Capítulo 35
Estava preparado, embora minha mão ainda esteja tremendo um pouco. Eu estou indo em direção ao inimigo, um passo em falso e eu arriscaria tudo e a vida de Jonathan, se fosse apenas eu seria bem mais fácil, porém, o Diretor Samuel não precisaria de mim tanto assim. Talvez eu esteja até errado de ir sozinho sem ter uma segunda ou terceira opção de fuga, mas ás vezes é bom arriscar tudo, desde que não dê merda no final.
Eu estaria mentindo se eu dissesse que eu quero ir para lá apenas para resgatar Jonathan, pois não é só isso, quero saber tudo e todos os motivos que o Diretor Samuel tem para matar minha mãe, ameaçar meu pai e desviar dinheiro da empresa. Mas, por dentro, em alguma parte de mim, tem medo de saber os seus verdadeiros motivos, isso pode me surpreender muito ou me fazer ficar com muita raiva, a ponto de fazer alguma besteira.
Bati varias vezes, na porta de madeira bruta, olhei para os lados, sentindo meu coração acelerar, coloquei a mão por cima do bolso para garantir que o papel esteja ali.
- Veio sozinho? – Perguntou o Diretor Samuel ao abrir a porta.
- Pareço acompanhado para você?
Mesmo recebendo um olhar de repreensão dele, entrei em sua casa. Havia alguns móveis protegidos por um lençol branco e fino.
- Não fale como se fossemos amigos.
Dou de ombros, e ouço a porta sendo fechada atrás de mim. Dou alguns passos para perto dos móveis, tem alguns faltando. Talvez ele queira poupar digitais que possam incrimina-lo, ou apenas espera que tudo dê certo para que ele sair da cidade.
- Cadê o Jonathan? – Me virei para encara-lo, ele estava bem atrás de mim, com um sorriso assustador no rosto e algo nas mãos que eu não consigo ver.
- Você já vai saber.
Ele dá passos em minha direção e então eu consigo perceber o que ele segurava, uma seringa com uma agulha enorme. Não deu nem tempo de gritar ou tentar reagir, ele pulou em cima de mim, e afundou a agulha no meu pescoço.
Senti o liquido transparente entrar no meu corpo e me fazer ficar anestesiado. Minha garganta pisou na bola comigo, minha cabeça girou um pouco, e mesmo sem conseguir ver direito, por causa da minha visão embaçada, conseguir sentir que ele estava feliz e que ele havia conseguido o que queria.
Bati minha cabeça no chão, deixando uma dor no local, Diretor Samuel parou ao meu lado sorrindo.
- Seu pai resistiu mais.
Foi a última coisa que ouvi antes de apagar.
A primeira coisa que eu vi quando abri os olhos foi uma mesa com um pano por cima, então deduzi que estou na sala de estar. Super discreto. Senti uma forte dor na cabeça, o que me fez estremecer e sentir meus pulsos amarrados por uma corda grossa, meus pés também. Olhei para o lado e vi Jonathan, do mesmo jeito que eu, amarrado. Tentei escapar, ou mexer as pernas para que a cadeira caia e quebre, mas foi inútil.
- Você está bem? – Perguntei para Jonathan, era um alivio o ver vivo.
Ele balançou a cabeça, e virou a cabeça, olhando ao redor, não foi um dos melhores encontros.
- Me desculpa – Digo, o fazendo me encarar – Não deveria ter vindo sozinho.
- Não mesmo.
Olhei ao redor daquela sala, ainda me sentindo um pouco tonto, procurei qualquer rota de fuga caso dê tudo errado, primeiro eu salvaria Jonathan, e depois ligaria para a policia, mas o problema é que não tem nenhum lugar para jogar, ou esconder ele, e eu não farei nada sentado nessa cadeira.
- Olha quem acordou – Ouço a porta ser aberta, Diretor Samuel aparece e sorri – Estão confortáveis?
- O que você acha? – Digo, não deixando minha postura de durão de lado.
- Eu vim apenas agradecer, Luccas – Diz ele sorrindo, parece que tudo deu certo. Ele mostra o envelope que está com a minha declaração, por sorte, parece que ele ainda não abriu.
- É serio que você entregou? – Pergunta Jonathan me olhando furioso.
- E o que você queria que eu fizesse?
- Não entregasse a carta para ele – Jonathan franziu o cenho, e revira os olhos, ele deve estar me odiando.
- Mas e você? – Pergunto o olhando, ele me encara de volta, e diz com os olhos:
Não finja se importar, eu sei de tudo.
Para uma criança de onze anos, ele é bem inteligente.
- Meu Deus! – Quase gritou Diretor Samuel – Não quero me envolver em briga de família, fiquem quietos.
Fiquei calado por um instante, e senti minha mão suar, isso é bom. Pode ser que a corda grossa afrouxe, não é?
- Agora, vamos ler – Diz ele, que abriu o envelope com um grande sorriso no rosto - ''Coloque dois copos de leite numa batedeira, junto à massa, depois prepare a forma, e coloque a massa delicadamente na forma, e coloque no forno, dependendo da temperatura local, a massa ficará pronta em 40 minutos.'' Que merda é essa? – Perguntou ele, quando parou de ler o que estava escrito na carta.
- Ah! – Soltei um sorriso de deboche – Você queria uma carta minha, e não uma receita de massa de pizza? Acho que me enganei.
Diretor Samuel travou a mandíbula, parece ter ficado muito bravo, mas então de repente, em sua expressão raivosa, surgiu um sorriso macabro.
- Você realmente achou que eu precisava de uma declaração sua? – Ele passou a mão no bolso e de lá tirou uma outra carta – Sendo que eu tenho a do seu pai.
Meu coração quase pulou para fora, todo o plano que eu havia pensado estava sendo jogado no lixo, tudo estava dando certo, mas tinha que acontecer alguma coisa.
- Por quanto tempo eu fiquei inconsciente? – Perguntei para Jonathan, virei o rosto em sua direção.
- Uns cinquenta minutos.
Voltei a olhar o Diretor Samuel há minha frente, que sorria e balançava a carta; Tudo estava dando certo para ele. Parece que eu o subestimei, ele é bem mais inteligente e forte do que aparenta, eu quase não consegui atingi-lo diretamente. Preciso mantê-lo atrasado um pouco.
- Por quê? Por que você quer ferrar tanto a empresa assim? – Pergunto, sentindo a adrenalina correr em minhas veias.
- Eu não quero ferrar sua empresa – Diz ele, segurando a carta e colocando de volta no bolso – Eu quero tê-la para mim. Você não sabe o jeito que eu me esforcei e lutei por aquela empresa. Dias e noites sem dormir, o jeito que as pessoas me olhavam com desprezo e pena. E seu pai? Ele sempre ganhou o que queria, por ser o queridinho de todos, e sem nem se esforçar conseguiu se tornar o presidente, sendo QUE FUI EU QUEM LUTOU POR TUDO E TODOS. – Ele acabou gritando, senti a vibração de ódio vindo dele, fui tolo ao achar que era seu filho seu ponto fraco, mas não é.
- Você está errado – Balanço a cabeça, negando – Meu pai sempre lutou para conseguir o que queria sempre se esforçou, que até largou a própria família para proteger todos vocês lá. E isso não é motivo o suficiente para MATAR A MINHA MÃE.
Gritei também, mas porque eu realmente fiquei bravo com seus motivos, Talvez tudo agora esteja fazendo sentido demais para mim.
- Você realmente acha que seu pai é o herói da historia? – Perguntou ele que levantou as sobrancelhas e deu risada – ELE NÃO É NÃO. ELE É O VILÃO DESSA VEZ.
- VOCÊ ESTÁ MENTINDO – Parei por um instante, gritar desse jeito não vai levar a lugar algum – Eu sei como é, perceber que as pessoas sentem pena de você, eu já senti isso, mas também sei como faz para superar, posso te ajudar. Apenas solta o meu irmão – Estava disposto a ajuda-lo, caso ele soltasse o Jonathan, embora o ódio e o rancor ainda estejam muito presentes. Ele olhou para mim, mas dessa vez ele não estava sorrindo, estava sério.
- Não vem tentar dar um de bonzinho para o meu lado, Luccas – Cerrei o punho. Deus, só me deixa tirar o Jonathan daqui – Não vou cair nessa, não sou ingênuo como você, ou seu pai. Mas quer saber? Vocês não são nada parecidos, a sua expressão quando descobriu que era eu foi totalmente diferente da dele. É claro, ele deve ter se surpreendido muito quando soube que o merda da empresa é bem mais inteligente que ele. Você foi mais rápido.
- O que você ganha com isso? Enganando a todos, usando uma máscara que não é sua, e manipulando seu próprio filho?
- O que eu ganho? – Ele gargalha alto e assustadoramente – EU GANHO A TODOS, TODOS VÃO ME RESPEITAR E ME VER COM O EU SOU DE VERDADE. E VOU MOSTRAR A TODOS ELES, QUE QUALQUER PESSOA PODE SE TER O PODER.
- Você tem razão, mas deveria fazer isso do jeito certo, não matando pessoas inocentes. Não foi por isso que sua esposa te largou? Por ter percebido o seu jeito de sempre querer mais, na maior facilidade. Você destruiu uma família para o seu próprio bem, está sendo egoísta.
- Ser egoísta às vezes é necessário para a vida, assim ninguém atrapalha você. O que foi agora, Luccas? Quer realmente se tornar mais uma marionete? Está perdendo as esperanças? – Perguntou o Diretor Samuel, se aproximando da cadeira que eu estou amarrado.
- Se não há esperança, não há desespero, e sem esses dois sentimentos as pessoas se tornam marionetes, e é isso que a sociedade quer. – Levanto a sobrancelha direita e passo a língua por cima dos lábios – Você está se tornando um deles.
Ele olhou para mim, e se aproximou mais. Colocou sua mão por cima da cadeira e sorriu para mim. Talvez seja tarde mais para tentar fugir, acho que deveria ter sido menos rude com ele, já que estou em território inimigo, e ele tem a vantagem disso.
- Eu nunca consegui nada, em toda a minha vida, somente olhares das pessoas, mas isso não vale, nunca valeu. Sabe por que eu mandei Scott te tirar a Cristha? Pra fazer você sentir o que seu pai me fez sentir. Você sabe como é agora? – Diz ele, bem perto de mim, consigo sentir seu hálito de menta.
- Você está se esquecendo de uma coisa, Samuel – Ele se afasta e cruza os braços. Inclino meu corpo para frente, para fazer certo drama – Você mesmo disse que eu e meu pai somos diferentes. Eu não o vejo á muito tempo, acho que estou acostumado a não sentir nada, por isso, se você achou que me afetou matando minha mãe e afastando Cristha de mim, está errado. Eu continuo não sentindo absolutamente nada.
Me encosto na cadeira, e o encaro. Ele parece estar meio assustado, pela primeira vez, consigo lê-lo. Olho para o lado, e Jonathan ainda me encara, talvez eu não consiga tira-lo daqui a tempo, mas preciso protegê-lo. Olho para a janela denovo, mas algo diferente se move, um carro da policia. Então, já se passaram duas horas, porém, não parece.
- Eu conheço muito bem sua família, estudei todos, sei como são sentimentais. – Ele sorri.
- Não conhece não – Sorrio de volta, e viro a cabeça um pouco para o lado – Pois se conhecesse, deveria saber que nunca deve confiar num Müller.
Nessa hora, as luzes da policia batiam na janela, e refletiam no rosto do Samuel, mostrando o tão esperado desespero. Ele arregalou os olhos, e encarou a porta, como se esperasse que militares com coletes a prova de balas invadissem sua casa.
- Desgraçado.
Samuel Sanchez, você está preso por sequestro, e homicídio da família Müller.
Ouvi a voz de Josh no lado de fora. Parece que nem tudo está perdido.
Saí da casa do Samuel depois dele ser levado pelos policiais, Josh me desamarrou e literalmente saiu puxando minha orelha, enquanto Jonathan vinha atrás dele, sem expressão nenhuma, acho que ele ainda deve estar assustado, bem, não é todo o dia que ele é sequestrado por uma coisa que ele não tem nada a ver.
- Você deveria ter pedido ajuda, Luccas – Diz Josh que me soltou ao sairmos totalmente da casa e ficarmos ao redor dos vários carros de policia – Foi um irresponsável, principalmente com seu irmão.
Encarei a cena atrás de Josh, Samuel me olhando franzindo o cenho, percebi que sua mão estava tremendo, e pela primeira vez, consegui o ler, ele estava com medo, e provavelmente, arrependido.
Tarde demais para isso.
- Escuta quando eu estou falando com você – Josh de novo, puxou minha orelha com força.
- Está bem – Segurei seu braço e o fiz soltar – Fui um irresponsável, eu sei, mas deu certo, não deu? Eu tinha um plano, Gabriel ligaria para a policia, caso eu não aparecesse em duas horas, e foi isso que aconteceu, certo?
- Não foi Gabriel que ligou para a policia, foi Scott. – Disse Josh, que virou seu corpo e apontou para Scott que conversava com os outros policiais.
Levantei as sobrancelhas, surpresos, eu nunca esperaria isso.
Então, foi menos de duas horas.
Fui em direção á Scott, deixando Jonathan com Josh. Me aproximei dele, fazendo a policial que o interrogava, sorrir para mim, e sair andando.
- Obrigado por me ajudar tirar meu irmão dessa. – Digo, cruzando os braços e olhando para seus olhos.
- Não fiz isso por ele – Disse Scott – Eu não fazia ideia do que meu pai poderia fazer, eu sei que ele estava exagerando muito com as coisas que ele me mandou fazer, comecei a ficar preocupado, talvez ele preso, ele fique melhor.
- Obrigado mesmo assim.
Sorri em agradecimento, e ele fez o mesmo, me afastei aos poucos e fui em direção á Josh, que me olhou ao me ver. Lembrei-me de algo que ia perguntar para ele, mas havia ficado apreensivo com sua resposta. Talvez seja melhor saber agora.
- Josh – Perguntei ao chegar ao seu lado, Jonathan estava com outros policiais, isso vai facilitar as coisas – Porque quando você foi prender o Samuel, você falou homicídio dos Müller? Meu pai está desaparecido, e a morte da minha mãe foi dada como acidente doméstico.
- Luccas – Começou Josh, eu já sabia que havia algo de errado – Seu pai foi encontrado morto, no porão da escola principal
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