• O Garoto Que Bebeu A Lua, de Wesley Souza

        • Título: O Garoto Que Bebeu A Lua
        • Autor: Wesley Souza (Wes_Souza)
        • Gênero: Fantasia

    Em uma fantasia de 06 capítulos, O Garoto Que Bebeu A Lua nos traz a emocionante trajetória de Daich, um rapaz inconformado com a iminência de uma vida monótona de lenhador, que descobre poder enxergar um astro há muito desaparecido do céu: a Lua. Imerso nas magia desse encontro, Daich terá que escolher entre seguir a tradição de sua família ou se entregar a um futuro incerto e repleto de sonhos.

    Diante de uma capa sóbria demais para a proposta, mas que vem acompanhada de uma sinopse que consegue atiçar a nossa curiosidade, me aventurei no conto esperando encontrar pela frente uma história intimista, focada nos dilemas internos do personagem e em possíveis dramas familiares reais. No entanto, fugindo das minhas expectativas, a obra não tarda em nos jogar em um mundo repleto de magia, no qual o misticismo ganha força e está enraizado em cada cena que assistimos, por mais simples que os acontecimentos possam parecer. Logo, nos deparamos com uma trama cheia de referências sutis ao folclore indígena, que surgem não apenas no tema, mas na forma como o conflito se estabelece e se desenvolve.

    Souza usa a premissa pouco floreada para construir um personagem principal que, de tão comum, acaba se tornando alguém que nos desperta simpatia. Daich sofre com os mesmos anseios de qualquer jovem. Tem medo de decepcionar a família, em contrapartida também não se sente confortável com a ideia de seguir o caminho de todos os homens de seu vilarejo. E para fugir de um destino alheio a sua escolha, se apega a uma ideia plantada em seu subconsciente enquanto ainda criança. O conto tira vantagem das metáforas que podem ser extraídas e entendidas de diferentes maneiras, deixando que o leitor faça as associações com o mundo real como bem entender e dê à personagem Lua o significado que melhor lhe couber.

    Outro detalhe que consegue agradar são as construções das frases, a escolha das palavras, que faz, durante toda a obra,  a manutenção do clima místico e de certa forma interiorano. O autor dá ênfase a coisas do cotidiano nas comparações e metáforas que são feitas; das espécies de árvores talhadas pelos lenhadores, ao modo de convívio da família e do vilarejo como um todo. Todos os exemplos tem um sabor leve de regionalismo brasileiro, que tira proveito do ar de lenda folclórica que o conto possui. Alguns elementos, todavia, destoam um pouco desse belo conceito — a rápida referência sobre neve, por exemplo — fato que me deixou em dúvida se os pontos que me agradaram foram realmente feitos de forma consciente pelo autor ou se partiram da minha interpretação. Para fazer esta resenha, resolvi acreditar na melhor das hipótese.

    O último capítulo, sem dúvidas, é a melhor parte da obra. Não chega a ser um plot twist, pois os indícios do que aconteceria estavam salpicados durante a leitura. A própria estrutura que remonta aos mitos indígenas nos leva a esperar um desfecho semelhante ao que acontece — o que é algo bom, pois traz coerência e não decepciona. Carregado de melancolia, os momentos finais dão a todo a percurso um encerramento que intensifica as reflexões e deixa um gosto bom depois do último parágrafo. O Garoto Que Bebeu A Lua é, então, uma boa obra para passar o tempo e se deixar levar pelos diversos elementos que pincelam a sua narrativa. Um conto que segue a sua proposta sem sair dos trilhos e que convence tanto pelo bom texto, quanto pelo enredo. Que nos mostra a importância de sonhar, mas que também nos liga às nossas raízes e coloca nossos pés no chão.

Nota: 9,1

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