7. Closet


Spencer

Dormi demais.

Fiquei acordado encarando a tela do celular esperando uma mensagem que nunca veio. Considerando se deveria mandar mais uma depois da última coisa que ela me disse.

Ela sumiu. Você sabia que ela não ia continuar a conversa Spencer. Por que ficou acordado até tão tarde esperando para descobrir se estava errado

Bem... porque a Laurie estava certa pra caralho: eu estou com a cabeça em outro lugar.

Um lugar que definitivamente não é meu emprego ou minhas ambições, vide o fato de que dormi demais e acordei meia hora depois do que deveria justo na manhã que tenho um compromisso importante e inadiável.

Parabéns.

Duas torradas com queijo e geleia, um copo de suco e duas bananas.

Eu como pouco de manhã porque sou simples, pobre e atrasado. Mas, eu sou imenso e queimo calorias como incêndio em fábrica de pólvora. Comeria três vezes aquilo sem qualquer dificuldade.

Mas não tenho tempo para comer.

Mal tenho tempo para pensar.

Tudo que eu preciso essa manhã é pressa e adrenalina e é só por causa dessas duas que eu consigo chegar na hora.

Levo meia hora, menos do que isso, e ali estou: A DeLucca-Margot é uma das maiores agências de talentos de Nova York. Uma das maiores do mundo. Eles representam gente que vai parar na Fashion Week de Paris e no novo seriado da HBO. Conseguir uma hora com eles é... impossível. Agências desse porte escolhem quem querem representar. Não é qualquer um que entra pela porta da frente e sai com um contrato.

Mas Tatiana Corso não é qualquer um e, aparentemente, já tinha contratado serviços da agência para suas próprias campanhas de publicidade vezes suficientes para ser considerada uma cliente importante. Por que uma empresa de tecnologia precisava de tantos modelos para publicidade era a parte que eu não tinha entendido... mas achei que não era da minha conta perguntar.

As portas do elevador se abrem direto para a recepção. E para o caos.

As poltronas da área de espera estão todas ocupadas por talentos em potencial, usando suas melhores roupas e os maiores saltos. Tamborilando dedos e respirando fundo agarrados aos seus books.

Merda.

Eu devia ter trazido meu book.

Tatiana disse que eu não me preocupasse porque ela já tinha enviado pra alguém, mas... Era inteligente dobrar esforços, não era? Caso eles precisassem.

Droga.

Tem, pelo menos umas oito pessoas atravessando o lobby, conversando, discutindo, terminando de tomar um café. Duas mulheres passam correndo a esquerda, uma delas precariamente vestida no que parece um vestido de noiva ainda em produção e a outra segurando parte das saias para ajudá-la a se mover mais depressa.

Há um fundo branco em uma das laterais e um homem esguio com uma polaroide tira close ups de alguns candidatos.

Eu estou acostumado com essa bagunça.

Vi muito disso desde que cheguei nessa cidade.

Essas agências dificilmente recebem clientes no local. O contato com clientes é todo feito em sede própria ou a distância. É por isso que não precisam se preocupar em ser enxutos na aparência. A baderna funciona desde que apresente resultados.

- Com licença? - tento chamar atenção da recepcionista que parece capaz de lidar com doze problemas ao mesmo tempo, sem hesitar.

No entanto, ao que tudo indica, os outro onze problemas estão na minha frente na sua lista de prioridade e eu sou categoricamente ignorado por alguns segundos.

É uma merda, não é? Eu entro em um café e, juro por Deus, consigo perceber as atendentes acotovelando umas as outras para ver qual consegue me atender primeiro.

Mas em agências de modelos eu sou invisível.

Absolutamente ignorável.

As pessoas que trabalham naquele meio parecem ter perdido a sensibilidade para qualquer tipo de beleza em um nível tal que nem sei o que seria preciso para chamar sua atenção.

Acho que eu poderia ficar pelado ali, absolutamente nu, e ainda assim receberia pouco mais de atenção que...

E assim que eu penso nisso, como se Deus quisesse provar um ponto, vejo mais adiante no corredor dois caras e uma mulher: um deles está de cueca, o outro de toalha, ela usa a parte de baixo de um biquini e tapa os seios nas mãos.

Desaparecem por uma porta do lado da que saíram e ninguém sequer ergueu os olhos para questioná-los.

- Com licença? Eu acho que tenho uma reunião marcada para as 10 horas.

- Com quem? - ela pergunta, sem me olhar nos olhos.

- Com um de seus agentes, não me disseram qual. Meu nome é Spencer Reese.

Ela verifica suas planilhas.

- Ah... não vejo nada aqui. Como disse que se chama?

- Spencer. Reese. R-e-e-s-e.

- Eu não vejo esse nome aqui. Tem certeza que é hoje?

- Absoluta.

- Sinto muito, mas não está na minha agenda.

- Pode olhar de novo?

Mas ela já atendeu outra ligação e eu deixei de existir.

Ótimo.

Maravilhoso mesmo.

O que eu faço agora?

Vou embora e finjo que não aconteceu?

Esfrego meus olhos com força.

Vou precisar mandar uma mensagem pra Tatiana.

Depois do modo como encerramos a noite passada, quebrar um silêncio com "me ajuda, por favor" é a coisa mais deprimente que poderia acontecer no meu dia. Mas... ainda não são dez da manhã e Deus sabe que muita desgraça ainda pode acontecer na minha vida nas próximas quatorze horas.

Bem...

Se não há o que fazer é porque já está feito... digito depressa:

"Desculpa te incomodar, mas você sabe quem é a pessoa que me receberia na agência? Eles não têm meu nome na recepção"

Fico encarando meu celular e mando mais um "desculpa por te incomodar!" porque... puta que pariu, né? Ela me conseguiu aquela hora eu não sou sequer capaz de atravessar a porta sozinho?

Meu celular não demora a tremer em meus dedos.

"Espere aí um instante".

Certo.

Fico de pé na recepção considerando quanto tempo é "um instante" e acho que era menos de cinco minutos, no fim das contas, porque esse é o tempo que um cara baixo de óculos muito quadrados demorou para aparecer no lobby e chamar "Spencer? Spencer Reese?" bem alto.

- Aqui. - me aproximo.

- Ótimo, vem comigo! Ela só tem três minutos! - ele acelera pelo corredor e eu o sigo até cruzar uma segunda recepção, menor e bem mais quieta. Ele bate em uma porta dupla de madeira escura que está entreaberta. Lá dentro, três ou quatro pessoas conversam sem modéstia no volume da voz.

- Josephine? - ele chama, abrindo a porta.

No meio da sala, eu vejo a quase noiva, a mulher que a ajuda com o vestido, uma terceira que segura uma trena e uma porção de agulhas e uma quarta, elegante em cima de um par de saltos muito altos e um terno feminino justo e bem cortado. Parece ter quarenta anos e o cabelo loiro muito curto.

- É ele. - Óculos Quadrados me apresenta.

- Spencer? - ela me oferece a mão e eu a aperto - Acabei de falar com Tatiana, acho que houve algum engano e esqueceram de colocar seu nome na lista. As vezes as coisas aqui ficam uma loucura! Sinto muito!

- Sem problemas, eu sei como é. - assinto.

A costureira ainda está falando com a modelo e a assistente. Josephine me convida para sentar.

- Eu sou Josephine DeLucca, a Tati é uma cliente antiga e ela falou muito bem de você. Achou que a gente deveria se conhecer.

Hesito e mal consigo sentar.

DeLucca?

- Ela é muito gentil. - engasgo - Ela mencionou que era cliente.

- Ela e a Pamela, na verdade.

- Pamela?

- A sócia dela. Elas têm um site juntas. Por causa da natureza do site elas têm parceria com muitas lojas de artigos de luxo e sempre nos contratam para o marketing especializado. Trabalhamos juntas há alguns anos.

Eu aceno porque não sei exatamente o que dizer.

Ela se estica para observar algo atrás de mim:

- Ele já terminou? - pergunta.

- Já. - o assistente de óculos quadrados voltou - Já está no set, esperando. Sabe quantas horas ele vai cobrar?

- Não deve demorar mais que duas ou três. Pode colocar na conta da Corso. Se ele cobrar. - sorri - Está pronto? - olha pra mim.

- Pronto?

- O Stavo acabou de terminar um ensaio, ele ainda está aí. Pode fazer o seu agora. Assim a gente não perde tempo.

- O meu... o quê?

- O seu ensaio. As fotos novas para o book.

- Eu já... eu achei que a Tati tinha te enviado o meu book.

- Ela enviou. Mas você precisa de umas fotos melhores. Tem algumas coisas faltando no seu book. O guarda-roupa está pronto... MIKE! O guarda-roupa está pronto?

- Está no set com o Stavo.

- Você pode levar o Spencer? Ele te acompanha, Spencer, eu preciso terminar aqui.

- Claro, claro... - eu estou muito confuso.

- E depois ele te leva pra... MIKE! - ela chama de novo - Depois leva o Spencer pra Tamy. Pra assinar os contratos.

- Certo! - ele ergue os polegares.

- Contratos?

- É, nosso contrato de retenção. Você precisa assinar pra gente poder te representar.

- Me repres... Eu fui aprovado?

- Claro! A Tamy vai te dar os documentos!

Ela se vira de volta para a noiva e eu preciso correr atrás de Óculos Quadrados ou sou deixado para trás.

***************

"Stavo" era Gustavo Lewer, o fotógrafo.

Não, deixa eu dizer isso de novo.

O Fotógrafo.

O cara que fotografava rainhas e atrizes pornô.

O ensaio que ele fez pra Vogue francesa era estudado em cursos de arte.

Ele já tinha ganhado um Pulitzer de fotografia e sido indicado pra um segundo.

Gustavo Lewer não fotografava um qualquer e, definitivamente, não "por acaso".

Ele aperta minha mão com um sorriso profissional e desinteressado que é exatamente o mesmo que deu para as duas modelos que saíam do seu set quando eu entrei. O homem parece uma máquina absolutamente desprovida de interesse ou emoção quando olha para pessoas. O único mundo que o interessa é o que acontece através das lentes. O resto de nós são bonecos e cabides. Eu preciso trocar de roupas algumas vezes, o fundo branco é imutável mas, vez ou outra, uns assistentes trazem uma poltrona ou uma mesa para compor um cenário. Também me entregam itens aleatórios como relógios caros, maletas ou um copo de bebida.

Lewer faz sugestões específicas e eu acho que aprendi mais sobre fotografia na última hora do que nos últimos 23 anos.

Ele quase não me olha nos olhos, mas quando encara as imagens no laptop ao seu lado, acena como quem está quase satisfeito.

Mike verifica as horas.

- Quase duas horas, Stavo? - confirma.

- Achei que isso era pra Tati? - coloca a mão atrás do pescoço e se alonga por um instante.

- É, sim. - Mike confirma, ajustando seus óculos quadrados - Já pode trocar de roupa, Spencer. Terminamos aqui, já te levo pra Tamy.

- Se é pra Tati é por minha conta. - Lewer decide, guardando suas coisas - Mais alguma coisa pra hoje?

- Não, era só isso! Obrigado!

Lewer não parece precisar de dinheiro ou gratidão.

- A gente vai trabalhar as fotos e te avisa quando estiver tudo pronto. - Mike me explica depressa enquanto avançamos pelos corredores. Tudo ali é feito depressa. - A Josephine vai escolher quais entram no seu book e alguém entra em contato com você pra verificar sua agenda. Vai precisar voltar aqui amanhã para fazer o teste de câmera. O mesmo horário funciona pra você?

- Sim... - eu gaguejo, mas já fui empurrado para dentro da sala da Tamy e ela, lógico, também está com pressa.

As três vias de contrato são assinadas em dois segundos e eu mal li alguma coisa. Não que eu fosse entender tudo aquilo, mas acho que seria bom ter uma chance de tentar.

A porta atrás de mim se abre assim que entrego a última via para a Tamy.

- Esse é o cara da Tatiana Corso? - a mulher na porta tem uma pasta escura e comprida nas mãos. Do tipo que se coloca documentos.

- É ele mesmo.

- Você pode entregar isso pra ela? - enfia a pasta nas minhas mãos - Ela nunca mandou alguém buscar e nunca marcou uma hora para enviarmos... Entrega isso pra ela, está bem? Em mãos. - ergue um indicador - Nas mãos dela. Pode fazer isso?

Eu confirmo até porque ela já deixou a pasta comigo e foi embora.

Sou posto pra fora com a mesma eficiência e velocidade com que fui recebido.

E... acho que é isso.

Sou um modelo agenciado agora.

Progresso.

Laurie mal acredita quando conto pra ela.

- Quem diria! - acena muito devagar com um exagero que lhe é típico - É quase como se ter muito dinheiro facilitasse as coisas.

- Quase. - estou rindo.

- Precisamos contar isso pra outras pessoas!

- E talvez fundar um novo sistema econômico em cima dessa recém descoberta realidade.

- E precisou transar com ela?

- Quê? Não!

- Spencer, desculpa, mas essa tua saga de garoto de programa tá muito censura livre. Só volta a me contar quando acontecer algo interessante.

- E eu conseguir um contrato de representação não é interessante?

- Mais ou menos, porque eu só to com inveja. Não sei se isso é muito saudável pra nossa amizade. - ri, mas aí me dá um tapa no estomago e um abraço - Parabéns, idiota!

- Dificilmente foi mérito meu.

- Bem, você podia ter estragado tudo. E não fez isso. Parabéns.

- Eu adoro como você tem tanta fé em mim.

- Pois é.

- Me deixa muito excitado, sabe? Eu lembro como você é gostosa.

- Vai se foder. - rosna - Devagar e pelo cu.

- Nossa.

- É.

Eu vou devolver mais alguma gracinha, mas nosso carrasco Rodolfo já apareceu e fez questão de nos lembrar que não nos paga para ficar trocando flertes.

Uma pena.

***************

- Você está me devendo um pedido de desculpas bem lento e gostoso. - Vanessa me encontra.

Na verdade, ela me encurrala. Contra o armário e a parede quando estou pegando minhas coisas para ir embora.

Lento e gostoso são as palavras que ela usa. E nós dois sabemos exatamente do que ela está falando. Todo mundo sabe exatamente do que ela está falando.

Vanessa se distrai, fingindo desinteresse enquanto espera minha resposta. Dobra a camisa que estava em meu armário e me entrega, devagar.

- Ehr... Sinto muito. Tive uma emergência.

"Emergência".

É assim que estou chamando minha troca de mensagens com Tatiana que me fez esquecer da vida. Quem dirá da Vanessa. Fazia tempo que eu não gozava daquele jeito. Só consegui impedir o sono por tempo suficiente para me certificar que ela não ia mesmo me responder.

E não respondeu.

Merda.

Por que eu preciso ser sempre tão imbecil quando o assunto é ela?

- Não. - ergue o indicador, recusando minha tentativa - Não vai ser assim tão fácil. Lento e gostoso, lembra? E mais de uma vez. - acrescenta com um tom safado que não poderia ser confundido com outra coisa nem que fosse abafado por uma britadeira.

- Não acho que vai dar certo, Van...

- O quê? - ela pega a pasta escura em meu armário e experimenta o cordão que a mantém fechada.

- Não sei se é uma boa ideia sair com uma colega de trabalho, pode complic... Isso não é meu, por favor, não mexe. - tento tirar das suas mãos

- Spencer. - ela abre o cantinho da pasta, casualmente - Eu vou sair com alguém, hoje, porque eu preciso de sexo. Eu só estou perguntando se vai ser você.

- Bem... então... não. Mas boa sorte!

Ela tem uma risada de desdém diante do que viu dentro da pasta.

- Claro que não. Acho que vai estar ocupado. - ela enfia a mão na abertura e eu acho que vou ter um ataque cardíaco. Acho. Até ver o que ela tem nas mãos e aí eu tenho certeza.

- Não mexe nis...

- Sua namorada? - ela pergunta.

O que ela tem nas mãos é uma foto.

Uma, do que são muitas, dentro da pasta pesada.

Uma foto.

Tirada por Stavo Lewer, sem dúvidas.

Uma foto.

De Tatiana.

Usando nada além de uma calcinha lilás minúscula, com um lençol de seda precariamente cobrindo os seios.

Você tem noção do que é ficar duro em uma fração de segundo?

Pois é.

Porque eu não tinha.

Mas agora, claramente, tenho.

Eu tenho que guardar aquela foto de volta porque ela não me pertence, nem sequer deveria estar comigo e é uma violação de privacidade sem tamanho.

O que eu consigo fazer, no entanto, é encarar a foto por cinco segundos inteiros.

Vou babar no chão.

Que caralho de mulher linda.

Meu Deus.

Ela deve ter uns vinte e cinco anos na foto.

Eu acho... Mas atualmente ela não parece os quase quarenta que diz ter, então, só Deus sabe quantos tem ali.

As fotos, dentro da pasta, são um ensaio sensual que ela deve ter feito para o marido.

Eu a enfio de volta e ralho com Vanessa por dois segundos.

Não mais que isso porque estou duro nas calças e acho melhor não me demorar naquela situação.

Ainda estou duro no metro.

Estou duro quando chego em casa.

Puta que pariu.

- Quer rachar uma pizza? - Eric pergunta assim que atravesso a porta.

- Não, eu... Vou sair.

Ele sorri entre a graça e a inveja.

- Achei que não estava interessado nas mulheres do site. É diferente quando é uma Unicórnio, han?

Eu aceno de qualquer jeito e vou direto para o meu quarto.

Preciso entregar aquelas fotos pra Tatiana, depressa.

Tê-las ali comigo é uma tentação que não vai passar.

Esfrego meus olhos.

Meus cabelos.

Que merda, né.

Eu vou me masturbar pensando em Tatiana.

Vou fazer isso já já.

De novo.

E aí toda vez que olhar pra ela vou ter vontade de repetir.

Seria ótimo se ela fosse tipo as outras mulheres que só queriam me usar. Porque aí ela ia querer me comer também e ia ser ótimo.

Mas não.

Ela estava estressada, me vendo como um jovem inocente propenso a ser desvirtuado.

Eu não sabia o que fazer para convencê-la que eu não era inocente e a propensão a desvirtude era algo que eu ativamente perseguia.

Abro o zíper.

Vou me masturbar, tá bem? Não dá.

Quando o cara tá duro desse jeito não dá pra tomar um sorvete e esperar passar.

Essa ideia é péssima. Vai foder teu relacionamento com ela. Não pensa nela desse jeito.

Fecho o zíper.

A pasta em cima da cama fica me encarando.

O problema é que eu JÁ penso nela desse jeito.

Desço o zíper, só um pouquinho.

Vai piorar.

Se eu fizer isso, não tem volta.

Vai ser uma perversão.

Fecho o zíper.

Vai ser só um carinho.

Abro o zíper.

AH CARALHO!

Eu quero sexo.

Eu quero amarrar Tatiana em cima de uma cama com tanta força que vai deixar marcas na sua pele por dias, em uma posição boa para me deixar comer aquela bocetinha maravilhosa, sentindo a ponta dos seus peitos endurecer nas minhas mãos.

Pare.

Pare, Spencer, enquanto você ainda tem algum controle.

Ah merda.

Empurro o cacete da pasta de Satanás para longe e, porque Satanás realmente deve estar envolvido, ela se abre espalhando Tatiana pelada e quase-pelada por todos os cantos do meu quarto.

Tocando os cabelos, envergonhada, usando uma lingerie que faz meu sangue entrar em ebulição.

Experimentando os próprios seios de um jeito que não consegue ser pornográfico porque é excessivamente artístico.

O rabo de cavalo. O caralho do rabo de cavalo.

Sem o sutiã com os biquinhos escuros endur...

Eu olho pro teto.

Senhor Jesus, por favor, me ajuda.

Eu sei que não sou o filho favorito e a gente quase nunca se fala.

Mas tem misericórdia da minha alma nesse momento de angústia.

Recolho as fotos o mais rápido que consigo. Mantenho os olhos fechados por metade do procedimento e enfio tudo de volta na pasta. Fecho ela bem fechadinha fechadíssima, Tatiana vai precisar de um ladrão de carreira com ferramentas profissionais pra abrir aquela porra de volta.

Enfio ela embaixo do braço e vou direto pra casa dela.

Direto.

Não posso ficar com aquilo na minha casa.

Não vai fazer bem pra minha honra ou pra minha saúde.

***************

Da portaria, me encaminham direto pro elevador e de lá estou no meio da sala de entrada de Tatiana.

Quem me recebe, dessa vez, não é ela ou Bruce, mas uma mulher grande com cabelos cacheados amarrados em um coque apertado e com um sorriso familiar.

- Oi, garoto.

Eu queria mesmo que todo mundo parasse de me chamar de garoto.

Eu tenho 1,92 de altura. Uma barba por fazer.

Meu peso inteiro é praticamente músculo.

E essa gente me chama de "garoto".

- Oh, olá! - cumprimento - Tatiana está me esperando.

- Ela está lá em cima, no quarto dela. Você pode entrar. - a voz dela é muito familiar.

Enrugo a testa.

- Eu sou Lucille. A motorista? Nos conhecemos rapidamente, mas você só deve ter encarado minha nuca por todo o tempo. - ri.

- Ah! Claro! Olá! - cumprimento de novo e aperto sua mão - Desculpe, não te...

- Lu, você pode voltar na agência e pegar o... - outra mulher entra na sala. Eu lembro dela... estava no escritório da Tatiana - Ah! Spencer! Como vai?

- Bem, obrigado. Julia, não é isso?

- Isso. Bom te ver de novo. Veio ver a Tati?

- Vim entregar isso! - indico a pasta na minha mão - E ela disse algo sobre experimentar um terno?

- Terno? - Julia vira-se para Lucille - O terno dele já chegou?

- Só se estiver com as outras roupas. - explica.

- Deixo no...

- Deixei.

Julia assente.

- Pode subir, Spencer. O terno deve estar com as outras roupas no quarto da Tati. Ela está lá, mas está trabalhando.

- Pra variar. - Lucille dá de ombros.

- Pra variar. - Julia ri - Só subir as escadas. É o quarto no fim do corredor, à esquerda. A porta deve estar aberta, nem precisa bater. Aproveita e leva isso também. - ela me entrega um vestido de festa ainda no cabide e proteção de plástico.

As duas me oferecem o sorriso que a Monalisa teria se estivesse pensando em sacanear o Da Vinci.

Eu me afasto dando passos para trás porque não quero dar as costas para as duas. O nível de insanidade no ambiente é alto e palpável, e eu aprendi bem cedo que não se dá as costas pra gente doida.

Todo mundo que trabalha pra mim é inapropriado.

Era isso que a Tati tinha dito quando a gente se conheceu e, bem... estava mesmo certa.

Todo mundo, inclusive eu. Que vou até tarde mandando mensagens que ela, provavelmente, sequer queria receber.

Encaro o chão com uma careta. Se isso fosse um dos meus livros eu podia marchar até o seu quarto, dizer uma frase de efeito e beijá-la. Estaríamos nus antes da página seguinte. Mas não... ali estou eu lidando com as consequências de minha pouca vergonha. Às vezes, na vida, a gente é um idiota... mas com essa parte eu já estou acostumado. O difícil é ser inconsequente quando sua contraparte é o retrato da maturidade e sensatez.

O nível da idiotice dos atos está sempre relacionado a quem está do outro lado como destinatário dos atos.

Deixa eu te dar um exemplo: uma coisa é você se arrepender de uma mensagem que mandou pra ex quando estava nervoso, outra coisa é você acordar e lembrar que passou a noite bêbado, passando trote imoral pro padre que te conhece desde criança.

Tatiana não é exatamente um padre mas, se eu tivesse que apostar onde me encontro, no momento, acho que estou mais perto deste do que daquele.

Eu subo as escadas e encontro o quarto indicado. As portas duplas estão entreabertas, mas muito pouco. E, apesar da instrução que me foi dada, eu vou ser enfiado na farinha e no óleo para ser fritado a milanesa antes de entrar sem bater no quarto de uma mulher.

Dou três batidas audíveis na porta e escuto sua voz:

- Entra, estou no closet.

Eu abro a porta.

O quarto parece um... parece um...

Não sei.

Eu sou pobre demais pra ter palavra para aquilo.

Fica em um dos cantos do prédio e duas das paredes, na verdade, são janelas. Janelas inteiras do chão ao teto, de lateral a lateral. Não apenas janelas, mas portas de vidro que se abrem completamente pro por do sol da cidade. A varanda, do outro lado é larga o suficiente para conter meu apartamento inteiro. Tem um jardim, uma porção de mobília externa em tons marrons aconchegantes e algo que, suspeito, deve ser uma jacuzzi.

E isso é só o lado de fora do quarto.

A parte de dentro parece ser dividida em três ambientes: um com um conjunto de sofás e poltronas sobre um tapete felpudo, outro com uma penteadeira de mogno e um jogo de espelhos diante de uma cadeira elegante, e um terceiro com... a cama.

Uma pequena escada de madeira escura leva para a área da cama que é cercada por paredes de vidro por todos os lados.

Uma elevação de pouco mais de meio metro. Lá em cima, a cama colossal, uma televisão suspensa no ar como por magia e uma lareira. As cortinas correm ao redor das paredes de vidro. Creme e pesadas mas, no momento, abertas.

Mesmo a área da cama é duas vezes o tamanho da minha sala.

- No closet! - ela chama, de uma porta a esquerda.

- Tati, a Julia pediu para eu tr...

Entro no closet e Tatiana está de roupa íntima.

Claro que está de roupa íntima.

Lógico.

Por que não estaria?

Deus me detesta e aquelas duas lá embaixo queriam mesmo me sacanear.

- SPENCER! - ela se cobre com o vestido que tem nas mãos e eu me coloco de costas.

Mas não se cobriu rápido o suficiente.

Se o objetivo era preservar minha integridade, eu já tinha visto mais do que deveria.

A calcinha de renda preta tinha uma fita de seda rosa que parecia entrar e sair da costura apenas em alguns lugares, como se a intenção fosse ser uma filha da puta escrota mesmo, sabe? Atraindo tua atenção justamente pra parte que você deveria, por cavalheirismo, ignorar.

O sutiã conseguia ser ainda pior porque era firme o suficiente para segurar aquele par de peitos deliciosos sem qualquer problema, empurrando-os para cima, deixando as curvas de sua carne em maior evidência. Mas, apesar de toda sua estrutura firme, o tecido era bem delicadinho, do tipo que quase ameaçava ser transparente mas insistia em não se decidir.

Acho que consigo ver o bico duro dos seus peitos.

Talvez seja ilusão de ótica.

Ou talvez eu esteja tonto e ameaçando desmaiar.

A única coisa que me salva é que seus cabelos estão soltos. Se estivesse usando aquela porra daquele rabo de cavalo não sei se seria capaz de responder por mim.

Mas, ainda assim, vou ficar duro de novo.

- O que DIABOS está fazendo aqui? - vocifera.

- Desculpa! A Julia disse que eu podia entrar e me pediu pra trazer isso! - estico o braço com o vestido, mantendo-me de costas.

Estou ficando duro de novo, eu mencionei isso?

- A Julia! - ela arranca o vestido do meu braço, furiosa - Ótimo! Só gente inapropriada! - resmunga para si mesma - É isso que trabalha pra mim! Só gente inapropriada! Eu tenho um dom! Ou uma maldição!

- Você quer que eu vá embora?

- Quero! - rosna e eu já estou obedecendo - Não! - ordena e eu paro - Tem que experimentar o terno!

Seu closet é imenso. As paredes são todas cobertas do chão ao teto com armários fechados ou prateleiras. Cubos iluminados de madeira escura para cada par de sapatos. Roupas metodicamente dobradas sobre as prateleiras ou rigorosamente alinhadas em cabides de veludo. Duas poltronas robustas e um divã ocupam o meio do ambiente, com seus pés pesados afundando no tapete creme que cobre todo o espaço.

Nada disso, é claro, atrai tanto minha atenção quanto a mulher ainda precariamente coberta pelo vestido escuro que mantem a sua frente.

Mas eu não olho diretamente para ela porque parece, na falta de palavra mais apropriada, furiosa.

- Ali. - aponta para o que deve ser um terno ainda protegido pela capa plástica e escura que gente rica gosta de usar para transportar roupas. Está bem em cima do divã, no meio do closet e muito mais perto da Tatiana semi nua do que eu ousaria me aproximar sem permissão.

Mas ela mandou eu pegar, não foi? Acho que isso conta como permissão.

Ela dá um passo para trás quando me aproximo, mas se choca contra suas prateleiras de madeira e não tem mais onde se esconder.

Não olhe pra ela.

Não olhe pra ela.

Não existe física que consiga fazer ela se cobrir em absoluto. Estou, inclusive, suspeitando que o que ela tinha nas mãos nem era um vestido, mas uma saia. Tapa muito mal suas curvas e assim que me aproximo fico impossivelmente ciente de cada uma delas.

Expira, irritada.

Ela parece estar com muita raiva.

Mas... de quê?

Tá, eu fui agressivo ontem, mesmo depois de ouvi-la decidir que seríamos só amigos. Mas ela poderia ter me impedido e não fez isso. E quando ela foi embora, eu não lhe mandei um monte de mensagens, não foi? Eu respeitei sua decisão e sua distância. Meu comportamento talvez fosse digno de uma ou duas palavras concisas e algum constrangimento... mas não fúria.

- Quer que eu experimente aqui? - pergunto. Tenho certeza que ela deve ter um banheiro não muito longe, ou outro quarto onde eu possa...

- Não vai tirar as roupas aqui! - treme. Parece estar bem perto mesmo de começar a salivar de raiva.

Eu hesito.

- Nossa. Calma. - experimento, com cuidado - Eu não quis dizer "aqui, na sua frente". Quis dizer se quer que eu leve pra casa ou...

- Ah. - ela engole em seco e parece tentar se recuperar. Como uma criança pequena com a boca toda suja de chocolate jurando que ainda não comeu a sobremesa - Não, você... você experimenta aqui. Não na minha frente! - acrescenta depressa e eu assinto porque essa parte eu já entendi - Mas aqui. Porque se ainda precisar fazer algum ajuste...

- Não sei se ainda dá tempo de fazer algum ajuste. - sorrio, mas ela ainda está séria.

Ainda está... incomodada?

Não me olha nos olhos.

- O banheiro é ali. - aponta, seca.

Eu não sei exatamente o que eu fiz, mas eu sou homem, sabe? Com certeza fiz alguma coisa errada.

- Sim, senhora. - pego a roupa com plástico de rico e cabide e tudo e estou a caminho do banheiro quando lembro - Ah! E isso aqui é pra você! - indico a pasta ainda na minha mão. Acho que ela já estava a caminho do robe, mas eu me viro e ela se tapa mais uma vez. Encarando-me com aquele fogo peculiar. - Desculpa! - acrescento - Aqui.

Eu dou a pasta para Tatiana, mas ela não tem como pegá-la sem soltar o pano que usa para se cobrir. É aí, entre sua nudez e indecisão, que eu me atrapalho também e não sei se levo a pasta comigo ou se espero ela se vestir. Tem um divã! Eu posso só soltar a porcaria em cima de uma das poltronas, mas os segundos que eu levo para ter essa ideia genial foram suficientes para constranger todos nós e Tati assume o controle.

- Só se vira de costas! - brada e eu obedeço - Meu Deus! - resmunga, para si mesma - Pode me passar aquele robe, por favor?

Pego o robe sobre o divã para lhe entregar e, por instinto, quase me viro de volta para ela.

- Não precisa se virar! - ela tem os dedos no meu queixo impedindo o movimento do meu rosto - Só me entrega! Sem se virar! - repete a instrução como se eu fosse idiota. Mas, considerando que eu quase, de fato, me virei, talvez seja esperto me tratar como idiota.

O problema dela ter a mão no meu queixo, no entanto, não é apenas o seu toque doce ou o cheiro do perfume que ela deve ter colocado bem no pulso e que agora me invade como se quisesse me matar... O problema é que se ela tem uma mão em mim e a outra para o robe... não sobrou mão para segurar o vestido que a cobria.

Está nua.

Ou quase.

Ou bem perto disso.

A centímetros de mim.

Tocando meu corpo.

Posso me virar e morder seus dedos. Empurrá-la contra as prateleiras e fodê-la em seu robe.

Quero tanto fazer isso que preciso travar os dentes e olhar pra cima.

Pro Céu.

Pra Deus.

Implorando ajuda divina porque minha carne está bem pertinho de me trair.

Ela toma o robe que tenho nos dedos e escuto o leve arfar do tecido ao seu redor quando se cobre.

- Pode me dar agora. - decide.

Entrego a pasta, ainda de costas, porque a ereção não é plena, mas é presente. E se ela conseguir percebê-la acho que minha situação piora.

- O que é isso?

- O Lewer mandou te entregar.

Lewer.

As fotos.

Em uma das fotos Tatiana tinha um lençol de seda cobrindo seu corpo enquanto erguia os braços... nada segurava o lençol no lugar a não ser a pontinha de seus peitos.

Ela tinha um rabo de cavalo ali também, caindo por sobre o ombro para proteger um dos seios caso o lençol caísse.

Minha virilha arde.

Sinto a pressão do sangue me fazendo crescer.

Garoto, quieto.

Fecho os olhos.

- Mas já estão com você! - acrescento por nenhuma razão - Estão aí na sua mão. Não são mais minha responsabilidade. Você faz com elas o que quiser. - começo a andar em direção ao banheiro porque preciso demais sair desse closet agora - Fora das minhas mãos. Sim, senhora.

- Espere. - sua voz é um comando único - Parado.

Engulo em seco e congelo onde estou.

- O que é minha responsabilidade? Do que está...

Eu ainda estou de costas, sabe? Mas imagino que seja mais ou menos aí que ela abriu a pasta e descobriu do que estávamos falando.

Precisa de uns quatro segundos inteiros antes de conseguir voltar a falar.

- Você... Você viu isso aqui?

- Ahm... não...

- E por que está falando no plural?

- Que plural?

- "Estão aí na sua mão", "você faz o que quiser com elas". Por que está chamando o que tem aqui dentro de "elas" se não viu o que é?

- Eu não vi de propósito. - explico.

- Spencer.

- Tatiana.

- Olhe pra mim.

- Ah... eu prefiro ficar aqui como estou, obrigado.

- Spencer!

- Tatiana, minha situação não tá muito boa! Se eu me virar, vai ficar com raiva e acho que vai me bater. Eu preferia não apanhar hoje, se pudesse escolher.

- Quando você viu isso? - ela não parece ter ouvido o que acabei de dizer - Hoje ou ontem?

- Hoje.

- Tem certeza?

- Absoluta.

- Então isso não tem nada a ver com você não ter me respondido?

O quê?

- O quê? - eu me viro.

- Você não me respondeu, ontem. - ela tem os braços cruzados e encara o chão com o queixo rígido.

O robe é bem curtinho e justo. Ela o amarrou depressa. Me dá uma vontade tão grande de fazer carinho naquele decote.

- Quando foi que eu não te respondi?

Ela me encara, sem paciência.

Sorri com desdém e abana a cabeça como se desistisse.

- Isso é bem feito. Bem feito pra mim por querer me envolver com um moleque.

- Ei! Do que está falando?

- Vai experimentar o terno, Spencer!

Enfia os dedos nos cabelos como se massageasse a própria nuca.

- Ei! - eu me aproximo - Não. - seguro seu braço e a trago de volta - Quando foi que eu não respondi?

Seus olhos escuros assim, tão perto, me enlouquecessem mais que o decote.

- Ontem a noite. Quando você me pediu pra tirar a roupa e te dizer a cor da minha roupa íntima. - ela tem um sorriso de dor e arrependimento, como se detestasse a si mesma pelo que fez - E eu obedeci.

Um arrepio toma conta do meu corpo inteiro e vai terminar em cheio na minha ereção.

- O q... Fez o quê?

- Eu obedeci e te respondi. Mas acho que você deve ter encontrado algumas fotos e não gostou do que viu.

Espera.

O quê?

- E aí desapareceu e agora está fingindo que não foi isso que aconteceu. - continua.

Eu gesticulo em desespero antes de conseguir encontrar palavras para reagir.

- Espera, espera, ESPERA. Você acha que eu DESISTI de te comer DEPOIS de ver essas tuas fotos? Você ficou LOUCA?

- Vai experimentar o terno!

- Não! A gente vai terminar essa conversa aqui!

- Não precisa dizer nada, Spencer.

- Aparentemente, eu preciso. Porque você é louca! Você tem alguma noção... QUALQUER noção do tanto que você é gostosa?

- Não desistiu de me responder depois que viu as fotos?

- Tatiana, olha, com todo o respeito, mas se eu estivesse vendo as tuas fotos enquanto me masturbava, não acho que eu ia ter condições de digitando mensagens.

Ela abre a boca, horrorizada, e eu percebo o erro do que acabei de dizer:

- Eu NÃO estou dizendo que parei de responder porque estava me masturbando olhando para as tuas... Tatiana, EU NÃO RECEBI MENSAGEM NENHUMA! - decido me apegar com esse argumento porque ele é o mais importante.

- Como pode não ter recebido?

- Não sei! Tem certeza que você mandou? Talvez tenha pegado no sono e sonhado que mandou.

- Eu não sonhei com você!

- Adoro como você chega a essas conclusões! Não foi isso que eu disse!

- Eu mandei a mensagem.

- Não mandou! - enfio a mão no bolso para pegar meu celular.

- Mandei!

- Tatiana, me respeita! Você acha que eu ia ignorar mensagem de mulher nua? - verifico o aplicativo e lá está.

Última mensagem foi minha.

Enviada.

E ignorada.

- Ignorado fui eu! - deixo que ela pegue meu celular.

- Você apagou?

Reviro os olhos.

Ela volta para o quarto e eu a sigo de braços cruzados. Pega o celular sobre a cama e precisa de dois segundos para me olhar de volta entre o choque e a vergonha.

- Não mandou, não foi? - sorrio.

- Eu... Sinto muito, Spencer! Eu tinha certeza que tinha mandado. Não sei o que houve. Será que fechei o aplicativo rápido demais?

- Nossa! Me responsabilizando por algo que eu nem fiz!

- Desculpe! Eu devia ter... não sei. Devia ter verificado.

- E como o aplicativo é seu, acho que é duplamente sua culpa. Eu sou um santo.

- Não exagere. - estreita os olhos - Já pedi desculpas.

- Chefe, a Lu quer saber se... oh! - Julia para na porta do quarto tentando compreender a cena ali dentro.

Tatiana, de robe, em cima da cama. E eu de pé, ali, casualmente sorrindo.

- O... o que... Eu volto depois! - decide.

- Não! Parada aí. Suponho que o Spencer entrando no meu closet, sem avisar, é coisa sua?

- Eu avisei! - reclamo.

Ela gesticula para que eu fique quieto.

- Mas eu avisei. - repito.

- Em minha defesa. - Julia começa - Eu achei que você estava trabalhando. Não achei que estava... fazendo algo que não é da minha conta.

- Estávamos conversando. - ralha.

Eu faço uma careta e o gesto de mais ou menos, Julia ri.

- A Lu quer saber se já está pronta? A festa já começou.

- Festa? - pergunto.

- Do escritório dela! Você vai, Spencer?

- Não, não fui convidado. Ela só gosta do meu corpo nu.

- Spencer! - Tatiana fica tão vermelha que me dá vontade de mordê-la todinha.

Mas Julia ainda está rindo.

- Você devia vir. - a assistente diz.

- E posso ir assim mesmo? - indico minhas roupas.

- Está ótimo, não é nada formal! Mas você devia se trocar, chefe. O robe é um pouquinho demais. - dá de ombros.

- Não sei. Eu achei o robe incrível.

- Gente inapropriada. - ela tem um sorriso amarelo de desistência - Só gente inapropriada.

***************

Tatiana

Eu não sei até que ponto foi uma boa ideia trazer Spencer para um evento de trabalho. Mas, aparentemente, Julia manda na minha vida. Ela não quis vir para a festa, mas insistiu em enviá-lo em seu lugar. Passei vinte minutos no carro tentando descobrir por que deixei isso acontecer e assim que precisei apresentá-lo para a primeira pessoa na festa, ouvi o leve tom de pânico em minha voz. Eu devo satisfações a um total de zero pessoas ali. Mas ainda assim é desagradável imaginar a fofoca de escritório no dia seguinte.

O problema é que a primeira hora se passou e...

Eu não sei até que ponto foi uma má ideia trazer Spencer para um evento de trabalho. Ele é simpático e divertido. Faz amizades depressa e tem nenhuma vergonha de puxar assunto. E mesmo que não ganhe as pessoas pela personalidade, basta um sorriso para desconcertar qualquer interlocutor, principalmente se mulher. Ele é lindo. Muito e absolutamente. De um jeito que nem sequer fica aberto a diferentes opiniões.

Ele é uma boa companhia.

E eu não mandei a mensagem.

Por que não abri a porcaria do aplicativo pra verificar? Por que confiei na notificação?

Bem... porque eu me sinto ridícula encarando a tela do celular esperando resposta de um cara.

E aí tanto me senti ridícula que acabei me fazendo ridícula mesmo.

Ele não respondeu porque eu nunca lhe dei espaço para resposta e, assim como trazer Spencer para a festa, minha mensagem não enviada era o tipo da coisa que eu não tinha conseguido decidir se era boa ou ruim.

Spencer está entretendo um pequeno grupo de pessoas com uma história sobre pegar uma balsa, bêbado, com dois desconhecidos. O grupo ri preso em cada uma de suas palavras e eu me afasto para pegar um copo de champanhe.

O que eu teria feito se ele tivesse respondido?

Teria me masturbado junto com ele?

Bebo um gole largo, aperto meus olhos e respiro fundo.

- Tati. - a voz familiar. A mão quente na parte baixa de minhas costas.

- Marcus!

- Oi! - sorri.

Minha empolgação foi, em parte, alívio. Por um segundo, achei que era Spencer e não sei se consigo me controlar se ele me tocar agora.

Meu amigo, no entanto, lê minha reação como alegria pura e sorri de acordo.

- Ótima festa!

- Oh, obrigada. Mas temo que tive muito pouco a ver com sua organização.

- A sua presença fez com que ela ficasse perfeita!

- Você é gentil demais.

- Sou gentil na medida. - sorri.

É lindo também.

De um jeito diferente.

De um jeito mais... experiente.

Ainda tem uma mão em minhas costas, desliza o polegar ali em uma carícia que ainda é polida mas quase atravessa a linha para o inapropriado.

- E como vai o cargo em São Francisco? Já decidiu? - prendo a respiração. É bem evidente que o assunto não me deixa confortável.

- Ainda não. Mas temos tempo. A gente não precisa falar sobre isso agora.

É curioso...

Ele quase fala como se aquela fosse uma decisão que temos que tomar juntos.

- E tudo pronto para a festa da Pamela? - brinca.

- Você também está chamando assim agora?

Dá de ombros com um sorriso gostoso.

- Acho que tudo pronto. Eu vou tentar chegar um pouco mais cedo, caso ela precise de ajuda.

- E por "precise de ajuda" você quer dizer...

- "Impedir que ela mate algum funcionário". - assinto enquanto ele conduz as palavras que, já sabe, eu vou dizer.

- Posso chegar mais cedo também. Caso você queira companhia.

- Não... não é preciso. Eu vou... ahm... o Spencer vai comigo.

- Spencer. - murmura o nome e sua mão, em minha cintura, fica mais pesada - É o cara?

- Hm?

- O do encontro.

- É. Spencer. - engulo em seco - O Spencer. É... o nome dele. Spencer.

- Spencer. - repete, achando graça de meu desconforto - Preciso mesmo conhecê-lo. Quem sabe ele me dá umas dicas.

- Dicas?

E aí tem outra mão na minha cintura.

Uma mão forte, larga e intensa, sem qualquer vergonha de disputar o controle pelo meu corpo.

Marcus, Deus o abençoe, me solta, assustado. E ainda bem que fez isso ou ficariam os dois me puxando como a uma corda.

E aí Spencer, que não tem a discrição do Marcus, me puxa pela cintura até me colar ao seu corpo.

- Dicas para o quê? - pergunta, com seu sorriso de causar vítimas.

Meu amigo, diante dele, apenas enruga a testa como se estivesse lutando arduamente para entender o que está acontecendo.

- Spencer. - aponto - Esse é o Marcus.

- Esse é o Spencer? - se tentou esconder o choque em sua voz, tentou muito mal e falhou. Faz uma careta para mim e é a mesma que ainda tem no rosto quando se vira de volta para observar o outro.

- Acho que minha fama me precede. - sorri - Mas desculpa, não ouvi seu nome?

- Marcus. - ele engole, incomodado, ainda investigando Spencer de cima abaixo.

- Hm. Você... trabalha com a Tati? Não me lembro de já ter ouvido seu nome.

- Ah... Não. Mais ou menos. Somos amigos. - explica.

- Ótimo. Você também vai pra festa, esse fim de semana?

Hesita.

Parece precisar de um segundo depois que Spencer fala.

Como se estivesse se beliscando e aceitando a realidade.

- Vou.

- Acho que nos vemos lá.

- Sim, sim... - responde, de qualquer jeito - Me desculpe. - sorri - Mas c... como vocês se conheceram?

Eu não faço ideia como responder essa pergunta.

Não que isso seja um problema porque Spencer tem um sorriso atrevido e já se adiantou:

- Ah! É uma longa história. E a maior parte dela não dá pra contar, assim, em público. - pisca um olho - Amor, pode vir aqui comigo, um instante? Desculpa, Matt, preciso roubá-la. Foi ótimo te conhecer. Amor?

- Sim, claro. Já volto. - acrescento para um Marcus que parece estar tão atordoado quanto eu.

- "Amor?" - sussurro, assim que entramos em uma das poucas salas que não é inteiramente de vidro.

A luz está apagada e o fato de que Spencer não se incomodou em acendê-la deveria ser um indicativo de suas intenções.

- O que você disse?

- O quê?

- Na mensagem. A que não enviou. - ele fechou a porta e, apesar de ter uma sala inteira atrás de si, no manteve ali. Estou presa entre ele e a madeira.

- Me tirou de lá só pra falar disso?

- Te tirei de lá porque você quer evitar o Marcus, lembra? Só estou puxando assunto enquanto estamos aqui.

- Muito sagaz de sua parte. - recrimino, mas ele escuta apenas um elogio.

- Obrigado. - sorri, satisfeito - O que disse na mensagem?

- Não acredito que voltou a pensar nisso agora.

- Estive pensando nisso a noite inteira.

Suas mãos escorregam da minha cintura pro meu quadril.

- Bem... - continua - Nisso e no que eu diria depois.

Engulo em seco.

Spencer é um bloco imenso de músculos, apertando-me contra a porta. Respira meu perfume com um gemido grave que eu sinto tremer fundo em minha virilha.

- O que diria depois? - murmuro.

- Primeiro, eu preciso saber o que você disse, não é mesmo?

- Eu... - gaguejo - Não... não lembro.

- Não lembra? - ele está tão perto que escuto o estalar dos seus lábios em meu ouvido quando sussurra. Sinto seu hálito em meus arrepios. Minhas mãos em seu peito na penumbra. O bater do coração tão alto que o sinto em minha garganta. Suas mãos descem para minhas coxas, brincando com a barra da minha saia - Que pena. - murmura, a rouquidão intensa me fazendo pensar que ele fechou os olhos. A ponta de seu nariz raspa na curva do meu pescoço enquanto escorrega as pontinhas dos dedos pela parte interna de minhas pernas. - Uma pena mesmo. - promete.

A carícia que faz entre minhas pernas me rouba o ar e a razão. Fecho os olhos. Agarro sua camisa.

Sua mão sobe e sobe.

Entre minhas pernas.

Até encontrar minha calcinha.

Desliza um único dedo pela minha entrada. Bem devagar. Ainda por cima do pano.

Pouca pressão. Pouca pretensão.

Casualmente experimentando-me com um único dedo.

O pornô.

É exatamente o que eu disse pra ele que gostava.

O que eu disse que me enlouquecia.

Ele vai me comer.

No meio da festa.

E eu vou deixar.

Meu Deus, eu vou deixar.

Mas Spencer parece ter outros planos porque me solta e dá um passo para trás.

Arfo alto assim que ele nos move para abrir a porta.

- Quer beber alguma coisa, amor?

O quê?

Como assim?

Eu... eu...

Ele vai parar? Assim?

Ele sorri e eu sei que está vendo todas essas perguntas e vontades em meus olhos.

Está me provocando.

- Hm. - é tudo que consigo responder.

Verifico a integridade da minha saia e tomo sua frente.

Mas ele me segue de perto.

A noite toda.

Sempre muito perto.

Respirando meus cabelos. Abraçando minha cintura. Raspando sua virilha em minha bunda tão gentilmente que duvido que qualquer pessoa notasse, mesmo que estivesse prestando atenção.

Beija meu rosto e sussurra convites.

Não estamos mais no telefone, agora.

Não é mais só uma troca de mensagens.

É muito mais divertido assim.

E ele sabe disso.

***************

Spencer

Estou de volta na casa da Tati.

A festa foi... maravilhosa.

Não só pela comida, pela música ou pela cara de idiota do Marcus.

Mas porque sempre que eu a abraçava eu conseguia sarrar nela só um pouquinho e, muito rápido, ela estava se esfregando de volta.

Achei que ia morrer a primeira vez que aconteceu. Eu estava só tentando provocá-la, apertando minha virilha naquela bunda redondinha só pra lembrá-la que eu estava bem ali e poderia ficar duro assim que ela quisesse. Mas aí eu me apertei nela e Tatiana deu uma reboladinha rápida contra o meu pau... eu tive que ir de "fico duro quando você quiser" pra "Spencer, pelo amor de Deus não vamos ficar duros aqui no meio dessa festa".

E a melhor parte mesmo foi lembrar eu ainda não tinha experimentado o maldito terno.

Porque quando a festa acabou eu percebi que não estava pronto pra me despedir dela.

E, acho, ela também não estava pronta para se despedir de mim.

- Vai andando na minha frente e não olha pra trás. - sua voz é firme mas ela está sorrindo.

- O que foi que eu fiz?

- Você sabe exatamente o que fez.

- Eu fui um garoto levado? Você vai me levar pro seu quarto pra me punir?

- Não, senhor

- Droga. Sabia que devia ter feito mais mal criação.

- Spencer!

Ela me segura pelos braços e vai me empurrando devagar pelos corredores. É quase como se tivesse medo do que aconteceria se nos permitisse um segundo de silêncio.

Um único segundo nos meus olhos e nas minhas mãos.

Compreensível.

Se eu tivesse esse um segundo, ia fazer ele todinho valer a pena.

Ela acende todas as luzes do seu quarto, como se quisesse provar um ponto: nada de escuro, nada de penumbra, nada de nada.

- Você quer que eu tire as roupas onde?

- Por que precisa fazer isso? - ralha, mas está rindo.

Me solta e eu me viro. Mordo o canto do meu sorriso e tenho sua atenção. Presa em mim assim como estou preso nela.

Dou um passo, vou tocá-la.

Engole em seco e foge do meu toque, ajeita os cabelos atrás da orelha encarando o chão. Tem os cabelos soltos e, não que ela saiba, mas é só isso que ainda me salva.

- Só experimenta a roupa? Por favor? - rende-se.

Eu não quero só experimentar a roupa.

Quero experimentar ela.

Quero o gosto dela na minha língua de novo.

Mas o jeito doce como se rende em seu pedido sincero é bastante para me desarmar. Assinto com um gesto educado.

- Ali? - aponto para o closet.

Ela sorri, agradecida e me acompanha até o closet.

Estamos os dois ali dentro de novo.

Uma reprise do começo da noite mas agora parece que... parece que aconteceu alguma coisa.

Entre minhas provocações carnívoras e sua rendição gentil, surgiu entre nós um acordo não verbal. Uma... neblina. Cobrindo nossos corpos e intenções. Eu a quero muito e acho que ela me quer também.

Mas ninguém está com pressa.

Ela pendura o cabide com o terno em um dos ganchos no seu closet e abre a proteção de plástico escuro.

- Me avisa quando estiver pronto. - sussurra, se afastando.

Mas assim que passa por mim... algo acontece.

É seu perfume.

É seu jeito.

É seu corpo.

Eu seguro seu braço e a mantenho ali. Tatiana me observa sem compreender o que eu quero até porque não a puxei de volta. Apenas seguro seu braço, um pedido silencioso para que fique me ali se quiser.

Estou vulnerável, também, Tati.

Rendido também.

Só fica aqui comigo, por favor.

Ela para e eu a solto.

Não se afasta. Não vai embora.

Fica ali, de pé, me observando. Aceitando o convite que lhe fiz.

Tiro a camisa primeiro. Depois as calças.

Não sou libidinoso nos atos, sabe? Sequer tento provocá-la. É só meu corpo. Sou só eu.

Tati me observa tentando disfarçar a própria fome, apertando os lábios para não deixar escapar a língua. Me dá vontade de sorrir. Todas as mulheres em agências de modelos e representantes de grife que torciam o nariz para o meu corpo... e eu aceitaria todas elas, sem qualquer problema desde que pudesse ter pelo menos uma mulher - pelo menos aquela mulher ali - ainda presa em mim.

Se eu pudesse encantar ela, todo o resto era irrelevante.

Meu peito se esquenta. É o calor dela.

Ela causa isso em mim.

Visto as calças sociais e me sinto nu. Mesmo que não esteja.

Mas não de um jeito humilhante ou indigno.

Me sinto nu e... bem.

Me sinto livre.

Exposto.

Confio em você.

Vem até mim devagar. Inspeciona o terno que vesti. Ataca os botões em meus punhos e testa um par de abotoaduras. Aí dá o nó em minha gravata e acena rapidamente em uma aprovação que em agrada. Sorrio. Toco seu queixo.

Quero te beijar.

Quero tanto fazer isso.

Está bem perto agora, abaixo a cabeça e respiro seus cabelos. Ajeita minha camisa sob o paletó. Passando os dedos pelo tecido verificando se está bem vestida com todos os botões atacados. Examinando se o tamanho é correto e se... nem sei mais o quê.

Porque ela está passando a mão no meu estômago já faz um bocado de tempo. Suficiente para ter inspecionado tudo que precisa duas vezes, mas ainda tem as mãos em meu corpo. Eu inclino o rosto com um meio sorriso. Ela não me olha nos olhos, ainda está encarando meu tórax e tentando fingir que tem razões meramente técnicas para estar passando a mão em mim.

Eu fico rindo para mim mesmo enquanto espero ela acabar.

Desliza as mãos do meu estômago para o meu peito e raspa as unhas ali, devagar. Respira fundo quase como se gemesse.

- Quer que eu tire a camisa de volta?

Ela tira as mãos de mim como se tivesse levado um choque.

- Só estava vendo se serviu.

- Não acho que serviu. Tem outra pra eu experimentar? Eu troco e você verifica de novo. - sugiro, morno.

Morde o sorriso, envergonhada.

- Por que me provoca tanto?

Eu não tenho uma resposta porque estou hipnotizado. Tatiana é linda. E assim, tão perto, não dá pra desviar o olhar.

Não dá pra pensar em outra coisa.

A pergunta que me fez foi uma, mas minha mente está em outro lugar. Fazendo outras considerações:

- Como pode achar que eu não teria te respondido? - sussurro - Como pode imaginar isso?

Dá de ombros, encolhida.

- Eu não sou o tipo da maioria dos homens, Spence. Principalmente dos da sua idade.

- Não é o tipo de... - tenho uma risada curta de desespero - Será que algum dia vai entender? - tem um jeito... tem um jeito bem rápido de fazê-la entender - Quer acreditar em mim? - decido - Quer ver o tanto que você é gostosa? - dou um passo para trás para que perceba minha rigidez - Me dá sua mão?

Ela engole em seco.

Hesita por três segundos inteiros.

Me dá sua mão e ainda não consegue desviar completamente o olhar de minha virilha.

Eu a coloco sobre meu estômago, deslizando-a para baixo devagar, para que ela saiba exatamente para onde estou indo e tenha tempo de me interromper.

Ela, no entanto, não faz isso.

Encara minha virilha uma última vez antes de prender sua atenção em meus olhos.

Deixo seus dedos em minha ereção e ela me faz um carinho lento. Fecho os olhos com um gemido baixo.

Raspo meu nariz em sua bochecha.

Vou morder essa mulher.

Vou mordê-la agora.

- E isso foi só você ajeitando minha camisa. Imagina se eu tirasse a tua?

Sua respiração nervosa perdeu o ritmo.

Passa a língua sobre os lábios e fecha os olhos também. Não consegue fechar a mão ao meu redor por causa da porcaria da calça.

- Aqui. - eu abro o cinto e desço o zíper. Tudo é feito devagar. Ela pode me mandar parar quando quiser... mas, ao invés disso, ela fecha o punho ao redor do meu pau ainda enfiado na cueca assim que o tem com um pouco mais de liberdade.

Meu gemido é grave e eu preciso apoiar minha testa contra a dela. Agarro sua cintura e é minha vez de descer a mão pelo seu estômago.

Lento.

Muito lento.

O mais lento que consigo ser.

Até me enfiar sob a saia e entre suas pernas.

Tatiana é quente.

Úmida.

Aperto os olhos.

Deliciosa foi uma definição bem apropriada.

É exatamente isso que ela é.

Experimentei sua bocetinha só por um segundo mais cedo e precisei vender minha alma para conseguir me interromper antes de esporrar nas calças.

- Spen... Spencer...

- Shh... - sussurro. Sinto a umidade atravessando sua calcinha. Sinto minha virilidade inteira na sua mão.

Só preciso de um dedo para tirar sua calcinha do caminho. Está molhada, derretendo com aquele líquido viscoso que é declaração expressa de um prazer que não dá mais pra conter dentro da carne. A bocetinha salivando pelas suas coxas. Com fome. Ela rebola de um jeito que seria quase imperceptível se eu não estivesse tão duro e tão perto.

Agarrada a minha camisa e a minha carne, sussurrando meu nome como se implorasse mesmo que não soubesse pelo quê. Apertada entre nós, a blusa abaixou-se o suficiente para que eu veja seu decote e a roupa íntima que o cobre. O sutiã simples e preto com uma renda escrota fazendo uma linha bem pequena ao redor do bojo. Subindo e descendo. Escapando do corpo do sutiã para lamber a carne dos peitos de Tatiana.

- Spencer... - sua voz é quase inexistente - O que... o que vai fazer?

Está corada e quente.

Escuto seu coração latejando na virilha.

- Eu queria te abrir e te comer. Mas não acho que vai me deixar fazer isso.

Ela mal respira. Gagueja, ainda se apertando contra o meu corpo, como se estivesse bem perto de mudar de ideia e me dizer "sim".

Fecha os olhos com força e parece lutar para sobreviver ao conflito de sua própria indecisão: a dor de ter que recusar o prazer que queria sentir.

Por que ainda está resistindo, Tati?

Suas coxas estão entreabertas e ela não se afasta. Está tão úmida que eu não teria qualquer dificuldade para me escorregar para dentro dela.

Raspo a pontinha do meu toque em sua entrada. Sinto sua bocetinha aberta e babando. Eu estou muito duro. Esfregando meu pau coberto pela cueca contra sua saia, suas coxas e o que mais eu encontrar. Ela ainda aperta minha ereção, mas o meu toque em sua intimidade parece ter sido suficiente para fazê-la esquecer de qualquer outro sentido que não fosse o tato que tem bem ali entre as pernas.

Esfrego meu polegar sobre o seu clitóris e ela se contrai, ofegando de surpresa e desejo.

A essa altura, é certo que já esqueceu o próprio nome.

E eu mal comecei.

Mordo seu queixo com força quando enfio dois dedos nela.

Tatiana se agarra ao meu braço.

Violência é uma coisa que vem da raiva mas que também vem do prazer. Se você bolina uma mulher e ela não enfia as unhas na tua carne como se estivesse tentando lutar pela própria vida, você tá fazendo algo errado. E Tati está ali, agarrada ao meu braço, como se fosse tudo que a salvasse de cair de um precipício.

Não que eu seja capaz de notar nada disso: ela é bem quente e apertada ao redor dos meus dois dedos e eu consigo fazer muito pouco além de respirar fundo e não perder a consciência.

- Vai gemer pra mim? - peco, com os dedos dentro dela - Vai me deixar ouvir?

Mas ela aperta os lábios com a mesma força que aperta os olhos.

Lutando contra o prazer do mesmo jeito que lutou contra a tentação.

Por Deus, mulher, pare de resistir.

- Vou ter que me esforçar, então? - suspiro - Tudo bem.

Curvo os dedos dentro dela para fodê-la mais forte. Mais rápido.

Está trêmula em meus braços. O suor frio escorre pelas suas têmporas aumentando a vontade que eu tenho lambê-la até estar coberta com nada além do seu suco e minha saliva.

Ela engole um grito baixo quando eu a masturbo.

Violência é a palavra.

Eu a masturbo com violência.

- O... o... O que está fazendo? - geme, mordendo meu ombro.

Aquele desespero erótico é sublime em qualquer mulher. Mas naquela dali. Naquela que está tentando resistir há tanto tempo, e com tanto sucesso. Naquela que está vivendo na abstinência e acreditando estar a salvo. Acreditando que transcendeu.

Senti-la agarrada ao meu braço esfregando-se em meus dedos como uma cachorra no cio. Arranhando meu ombro através da camisa, gemendo incongruências que significam tanto mesmo que incompreensíveis.

Naquela mulher, o desespero é mais que sublime.

Vou gozar só por assistir sua angústia.

- O que está fazendo? - choraminga. Saliva escorrendo de seus lábios para minha camisa.

Salivando por todos os lugares porque perdeu o controle sobre seu próprio corpo.

- Estou fodendo essa tua boceta apertada porque quero te ouvir gritar. Porque faz anos que você não grita e eu quero ouvir como é.

Belisco seu grelinho seu piedade. Ela enfia os dentes na minha carne mas não tem problema, eu sou um cara forte. Já levei mordidas antes. Eu aguento.

- Vai gritar pra mim?

O mel que escorre da sua boceta é suficiente para encharcar suas coxas e minha mão O barulho viscoso acompanha o movimento dos meus dedos enquanto a fodo depressa, e é um som gostoso pra caralho de escutar. O silêncio absoluto a não ser pelo entrar de dedos na boceta cheia de seus suco pesado e pelos gemidos que Tatiana ainda tenta sufocar em meu ombro.

Relaxa, Tati.

Só relaxa, linda.

Minha camisa está úmida de saliva no lugar onde ela segue me mordendo. Tiras vermelhas marcadas na minha pele pelo antebraço até a mão, onde ela passou as unhas em desespero.

É como se ela estivesse loucamente tentando se manter firme a sua abstinência, depois de cultivá-la por tanto tempo certamente se tornou preciosa.

Essa mulher precisa gozar.

Seis anos.

Ela precisa gozar.

- Deus, como você é gostosa. Quero muito colocar meu pau aqui e te apertar contra aquela parede. Ser o primeiro depois de tantos anos pra poder te assistir quando lembrar como isso é bom.

Eu não sei como ela está aguentando.

Porque eu não aguento mais, sabe?

Empurro minha cueca pra baixo e deixo meu pau livre. Esfregando a cabecinha em suas coxas, sentindo sua pele macia deslizando nas gotas largas que minha ereção cospe antecipando uma boceta que, se estamos sendo sinceros, não sei se vai chegar.

- Vai gozar aqui, no meus dedos, entendeu? - resmungo - Não vou embora enquanto não fizer isso. Teu luto acaba hoje.

Ela rebola na minha mão e acho que quem vai gozar sou eu.

Me arranha com os olhos apertados, em pânico.

Ela não sabe mais gozar.

Desaprendeu.

- Puta que pariu, Tatiana, relaxa. Só relaxa.

As coxas lutando contra minha mão, a consciência lutando contra o próprio desejo.

- . - rosno - Se dedos não resolvem, vai ser com a língua então.

Ela arfa quando eu a solto sem aviso, estou de joelho e consigo dar uma lambida inteira nela antes de sermos interrompidos.

- O que são todas essas luzes aces... TATI! Você voltou? - É Julia. A assistente.

No quarto. Não consegue nos ver, mas é só uma questão de tempo.

A merda, no entanto, não é o "quase ser pegos".

A merda é que eu lambi Tatiana.

Tenho o gosto do suco dela na minha língua.

E ela é boa pra caralho.

Quero enfiar meu nariz e minha língua ali de volta e ficar chupando aquele doce pelas próximas duas horas.

Nada disso vai ser possível, lógico.

Porque Tatiana me empurrou para longe de sua boceta e me puxou pela camisa, exigindo que eu ficasse de pé. Tem uma mão autoritária tapando minha boca e ordenando silêncio.

- Estou aqui. - responde, sem ar - Estou trocando de roupa. Achei que você já tinha ido embora.

- Eu achei que você queria terminar de ver os relatórios antes da festa da Madame. - Julia responde e parece ter parado de caminhar pelo quarto.

Minha língua está formigando. Meu pau vai explodir a qualquer instante. Sinto ele tão duro que acho que dá pra usar o coitado pra bater um prego.

- Ah! - fecha os olhos, sofrendo, provavelmente ao lembrar que tinha mesmo combinado aquilo. Solta minha boca para esfregar a própria testa, em descrença.

Eu a aperto contra o armário. Tenho minha boca no seu ouvido.

- Eu quero voltar lá pra baixo. - sussurro, desço minha mão e agarro sua boceta de volta - Quero terminar o que comecei.

- Como foi lá? - Julia pergunta.

- Normal! - Tatiana geme, tira minha mão de suas coxas em pânico, mas não se afasta. Nossas testas coladas. Raspando meu nariz no dela como se sexo fosse possível só com aquele movimento ali.

E agora eu quero beijá-la.

Quero beijá-la e foda-se se a Julia vai notar alguma coisa.

Ela deve ter percebido minhas intenções, porque colocou os dedos sobre minha boca e afastou meu rosto do seu.

- E o Spencer se comportou? - Julia pergunta.

Tati toma minha ereção e me masturba. Muito. Bem gostoso.

Fecho os olhos.

- Não vou terminar sem você. - sussurro.

Mas estou enganando absolutamente ninguém.

Vou terminar sim, e vou terminar rápido.

Tati parece ter esquecido como conseguir o próprio prazer, mas lembra muito bem como conseguir o dos outros.

O movimento de sua mão é divino e bem cheio de experiência.

Punheta de mulher que já fez aquilo bem e muito. Agarro sua cintura.

Violência.

Violência em minhas mãos.

Violência nas dela.

Mordo meu lábio inferior

- Não vou terminar sem você. - tento resistir com um último sussurro.

É aí que ela me lambe.

Não uma lambida rápida e erótica só pra provocar.

Ela me lambe lenta.

Nos lábios.

É sensual, mas é doce.

É tão doce.

Como se me lambesse não porque quer, mas porque precisa.

Eu me curvo atingindo minha crise. Esporro em sua mão e suas coxas.

Longo e quente.

- Tati? O Spencer se comportou?

Tenho a boca enfiada na curva do seu pescoço enquanto tento me recuperar.

Maldita.

Eu gozei e ela não.

Seis anos que vão acabar virando sete porque eu sou um incompetente.

Gotas pesadas do meu leite, grosso e quente, ainda pingando no chão do seu closet.

- Não. - ela responde para a assistente e me encara cheia de sugestão - o Spencer nunca se comporta.


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Nota da autora: Lembrando que o livro completo chega amanhã na Amazon! 25/01 <3

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Tags: #romance