• Radioativos - O Jogo Sangrento, de Jullia Araújo

        • Título: Radioativos - O Jogo Sangrento
        • Autora: Jullia Araújo (RainhaTargaryen)
        • Gênero: Ficção Científica

     Em um futuro distante, onde grandes guerras intensificaram as desigualdades humanas ao ponto de haver o surgimento de raças, Aysha é uma jovem pertencente aos Radioativos, uma raça de pobres, na base da pirâmide social, que são encarregadas de limpar a atmosfera terrestre das toxinas despejadas durante as antigas batalhas. Inconformada com as injustiças sofridas pelos seus semelhantes, Aysha percebe sua vida ser totalmente transformada após ter sua morte decretada por seus superiores. O mundo não é o que parece, e ela logo entenderá que só há uma forma de destruir a ditadura da raça Celeste: se infiltrando na sociedade dos inimigos e iniciando a revolução de dentro. Essa é a premissa de Radioativos - O Jogo Sangrento, primeiro livro de uma série de ficção científica trazida ao wattpad por Jullia Araújo. 

     Com uma sinopse interessante, capaz de atrair os leitores apaixonados por distopia, nos aventuramos na história com a curiosidade nas alturas, ávidos por desvendar os mistérios deste novo mundo. Já nos primeiros capítulos — sem muitos rodeios e até apressadamente demais, eu diria —, as coisas são explicadas. Ficamos, então, a par das nuances deste universo, que, rico em detalhes, tem elementos o bastante para justificar a necessidade de uma série de livros. É também no início que percebemos o tom juvenil da narração, que logo deixa claro o público-alvo para o qual a obra é direcionada. Jullia entrega aqui um bom texto; usa do coloquialismo, mas mantém uma formalidade que funciona bem em certos momentos — quando é usada em falas de personagens celestes, por exemplo —, mas que destoa de alguns personagens — os radioativos, que podemos considerar que são escravos e, pela lógica, detém pouco conhecimento formal. Um elemento textual interessante, por sua vez, são as diversas expressões em latim salpicadas pelo texto, que remetem à forte influência das culturas antigas nesta nova sociedade. 

     Com o passar dos capítulos, após a contextualização do drama da protagonista e da sua infiltração dentro da sociedade celeste, a história parece finalmente chegar ao seu real ponto de partida: um torneio sangrento, onde jovens celestes lutam até a morte para que apenas os melhores possam ascender. Vemos aqui, então, uma quebra na narrativa, que dá a sensação de uma história de aspecto heterogêneo. Não que a introdução não seja coerente ao desenvolvimento; acredito que o problema está em como a história foi contada, algo que vai além do planejamento de enredo e entra em aspectos de construção da narração. Uma forma de contornar essa sensação, a meu ver, seria transformar o primeiro ato em flashbacks, que se distribuiriam pela história, de forma a entregar o contexto da personagem para o leitor aos poucos, em doses homeopáticas. Isso faria com que a narração se tornasse uma única unidade, o torneio não ficaria avulso em meio a forte ficção científica biopunk dos primeiros capítulos. 

     Ao chegarmos no desenrolar do torneio, torna-se impossível não fazer uma comparação da história com outras distopias que ganharam força na atualidade. Alguns aspectos da trama lembram vagamente séries de tv como The 100, e o torneio como um todo, a livros como Jogos Vorazes. Isso acaba por intensificar a sensação de quebra já mencionada, pois faz com que a história saia de uma introdução cheia de elementos originais, com uma criação de universo bastante rica, e caia na linha do que já podemos considerar clichês do gênero. 

    A narração em 1° pessoa ajuda em certos instantes, mas atrapalha em outros. Como ponto positivo, vemos uma boa construção de personagem. Somos entregues à mente de Aysha e conseguimos entender bem todos os dilemas pelos quais ela passa. Tal característica se torna ainda mais interessante quando uma paixão proibida começa a assombrar nossa protagonista, e todos os seus medos e sua raiva por seu povo escravizado entra em choque com sentimentos inconvenientes. Por outro lado, a extrema exposição natural de uma narração em 1° pessoa também denuncia fragilidades na construção dos personagens; tanto em Aysha, que em certo momento se entrega fácil demais a paixão — fazendo com que a ação da personagem não seja coerente com seu fluxo de pensamento —, como também para os coadjuvantes, que são deixados de lado e ganham pouco destaque. 

    O terceiro ato, repleto de ação, não deixa de agradar pela tensão criada e pela apreensão do risco cada vez maior da nossa protagonista ser descoberta. Apesar disso, por todo o torneio não conseguir ter a mesma originalidade que a introdução, o seu desfecho também não consegue fugir de perder um pouco da empolgação. O final só não se torna totalmente morno devido ao último capítulo, que, fazendo muito bem o gancho para o segundo livro, é capaz de nos convencer a nos aventurar mais a fundo no mundo de Jullia Araújo. Com o fim do torneio, a trama parece amadurecer o conceito inicial, trazendo a promessa de retomar nos futuros livros a originalidade que provamos nos primeiros capítulos do livro de estreia. 

    Uma história de altos e baixos, Radioativos - O Jogo Sangrento não entrega nada de muito novo à ficção científica. No entanto, longe de ser uma leitura ruim, a obra pode sim agradar os amantes de distopia, principalmente os mais jovens, que se identificam com o traço de romance juvenil nela presente. Os deslizes acontecem em muitos campos da obra, porém todos os aqui apontados são passíveis de revisão. E com um final que instiga o leitor a prosseguir, as continuações podem ser grandes achados dentro da plataforma. Só há uma maneira de descobrirmos se as nossas expectativas serão atendidas: prosseguindo com a leitura. 

Nota: 8,0

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