Capítulo 2 - Um futuro sombrio


Amanda respirava com dificuldade e estava morrendo de calor e sede. Se sentia sufocada. Ela já era adulta e estava caminhando por uma estrada. Sabia que deveria haver ali um enorme gramado com algumas árvores espalhadas, mas, ao invés disso, tudo o que havia era terra árida.

Depois de caminhar por horas em meio ao nada, finalmente chegou à cidade, mas a paisagem não era a que ela lembrava. Tudo era cinza, só havia concreto, nem um único ponto verde. O céu estava carregado e cinzento, mas não parecia prestes a chover. Era a poluição do ar que dava aquela cor sombria ao horizonte e tornava a respiração difícil.

Avistou uma fonte, porém nenhuma gota de água saía dela. Também viu uma floricultura que ostentava uma plaquinha velha escrito "fechada" e algumas pessoas desanimadas caminhando pelas ruas, a maioria usando máscaras.

O clima estava terrivelmente abafado, não tinha nenhuma brisa. Amanda não reconhecia a cidade onde cresceu, com seus pequenos rios e praias do litoral baiano, onde a vegetação era abundante e os ventos, frequentes.

Colocou as mãos nos bolsos em busca de dinheiro e encontrou apenas uma nota de cinco reais. Caminhou pela cidade procurando um lugar para comprar água e encontrou um pequeno mercado mal-iluminado e com prateleiras praticamente vazias.

Avançou em direção ao homem franzino sentado atrás de um balcão e pediu uma garrafa de água. Ele foi logo perguntando se ela tinha dinheiro e ela mostrou a nota, o que o fez rir, pois aquilo não comprava nem mesmo um copinho.

Ela ficou estupefata pelo valor de um líquido que já foi tão barato e se desesperou por não poder matar sua sede. Seus olhos se encheram de lágrimas e o rapaz se apiedou dela.

— Tudo bem — suspirou o rapaz. — Não vou ser egoísta como o meu pai. Se eu vou morrer mesmo, que diferença faz ser na próxima semana ou no próximo mês? — ele murmurou, desesperançoso.

— Do que você está falando? — Amanda indagou enquanto bebia em dois segundos o minúsculo copinho com o líquido precioso.

— Estou falando das pessoas gananciosas que fizeram isso com a gente. Eu era apenas uma criança quando os adultos mataram a natureza e agora estou pagando pelos erros deles, assim como você. Eu pedi pra ele não desmatar aquelas árvores, mas ele tinha que construir aquela maldita garagem e uma imensa piscina. Eu tinha dez anos e ele não acreditou em mim quando eu disse que o desmatamento, por mínimo que fosse, sendo promovido por milhões de pessoas, acabaria nos matando. Eu disse que cada um de nós tinha que fazer a sua parte e cuidar do que nossas mãos alcançavam. Que por menores que fossem nossas ações, elas fariam a diferença, pra melhor ou pra pior. — Rios de lágrimas escorriam pela face do rapaz.

— Amanda, chocada, se lembrou de ter dito exatamente isso ao seu pai anos atrás, mas não lembrava do tempo decorrido até a idade atual.

Ela olhou ao redor e arregalou os olhos quando viu uma mulher igual a ela revirando o lixo. Olhou para o outro lado e viu um idoso arrastando um cachorro magro, era Puff. Ela percebeu que todas as pessoas tinham algo de si mesma e entendeu que aquele era o seu futuro, ou pior, o seu presente. Tudo porque ela não foi capaz de convencer o seu pai a não desmatar aquelas árvores.

Amanda sentou no chão e chorou. A humanidade estava morrendo porque muita gente era egoísta como seu pai e porque muita gente, como ela, não fez nada para impedir aquela tragédia.

Ela chorou ainda mais quando pensou que, se a humanidade estava assim, o que teria acontecido aos pobres animais?

Naquela noite Amanda acordou chorando e seu pai foi ver o que tinha acontecido. Ela contou o sonho e ele disse que era apenas imaginação por conta das besteiras que sua professora havia colocado em sua cabeça.

***

Notinha:

Será que esse futuro se concretizará?


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