• Título: Apocrypha
        • Autor: Michel Zimmer (MichelZimmer)
        • Gênero: Fantasia

     Destaque do mês de Junho no perfil oficial ContosLP, Apocrypha é um conto de capítulo único que traz a história de Clive, um rapaz que, sem saber porquê, nem como, se vê dentro de uma loja de conveniências um tanto fora do comum. Regras estranhas lhe são impostas durante a compra e logo ele percebe que há muito mais em jogo do que apenas o seu dinheiro. 

    Apostando todas as suas fichas na construção de um mistério bem elaborado, o autor nos leva para a dentro da cabeça confusa do nosso personagem principal, usando a narração em 1° pessoa como tática. É através da ótica de Clive que, aos poucos, vamos entendendo as regras da loja de conveniências e, assim, embarcamos num enredo excêntrico. A narrativa consegue cativar através das suas peculiaridades. O que nos primeiros parágrafos me pareceu uma viagem quase impossível de comprar, que não teria força o bastante para me convencer, não tarda em nos enlaçar ao produzir curiosidade no leitor. Somos movidos a prosseguir porque, assim como Clive, queremos sair daquele imbróglio, mas não sem antes entender o que tudo aquilo significa. 

    O texto trabalha com um humor sutil, uma ironia que está em como o personagem aceita a situação após em certo momento, movido pelas palavras do balconista — o segundo personagem —, que trata tudo com uma normalidade esquisita, mas divertida. As falas são acertadas. A agilidade e fluidez nelas presente auxiliam na formação do mistério e, principalmente, no desenvolvimento de personagens. Junto a isso, há também algumas construções textuais interessantes, como o uso de alguns verbetes informais, por exemplo, que se mostram úteis para a caracterização do personagem principal e vão dando o tom para os acontecimentos do terço final. 

    Por fim, nenhum dos sucessos citados acima seriam válidos caso nos deparássemos com um desfecho raso, sem impacto ou incoerente. Mais do que apenas dar a impressão geral após o término da leitura, um bom final é o que faz valer os minutos gastos destrinchando os parágrafos de um conto de capítulo único. Ciente disso, o autor nos entrega um encerramento perspicaz e, até certo ponto, inesperado; capaz, inclusive, de me tirar uma risada de surpresa. Todo o mistério é feito de maneira a nos conduzir para a conclusão, fazendo com que as revelações finais sejam a cereja do bolo. 

    Contos de capítulo único, a meu ver, alcançam a seu objetivo quando são capazes, a partir de um recorte aparentemente pequeno, de nos passar a complexidade de um todo muito maior; quando trazem informações do macro detalhando o micro e quando constróem não só o texto, mas o que está fora dele, nos subentendidos, nos não-ditos. Zimmer alcança boa parte desses propósitos aqui, o que faz de Apocrypha uma leitura prazerosa e marcante. Seu texto se fecha então com um saldo bastante positivo. Uma história na qual podemos não só apreciar um texto sem grandes problemas, detentor de uma narrativa ágil, como também podemos ver o bom uso de técnicas para a produção de textos curtos. É, certamente, uma leitura que vale a pena ser feita. 

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Nota: 9,5