• O Segredo dos Ascendentes - Lemniscata, de Ed Wiick Washington
• Título: O Segredo dos Ascendentes - Lemniscata
• Autor: Ed Wiick Washington (EDWiickWash)
• Gênero: Fantasia
Recheado com todos os elementos marcantes do gênero, O Segredo dos Ascendentes - Lemniscata é o livro de abertura do que aparenta ser uma série de fantasia gótica juvenil. Na obra, conhecemos a história de Angel, uma jovem com problemas psiquiátricos, que não raramente se vê perseguida e sendo atacada por estranhos. Sua vida muda totalmente quando, em um verão, as entidades que antes habitavam o mundo dos seus sonhos começam a fazer parte do seu dia-a-dia.
Fisgado pela boa premissa — apesar da capa simples demais jogar contra —, encarei de frente essa aventura de místicos 33 capítulos. O prólogo ágil dá o tom obscuro da fantasia já de início e consegue atiçar a nossa curiosidade para os capítulos seguintes.
É após o prólogo, no entanto, que conhecemos os verdadeiros personagens e, também, o real texto de Washington. A narração em primeira pessoa traz um tom teen interessante a narrativa, mas que por muitas vezes escorrega, deixando perceptível que o forte coloquialismo está além de uma mera caracterização e é também uma imaturidade do texto — o que é natural, esperado até certo ponto e pode ser relativizado durante a leitura. As evidências desses deslizes estão no uso exagerado de vírgulas, no caminho um tanto bobo que, em alguns instantes, as falas percorrem e nos erros gramaticais comuns de um primeiro rascunho. Tudo aqui pode ser facilmente consertado com uma revisão e não chega a afetar de maneira tão negativa a experiência de leitura.
Com o desenvolvimento da história, outras falhas ganham força e passam a incomodar mais. Considerei o primeiro ato da obra muito longo. O autor perde tempo dando destaque a um drama familiar que não tem grande influência nos acontecimentos que realmente importam. O problema não está em mostrar a realidade familiar da nossa protagonista, até porque isso é essencial para dar profundidade à personagem, mas sim em quanto tempo é gasto nisso. São cerca de 18 capítulos até a Angel iniciar a verdadeira aventura.
A abordagem da dependência química como um dos principais problemas familiares da protagonista também merece a nossa atenção. Ao fazer com que cada familiar tenha uma tipo de dependência — remédios (mãe), álcool (pai) e alucinógenos (irmão) —, o autor é obrigado a gastar muito tempo com isso no primeiro ato, estendendo-o. Isso resulta em uma perda de parte do impacto dramático do tema. Uma boa opção, a meu ver, seria restringir a problemática apenas à mãe, pois a dependência medicamentosa se daria como um jeito dela lidar com a sobrenaturalidade da Angel, dando, assim, profundidade ao relacionamento conturbado entre mãe e filha.
Washington também usa de algumas táticas narrativas preguiçosas, tornando tudo muito conveniente para a trama chegar onde ele quer. Um exemplo disso está na forma como a protagonista se torna cega para acontecimentos claramente suspeitos, ignorando atitudes, aproximações de pessoas duvidosas, naturalizando eventos com muita facilidade. Angel aceita partir em uma busca por respostas com pessoas que pouco conhece, mesmo sabendo que parte dessas respostas poderia ser dada por essas próprias pessoas. O mais natural seria ela pedir o máximo de informações antes de encarar o desconhecido; e se abalar mais ao ter perguntas respondidas.
Analisando a construção de personagens, também podemos notar o uso de alguns estereótipos. Marcy, melhor amiga de Angel, conseguiu me tirar diversas reviradas de olho com as suas falas inconvenientes, que, na maioria das vezes, soavam como fora do tom geral da história. O que era para ser um alívio cômico, tornou-se algo que me tirava a imersão. Marcy é constantemente descrita como uma pessoa narcisista, mas na verdade o que vemos é uma personagem fútil. Os demais jovens são aproveitados de maneira superficial e muito disso é consequência da quantidade significativa de personagens. Entre eles, Arael consegue se sobressair como alguém promissor para um melhor desenvolvimento.
No desfecho, o autor consegue se sair bem em alguns momentos, como quando a nossa protagonista entende o seu passado e descobre quem realmente é, dando sentido para os sonhos e alucinações que a perseguem. Apesar disso, ao tentar mostrar um pouco de cada personagem, toda o grande momento final me pareceu sem foco. As mortes vêm bruscamente, com o único objetivo de chocar o leitor e acabam não surtindo o efeito esperado. Aqui, também fica perceptível o quanto Angel foi uma protagonista passiva do início ao fim, sendo incumbida apenas de receber as informações, enquanto era caçada por uns e protegida por outros. Uma protagonista que não se tornou dona de sua história. A cena final, por outro lado, é bonita, representativa e se sai bem ao enfatizar o vínculo estabelecido entre Angel e Arael.
Em suma, são muitos os pontos a serem melhorados, porém o fato de serem passíveis de melhoria já é uma coisa boa. A premissa é interessante, os elementos mágicos possuem um certo diferencial e compensa investir no aprimoramento deste enredo. O Segredo dos Ascendentes - Lemniscata sofre pelo excesso de ideias. Se o plano é fazer uma série de livros, muitas das informações de personagens coadjuvantes poderiam ter ficado para depois, deixando para o primeiro livro a missão de apresentar com segurança a história principal, focando no desenvolvimento de personagem e se apoiando na sistema de magia criado. O primeiro livro é a base para qualquer sequência; e ela precisa ser sólida.
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Nota: 7,2
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