• À Luz, Meu Condutor, de Dav Oliveira

        • Título: À Luz, Meu Condutor
        • Autor: Dav Oliveira (dav_oliveira)
        • Gênero: Ficção Científica

     Munido de conceito e estilo, Dav Oliveira apresenta ao Wattpad seu conto À Luz, Meu Condutor. Em 12 capítulos, conhecemos a história de Ennie Fohard, uma jovem que, encurralada pelas obrigações por ser filha de um poderoso homem, se vê obrigada a ir contra seu próprio berço. Disposta a quebrar o ciclo de poder de sua família, Ennie terá que colocar um ambicioso plano em ação. No entanto, a garota não estará sozinha nessa missão; na companhia de um velho amigo, ela viverá a noite mais aterradora de sua vida.  

     Sem saber muito o que esperar da história, diante de uma sinopse deveras misteriosa, mergulhamos neste universo com uma pulga atrás da orelha. Não demora muito, para a nossa grata surpresa, para percebermos que estamos diante de uma ficção científica. Os elementos de distopia presentes no texto — uma sociedade brasileira futurística, um governo que flerta com a ditadura e tecnologias além do nosso alcance —  servem como plano de fundo para o forte drama da personagem principal. Além do drama, o romance também ganha destaque já nos primeiros capítulos, podendo ser considerado um dos carros chefes da obra. 

     Dav entrega aos seus leitores um texto de boas qualidades. Com o desenvolvimento da trama, percebemos ganhar espaço aspectos estilísticos que considero ser os elementos mais marcantes do conto. O texto de À Luz, Meu Condutor pode ser definido como um texto de digestão não muito fácil, o que atraentemente destoa do que costumamos encontrar dentro da plataforma. Essa característica é consequência das escolhas de construção de texto feitas pelo autor, que, nada óbvias, carregam o mistério encontrado na sinopse para dentro da narrativa e instigam a nossa curiosidade — principalmente para quem também é escritor —, fazendo com que nossa atenção se volte inteiramente para o texto. Nada aqui é entregue de mãos beijadas; a narrativa como um todo é, então, impregnada por esse mistério, que agrada muito na primeira metade do conto. Em meio a isso, vemos também um certo ar contemplativo, quase filosófico em certos instantes, que também combina com o proposto, dando ainda mais charme para a leitura. 

   É a partir da segunda metade da obra que os pontos que podem desagradar começam a realmente surgir diante dos nossos olhos. A construção de personagens, por exemplo, não consegue convencer em sua totalidade; por vezes o bastante para chamar a atenção de forma negativa, o leitor se questiona das motivações da personagem principal e até de como os demais personagens agem diante dos planos dela. Na tentativa de fortalecer um conceito, percebemos nessa fase do caminho que Dav usa de alguns artifícios estilísticos que, apesar de notoriamente usados de forma consciente, considero que mais atrapalham a fluidez da leitura do que ajudam. Por exemplo alguns termos rebuscados, pouco utilizados no dia-a-dia, ou mesmo o amplo uso de ênclise, soam destoantes do português natural usado na maioria do tempo dentro da narração, causando pequenas rachaduras na imersão e dando a sensação de um texto travado. A tentativa de combinar os títulos dos capítulos, por sua vez, também não transmite naturalidade e, em certos momentos, parece haver uma labuta muito grande para que o autor consiga encaixar o título dentro do texto. 

     O ar de mistério permanece firme até o ato final, porém não com o mesmo gosto agradável. No clímax — na parte de ação —, os diálogos são prolixos, o que frustra um pouco a experiência de leitura. As explicações que o leitor anseia em ter se perdem num fluxo narrativo "grogue" — essa característica também parece ser proposital, como se a intenção fosse passar parte da percepção atordoada de Ennie, mesmo que na narração em 3° pessoa. Considero, então, que cabe a cada leitor definir o sentimento diante de tal recurso. Para mim, o que nos primeiros capítulos era um charme a mais para a narrativa, aqui se torna um empecilho. Há uma dificuldade de dosar e de trabalhar com uma característica que tem muito a agregar nos textos, mas que, por enquanto, parece ser uma arma não dominada por Dav Oliveira. 

     Entretanto, apesar do estilismo atrapalhar o perfeito andamento do desfecho e dos diálogos inconvenientes tirarem um pouco da nossa paciência, a conclusão é sim satisfatória. Os acontecimentos finais são condizentes com o que a história propôs desde o seu início, o drama é envolvente e o ar melancólico presente no último capítulo é capaz de comover o leitor. Tudo isso faz da leitura de À Luz, Meu Condutor uma experiência bastante interessante. Temos aqui um texto em amadurecimento, que sabe onde quer chegar, mesmo que ainda ande por caminhos tortuosos. Estamos diante de um conto de bom potencial, mas, acima de tudo, de um escritor de ótimo potencial. 

Nota: 8,7

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