I | O Pesadelo das Quatro

Primavera de 1906

Arfante e ofegante, Salete despertou do pesadelo. Que sonho algoz! Era para ele ter terminado naquela gélida madrugada de 1905, mas o frio dela perdurou. Aquele frio percorria o quarto das 4 menininhas e abraçava-as.

De seu sempre leve sono acordou também a irmã mais nova, Delfim, de 7 anos. "Que houve, Sali?", perguntou Delfim, a expressão assustada pintada pelo ouro das velas.

"Eu tive um pesadelo...Com a morte da mamãe. Por isso, acendi as velas. Pode voltar a dormir, Delf". "Não fique assim", foi a súplica triste de Delfim. A menor levantou-se, deitou na cama de Salete, abraçou-a. O sopro fez fumaça das chamas douradas.

Foi-se o calafrio, mas veio a lembrança.

Sali tinha só 7 anos, quando ele a levou, isso mudou-a - para sempre.

Todos já tinham feito a refeição, mas Delfim, queria leite. Lá foi o pai, Romeo, comprá-lo no início da madrugada. Alguém entrou na casa, junto trouxe o ar mais gelado já sentido pelas 4 filhas. A mãe, Chiara, já dormia, serena. Ao menos não sofreu tanto ao morrer - congelada.

Na época, todas dormiam no mesmo quarto, ele procurou-as nele, mas elas eram mais espertas. A voz da mãe as alertou. Já desperta pelos pesados passos, ela disse: "Então me achou...irá matar-me em minha própria casa. Eu já sabia." A voz parecia tão calma, era como se não temesse o fim. Chiara era controlada demais, para sua bênção própria. Salete sabia bem quem era a pessoa mais inteligente que conhecia - sua mãe. Esconderam-se todas, antes mesmo dele averiguar. A primogênita, Anelise, e Salete, no enorme armário. A pequena Delfim, atrás da pesada cortina. A segunda filha, Marjorie, embaixo de sua cama.

"Tens alguém mais aqui? Digas logo! Tu não tinhas filhas?", disse a voz chiada e estridente que entrara na casa. "Não, ninguém", a mãe falava tão segura e veemente. Como mentia bem! "Tens certeza?", chiou ainda mais o homem. "Sim, sem sombra de dúvida." "Que pena!", o homem gélido riu baixinho.

Em seguida, o frio tornou-se mais intenso, parecia fatal, mortal. Uma névoa branca espalhou-se pelos cômodos da casa.

O frio era mesmo mortal. Ele congelou-a numa noite fresca de primavera.

Mas o homem era tolo, muito tolo. Andou pela casa, parou no quarto das meninas sem atentar-se a nada. Deixou-a tão sutilmente quanto invadiu-a.

As menininhas não queriam ver a mãe congelada, permaneceram muito confusas e desesperadas. Deitaram aéreas e descrentes nos colchões de penas e lá permanecerão até o pai e o leite chegarem. Então desfizeram-se em lágrimas e soluços e lágrimas e soluços.

Ficara somente uma belíssima rosa branca.

Naquela madrugada, Romeo preparou o leite morno para Delfim e chocolates quentes para as outras filhas. O chocolate esquentava, sem impedir o choro e a tristeza de baterem a porta. Mas o chocolate consolava e acalentava - como fazia antes a mãe.

❄️

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492 palavras.

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