Capítulo 19 (parte 1) - Problemas
(1835 palavras)
Felicity
Com a lista de convidados em mãos, apressei-me para entregá-la ao general, estava ansiosa para ver a reação dele ao notar que sua atuação de nada adiantou pois, no fim das contas, meu plano venceu.
Quando cheguei ao local de treinamentos, logo avistei-o escorado em uma pedra grande com os braços cruzados, como se estivesse me esperando. Ele me encarou com os olhos semicerrados e sua voz saiu desconfiada quando falou.
— Eu realmente gostaria de saber como você fez para convencê-lo.
— Eu não fiz nada — respondo — ele convenceu a si próprio, percebeu que meu plano era bom demais para ser jogado fora — digo convencida.
— Não exagere — ele fala revirando os olhos — Qualquer um poderia ter feito um plano desse.
— Então por que não fez, senhor general? — pergunto piscando os olhos inocentemente.
— Sou mais prático do que teórico — ele admite coçando a cabeça envergonhado.
— De qualquer maneira, aqui está a lista dos convidados, acabei de conseguir com Flora.
— Conhece a Flora? — ele pergunta e percebo que seus olhos brilham.
O amor correspondido é tão lindo…
— Acabamos de nos conhecer, ela falou sobre você.
— O que ela falou sobre mim? — ele pergunta visivelmente interessado.
— Isso não vem ao caso, tenha um bom dia, general.
Viro as costas e saio nadando rápido, deixando o general curioso para saber o que Flora havia dito sobre ele. Encare isso como minha vingança general, penso.
Nado até meu quarto para estudar um pouco sobre "como trazer uma sereia de volta à vida" — confesso que na maior parte do tempo me esqueço do real motivo de estar aqui no palácio — no entanto, assim que adentro o cômodo quase caio desfalecida com o susto. Darvin estava deitado em minha cama, pleno, com um livro em mãos.
— O que raios você está fazendo aqui? — grito com a mão no coração, tentando acalmar as batidas.
— Finalmente! — ele joga os braços pro alto e se levanta rapidamente.
— Darvin você quer me matar de susto? Pensei que fosse o assassino! — falo indignada.
— Eu sinto em te decepcionar, mas você tem coisas mais importantes pra se preocupar no momento, queridinha — ele fala sarcástico.
— Como você entrou no meu quarto? Aliás, como você entrou no castelo? — pergunto curiosa.
— Eu tenho os meus métodos — ele fala convencido, empinando o nariz como quem diz "eu consigo o que eu quiser".
— Eu não duvido disso — admito — mas por favor, nunca mais me assuste assim!
— Ora, situações drásticas pedem medidas drásticas! — ele dá de ombros.
— O que quer dizer? — questiono confusa.
— Quero dizer que você está em apuros, menina! E dos grandes, que pode colocar tudo a perder!
— Mas eu estou sempre em apuros! — choramingo indignada — O que foi dessa vez? Não pode ser tão ruim quanto tudo que já passei...
— A verdadeira enviada de Karpata está vindo para o Baile dos Sete Mares! — ele joga as palavras de uma vez só, como se fosse uma grande fofoca.
Arregalo os olhos e descubro, com o susto, que é possível engasgar mesmo respirando debaixo d'água.
— Não pode estar falando sério! — digo as palavras como se fossem uma súplica.
— Eu realmente queria que fosse mentira, mas não é. Por isso vim te avisar assim que soube.
— O que nós faremos agora? — pergunto em desespero.
— Nós? — ele pergunta irônico.
— Sim, nós! Você vai me ajudar, não vai? — suplico.
— Ficou maluca? Quero ficar longe dos seus rolos — ele fala encarando as próprias unhas, despreocupado.
— Por favor, Darvin! Eu preciso da sua ajuda! — imploro — Eu fico te devendo um favor!
— Um só não, vários. Com esse já vai ser uns três, e contando — ele tira os olhos das unhas e me encara como um homem de negócios fechando uma parceria.
— Qualquer coisa pra você me ajudar a sair dessa!
— Bem, só existe uma forma de impedi-la de chegar aqui, e já te adianto que não vai ser fácil.
Ele se senta na minha cama e dá duas palmadinhas no lugar ao lado dele para que eu me sente também. Obedeço e aguço os ouvidos para ouvir atentamente cada palavra que ele disser.
— Karpata é um dos reinos mais distantes daqui de Maresia, portanto, a enviada já está à caminho daqui, a viagem leva cerca de três a quatro dias. Nossa melhor alternativa para impedi-la de chegar até aqui, é sequestrando-a.
— Sequestrar ela? — grito arregalando os olhos — ficou maluco? Perdeu o juízo?
— Se tiver uma ideia melhor, sou todo ouvidos — ele dá de ombros.
— Eu… — fico pensativa por um momento mas nada vêm à minha mente — Tá legal — suspiro derrotada — Você venceu! Afinal, eu já estou na merda mesmo, não pode piorar.
— Se eu fosse você não diria isso tão rapidamente, sempre pode piorar!
— Por que tem que ser tão pessimista?
— Não é pessimismo, é realismo! Especialmente se tratando de você e o seu azar.
— Muito obrigada pela parte em que me toca — reviro os olhos — Mas afinal de contas, como vamos fazer para sequestrá-la? E pior, o que vamos fazer com ela depois do sequestro?
— Não se preocupe, eu já pensei em tudo! Vamos sequestrá-la assim que ela estiver chegando em Maresia. Existe uma faixa de cerca de 20km que marca a divisa do nosso território e do reino vizinho, isto é, Coral. Esses 20km são inabitáveis e desertos, possuem um paredão de cavernas ao redor, que podem facilmente ser utilizadas para esconder alguém, então é nossa única chance de fazer isso sem sermos notados.
— Vamos prendê-la em uma caverna? Não é… escuro demais?
— Quem se importa? É isso ou sua passagem só de ida para a terra do além.
— Como vamos sequestrá-la? — pergunto interessada.
— Muci vai nos ajudar. Ele e seus amigos ficarão responsáveis por apagar os servos da enviada de Karpata, não queremos testemunhas é claro.
— Muci? — arregalo os olhos — o lagosta que me odeia? Por que ele faria isso?
— Ele não odeia você…
Encaro Darvin como quem diz "esse papo não cola" e ele solta um riso divertido.
— Tá legal, ele odeia você! Mas ele não pode negar um pedido meu, então ainda que não queira te ajudar, ele não rejeitaria a minha palavra.
— Então no fim das contas eu estava certa, você me ajudaria de qualquer maneira, mesmo que eu não tivesse te prometido um favor! — falo convencida.
— Então ainda bem que você prometeu antes de se dar conta disso — ele responde piscando com um sorriso maroto no rosto.
— Você é um trapaceiro — falo rindo.
— Só um trapaceiro reconhece o outro, sua trapaceira mirim.
Nós dois rimos juntos do rumo que o diálogo havia tomado.
— É melhor eu ir agora, me encontre na minha casa amanhã à tarde, é mais fácil pra você ir até lá do que eu entrar no palácio sem ser notado. Precisamos deixar o plano todo traçado, não podemos cometer sequer um erro.
— Está bem — concordo — estarei lá.
Darvin vira de costas e sai do meu quarto, deixando-me sozinha e terrivelmente preocupada. Se esse plano não funcionasse, seria definitivamente o meu fim! No entanto, era melhor não pensar sobre isso agora, afinal, eu tinha que me encontrar com Flora no salão de baile para irmos até sua casa conversar sobre… minha suposta e falsa orientação sexual. Por que eu sinto que isso será constrangedor? De qualquer maneira, faltavam apenas 10 minutos e como eu sempre me perco pelos corredores do palácio, é melhor ir logo.
Assim que saio pela porta, dou de cara com Melody vindo em direção ao meu quarto. Ela me lança um sorriso alegre.
— Melody! — saúdo ela — É ótimo encontrar com você logo agora, pode me fazer um favor?
Eu não esperava, mas a aparição repentina dela veio a calhar.
— Mas é claro, senhorita! — ela parecia até feliz com o pedido — Em quê posso te ajudar?
— Bem, eu estou de saída para a casa de Flora, a organizadora de eventos do palácio, caso o rei pergunte por mim, pode dizer a ele onde estou?
— A senhorita… Vai para a casa de Flora? — Melody parecia surpresa, suas sobrancelhas arquearam, seu tom de voz havia mudado e seu rosto perdeu a cor.
— Sim, algum problema? — pergunto desconfiada.
— Não! É claro que não! — ela responde parecendo se recuperar — Divirta-se! — ela tenta sorrir para mim, mas percebo que ainda está tensa.
— Melody, me diz o que está te incomodando — peço.
Ela parece relutante, como se estivesse em uma luta interna, mas no fim parece decidir me falar.
— É só que… Tome cuidado, por favor, eu não confio nela — ela fala com a cabeça baixa.
— Por que não? — questiono.
Melody suspira e então me olha nos olhos.
— Existem alguns rumores… De que ela e a irmã mataram os próprios pais…
— Elas o O QUÊ? — grito assustada — elas o quê? — sussurro dessa vez.
Melody apenas sacode a cabeça afirmativamente.
— Qual o problema com esse lugar? Por que tudo tem que envolver morte? A vida é tão mais bonita, a paz… — falo inconformada.
— Por favor, não conte a ninguém o que eu acabei de te dizer, eu poderia ser demitida por isso. Só te contei pra que você tomasse cuidado, sabe que gosto muito de sua amizade.
— Eu não contarei a ninguém — afirmo para Melody segurando em suas mãos, confidente — Obrigada por me avisar, Melody — agradeço.
— Avisarei ao rei sobre sua saída, boa sorte — ela sorri para mim e se afasta indo embora.
Dou meia volta indo em direção ao salão de bailes pensando sobre as palavras de Melody. Será que os rumores eram reais? Quer dizer, também ouvi rumores horríveis sobre Ash e nenhum deles me parece ser real, não consigo imaginá-lo matando alguém. Da mesma forma, Flora também não me parece ser esse tipo de sereia, quer dizer, ela parece ser várias coisas inconvenientes, mas assassina não é uma delas. Mas Melody também não teria porque mentir sobre isso…
Mais uma vez eu estava dividida entre dois pensamentos, será que eu deveria mesmo ir até à casa de Flora? E se ela for a assassina? Não… Ela não teria motivos para me matar. Além disso, eu é quem fui procurá-la primeiro, se ela tivesse interesse em me matar, não esperaria eu procurá-la pra isso. Solto um riso divertido ao avistar Flora no salão de baile ainda dando ordens. Olha só pra ela! Jamais teria coragem de matar alguém com esse jeito de quem adora arte e decoração, definitivamente os rumores são infundados.
— Hey, estou aqui — falo sorrindo e me aproximando.
— Você chegou! — ela sorri animada e me abraça — Eu estava apenas te esperando.
Ela se vira para os criados que obedeciam suas ordens e usa um tom de voz mais mandão para falar.
— Muito bem, pessoal, por hoje é só! Aguardo vocês aqui amanhã no horário de sempre, estamos em uma corrida contra o tempo! Estão liberados agora!
Ela se vira novamente para mim e entrelaça nossos braços.
— Então vamos indo, minha irmã já deve estar nos esperando!
Com isso, ela me arrasta alegremente para fora do castelo. Só espero que toda essa alegria não seja por estar levando uma nova vítima para sua casa…
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