pista 1: interessante


Delaware ,EUA
7 / 9/ 2023. 10:30 AM Sab

Os dias em Washington eram corridos, o departamento de polícia era movimentado e sempre chegava um caso atrás do outro, desde que me formei na academia de polícia eu trabalhei lá.

Os últimos 6 anos eu me afundei em trabalho, sem tempo para romances ou amizades, não por falta de opção, mais por falta de vontade, eu tinha um sonho e trabalhei por ele, anos de estudos e foco sem fim me levaram a onde eu cheguei hoje.

Observo a medalha de condecoração, pelo 12° caso "impossível" como eles chamavam, geralmente casos que detetives preguiçosos arquivaram, ou casos com quase nenhuma prova, sempre gostei de um bom quebra cabeça e esses são os melhores, às vezes eu demoro um pouco, mais até hoje nunca encontrei um quebra cabeça que não tenha resolvido.

No dia em que recebi essa medalha me senti completa, como se tudo fizesse sentido.

Porém, o tempo passou, os casos se tornaram sem graças e vazios, a confusão e correria do dia a dia me cansava do que me instigava, eu amo meu trabalho, nem por um momento pensei em desistir, mais eu queria mais... Talvez menos, na verdade, preciso de um pouco de paz, ou algo que realmente me instigue.

E por esse sentimento aqui estou aqui, dirigindo para uma cidadezinha ao sul de Delaware, a cidadezinha onde eu nasci e meus pais se conheceram, a depois a morte da minha mãe ele simplesmente fugiu, me levando junto para Washington, ele disse que a morte dela foi difícil, ele nunca toca no assunto, geralmente sua personalidade é fria e grosseira, perto de mim ele se suaviza um pouco, torna-se mais carinhoso mesmo assim não deixa de ser possessivo em certos casos, talvez por isso sua mudança foi bem-vinda, porém agora 3 anos longe dele sinto falta da minha única família.

A cidade é pequena e pitoresca, passo entre as ruas e paro em frente a um mercadinho de esquina, só preciso comprar algo para comer, a viagem foi longa e cansativa e agora tudo que eu preciso é um chocolate.

Ouço o sininho na porta, algo na minha cabeça me diz já ter ouvido esse sininho, ouço uma risada de criança ao longe, tão longe que parece nem estar na loja, pisco forte e balanço a cabeça

— Olá moça, posso ajudá-la?

Uma senhora de cabelos grisalhos e sorriso largo me cumprimenta

— Oi, sim, sim, tudo bem, só uma dor de cabeça - sorrio olhando em volta - tem alguma criança aqui?

— Não... - ela faz uma pausa - as mães não trazem as crianças aqui, ha uns 20 anos teve um desaparecimento e ... - ela parece pensar no que falar - o lugar ficou com fama sabe, as famílias ficaram tão assustadas, como é possível uma criança de 4 anos sumir sem deixar rastros, até hoje a cidade não voltou a ser como era

— Que horrível, nunca acharam o corpo?

— Menina nunca acharam nada! Você não é da cidade né?

— mais ou menos nasci aqui mas desde os 5 moro em Washington.

— Deixa eu te falar menina - ela me segue na loja enquanto encho minha cesta de besteiras - essa cidade era pura animação, as crianças corriam de um lado para o outro, sempre tão felizes, depois que a pequena Angelis sumiu isso assustou a todos, até hoje às pessoas evitam as ruas, desconfiam de tudo e todos, em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem e depois descobrem que na verdade não se conhecem ...

— E o departamento de polícia ? Desistiu ?

— Eles nem tentaram - ela olha com desgosto pro nada - sabe, o nome pode ser igual ao do departamento de Washington, mais eles são 2 vezes mais incompetentes, um dos detetives chegou a declarar a morte da criança, mais depois o caso foi reaberto várias vezes, a mãe da menina nunca desistiu, mais depois de uns meses eles desistem , isso só serve para lembrar a cidade e pra desilusão dos pais, é quase uma tortura se quer saber.

— Nossa, deve ser terrível, eu nem imagino a dor dessa família.

— Sim sim pobre senhora Albuerre, a verdade é que se a menina estivesse viva ela já teria aparecido, a cidade é minúscula não tem como esconder ninguém por muito tempo , uma hora a verdade iria aparecer.

— Concordo com a senhora, sabe, eu adoro um desafio, mais esse caso só me parece triste ... Espero que a cidade supere isso um dia ...

— Somos duas meu amor, sinto falta dos dias animados dessa cidade

Seguimos juntas até o caixa e ela parece tão triste por a conversa ter chegado ao fim

— um dia eles voltaram - disse com uma falsa sinceridade, um crime desses é difícil de se superar, mais aquela pobre senhora parecia tão carente precisava de palavras de conforto, me senti mal por não conseguir fazer mais.

— Tchau flor, volte sempre!

— Tchau senhora? - percebo que não tinha perguntado seu nome

— Pode me chamar de Lucy

— Eu sou Aylin

— Tchau Aylin! - o nome sai melodioso entre os velhos labios, como se ela me conhecesse desde sempre

— Até qualquer dia Lucy!

— Até mas!

Saio do mercadinho sorrindo, ela era tão simpática e fofa, com certeza voltarei mais vezes, sigo para o carro e logo que entro dou partida, chego no meu mais novo kitnet pequeno mas bem mobiliado, as caixas em todo o lugar me atrapalhavam um pouco minha locomoção

mando um áudio para meu pai, avisando que já estou na cidade, antes que ele comesse a me ligar.

Me estico na cama olhando o relógio na cabeceira, 13:25, estou atrasada, tenho que me apresentar na delegacia nova.

Coloco uma camiseta branca simples e uma calça escura, jogo uma jaqueta por cima e saio.

Ao chegar na delegacia observo como é diferente de Washington, os policiais parecem mais relaxados e despreocupados, há três mesas grandes de cada lado da sala e no fundo algumas portas, vejo 4 policiais reunidos ao redor de um painel grande, três discutem detalhes do caso e parecem irritados andando de um lado para o outro, já o quarto está sentado com os papéis na mão, toda vez que tenta argumentar é cortado por um dos três brutamontes que estão de pé, o painel contém fotos de um um homem e uma mulher e algumas fotos de uma cena de crime muito violenta, não preciso me aproximar muito para ver que foram assassinados, cheguei no meio de uma investigação , legal.

— Olá ? - cumprimento a mulher da recepção antes de adentrar no departamento.

Ela me olha de cima a baixo enquanto masca um chiclete.

— O que quer ? - ela questiona se levantando, vejo que não vamos nos dar bem

Da divisão ao lado vejo alguns policiais de campo passarem e o olhar dela os acompanha ate a saída lateral, me ignorando completamente.

— Primeiramente mais educação - retiro o distintivo e identidade do bolso - sou a comandante Altoé, vim me apresentar pro primeiro dia.

— Senhora - ela ajeita a postura - perdão, em que posso ajudar?

Ouço outro grito dos detetives que estão ao redor do painel desvio o olhar rapidamente e volto a mulher

— Quero os arquivos daquele caso - aponto para os homens que ainda discutem - e depois quero que alguém chame o superior Jacks pra mim.

— Sim, claro

Ela sai rapidamente e vai a caminho do policial sentado ao lado do painel, pega alguns papéis com ele e posso ver que se insinua em sua direção, ele entrega os documentos rápido e se afasta, completamente desconfortável, ela volta e me entrega o arquivo.

— Aqui, vou chamar o Sr Jacks um minuto.

Ela sai e eu começo a ler, traficante e esposa mortos, principal suspeita : rixa entre traficantes, porem... tem algo errado, essas manchas de sangue e os relatos das testemunhas e conhecidos, tá na cara o que houve, será que não percebem ?! não tem com ser obra de uma rixa. Isso foi, passional, essas marcas ...

Passo a mão sobre as fotos, em especial sobre as marcas de sangue, consigo imaginar a cena em minha cabeça até que me chamam

— Sra Altoé ? Seja bem vinda - me levanto e aperto sua mão - senhores! Venham todos da homicídios aqui !

Eles se reúnem e percebo serem poucas pessoas

— Essa é a nova comandante da homicídios e casos não resolvidos , Sra Altoé - sr Jacks se volta a mim e continua falando - essa é a sua equipe Nolan, James, Leoroy, Forts são nossos detetives de campo, são chamados pelos policiais em casos envolvendo mortes ou assuntos delicados, Felície é do laboratório e Spencer é nosso perito criminal.

— Nosso garoto gênio! - O homen apresentado como Leoroy grita e bate na cabeça do tal de Spencer que eu percebo agora ser o polícia que estava sentado ele parece bem incomodado com o apelido.

— Sim, Spencer de fato é nosso prodígio. - Sr Jacks sorri para o garoto

— mas ele não faz nada em campo não se iluda, ele é inútil sem um livro na mão, devia desisti e virar rato de laboratório igual Felicity! - James implica

— Felície - a menina corrige baixinho

— já chega! Em fim. - Sr Jacks coça a nuca - a equipe é pequena e meio infantil - ele encara os detetives - espero que consiga dar um jeito nisso, mas são muito úteis quando querem, nossa taxa de casos não resolvidos é quase inferior a 70% contando casos antigos, encerrados por falta de pistas e desistências por parte de terceiros, uma das melhores taxas do estado.

—Muito boa mesmo - concordo e me direciono a equipe -  Eu sou Ailyn, serei a comandante de vocês, venho de Washington, já havia lido a ficha pessoal de vocês mas é bom colocar um rosto nos nomes, qualquer problema podem contar comigo e ...

Sou interrompida pela porta que se abre rápido, um menino desastrado abre a porta e quase deixa a bandeja em suas mãos caírem, olho em seus olhos, verdes como esmeraldas, acho que o reconheço de algum lugar, talvez não ele, mais aqueles olhos...

— E quem seria você ? - pergunto e todos os olhos se voltam a ele, vejo que em especial Felície, ela parece mudar de cor perto do menino, já Spencer o analisa como se perguntasse também quem é ele.

— Esse é Mikael , ele é o menino do café , ele atende aqui, a narcóticos e os policiais de campo, que ficam no prédio ao lado, essa porta da lá. - Jacks esclarece

— Estagiário. Quero um dia me tornar detetive como vocês . - ele fala baixo mais mesmo assim confiante sem um pingo de duvida ou desrespeito na voz.

— a gente, agora pronto - Leoroy reclama - temos um nerd, um garoto do café que acha que é fácil ser policial e uma menininha de chefe, Sr você só pode estar brincando, e o pior , ela é de Washington! A taxa de crimes resolvidos lá é de o que 20% ou menor? Nossa porcentagem é 10% superior!  Com todo respeito o Senhor trouxe ela por que?

Vejo Jacks engolir a seco, Mikael parece magoado, e Spencer revira os olhos, já decidi que Spencer é meu preferido, Sr Jacks ameaça me defender mais eu o corto

— Engraçado você falar isso, primeiro Washington é pelo menos 8 vezes maior que essa cidadezinha, sendo assim temos pelo menos o dobro de criminalidade, o que explicar os casos não resolvidos, mas já que você gosta tanto de porcentagem e quer comparar talvez queira também me explicar por que essa cidade do tamanho de um ovo tem a taxa de casos não resolvidos em mais de 40% o  mês desde os últimos 3 anos, isso interfere na porcentagem total pelo menos 2% negativamente, pra mim isso tem cara de desleixo, agora falando desse caso - vou até o painel - se parassem de discutir como trogloditas perceberiam que foi um crime

— Passional - eu e Spencer repetimos juntos, eu definitivamente gostei dele, e os olhos de mikel brilham e me acompanham a cada palavra é como ter dois pupilos.

— Exatamente Spencer! Está claro que eles não morrem nas mãos de um profissional, isso é um trabalho mal feito, vejam isso - pego a foto do primeiro corpo e da parede que estava ao seu lado - vocês escreveram que a arma do crime foi uma serra, mas observem bem, isso é trabalho de uma faca bem afiada, olhem bem para o espalhamento de sangue, olhem esses padrões, eles contam toda a história do crime, a vítima masculina estava bem aqui - mostro a foto da parede - e o assassino enfiou a faca entre os ombros e o pescoço rompendo a artéria carótida, certo Felície ?

— Sim, o primeiro golpe e único no homem foi bem nessa região, porem a legista não disse com precisão qual era a arma do crime ainda, como sabia ?

—Olhe bem as manchas, grosas e longas, na altura de um metro e sessenta, isso a mulher tinha de altura era impossível ser dela, e a quantidade de sangue indica artérias principais, e a única na altura seria a carótida, agora olhem essa outra foto, são jatos de sangue limpos, isso só acontece quando se usa algo leve e o move rapidamente, a faca afiada corta o corpo sem espalhamento, sem sujeira, limpo e fácil, e agora a parte principal, mostrando que não teve nada a haver com drogas, se vocês lessem o relatório de Felície o de Spencer iriam ver que todos concordam, o assassino veio pra matar a mulher não o traficante, ele o matou rápido, um golpe e o tirou do caminho, o primeiro a morrer por que impedia o  assassino de chegar no verdadeiro alvo, já com a moça ele levou um tempo, olha a quantidade de facadas, ele a picou, e ninguém faz esse tipo de coisa sem ter um relacionamento pessoal com a vítima, provavelmente um ex namorado, e de acordo com os familiares ela tinha um bem agressivo, procurem ele e o pressione - jogo o arquivo no colo de Leoroy

— Sabe o que eu vejo aqui comandante - falo me referindo ao Sr Jacks - eu vejo três crianças, pedaços de barro que eu pretendo moldar como verdadeiros detetives - aponto para Forts, James e Leoroy

—vejo também um detetive inteligente que soube me ouvir com atenção e anotou boa parte do que eu falei esse sim tem potencial de se tornar sargento - digo me referindo a um terceiro que estava quietinho no canto só escrevendo, se me lembro o nome é Nolan, que me olhava atento, vejo sorrir de lado e sorrio de volta

— E aqui temos uma técnica de laboratório excelente, seu relatório é perfeito, altamente detalhado, perfeito! - vejo Felície sorrir - você é tão inteligente quanto dizem, não deixem fazer pouco de você por isso, aposto que em campo tem os olhos atentos pra coleta de pistas , deve ser um ótimo detetive - falo me referindo a Spencer

— já você, vejo potencial e vontade, mais nunca mais quero ver você abaixando a cabeça assim, se tentam te diminuir se esforce para mostrar que estão errados - digo e aperto o ombro de Mikael, ele sorri e concorda

— Agora você - chego bem perto de Leoroy - eu tentei ser legal , mais se não me respeita vai aprender a respeitar do jeito difícil , na próxima vez que me chamar de menininha você vai ser transferido pra onde judas perdeu as botas e na próxima vez que ousar questionar o meu serviço saiba que a minha taxa de casos não resolvidos é zero, ao contrário da sua, não se esqueça que li os seus arquivos, e pelo que eu vi é a sua incompetência que aumenta tanto o índice de casos não resolvidos dessa cidade.

Simplesmente saio andando, mais paro ainda de costas pra eles.

— os três patetas querem um mapa ? - me viro e olho pra eles - o que estão esperando para irem atrás do ex da vítima ? VÃO! - aponto pro lado de fora

Os três se levantam rápido e saem da delegacia

— Agora qual de vocês vai me mostrar minha sala ?

Eles sorriem pra mim e eu pra eles, é pareceque esse lugar é mais interessante do que eu pensei.

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