• O Mundo Particular de Olivier, de Lipstter

        Título: O Mundo Particular de Olivier
        Autor: Lipstter ( lipstter )
        Gênero: Terror

    O Mundo Particular de Olivier é um conto de capítulo único, que narra uma curta passagem de um fluxo mental do personagem que dá nome à obra, Olivier.

    Com uma capa misteriosa e uma sinopse que também não revela muita coisa sobre a aventura que aguarda o leitor, o conto se inicia com uma epígrafe - bonita - que segue a mesma linha da sinopse, restando ao conto a tarefa de se auto-apresentar. No entanto o mistério só se mantém até desbravarmos os primeiros parágrafos. Logo somos jogados de cabeça na estranheza que o conto quer passar, típica de narrativas que abordam o mundo dos sonhos e pesadelos. Lipstter consegue alcançar de forma satisfatória a sua intenção ao usar de uma premissa que por si só já é metafórica, construindo uma atmosfera soturna, com acontecimentos que são descritos com a finalidade de tirar do leitor a sensação de realidade; um ambiente onde tudo pode acontecer.

    No entanto, o conto perde a oportunidade de abordar com mais afinco os aspectos psicológicos do personagem, enquanto se prende muito à ação. Como o leitor tem quase certeza de que os fatos narrados são apenas no âmbito mental, não há muito o que se preocupar com a integridade física do personagem, apesar do texto querer passar a sensação de perigo. Uma detalhamento das emoções, das angústias, de algumas memórias, talvez, que remetessem aos monstros e sombras que vão surgindo, seriam coisas que caminhariam a favor da mensagem passada.

    As falas também são um ponto de quebra de imersão durante a leitura. Como o personagem está sozinho em cena, os pensamentos dele não precisariam ser expressos verbalmente. Isso, inclusive, ajudaria na questão levantada anteriormente, da abordagem psicológica.

    No quesito gramatical, o texto possui poucos deslizes. Porém, um em específico salta aos olhos: o uso indiscriminado de conectivos. O autor parece ter medo de que sua história não seja minimamente entendida, ou que a sequência narrativa não esteja bem amarrada. Esse costuma ser um medo comum de escritores e, na maioria das vezes, leva a problemas de excesso, como o que vemos aqui. Um medo perigoso, que não deve ser desconsiderado, mas que precisa ser racionalizado para que o texto flua.

    O desfecho é coerente a proposta, no entanto me pareceu chegar cedo demais. Não há nenhum tipo de mudança de comportamento ou de pensamento do personagem, nem uma elucidação do significado de nenhuma das entidades que surgem para assombrá-lo. O encerramento acontece sem que o fim justifique os meios, nem os meios, o fim. Classifico, então, O Mundo Particular de Olivier como um conto de ideia simples, que vai direito ao ponto, e faz apenas o necessário para transmitir a sua mensagem. Não é uma leitura ruim; no entanto, um aprofundamento no que desencadeia as imagens na mente do personagem se mostrou essencial para que a obra ganhasse um tom mais intimista e fizesse da experiência algo mais marcante.

    No fim do conto, o escritor deixou de forma imprudente uma breve mensagem explicitando a ideia central, como quem explica uma piada. Uma coisa que parece inocente à primeira vista, mas que não é recomendada por ser capaz de tirar parte da reflexão pessoal que cada leitor pode fazer sobre o texto que acabou de ler. Ainda mais se tratando de uma obra que, apesar de tão curta, tem pretensões profundas.

Nota: 8,0

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