Capítulo 10 - Um grito desconhecido
(1573 palavras)
FELICITY
Após minha conversa com o rei sobre o livro misterioso, dois dias atrás, simplesmente não trocamos mais nenhuma palavra, ele parecia ocupado demais e também preocupado demais. Decidi que precisava fazer algo para ajudá-lo a encontrar o assassino e nada melhor do que espionar suspeitos para chegar até o dono do crime. Apesar de ter dito ao rei anteriormente que não queria me envolver neste assunto, era inegável que tínhamos um suspeito vital e que minha curiosidade aguçada iria vencer a guerra contra a sensatez. Com essa deixa, acredito que saibam exatamente quem será o primeiro alvo da minha espionagem... Sim! O maldito bonitão Caden. Não posso deixar que um rostinho bonito altere meu julgamento, preciso focar no fato de que ele é um baita suspeito.
Mas é claro que eu precisava aumentar minha lista de suspeitos, apesar de tudo, mesmo que tenha sido Caden, talvez ele não esteja sozinho nessa...
Nado até a biblioteca em busca de mais respostas, afinal, não existe lugar melhor para pensar do que um ambiente calmo, livre de ruídos e com cheirinho de livros. Tudo o que eu mais queria era descobrir logo quem é esse assassino, tenho zero paciência para ficar juntando peças de um quebra-cabeça a fim de encontrar um culpado. Infelizmente, a resposta parecia tão distante que apenas encostei minha cabeça sobre a mesa que ficava no centro da biblioteca e me permiti respirar por alguns minutos enquanto a preguiça de fazer qualquer coisa me consumia.
Como era possível que a minha vida havia virado de cabeça pra baixo em tão pouco tempo? Não que minha vida sempre tivesse caminhado com os dois pés, na verdade, sempre achei que eu vivia plantando bananeira, mas agora... É inexplicável o quanto eu perdi o controle do barco.
Quando meus olhos ameaçam se fechar com um sono inesperado, sinto uma presença se aproximando de mim. Meu coração dá um salto com medo de que fosse o assassino e meu corpo decide imitar essa atitude, fazendo com que eu pule da cadeira imediatamente, preparada para lutar. Eu com certeza não iria me entregar sem lutar! Cerro os punhos e em posição de ataque me viro rapidamente para a sombra se aproximando atrás de mim.
— Bom dia senhorita Felicity, sabia que a encontraria aqui! — Melody me saúda com um sorriso doce.
— Melody! — desfaço a posição de luta rapidamente e dou um sorriso amarelo — Nossa como é bom vê-la aqui! — digo aliviada.
— Mesmo? — ela pergunta confusa — O que houve? Você parece assustada.
— Assustada? Não, não, imagina! — solto um riso nervoso — Mas então o que faz aqui Melody? — mudo de assunto.
— Só vim averiguar se você está precisando de algo — ela sorri.
— Oh! Obrigada pela preocupação Melody, você realmente é muito atenciosa. No momento a única coisa que preciso são pistas.
— Pistas?
— Sim, para encontrar o assassino que está à solta.
Melody arregala os olhos e parece assustada com a minha declaração.
— Mas senhorita, isso não é o trabalho de uma dama! É muito perigoso!
— O meu sobrenome é perigo Melody, já fiz isso milhares de vezes — declaro calmamente.
Engraçado como a mentira se tornou uma parte de mim, será que ainda existe um lugar no céu pra eu morar?
— E como a senhorita pretende descobrir isso? — ela pergunta curiosa.
— Eu ainda não cheguei nessa parte — constato desanimadamente.
— Bom, que tal não se preocupar com isso agora e começar a pensar em como irá para o baile daqui uma semana? — ela questiona animada.
— Baile? Que baile?
— Você não está sabendo? Daqui uma semana teremos a maior festa que esse fundo do mar já presenciou, a Festa dos Sete Mares! É um evento anual que reúne seres de todas as partes do oceano, criaturas residentes desde o Mar Mediterrâneo até o Mar da Arábia.
Dá pra imaginar que realmente existe algo assim? Claro que sinto-me animada com a ideia, mas ao mesmo tempo um mau pressentimento se apossa de mim e não gosto dessa sensação.
— Então isso significa que também virão diversos nobres de outras partes do mar? — pergunto.
— Mas é claro! Dá pra imaginar? Sendo a enviada de Karpata, a senhorita pode até mesmo encontrar um pretendente de sangue azul para se casar! Isso seria tão romântico! — ela suspira romanticamente.
— Com certeza não estou interessada em me casar com ninguém daqui! — solto um riso divertido.
Onde já se viu uma humana se casar com um peixe? Ai ai que ideia mirabolante! Melody me encara confusa.
— Como assim não está interessada em casar com ninguém daqui? — ela pergunta.
— Ér... Quis dizer que você está certa, não quero casar com ninguém daqui do palácio, então é uma boa oportunidade conhecer todos os "tritões magia" que virão na festa — sorrio.
— Excelente! Você precisa ver os novos acessórios para caudas que chegaram às lojas, vão ficar perfeitos em você! Que dia podemos ir?
— Ahn... Bem, eu não tenho como comprá-los...
— Você poderia pedir um adiantamento do seu salário para o rei — ela dá de ombros.
— Escuta Melody, que tipo de... pagamento vocês usam por aqui?
— O que quer dizer?
— Qual... moeda vocês utilizam?
— Ora, nós usamos Libras Marinhas! Como não sabia disso? — ela pergunta desconfiada.
— Bom, como você sabe, cheguei aqui há pouco tempo e temos uma moeda própria em Karpalândia...
— Oh sim! Eu não fazia ideia disso! Minha senhorita, pode me dizer como é Karpalândia? É tão lindo como penso que é? — ela questiona ansiosa.
— É bem... Cheio de água e... peixes! Também temos corais e tudo aquilo que você já sabe... Enfim, vou conversar com o rei sobre o meu salário e te aviso para irmos à loja!
Saio rapidamente da biblioteca e vou em direção ao escritório real, onde sei que encontrarei o rei, afinal, ele têm ficado praticamente o dia todo lá nos últimos dois dias. Suspiro exasperada sem saber ao certo o que fazer. O mar estava em uma tremenda agitação, pois agora além do fato de um ser ter sido brutalmente assassinado, ainda temos essa grande e tradicional festa anual sendo organizada.
Dou duas batidas na porta do escritório e ouço a voz do rei me dizer para entrar. Entro fechando a porta atrás de mim e observo enquanto ele escreve algumas coisas em sua mesa e sequer ergue os olhos para mim.
— Algum problema, Felicity? — ele pergunta concentrado nos papéis.
— Como sabia que era eu? — pergunto curiosa.
— É a única que interrompe meus afazeres logo no início do dia.
— Bem, eu... Espero não estar interrompendo demais... — sorrio.
— Espero que seja algo importante.
Finalmente ele tira os olhos do que estava fazendo e direciona o olhar para mim. A intensidade de seus olhos sobre mim fazem meu coração acelerar instantaneamente e o ar ficar preso em minhas narinas. Ou melhor, a água fica presa... Qual o problema comigo?
— Pensando bem... É melhor eu voltar em outro momento! — falo virando de costas para sair.
— Apenas diga o que quer, Felicity — ele pede educadamente.
Dou meia volta e digo:
— É que na verdade não é algo muito importante — falo sem graça.
— Apenas vá em frente e peça — ele fala cruzando os braços — o que você está aprontando agora?
— Só queria saber se pode adiantar o meu salário, Melody disse que vai acontecer uma festa e que é uma boa ideia comprar acessórios para estar bonita.
— Acessórios de cauda? — ele questiona parecendo levemente divertido.
Não acredito que aquilo era a sombra de um sorriso, ele estava realmente quase sorrindo para mim!
— É coisa de mulher sabe — solto um riso — ela acha que assim talvez eu consiga um pretendente durante o baile.
— Um pretendente? — ele arqueia suas sobrancelhas parecendo surpreso — Não sabia que estava procurando um casamento.
— Eu não estou! — respondo rapidamente, por algum motivo sentindo uma extrema necessidade de me explicar — É tudo ideia da Melody, eu só não quis desapontá-la, ela ficou tão animada com a ideia e...
— Está tudo bem, Felicity. Eu não tenho nada a ver com a sua vida romântica e pessoal. Mandarei alguém levar seu pagamento em alguns minutos. Precisa de mais alguma coisa? — ele pergunta, desta vez, em tom seco.
Esse ser definitivamente era bipolar, como pode mudar de humor de um segundo para o outro? Sinto meu semblante se decair automaticamente.
— Não, seu rei — respondo cabisbaixa.
— Então se puder me dar licença — ele fala apontando para a porta.
Nossa, mas que mau humor! O que foi que eu fiz de errado? Se soubesse nem teria pedido adiantamento de salário, deve ter sido isso que o deixou bravo, certeza que é mão de vaca! Saio de seu escritório sentindo-me extremamente revoltada, a vontade era de voltar e falar umas poucas e boas, mas como sou uma pessoa equilibrada, resolvi me abster. Além do mais, eu precisava focar na minha busca por suspeitos, isso sim!
Começo a nadar em direção ao meu quarto, mas um grito alto e estridente vindo da direção do pátio exterior do palácio, me faz parar petrificada e um arrepio percorrer todo o meu corpo.
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