Título: O Inventor do Tempo
        Autor: Leonardo Andrade ( LeonardoMCA )
        Gênero: Ficção Científica

    O Inventor do Tempo nos apresenta um mundo fictício onde a viagem no tempo não só foi descoberta, como também é usada de forma consciente por um grupo de pessoas, o Comitê das Relações Temporais, que trabalham para que os acontecimentos históricos aconteçam sem que nada atrapalhe. Em uma missão importantíssima, dois de seus agentes são enviados ao passado para resgatar um importante quadro supostamente amaldiçoado. No entanto, eles não são os únicos de olho no tesouro guardado na obra de arte. 

    Partindo do início, considero a capa desta história uma das mais bonitas que eu já encontrei aqui no Wattpad, servindo muito bem de apresentação para o texto que veio a seguir. Acontece que, assim como o capricho pela capa, o texto em si também possui um nível de acabamento louvável. A estética é, por diversos motivos — compreensíveis, até certo ponto —, um ponto pouco trabalhado pelos autores da plataforma. Mas não neste conto. O estilismo e o capricho escapa da arte da capa e adentra a narrativa. Leonardo Andrade dá a sua história um tom original ao fazer uso de neologismos e termos pouco ouvidos no dia-a-dia, sem parecer rebuscado demais ou arcaico. 

    O autor não se prende aos rótulos do gênero. Escolheu fazer uma abordagem lúdica do elementos de ficção científica, o que me fez várias vezes me perguntar se o que eu lia não era na verdade uma fantasia. O universo criado é mágico, mesmo que trate de conceitos e teorias sobre viagem no tempo. Contudo, a questão é que isso não chega a importar muito no fim, já que a própria história faz questão de brincar com a linha tênue entre esses dois gêneros. 

    Os personagens são apresentados de forma natural, enquanto o enredo se desenvolve num ritmo prazeroso de ler. Temos, aqui, o ponto alto da obra: personagens carismáticos, que, consequentemente, trazem diálogos fluidos e um grau de imersão na leitura que também surpreende. Há, meio a tudo isso, um tato em abordar as problemáticas nas quais os personagens estão envolvidos, o que atraiu positivamente minha atenção. Representatividade e luto são tratados com olhar sensível e aprazível, fortalecendo a impressão de estarmos diante de um trabalho bem lapidado. 

    O clímax não é tão acentuado, mas considero que isso ocorre devido a agilidade em que a obra como um todo se desenvolve. Os capítulos curtos, além de serem favoráveis a uma leitura menos cansativa, ajudam na definição da velocidade do texto. Os elementos vão surgindo aos poucos, em um desenvolvimento linear, fazendo com que, no final, a história já esteja bem clara para o leitor. Não há grandes reviravoltas, nem revelações estasiantes, o que não é necessariamente um ponto negativo — a não ser que o leitor anseie por um desfecho recheado de plot twists. 

    O final é bem aberto, com pouca coisa solucionada, o que faz da continuação algo imprescindível para a satisfação plena do leitor. Um final aberto também não é um problema por si só; no entanto, em O Inventor do Tempo, o texto soou como uma apresentação de uma aventura maior. Ou seja, a obra se assemelha  muito ao primeiro ato de um romance, ao invés de um conto. A dúvida que fica após a leitura do epílogo é: estamos realmente diante de um epílogo? Não seria apenas um capítulo de inserção da nova realidade para um dos protagonistas? São questões que, assim como quase tudo aqui, só serão respondidas após a publicação do próximo conto — do segundo ato. Tudo vai depender do ponto de partida que será adotado pelo escritor. 

    No geral, o conto pode ser avaliado como um belo trabalho, com  deslizes superficiais que são incapazes de ofuscar os diversos acertos. É o tipo de obra que leva a produção no Wattpad para um patamar que não estamos acostumados, servindo, a meu ver, como um exemplo a ser seguido em diversos quesitos.  

Nota: 9,6