes de transar com aquela vagabunda.
- Eu não fiz isso! Você precisa acreditar em mim!
Sinto lágrimas grossas rolarem por meu rosto e sabia que ela também não estava diferente. Consigo, com muito custo, soltar seus braços e corro até o sofá pegando minha bolsa e as malas.
- Brunna!
- Meu advogado vai entrar em contato com você em breve. - Vou até a porta e vejo ela ainda ajoelhada chorando copiosamente. - Adeus, Ludmilla.
- Não! Não faz isso! Vamo conversar!
Saio do apartamento fechando a porta e engulo o choro ouvindo seu grito chamando meu nome. Caminho o mais rápido que posso e entro no elevador, aperto o botão do térreo e quando finalmente penso que estarei livre, ele para no quinto andar. Precisei respirar fundo algumas vezes pra não xingar a velha chata que entrou.
Ela me oferece um sorriso amarelo e eu retribuo da mesma forma.
- Dia bonito né menina?
- Uhum.
Continuo encarando o visor mostrando os números em vermelho, torcendo pra que chegasse no térreo logo. A senhora que até então mexia em alguma coisa na bolsa, distraidamente, se vira pra mim na maior inocência.
- E como vai a esposa, querida?
Sinto uma pontada forte no coração, talvez o último pedaço dele se quebrando.
- Bem.
- Hum... - Ela ajeita a bolsa no ombro e encara o visor também. - E vocês? Estão bem?
Encaro ela e sorrio tentando não pular no pescoço daquela velha.
- Estamos muito bem! Obrigada!
- Que bom... - Ela volta a olhar para frente mas me encara de novo. - A quanto tempo estão casadas mesmo?
Respiro fundo controlando meus nervos.
- Cinco anos.
- Uh, bastante tempo...
- É!
O silêncio se instaura e o térreo estava quase lá.
- Já pensaram em filhos?
Me virei pronta pra xingar aquela múmia quando a porta do elevador se abriu a minha frente.
- Tenha um ótimo dia, dona Helena!
Saio sem nem esperar a resposta e corro até meu carro passando pela portaria e ignorando qualquer um que estivesse ali. Destravo o alarme do carro e entro jogando minha bolsa no banco do passageiro. Coloco a chave na ignição e dou partida saindo o mais rápido que podia daquele lugar.
Começo a andar pelas ruas caóticas de São Paulo e o trânsito congestionado só me dava ainda mais raiva. Ligo o rádio na intenção de fazer as coisas ficarem um pouco melhores mas me arrependo no mesmo instante.
Assim que ouvi os primeiros acordes da melodia, não consegui continuar segurando e o choro que estava entalado em minha garganta, saiu rasgando meu peito de dentro para fora. A música que Ludmilla havia cantado pra mim em nosso casamento, tocava alto no rádio.
Me permito finalmente desabar depois de dias guardando tudo aquilo dentro de mim. Uma mistura venenosa de raiva, mágoa, tristeza e dor. Eu não conseguia perdoá-la. Não conseguiria nunca esquecer aquela cena asquerosa. Nunca conseguiria deixar isso pra lá.
Ludmilla havia me traído da pior forma possível com a pior pessoa do mundo. Eu havia pego ela em flagrante de uma forma que não tinha como ela negar ou mentir. Se não fosse loucura, eu até acreditaria que tinha sido premeditado. Como se o que tivesse acontecido, fosse de propósito, somente para que eu chegasse no momento certo e visse aquela cena.
Conforme meus pensamentos ficavam cada vez mais altos e as lembranças daquele dia voltavam, as lágrimas desciam pelo meu rosto ainda mais violentas. Os soluços chacoalhavam meu corpo inteiro e meu coração parecia diminuir a cada batida.
A fila de carros à minha frente finalmente começa a andar e eu vou apenas seguindo, sendo guiada pelo meu cérebro que agia no modo automático. Depois de longas uma hora e meia chego em meu apartamento. Entro deixando minha bolsa em qualquer canto e vou direto pro banheiro.
Prendo meu cabelo em um coque alto e entro no box, ligando o chuveiro e deixando a água quente cair e relaxar cada músculo do meu corpo instantaneamente. Não demoro muito ali. Saio colocando um conjunto de moletom que havia ganho dela de presente. Tomo um remédio para dor de cabeça, já que a minha parecia estar explodindo, pego o celular e mando uma mensagem pra minha amiga contando como foi a conversa com minha futura ex esposa e me deito embaixo dos edredons.
Estamos em julho, bem no meio do inverno de São Paulo, se você não sabe o que quer dizer eu te explico: É bom que você tenha alguns edredons grossos e vários pares de meia e conjuntos de moletom, caso contrário, você está perdido.
Apesar do cansaço físico e mental, eu não sentia um único pingo de sono. Decido ligar a TV e assistir qualquer coisa que me faça ao menos ficar sonolenta, do resto eu cuido depois. Decido colocar o filme Grease pra rodar, era um musical clássico de 1978. Nada melhor pra dar sono do que filme de musical antigo. Já reparou como a maioria dos homens se parecem com o Elvis? Coisa da época né.
Espera um pouco, eu tô aqui falando o tempo todo mas acho que você não deve estar entendendo nada, certo?!
Muito rude da minha parte, me desculpa. Deixe-me explicar, ok?!
Bom, você provavelmente sabe quem sou eu, afinal, tá lendo uma história onde eu sou a personagem, mas deixa eu me apresentar de verdade.
Meu nome é Brunna Gonçalves Oliveira. O Oliveira não é meu, é da minha futura ex, mas calma, eu vou chegar lá. Enfim, eu tenho 25 de anos de idade, sou florista e tenho uma floricultura um tanto famosa, sabe? Nasci e cresci no Rio de Janeiro, mas por conta da carreira de minha esposa, acabei me mudando pra São Paulo a alguns anos.
Agora, sobre a digníssima a quem vocês já viram por aqui. Ludmilla Oliveira, minha futura ex esposa. Meu único e verdadeiro amor. A mulher de toda a minha vida. Uma coisa é fato, independentemente de qualquer coisa, ela sempre será a única pessoa que eu fui capaz de amar.
Bem, Ludmilla é fotógrafa. Ela tem um trabalho meio independente, porém sempre tem envolvimento com grandes marcas de roupas e tal. Nos conhecemos justamente por conta de seu trabalho, mas isso eu vou falar daqui a pouco.
Bem, Lud e eu estamos juntas a cinco anos e oficialmente casadas a quatro. É que na verdade desde o começo da relação nós já morávamos juntas, então era quase um casamento, certo?
Lud e eu sempre nos demos muito bem, nunca tivemos nenhum tipo de problema no relacionamento. Apesar de seu jeito mulherengo, Lud sempre me respeitou muito e sempre me colocava como primeira opção. Ela sempre fez com que eu me sentisse alguém importante em sua vida e eu não ficava atrás em fazê-la sentir o mesmo.
Mas você deve estar se perguntando: Se vocês se dão tão bem assim, porque caralhos você quer o divórcio?
Bem, pra explicar melhor eu vou precisar voltar um pouco no tempo e contar a história toda pra você poder entender. Então vem comigo!
Mas antes, eu preciso saber: Você alguma vez já parou pra pensar em como a vida pode mudar de um dia pro outro?
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