• As Aventuras de Ron, de Tatsu

        • Título: As Aventuras de Ron
        • Autor: Tatsu (Tatsujuko)
        • Gênero: Fantasia

     Em uma alta fantasia de capítulos ligeiros, Tatsu nos entrega As Aventuras de Ron, a história de um garoto que gasta seus dias a desbravar um mundo consumido pela magia e comandado por uma bruxa megera, Morgana. Acompanhado de sua amiga, Zara, Ron terá que desvendar os mistérios do seu passado, enquanto luta para salvar sua vida e acabar com os planos ambiciosos dos inimigos que surgirão em seu caminho.

     Com um título direto e uma capa bastante simples, a livro possui como apresentação elementos que revelam muito do que encontramos em seu texto. As Aventuras de Ron pode ser descrita como uma história de dois polos opostos; um obra de características curiosas, que me fizeram refletir um pouco antes da elaboração desta resenha.

     Vemos aqui um enredo muito bem criado. A história parte de um ponto instigante — apesar de já começar um pouco afoita —, se desenvolve com uma quantidade legal de acontecimentos e tem um desfecho que cumpre o seu papel e deixa uma pontinha para a continuação. A sequência de ações está bem estruturada, o que é bom, já que isso é a base para qualquer revisão que venha a ser feita futuramente. O tom infanto-juvenil também é outro quesito que me agradou, apesar de não ser bem trabalhado. Considero que se apegar a esse aspecto nas futuras revisões é um ótimo caminho, pois combina tanto com os personagens, que são crianças, quanto com todo o mundo criado, que é bastante lúdico, com seres dignos das grandes animações.

     A questão maior, então, não está na ideia concebida por Tatsu, mas sim na sua execução. O texto sofre com uma coisa simples, mas inevitável: o autor ainda é jovem, o que faz com que encontremos em sua obra diversos problemas comuns de escritores que estão em pleno processo de amadurecimento e aprimoramento da escrita. Exemplos disso estão na nítida crueza da narrativa, que segue construções bobinhas, diretas e literais demais, com diálogos que muitas vezes repetiam o que já tinha sido exposto pelo narrador. Percebemos traços bem específicos de quem ainda não domina o seu texto, como o uso de palavras em lugares que não condizem com seu real significado, o uso de muitos conectivos de adição — uma sequência infinitas de "e"s —, como também uma alternância no sistema de falas, misturando travessões e aspas numa salada quase caótica. Além disso, temos parágrafos longos demais em certos momentos, que deveriam estar separados, e muito curtos em outros, como se as frases precisassem de um parágrafo só delas. 

     Essa inconstância também é vista na personalidade dos personagens, que em momento algum ficam claras para os leitores. Isso é consequência dos capítulos demasiadamente curtos, os quais possuem um texto condensado que, apesar de ter um cerne interessante, não é bem desenvolvido. A história que encontramos em apenas um capítulo, por exemplo, é o suficiente para a construção de dois ou três capítulos, caso todos os elementos fossem trabalhados no tempo correto. Ter calma na hora de passar para o papel as ideias é essencial, deixando que os personagens respirem, que suas histórias sejam contadas de forma natural. Se é uma grande aventura, precisamos sentir que estamos juntos a eles nessa jornada, que estamos seguindo-os e passando pelos mesmos desafios. As cenas de calmaria são tão importantes quanto as de ação ou as que trazem grandes revelações. É nos detalhes das partes "anti-climáticas" que se desenvolve personalidades e se estabelece a ligação personagem-leitor. 

     Alcançando o terço final, acredito ter encontrado dois desfechos em As Aventuras de Ron. O primeiro veio em meados dos capítulos 20, quando a vilã é derrotada e um novo vilão, ainda mais forte, toma seu lugar. Esse, inclusive, é o desfecho que considerei como o verdadeiro, pois a partir desse momento, da ascensão do segundo vilão até a sua derrota, considero que o que li seja enredo para uma segundo livro. Tudo que veio depois do primeiro final se mostrou ainda mais corrido; uma jornada imensa é narrada muito rapidamente e sem nenhuma vontade de desenvolver cenários. Os personagens que surgem diante de Ron e Zara são jogados e removidos de qualquer jeito, como se só importasse a informação central dos capítulos. Nessa parte, a pressa se intensifica, servindo somente para acentuar todas os deslizes já mencionados acima.

     Evidentemente, a obra não consegue agradar. Tudo que encontramos aqui é bruto demais. No entanto, é perceptível quando estamos diante de alguém que tem talento para a coisa. Tatsu está apenas iniciando sua vida de escritor e, com toda certeza, As Aventuras de Ron deve sofrer intensas revisões até termos um produto de execução boa. É um processo natural, que passa por conhecer melhor a língua portuguesa, se adequar às teorias sobre estrutura narrativa e dar ao seu texto uma personalidade própria, desapegando-se um pouco das suas referências literárias e, principalmente, audiovisuais. Um processo inerente ao fazer literatura, pelo qual todos nós, escritores, passamos ou iremos passar um dia.

Nota: 5,9

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