pista 10: Depoimento.
Delaware, EUA
24/ 9/ 2023. 12:00 AM Ter.
— ACHEI ! - Spencer levanta da mesa com um grito e me assusta.
Eu estava revisando os papéis do departamento pra ver se estava tudo em ordem, o caso Angelis ainda era minha prioridade mais ainda tinha toda a burocracia pra lidar
— Achou o que ? - questiono
— lembra da criança? A testemunha da época? - concordo e ele continua a falar - aquele bêbado não tinha anotado o sobrenome dele pois não achou a prova "boa".
— gente preguiçosa assim é o que mancha o nome da profissão .
— o cara era mesmo péssimo - Mikael diz entrando na sala e spencer continua
— só tinha o nome "Noah" então era quase impossível achar, só que eu não ia desistir fácil, ele disse que estudava com a Angelis e aqui na cidade só tem uma creche, puxei todo o registro da época da Angelis e encontrei uma mulher que foi diretora, ela não mora mais aqui mais me mandou a lista de alunos da creche por e-mail, restringi por idade e sexo e encontrei ele, " Noah Queiroz"
— conheço esse sobre nome, minha mãe recebe uma cesta de hortaliças todo mês com esse nome no cartão, nunca tem nada escrito, só um " com carinho, Queiroz " acho que são amigos ainda. - Mikael aponta, mais Spencer está tão animado que simplesmente o iguinora
— com o nome seria fácil encontrar o endereço, mais não tinha nada em seu nome, carro, casa, empréstimos, nada! até os 18 era dependente do pai, depois disso sumiu! O pai tem ficha na polícia e pelo que consta o menino odiava ele, já a ficha do Noah é limpa, nenhuma multa, o menino viveu uma vida completamente pacata, procurei imóveis de família, a mãe abandonou a cidade e consequentemente eles quando o menino ainda era uma criança, se mudou e deixou tudo pra trás, PORÉM ...
Ele faz uma "pausa dramática" demorada esticando a última palavra
— Direto ao ponto Spencer! - repreendo em tom de brincadeira tão curiosa quanto ele parecia animado
— Chata ! - ele murmura - a mãe tinha uma chácara no limite da cidade, acho que ele mora lá, e os documentos do carro dela constam que ele ainda está na cidade e são pagos e atualizados todos em dia, é extranho carro está na cidade mesmo que ela não seja vista a tempos, meu melhor palpite, acho que ela deixou tudo pra ele antes de fugir, ele deve estar na chácara dela.
Confiro o horário no celular, 12:26 am, ótimo.
— Tá com o endereço ?
— Sim ...
— Então vamos !
Levando e pego minha bolsa, penso em pegar um dos carros da delegacia mais desisto, estou acostumada com meu carro e como não é uma prisão não tem problema ir com ele, pego as chaves que estavam no gancho e Spencer levanta pra me seguir, vejo se complicar com alguns papéis e logo está atrás de mim, Mikael vem atrás dele mais eu o paro
— Tá achando que vai a onde?
— Com vocês ! Também sou membro da equipe!
— Você é estagiário, não posso te usar em trabalho de campo .
—Mas eu ... - Mikael faz uma cara emburrada, ele sabe que a decisão não é minha, é regra do distrito, já é muito deixar ele participar de uma investigação exclusiva fazendo quase o trabalho de um detetive, os estagiarios tem de estar ao dispor de todos os detetives e polícia, só assim aprendem onde querem trabalhar,eu já monopóliso ele, levá-lo para pegar um depoimento fora do distrito seria abuso de poder.
— Quero o dia de folga então. - ele me olha e parece pensar em algo.
— para ?
— Visitar um amigo da família. - percebo o que ele está fazendo e sorrio, o menino pode não ser muito inteligente, mas é astuto como nenhum outro, e isso é de se admirar.
— Como você anda fazendo muitas horas extras eu não vejo problema, mas lembra que só posso descontar as horas aqui da homicídios, depois vai ter que repor as horas na narcóticos.
— O que vocês estão planejando? - Spencer olha pra nós e sorrimos, ele é péssimo com as coisas que não estão em evidência, aprende rápido, parece um computador, mais quando se trata de uma mentira estratégica, ou algo subentendido, ele nunca pega as coisas que estão no ar.
— Com certeza comandante- Mikael sorri de lado para Spencer- tão esperto mas tão lerdo !
Mike dá um pulinho e aperta a bochecha de spencer que murmura algo irritado e o empurra de leve.
Mikael sai da delegacia rápido entre pulinhos e eu sorrio com seu jeito infantil.
— Vai ter que me explicar - Spencer diz irritado, ele não gosta de ficar de fora.
— Vamos pro carro garoto gênio!
Coloco o braço em volta do seu pescoço e ele resmunga se afastando, mesmo estando mais a vontade ele ainda não gosta de muito contato físico.
Ele me passa o endereço, assumo o volante e me encosto no banco ajeitando a postura, dou a partida e os enfeites do retrovisor fazem um barulho agradável e familiar com o movimento, vamos o caminho conversando o que me distrai um pouco.
— Você chegou a conhecer o detetive encarregado da época né? Qual era o nome?
— Zaick, ele era um nojento, péssimo detetive, e pelo que eu vi o registro mostra que o Jacks também era detetive na época, mas o cara sempre foi um político, pegava um caso por ano para não ficar parado, nunca fez nada.
— Percebi, não vai ser uma surpresa se o homem não quiser falar com a gente, afinal aquele idiota o assustou.- cerro o punho em volta do volante, pra mim qualquer um que assuste um ser tão puro e inocente quanto uma criancinha pelo simples fato de que ele "podia" é repulsivo
— Acha mesmo que ele pode nos dar algo útil?
— Acho que sim, tenho esperança, algo me diz pra apostar nele, acho que ele tem alguma resposta... Eu só não sei a pergunta ainda.
—Você só me surpreende - ele ri e eu faço o mesmo, nem sei muito bem se o que eu disse fez algum sentido, é como um instinto.
-—Aylin! - o olho confusa
— O que foi ?
— Você errou a rua.- volto meu olhar ao GPS, estava tão distraída que errei mesmo a rua, merda.
— Que bosta, onde é o retorno? - pergunto me esticando e passando os dedos sobre o celular, para que o GPS recalcule a rota
— Não precisa fazer o retorno, quando chegar no fim da "Palms" é só virar a esquerda e seguir, isso vai atrasar um pouco a gente.
— como sabe?
— assim que mudei arrumei um um mapa da cidade, sei tudo de cor, não te falei isso no dia do bar ?
— Não sei por que liguei o GPS então- dou uma risada e ele me acompanha
— E digo mais! No momento estamos a 45 km/h o que significa que o horário que eu estipulei que chegaríamos está errado já que trocamos as ruas, não vamos mais chegar às 13:16 lá sim as 13:54 levando em conta o que o desvio aumentou nosso trajeto
— Tá, mais supondo que eu queira chegar lá às 13:00, como eu faria ? - questiona já sabendo o desfecho da pergunta
— Teria que acelerar muito mais até talvez conseguisse chegar lá às 13:37 se aumentasse a velocidade para 63 km/h e cortasse pelo meio do parque Rain, mas é uma velocidade muito mais alta do que o permitido nessa via e só carros registrados entram no parque então fico com o primeiro resultado, 13:54
— Entendi, acelerar - disse forçando o acelerador um pouquinho
— NÃO FOI ISSO QUE EU DISSE!
— Não preciso mais do GPS, você conhece tudo e até sabe a hora que vamos chegar, perdi tempo programado ele - ignoro seu pânico e mudo de assunto rápido ainda rindo
— É uma equação física básica, eu uso o tamanho da rua, a velocidade na qual estamos e o trânsito comum na região para conseguir me aproximar da incógnita - ele solta um gritinho nada másculo quando eu viro a rua adentrando no parque - LIMITE DE VELOCIDADE AYLIN VAMO SEGUIR O LIMITE DE VELOCIDADE! sem contar que não é permitido carros sem autorização dentro do parque!
— Spencer NÓS somos a polícia.
— Isso deveria ser um motivo para seguirmos as normas e não desrespeita-as!
— Você é o detetive mais sem graça do mundo- dou risada e o vejo se segurar firme da porta enquanto murmura para eu ir mais devagar.
— Olha aquilo ali! - digo e aponto para janela, ele se solta minimamente e encara a janela
— Oque? ond- acelero mais dois míseros kms porém são o bastante para o barulho do motor e o vento forte da janela assustar ainda mais o garoto gênio. - AYLIN! você vai matar a gente!
Ele confere o cinto de segurança e se segura com uma mão na porta e uma no apoio que fica a cima da sua cabeça, o que me causa uma curiosidade
— Tenho um dúvida - questiono ele
— Se parar de correr como uma suicida e respondo.
Dou risada ao vê-lo ainda de olhos fechados, aos poucos volto ao limite de velocidade.
— Como chama esse negócio?
— O que ?
Tiro uma das mãos do volante e aponto para cima da cabeça dele
— primeiro de tudo, as duas mãos no volante, de preferência as mãos devem estar posicionadas no equivalente ao horário de "9 e 15" do relógio de ponteiros, segundo, é sério? Como é que você tirou a carteira?
— E quem disse que eu tenho? - brinco e o observo o olhar dele de puro pânico antes que eu comece a rir
— Não faz isso menina! Em fim, tem vários nomes, Alça de segurança, alça de teto, cabide, segura punho, fato interessante Você sabia que a alça de segurança é mais antiga do que o cinto de segurança? Atualmente, no mercado, existem vários tipos de alças de segurança e de preços variados. Porém, foi com o... - ele para ao perceber que eu não estava interessada - não tá prestando atenção!
— Você acha isso realmente interessante ?
—É interessante! Você que é sem graça!
— Talvez seja - sorrio sem mostrar os dentes e continuo a conversa.
Passamos por uma estrada de terra difícil e adentramos em uma área com muita mata, logo a chácara está visível, o lugar é lindo, enorme com um jardim colorido e uma horta de se invejar, borboletas que rondavam o lugar davam a ele um tom mágico como em um conto de fadas, uma piscina bem no meio coberta por uma lona, nos fundos era de se observar uma grande árvore, com as folhas verdes amareladas típicas da estação, o vento que as balançava e puxava algumas dos galhos mais altos trazendo o frio consigo, fechei minha jaqueta observando toda aquela beleza que parecia ser cuidada e preservada com tanto esmero.
Vejo a bicicleta parada na entrada, eu sabia que isso iria acontecer, ele não me decepciona.
Bato na porta e logo ela se abre revelando um menino um pouco mais alto que eu, cabelo bagunçado e olhos negros, lindos olhos negros, olhos que me traziam estranha familiaridade, me lembravam das noites que eu e meu pai íamos para o alto da casa ver as estrelas, definitivamente eu senti algo, era como um déjavi, senti algo novo, e ao mesmo tempo parecia um sentimento antigo, algo que eu não conseguia explicar, tinha algo errado e ao mesmo tempo parecia, certo ... Muito certo.
Em quanto eu não entendia completamente o que estava acontecendo comigo Spencer tomou a iniciativa
— Oi, prazer, eu sou o detetive Calore e essa é a comandante Altoé queríamos falar com você sobre...
— Eu sei - ele interrompe - o caso da Angie, ele avisou que vocês viriam
O homem que imagino ser Noah entra na casa e deixa a porta aberta dando sinal para que sigamos
— Ele quem? - Spencer sussura
Sorrio para ele já imaginando quem estaria na casa
— Mikael - cumprimento o menino que estava sentado no sofá e tomava um copo de suco.
— Vim descobrir quem sempre enviava as cestas para a minha mãe.
— Eu e a mãe dele nunca perdemos contato, ela cuidou de mim desde muito pequeno, então eu mando cestas de agradecimento - Noah explica
Sorrio para ele e balanço a cabeça
— Aaah era isso que vocês estavam tramando! - Spencer finalmente conclui
— Pelo que ele me disse - Noah se senta em uma poltrona na frente de Mikael - vocês reabriram o caso do desaparecimento da Angelis, pretendem chegar até o fim dessa vez? Ou vão desistir como os outros? Sem querer ser indelicado mas sua mãe não merece passar por isso novamente.- ele olha para Mikael
— Não se preocupa - o menino rebate, se esticando para frente e encara Noah passando confiança, ele tenta pegar na mão dele mais Spencer passa na frente e se senta ao lado de Mike - Aylin é diferente, é determinada
— E nem que demore anos eu não vou desistir até descobrir o que houve com a sua amiga - coloco a mão no ombro dele e aceno com a cabeça, ele solta o ar, um ar que parece estar preso a muito tempo, se era alívio ou preocupação eu não consigo distinguir.
—Fico feliz, confio em você, você me passa essa confiança, parece uma boa pessoa pelo menos, não que não seja é que eu não te conheço e ... - ele relaxa e começa a falar muito e se confundir com as palavras, ele parece meio hiperativo, e pela organização da casa consigo ver que parece cuidadoso mesmo sendo meio atrapalhado, dou risada com a sua confusão, a preocupação dele para com a família Albuerre parece genuína.
— Calma tá tudo bem, só temos algumas perguntas, não precisa de nervosismo.
— Quero ajudar no que eu puder, mais faz muito tempo, não me lembro muito bem.
— Tudo bem, percebi que no seu interrogatório você não teve a chance de contar tudo que aconteceu, o que você viu.
— Também aquele merda não me deu a chance.
— Ele era péssimo mesmo
— Sim, um dos piores... eu nem cheguei a me apresentar né? Perdão, é que vocês já sabiam quem eu era e eu sabia que vocês ia vir, mikael me avisou, em fim, eu nem pensei, eu sou Noah que falta de educação a minha
me impressiona como ele fala rápido, o homem parecia um cantor de rap, mal respira e quanto mais fala mais se confunde e mais envergonhado parece.
— Calma, respira! - solto um risinho por achar fofo esse jeito atrapalhado dele - eu sou a comandante Altoé, pode me chamar de Aylin.
— Sim, sente-se por favor, quer algo para beber?
— Não obrigada, esse é meu parceiro, detetive Calore
— Spencer por favor, dispenso as formalidade.
— Claro - Noah estende a mão para spencer que o olha meio desconfiado
— O número de patógenos passados num aperto de mão é enorme, levando em conta que você mora em uma chácara e parece ter um trabalho brasal de subsistência aqui mesmo esses patógenos dobram, não obrigado.
— Ele não é fan de contato físico com desconhecidos - Mikael traduz chutando Spencer - depois que se acostuma vira um fofo
Mikael tenta abraçar ele e Spencer o afasta, ele tenta de novo e os dois entram na típica briguinha do dia dia
— Meninos! Isso é muito anti profissional!
— Eu não to aqui a trabalho!- Mike justifica- Brigue com ele!
Spencer revira os olhos e se ajeita então Noah ri do meu desconforto
— Não tem problema, eu não conheço muita gente e mal saio daqui então acho legal essa naturalidade de vocês
— Da mesma forma, perdão- Spencer arruma o colete e a gravata então sussurra- nunca na minha vida eu fui chamado de "anti profissional"
— Voltando ao assunto, pode me dizer o que aconteceu lá?
— Sinceramente acho que estava mais descontando em mim se quer saber
— Como? - questiono sem saber do que ele está falando
— O detetive, qual era o nome dele ?
— Zaick- lembra Spencer
— Isso, em fim, minha mãe sempre foi distante, antes de sumir passava dias fora antes de voltar para casa, já meu pai era um alcoólatra, vivia tendo problemas com a polícia, Zaick odiava meu pai e por isso acho que me tratou tão mal ...
— Se isso vale de alguma coisa não foi, ele tratava todos mal. - Spencer revira os olhos, e Mikael concorda com a cabeça e sussurra para ele passar os biscoitos que só agora percebi que estavam na mesa de centro
— E aquele outro?! Ele só ficava atrás da câmera, me olhando, quieto como um fantasma, me dava medo.
— O distrito falhou com você mais de uma vez- tento passar solidariedade para Noah- falhou em não ter te salvado de um lar tão tóxico e falhou ao não ter te escutado no caso Angelis, mais agora o distrito está sobre meu controle, e eu não vou permitir que isso aconteça de novo, estamos aqui, e pode contar conosco, dessa vez não vamos falhar.
— Você é mesmo diferente, é determinada como Mikael disse, gosto disso - ele sorri e eu volto a me sentar pegando um bloquinho e caneta - eu falo meio rápido, principalmente quando me ânimo, sou um pouco ansioso, se não entender ou se eu sair do tema pode me avisar, não sei se vai conseguir anotar, se preferir gravar a entrevista, não tem problema, eu tô meio mal vestido mas foi por que eu estava na horta quando Mikael chegou e não tive tempo pra me arrumar.
— Não precisa, tudo que eu for achando importante eu anoto aqui - mostro o bloquinho- e quando chegarmos na delegacia Spencer consegue digitar e imprimir toda nossa conversa
— E você consegue me pagar as horas extras - sorrio pra Spencer mostrando que ouvi o que ele tinha sussurrado e continuo a falar com Noah normalmente.
— Mas como ele vai lembrar de tudo, é impossível, não que eu lembre de algo importante o suficiente pra ajudar mais acho sempre bom gravar as coisas, a final, não sei vocês, mas eu tenho a memória de um peixe dourado.
— Eu tenho memória eidética - Spencer explica
Mesmo com a boca parcialmente cheia dos biscoitos Mikael adianta a dúvida
— Cara o que é "eidética"? Parece nome de doença, ele quis dizer que - Mike engole o último pedaço que está em sua boca- tem memória fotográfica, tipo, ele decora tudo cada detalhe, é um gênio!
Da pra ver o quanto o elogio deixa Spencer envergonhado e ele tenta se explicar
—Memória eidética é popularmente conhecida como Memória fotográfica porem existem variedades no geral é a capacidade de se lembrar de coisas vistas e/ou ouvidas com um nível de detalhe perfeito. - ele diz e respira fundo se arrumando no sofá
— Ahhh então você é daquelas crianças gênio que é meio anti-social, especial e tal mas super inteligente? - Noah tenta entender, percebo que evita algumas palavras talvez na intenção de não magoar ou falar algo indevido ele é bem bobo, e faz muitas perguntas que geralmente as pessoas guardam para si, não sei se infantil é a palavra, só diria que ele não tem filtro, mais não ao ponto de ser idiota ou chato, só fofo mesmo como uma criança curiosa.
— Tá perguntando se eu tenho asperger?
— Não sei... perdão, não foi minha intenção, eu só, nem sei, esquece, vamos voltar ao assunto.
— Ótimo Noah, preciso que faça uma coisa - desacelero o tom de voz e vejo os meninos me encararem com atenção, um silêncio agradável toma conta do lugar onde só a minha voz e o cantar dos passarinhos é ouvido - quero que feche os olhos, vamos tentar acessar todas as memórias do seu subconsciente então relaxe, me fale daquele dia Noah, do dia em que a Angelis sumiu, do começo do dia, como estava o tempo ?
— Eu, eu tinha dormido na casa da tia Celeste- Noah meche a cabeça de um lado para o outro devagar, com os olhos fechados- meu pai chegou bêbado e fiquei com medo de ficar em casa então fui para lá, acordamos de manhã e a Angie estava animada com algo, ela parecia tão ... Feliz ... Quem faria algo de de ruim com uma criança tão feliz ?
—Eu sei, mais se concentra, vamos lá, vocês acordaram, e agora ?
-— Faz muito tempo, não lembro direito, acho que tomamos café da manhã, tia Celeste cuidava de mim como se fosse seu filho, eu e Aylin brincávamos sempre, ela era minha única amiga na escolinha - ele respira fundo e continua- as crianças as vezes são cruéis, eu morria de medo de tudo, mal conversava com outras pessoas as crianças estavam sempre zombando de mim, zombavam de Angelis também, por que ela ainda usava chupeta, mais ela era forte, sempre arrumando briga pra me proteger, era uma boa amiga, penso nela ... Eu não lembro exatamente do que aconteceu, acho que acabou algo por que Celeste nos colocou no carro e disse que ia no mercado, lembro que ela não ligava o rádio por conta do jornal, estava acontecendo muitos acidentes na época e tia Celeste odiava ouvir sobre tragédias.
— Isso muito bom, continue... O que aconteceu quando chegaram lá ?
— Tia Celeste comprou uns brinquedos para nós distrair, ela pediu para Lucy, ela era a dona na época, não sei se ainda é, tomar conta da gente enquanto ela fazia as compras, Angelis começou a brincar com o meu cabelo enquanto Lucy perguntava da minha mãe, " onde ela está? " "Irresponsável" "é por causa desse tipo de pais que o mundo tá perdido" "mais vale uma criança sozinha do que nas mão de incompetentes" lembro disso e de ter me magoado, eu tinha um carinho pela minha mãe, não entendia o por que dela estar me falando essas coisa e quando eu virei para trás, Angie não estava mais lá.
Ele abriu os olhos e me encarou, balançando a cabeça de um lado para o outro .
— Disse que não tinha nada de útil.
— Calma e depois ?
— Como assim depois ?
— O que você fez ao ver que ela tinha sumido ?
— Eu ... Não sei... Faz anos ...
— Feche novamente os olhos, concentre-se na minha voz, você está lá, está ouvindo Lucy falar da sua mãe, está sentindo Angelis mexer no seu cabelo, cada puxão que ela dava, por que ela parou ? - Noah estava com os olhos fechados mais os via se movendo de um lado para o outro.
O que estou fazendo é uma técnica de hipnose usada principalmente em perfiladores, ela consiste em fazer a pessoa se lembrar de pequenas coisas do dia do trauma, como sons, clima ou sentimentos, que resultam em uma lembrança maior do subconsciente,aprendi uns truques em Washington, fiz alguns cursos e fui as palestras de análise comportamental e técnicas forenses, uma detetive tem que estar pronta para tudo, muitas vezes acabo fazendo o trabalho dos peritos, principalmente nas cenas dos crimes, pensei em tentar essa técnica uma vez em mim, mas não faço questão de me lembrar da minha infância.
— Um rapaz do lado de fora, ele parecia machucado, abatido, ele ... - Noah para se esforçando para lembrar - era amigo do meu pai, eu acho ...
— Consegue ver ele? Quem ele é Noah?
— eu não sei, reconheço o sapato, e os cordões, eles faziam barulho, mais não lembro do rosto, eu ... Angelis não está mais aqui, eu fui atrás dela ... Tia Lucy foi pro estoque, e desci a rampa para achar a Angie, estamos no estacionamento, não sei, o homem está no celular, ele parece chorar e tremer, mas sorri forçado, está sentado no chão, Aylin está escovando o cabelo dele agora, ele olha para trás e diz algo, tô longe de mais para ouvir, mas sei que ela o corrige, ela apontava o dedo e balançava a mão toda vez que ia corrigir alguém, era uma criança muito esperta.
" Vem Noah! O tio tem bem mais cabelo para brincar "
— Ela gritou quando me viu, eu não lembrava disso ...
— Noah, você foi até eles ?- questiono e ele aperta os olhos fechados.
— Não, ele estava chorando, me deu medo e gritava no celular, ela pede pra ele ficar quieto e ele acaricia os cabelos dela, eu voltei lá pra dentro, voltei a brincar, passou um tempo, tia Celeste voltou e perguntou da Angelis, quando levei ela até o estacionamento, não tinha nada, não tinha mais nada ... Tinha levado ela, só estavam os brinquedos e as contas - ele começa a chorar, chorar profundamente - eu só tinha 5 anos, mais deveria ter ficado, ter ajudado ela ...
— Aí poderiam ser duas crianças sequestradas ao invés de uma - acalento - você mesmo disse era uma criança, não se culpe tanto ...
— Tem mais algum detalhe ? Algo que você viu ?
— Eu não sei, tia Celeste começou a gritar, "Cadê minha filha" "anjinho, anjinho, filha" meu pai apareceu e me levou pra casa ...
— Entendi... Você lembra se o homem que estava com a Aylin tinha alguma marca aparente ?
— Não - ele limpa algumas lágrimas - só muito cabelo, na altura do queixo talvez.
— Ótimo, isso é bom ... E o carro? Vocês estavam em um estacionamento, tinha algum carro lá ?
— Alguns, o mercado fica bem na entrada da cidade, muita gente passa por ali.
— E perto da Angie e do moço tinha algum carro ?
— Eles estavam encostados em um, era velho, cinza eu acho... Não, era branco, mas estava sujo, o teto era baixo, e a lanterna estava lascada, acho que ele bateu.
— Ótimo, mas alguma coisa, foco no carro...
— A mão dele... Do moço das correntes, estava na roda, dentro da roda, ele tava no chão por isso... Tava procurando alguma coisa, ela brilha.
— O que brilha Noah ?
— O que tá na mão dele.
— E o que é isso Noah ?
— Um... uma chave! Era a chave de um carro- ele abre os olhos e me encara - eu não lembrava disso, de nada disso.
— Você ficaria surpreso ao descobrir quantos segredos e detalhes seu cérebro pode guardar, isso foi mais que útil, você acabou de dar o gatilho por onde a investigação vai seguir, esse é meu número - entrego um dos meus cartões - caso se lembre de algo a mais, vou mandar um desenhista aqui pra montar um retrato falado do carro e do homem, preciso que vá a delegacia dar um testemunho gravado também, não se preocupe, vamos acha-la.
Ele sorri e segura minha mão, eu aceno e retribuo o aperto.
Vamos acha-la, é uma promessa.
Só pra deixar bem claro gente, sobre a relação da Aylin e o Spencer, minha intenção era uma amizade. Eles são muito próximos sim, porém nem tudo é romance, eles são como irmãos.
Sei que decepcionei, só... Tomem cuidado com os shipps ...
Bjs
—Sunny
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