• Título: Da Cor do Urucum
        • Autora: Rayane Pazini (RayanePazini)
        • Gênero: Ficção Adolescente

     Podendo muito bem ser definida como um recorte da cultura mato-grossense, Da Cor do Urucum é uma novela de ficção adolescente que aborda um pouco de uma das muitas realidades vividas no interior do Brasil. Em seus breves 20 capítulos, conhecemos a história de Niara, uma jovem descendente da comunidade indígena Terena, que sente na pela a dualidade entre suas tradições e a vida da cidade de Bonito. Chegando ao 15° aniversário, Niara descobrirá que ainda desconhece muitos dos segredos da vida: um grande amor se aproxima, assim como estranhos acontecimentos místicos. 

     Descrita pela própria autora como uma obra de realismo fantástico, Da Cor do Urucum possui um texto ágil, de capítulos curtos e também parágrafos breves. Com uma linguagem jovem e bastante contemporânea, o texto de Pazini cumpre a missão de conversar com seu público-alvo. Os dilemas adolescentes de Niara trazem universalidade a trama, contrapondo-se de maneira harmônica com o regionalismo da ambientação interiorana. Esse jogo de oposições é o que chama a atenção nos primeiros capítulos; bastante interessante de se ver, é responsável por motivar o seguimento da leitura. 

     Mas se por um lado a oposição de características é favorável, por outro lado, consegui sentir durante a leitura uma certa dificuldade em executar de forma precisa a fusão entre a vida comum de Bonito e os mitos que a história tenta abarcar. Vemos então a ficção adolescente tentando ganhar força, mesmo que a fantasia, que é pouco aproveitada, faça o trabalho inverso e tire um pouco a leitura dos eixos. É como se a história precisasse parar para que a mitologia ganhasse espaço e só fosse verdadeiramente retomada quando os elementos místicos são deixados de escanteio para o prosseguimento do enredo.  

     Em consequência dos capítulos curtos, também percebemos uma estranha ausência de identificação nas trocas dos pontos de vista entre um capítulo e outro. Em alguns instantes, o que poderia ter sido explanado durante a narração, dando nome aos bois e aprofundando na caracterização de personagens, acaba sendo informações deixadas de fora na vã tentativa de produzir um mistério que, ao meu ver, não se justifica. Tais informações, às vezes, estavam dispostas apenas nos lembretes deixados pela autora no fim dos capítulos. 

     Alcançando seus capítulos finais, com a trama se intensificando e o clímax dramático ganhando espaço, nota-se que as relações estabelecidas durante a obra não são 100% saudáveis. Não acredito que isso seja unanimidade entre os leitores — talvez muitos nem perceberão —, mas o fato é que a perpetuação de um forte discurso de rivalidade feminina não passou batido por mim. As personagens femininas são jogadas umas contra as outras do início ao fim, assim como as amizades construídas por elas se baseiam em um jogo de interesses, sendo facilmente desfeitas quando um personagem masculino se torna desejado. A presença de tal elemento é ainda mais crítico pelo fato de ser uma obra para adolescentes, uma faixa etária muito suscetível a esse tipo de comportamento. O grande desfecho consegue reverter um pouco do problema; ainda assim, considero válida a reflexão para uma futura revisão do texto. 

     Com uma ótima capa, um excelente título e um bom enredo, Da Cor de Urucum peca ao tentar fazer a ligação entre a ficção adolescente e a sua sutil fantasia. Talvez o caminho seja dar mais destaque aos elementos fantásticos, fazendo deles parte crucial para o desenvolvimento dos personagens e tendo força narrativa o bastante para mudar os rumos da história. É uma obra que, sem dúvidas, merece ser aplaudida por trazer algo novo pra dentro do Wattpad, fugindo das obviedades do gênero e fisgando o leitor já nos primeiros capítulos. Falta, aqui, uma revisão e uma reflexão sobre a importância a ser dada tanto à personagens, quanto a subtramas, dando ênfase no desenvolvimento dos protagonistas para que o final carregue a carga emocional merecida. 

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Nota: 7,9