6. Rabo de cavalo
Investigo as prateleiras na livraria.
Como você sabe que eram orgasmos de verdade?
Merda, né?
Minha autoconfiança que já tinha virado essa coisa frágil, agora ia precisar de ajuda pra sobreviver.
Nada em nenhuma daquelas prateleiras salta ao olhar.
Existe um conforto único em livros de romance previsíveis. Às vezes você só quer se sentir bem, não é? Só aquela sensação quente dentro do seu peito que leva um sorriso imenso ao seu rosto, do tipo que só é capaz quando a gente sabe que vai ficar tudo bem.
Vai ficar tudo bem.
Não dá pra ser mais ficção do que isso.
Na vida real, nem sempre fica tudo bem.
Na verdade, na vida real, as coisas se esforçam mesmo para ficar mal e você tem que fazer um malabarismo insano apenas para se manter de pé... quem dirá feliz.
É por isso que Tatiana era uma experiência estranha.
O provador, o sofá, o bar... Não foi como sexo.
Até porque não houve sexo.
Eu quero dizer que não foi só um alívio temporário pro estresse e caos. Não foi a rápida sensação de estar bem.
Tatiana no provador foi como Alice e o Conde que, desde o início, eu já sabia que iam ficar juntos.
Tatiana era como a vida deveria ser se tudo sempre fosse ficar bem.
- E esse aqui? - Laurie pergunta - "Duas irmãs apaixonadas pelo mesmo homem" - recita - "apenas uma pode ter seu amor retribuído".
- Não. - torço o nariz.
- Parece ser bem emocionante.
- Lala, eu quero um que eu saiba o que vai acontecer no final.
- Que graça tem isso?
- Não é pra ter graça.
- "O que ela pode fazer quando descobre que o homem que sempre amou é responsável pela morte do seu pai..." Credo, hein filha? - resmunga para o livro.
Tiro o exemplar da sua mão.
Laurie é nova em caçadas como aquela, mas eu sou experiente e sei exatamente do que preciso.
- Procura um que tenha gente pelada na capa.
- Que?
- Aqueles que tem homem sem camisa, exibindo uns músculos de photoshop.
Ela tem um sorriso de descrença roubando suas palavras. Reviro os olhos:
- Eu não ligo pra foto do cara.
- Tem certeza? Porque pareceu mesmo que essa parte era super importante. - ri.
- Esses têm o costume de ser clichê. Eu quero um que seja clichê.
- Que graça você vê nesses livros previsíveis?
- Que graça você vê nos imprevisíveis? De caótica já me basta a vida. Quando eu começo um livro eu quero mesmo saber que vai ficar tudo bem perfeito no final, obrigado.
- Esse daqui tem uma escola de sexo, um assassinato e uma herdeira de uma indústria pornô.
Faço uma careta.
- Não.
- Deve ter um monte de cena de sexo.
- Se você quer ler, leva. Não vou te julgar.
- claro que não vai. Até parece que depois de tudo que ouvi hoje você teria alguma condição de me julgar.
Experimento mais alguns exemplares espalhados pelas gôndolas.
Ela tem uma pele macia.
Um gosto bom.
"Não vai acontecer de novo" ela disse.
Nada de misturar as coisas.
Só amigos.
Esfrego meus cabelos.
Droga.
Não consigo tirar a mulher da cabeça.
Que inferno, Spencer!
E daí que vão ser só amigos? Ela só estava te pagando por companhia, lembra?
- Não sei de que adianta comprar outro livro se você só vive relendo o mesmo.
- Não acho outro tão bom quanto! - resmungo - Quando você acha algo bom, às vezes precisa se prender a ele.
Arregala os olhos com o sorriso espremido.
- E está falando só de livros? Ou de alguma outra coisa?
- Do que mais eu estaria falando?
- Nada. - dá de ombros, mas seu olhar é curioso - É melhor você escolher depressa ou a gente vai se atrasar pro trabalho. - verifica as horas - E esse daqui? O cara pede pro irmão gêmeo ir casar no lugar dele. - ela ri alto - Isso NUNCA daria certo.
- ESSE! - pego - Certeza que vai dar tudo certo no final.
Se tem uma coisa que eu aprendi com livros de romance é que quanto mais insana a situação, maior a probabilidade de dar tudo certo. São os livros com histórias sérias e verossímeis demais que me deixam preocupado. Esses viram drama e lágrimas em um segundo e, de drama e lágrimas, já me basta minha vida.
- Quando vai vê-la de novo? - Lala me pergunta assim que chegamos ao Mangiare. Eu acho estranho porque tenho certeza que estivesse pensando na Tati, mas também tenho certeza que não estive falando nela. Ou pelo menos, eu acho que não. Mas Laurie me faz a pergunta como se aquele fosse o assunto desde o ano passado e eu acho que posso estar enganado. Não vai ser a primeira vez que minhas certezas valem de nada, não é?
- Ah... Não sei.
- Ela vai pra agência com você, amanhã?
- Não! Ela só conseguiu um horário pra mim. Eu vou sozinho.
- Essa agência é bem chique, não é?
- É a melhor da cidade. Talvez uma das melhores do país.
Ela balança a cabeça, positivamente, mas sua expressão parece hesitar.
- Tenta se concentrar, Spence. É uma boa oportunidade. Não perde porque estava com a cabeça... em outro lugar. - sugere - Sai hoje de noite. Faz alguma coisa. Não fica em casa lendo e remoendo pensamentos porque vai dormir pensando nisso e vai acordar cheio de assuntos pendentes. Vai se arrepender pra sempre se perder essa oportunidade porque não conseguia se concentrar.
Estou prestes a contestar porque estou bem seguro que minha concentração é impecável mas ela me dá um beijo na bochecha e vai se trocar antes de me deixar dizer qualquer palavra.
Deixo minhas coisas no armário e devia ir imediatamente para a cozinha, de onde já consigo escutar o Rodolfo reclamando do nosso atraso de dois minutos e treze segundos, mas estou encarando meu celular. Bem... meus livros e meu celular. O novo, que eu acabei de comprar, e o da Alice que ainda não tirei do armário.
Destravo o aparelho e digito depressa. A mensagem de texto é simples, enviada pelo aplicativo do Sugar Love mesmo para reproduzir nossa primeira conversa, e consiste de apenas duas palavras: "oi, tigresa".
Infelizmente, não vou poder ficar ali esperando a resposta.
Não perde a oportunidade porque estava com a cabeça em outro lugar.
Com a cabeça na Tatiana.
O tempo todo.
Eu pensando nela e ela pensando em outro como uma roda macabra que termina com um monte de corações partidos.
- Oi.
Vanessa cola o corpo nas minhas costas e sorri de um jeito sapeca quando estala a palavra bem suave no meu ouvido.
Não é um erotismo que, na verdade, é uma brincadeira.
É uma brincadeira que, na verdade, é um erotismo.
- Oi. - aceno.
Ela tem os cabelos pretos e muito longos, presos em um rabo de cavalo bem apertado. Tem uns peitos fartos e suculentos, somados a uma cinturinha fina de mulher que geme bem agudo quando a fodem direito.
- Quero saber quando é que você vai me levar pra sair. - ajeita o rabo de cavalo sobre o ombro como se estivesse apenas revisitando um assunto comum e não dando descaradamente em cima de um colega de trabalho que não faz a menor ideia do que ela está falando.
- Não sabia que era uma obrigação. - provoco. Mas eu sou lindo e tenho um sorriso gostoso, a provocação é bem recebida e ela me dá um tapinha no braço que vira uma caricia.
- Hoje de noite? - pergunta, manhosa, com a mão subindo pelo meu braço para experimentar meu peito.
A palavra "não" está bem na ponta da minha língua.
Porque ela é minha colega de trabalho, sim.
Mas principalmente por causa da outra pessoa que parece ter entrado na minha cabeça dias atrás e firmado residência permanente.
Ao contrário dos seis anos de Tatiana, no entanto, Vanessa é o tipo que dificilmente fica sem por mais de seis horas.
É evidente no modo como ela passa a língua nos lábios com uma falsa inocência capaz de deixar duro qualquer um que se permita. Ela me quer na sua boca e eu bem que poderia usar uma boca que me quer.
Não fica em casa lendo e remoendo pensamentos.
Veja bem, eu tenho CERTEZA que quando a Lala me deu essa sugestão, ela NÃO quis dizer "come a Vanessa pra passar o tempo".
Mas "comer a Vanessa" é a ideia que está no ar diante de mim naquele segundo.
Um único segundo.
Existe uma clareza mental muito única que acontece com um homem depois que ele bate uma. É melhor ainda depois do sexo.
Os problemas se tornam simples, as soluções se tornam evidentes. Os caras que descobriram como chegar na Lua? Deviam bater uma todo dia antes do trabalho.
E é isso que estou dizendo a mim mesmo: que tudo bem, a Vanessa é só parte de um plano para me ajudar a desatar o nó que eu dei em minha vida pessoal antes que ele se torne irrecuperável.
Não sei se é verdade.
Mas também não sei que diferença faz.
Porque eu já abri minha boca e a resposta que dei pra Vanessa foi:
- Que horas?
***************
Tatiana
Spencer é problema.
Eu sou uma pessoa prática.
Eu tento evitar problemas e, quando não é possível, eu tento resolvê-los.
É por isso que tem uma parte imensa de mim gritando que eu deveria encerrar esse acordo agora.
Pagar o que devo, lhe desejar boa sorte e ter uma conversar desagradável com Marcus.
Essa é a coisa mais razoável a fazer, eu sei que é. E, pela minha vida, é isso mesmo que eu queria conseguir fazer.
Só amigos.
"Só amiga" de um cara treze anos mais novo.
Aquilo não ia dar certo. Ele é só imaturidade e inconsequência enquanto eu estou fragilizada, reaprendendo como me relacionar. É o equivalente a dar uma peça delicada de cristal a uma criança muito pequena: ela vai se partir em um milhão de pedaços e a culpa vai ser sua, sim.
Eu achei que já tinha desinstalado o aplicativo do Sugar Love a aquela altura e é por isso que recebo a notificação em meu celular com a testa enrugada de confusão.
"Oi, tigresa".
Duas palavras e a mensagem que, antes, era de procedência duvidosa, agora é de origem bem certa.
"Oi, golfinho", devolvo, aleatória.
Ele não responde.
E não responde.
E não responde.
Deve estar trabalhando enquanto eu encaro meu celular como uma adolescente.
O que diabos há de errado comigo?
Tento me distrair por algumas horas e quase consigo fingir que esqueci do celular, até ele apitar mais uma vez causando-me sobressaltos explicados apenas pela euforia.
"Desculpa! Eu estava trabalhando! Você tá bem?"
"Eu imaginei. Estou bem, por que está mandando mensagens por aqui?"
"Eu achei que seria engraçado"
Encaro a tela do meu celular por dois segundos inteiros.
Acho que foi tempo suficiente para a insegurança de Spencer atacá-lo porque recebo outra mensagem:
"Fui engraçado?"
"Foi" respondo "Hilário. Estou rindo muito até agora"
"Não precisa ser cruel!" ele adiciona à sua mensagem um emote de um pequeno rosto amarelo com uma língua estirada.
"Está me dando língua?"
"Ou uma lambida. Você escolhe."
"Língua" prefiro.
"C r u e l"
Eu respondo com nada além do mesmo rosto amarelo e língua que ele me dedicou.
"Lambida." Responde, fazendo, ele também, sua escolha.
"Como está o trabalho?"
"Adoro como você tenta nos manter longe do assunto que me interessa"
"Você não sabe se comportar"
"Nem estou tentando"
"Deveria estar envergonhado"
"Teu autocorretor transformou 'excitado' em 'envergonhado'. Sim, estou."
"Vou supor que seu trabalho está bem e tranquilo, diante dessa conversa"
"O Rodolfo decidiu que eu não sei fazer massa também. Estou bem curioso para descobrir o que mais eu não vou saber fazer amanhã"
"Sinto muito, Spencer... mas amanhã você tem a entrevista, não é? Pode ser que se veja livre do Rodolfo em breve"
"Sim! Amanhã! Obrigado, de novo, Tati! Não sei como você conseguiu agendar isso!"
"Eu te disse, eu a conheço há algum tempo. Espero que dê tudo certo!"
"Quer dizer que espera que eu não estrague tudo?"
"Exatamente isso mesmo que quis dizer"
"Hahahaha Vou me esforçar"
"Vai dar tudo certo!"
"Preciso voltar ao trabalho antes que o Rodolfo decida que eu não sei esquentar água"
"Boa sorte!"
Ele não responde por quase dois minutos.
Estou prestes a desistir de esperar, imaginando que ele fez exatamente o que disse que ia fazer e já voltou ao trabalho, quando mais uma notificação acende minha tela.
"Está ocupada hoje?"
"Não"
"Quer fazer alguma coisa mais tarde?"
Encaro as letras escuras no aplicativo.
Má ideia.
Péssima ideia.
Dou a única resposta que posso dar:
"Não."
"Só amigos, não é?"
"Só amigos" repito.
"Não vai precisar de mim antes da festa do leilão?"
"Acho que não. Mas se puder passar aqui, amanhã, para experimentar o terno, é uma boa ideia! Se não puder, eu peco a Lu para levar na sua casa, assim que possível"
"Eu posso ir!" responde depressa.
"Que horas quer que eu chegue?" acrescenta.
"Eu te mando uma mensagem amanhã?"
"Combinado! E quer fazer alguma coisa depois?"
"Spencer..."
"Eu já vou estar aí! Eu posso te fazer uma massa ou esquentar uma água"
Estou rindo sozinho. Não sei se de sua graça, sua insistência ou sua desgraça.
"Eu tenho uma festa no escritório amanhã a noite."
"Não vai precisar de companhia pra essa?"
Mordo o canto da boca.
É bem provável que o Marcus esteja lá. Mas eu já tinha dito a mim mesmo que apenas mais uma festa com o Spencer e esse acordo chegaria ao fim, antes que qualquer uma das partes tropeçasse e nos levasse mais longe do que eu achava certo ir.
"Não, estou bem, obrigada"
"Tudo bem"
Penso em escrever mais alguma coisa, mas... o quê?
Melhor deixá-lo em paz.
Deixá-lo trabalhar.
E eu sigo fingindo.
Fingindo que está tudo bem, que não estou verificando meu celular e que não estou pensando no que aconteceria se eu desistisse de minha resolução e levasse Spencer para uma festa a mais do que planejei.
Só uma.
***************
Spencer
"Tudo bem".
Ela sequer respondeu minha mensagem.
E eu passei os últimos cinco minutos do meu intervalo encarando nossas palavras e esperando.
Ô, filho de Deus, acorda.
Tem realmente alguma parte de você que acha que essa mulher pode estar interessada em você?
TALVEZ pelo meu corpo ou pelo meu charme. Mas eu já tinha tentado isso e não funcionou.
E eu não tinha muito mais fora isso pra oferecer.
A Vanessa ainda tá lá batendo papo com alguns clientes. O Rodolfo até considerou pedir pra ela parar de conversar tanto enquanto as pessoas comem, mas a mulher é boa pra cacete e é bem evidente que tem alguns caras que só voltam aqui todo dia pra dar em cima dela. O Rodolfo vende mais comida, a Vanessa recebe mais gorjetas. Funciona pra todo mundo. Até pra mim, inclusive, que não quero que a Lala fique sabendo dos meus planos da noite.
Se a Vanessa estivesse pronta, nós íamos sair juntos e aí o que eu ia dizer pra minha amiga? Que a Vanessa se perdeu e precisa de ajuda pra voltar pra casa? Mesmo que fosse verdade, a Laurie ia achar que era mentira.
Me despeço de todo mundo com a velocidade típica dos que não querem dar satisfação e digo pra Van que vou em casa tomar banho antes de encontrar com ela. A resposta que me dá é um piscar de olho tão erótico que parece até que me fodeu ali mesmo na frente de todo mundo.
Vou mesmo precisar do banho agora.
Estou bem comportado e tomado banho, sentado no sofá, esperando Vanessa dar os ares da graça, mas os únicos ares que ela dá vem em formato de uma mensagem pedindo desculpa pelo atraso.
Tudo bem, né? Fazer o quê? A verdade é que o cara desculpa quase tudo de uma mulher que está prestes a comer.
A Laurie vai me matar.
Vai deixar de ser minha amiga.
Vale a pena, Spencer?
Não, não vale.
E por que tá fazendo isso, ô animal? Vai no chuveiro, bate uma bem pesada. Duas ou três se precisar. E pronto.
Mas eu fecho os olhos e vejo a Vanessa.
De quatro com aquela bunda deliciosa apontada pra cima. Ela tava com um rabo de cavalo bem apertado hoje, que ia encher minha mão bem direitinho enquanto eu a fodia ali e...
Engulo em seco.
Arregalo os olhos como se tivesse acabado de acordar pela primeira vez no ano e descobrir que existe vida depois do orgasmo.
O rabo de cavalo.
O caralho do rabo de cavalo.
A bunda deliciosa que eu to imaginando quando fecho os olhos não é a da Vanessa.
Ai merda.
É por isso, POR ISSO que a gente pensa com a cabeça e não com o pau, sabe? Porque o pau vê uma mulher e diz "quero", aí ele vê outra e diz "não quero, mas serve" e começa a querer te convencer.
Eu não queria a Vanessa.
Eu queria outra morena gostosa que tinha o hábito de usar um rabo de cavalo.
Uma que a vida já tinha resolvido que eu não ia poder experimentar.
Aí minha cabeça disse "ok".
Meu coração disse "seguimos"
E meu pau disse "e daí, jovem? De rabo de cavalo tem MUITAS" e assumiu o controle.
Estou com raiva quando pego meu celular de volta.
Não sei por que estou com tanta raiva, mas é com isso que estou.
"Você esqueceu de me desejar boa sorte" aviso, no aplicativo do Sugar Love.
"Hm?"
"Boa sorte. Para minha entrevista amanhã."
"Ah... boa sorte!"
"Obrigado!"
- Vai! Diz mais alguma coisa! - resmungo, sozinho.
Sabe qual é o problema?
O beijo interrompido.
Esse é o caralho do problema.
Se eu nunca tivesse beijado Tatiana, eu estaria ok.
Se eu tivesse comido a Tatiana, eu estaria ok.
O problema é que eu tinha uma semana de merda, aí uma mulher incrível pra cacete me queria, MAS... só por vinte segundinhos. Depois disso, ela me botava pra fora e só queria minha amizade. Eu sou um amigo DE MERDA, Tatiana! Olha o que eu to fazendo com a Lala! Minha melhor amiga, e eu to prestes a comer a mulher que ela detesta só porque não consigo me livrar de uma coceirinha besta. Homem não presta, tá certo? Essa é a verdade dos fatos e da vida. Nós somos todos horríveis e é isso.
EU NÃO QUERO SER TEU AMIGO.
A gente começou o beijo e agora eu quero sentir tua bocetinha quente na minha língua.
Se você quiser me botar pra fora e ser amigo DEPOIS disso, TÁ ÓTIMO, princesa.
Mas depois, por favor. Não antes.
Antes é sacanagem.
Bagunço meus cabelos com raiva.
Meu celular apita mas não é Tatiana. Claro que não. É Vanessa dizendo que já está tarde e que é melhor se eu for direto pra casa dela. "Eu visto algo mais confortável e a gente fica aqui?" ela pergunta.
"Confortável" na língua da Vanessa quer dizer "pelada".
Eu sou fluente nisso aí também. Ao contrário da língua da Tatiana que eu, aparentemente, nem sei como dizer "quero te dar umas lambidas" de um jeito que ela aceite.
Ah, inferno.
Meu celular apita de novo.
- Vou te comer, Vanessa, tá certo, todo mundo já entendeu! - rosno. Mas a mensagem, dessa vez, é da Tati.
"Como está o livro?" pergunta.
Seguro meu celular e até parece que, de repente, esqueci como usá-lo.
"Bom. Você devia experimentar."
"Me mande uma lista com suas cinco melhores recomendações e eu compro um"
"Adoro que você disse 'eu compro um' e não 'eu leio um'"
"Estou tentando ser sincera"
"Pois eu te mando a lista se você prometer que lê pelo menos um"
"Eu prometo que leio pelo menos um"
"Sabe? Você tá fazendo esse esforço todo pra fingir que não liga, mas eu tenho certeza que você está morrendo de curiosidade"
"Eu já disse que leio, não disse? Do que você ainda está reclamando?"
"Você quer uns bem safados ou uns mais normais?"
"O oposto de 'safado' é 'normal'?
"Vai ficar discutindo vocabulário ou vai responder minha pergunta?"
"Pode sugerir um de cada?"
"Só se você começar pelo safado"
"Eu sei que você não está tentando se comportar, mas está mesmo se esforçando para não se comportar."
"Que bom que estamos na mesma página"
"Por que está fazendo isso?"
Eu estava rindo porque, até aqui, achei que nossa troca era em tom de brincadeira. É o diabo das mensagens de texto, não é? Se você acha que a pessoa estava rindo quando, na verdade, estava séria como o apocalipse. Releio suas últimas mensagens e agora estou com receio de tê-la chateado.
"O que quer dizer?"
"Spencer... Você sabe"
"Não sei"
Ela demora minutos inteiros para responder e eu estou quase pedindo desculpas mesmo sem saber o que fiz de errado.
"Você não está interessado por mim"
- Quê? Como não estou...? Claro que estou! Ficou doida? Ela ficou doida. - converso sozinho, em minha sala escura.
Mas o tempo que levei em meu ultraje bastou para que ela seguisse:
"Sei que está interessado nos termos do nosso acordo e eu entendo! Claro! Não quero ser rude, nós dois sabíamos no que estávamos nos enfiando. Mas... não preciso que finja estar interessado por mim".
"Tati, eu não sei o que dizer, mas não estou fingindo."
"Spencer, não precisa fazer isso. Não precisa dar em cima de mim só por causa das nossas circunstâncias"
"Se as circunstâncias fossem outras, eu daria em cima de você do mesmo jeito"
Ela não responde.
Mas não tem problema, eu sei o que precisa ser dito.
"Se as circunstâncias fossem outras, seria ainda mais fácil".
"Mais fácil fazer o quê?"
"Mais fácil terminar aquele beijo."
"O beijo terminou, Spencer."
"O beijo foi interrompido, Tatiana."
"E o que mais poderia acontecer?"
E esse é o outro diabo das mensagens de texto. Se, por um lado, você pode entender a pessoa errado por acidente... por outro lado, você pode entendê-la errado de propósito.
Tatiana provavelmente quis dizer "ficou louco? Estou te pagando e você é mais novo! O beijo não foi uma boa ideia, o que diabos você achou que poderia acontecer?"
Eu, no entanto, decido entender que ela disse "hm, verdade... e se tivéssemos continuado, o que teria feito?"
E é isso que eu respondo.
"Eu ia te deitar naquele sofá e ia cuidar de você a noite inteira. É isso que poderia acontecer."
Não espero que ela responda de imediato e ela não me decepciona. Tenho tempo de continuar:
"Mas isso foi antes. Agora eu mudei de ideia."
"Mudou de ideia?"
"Agora, eu ia te fazer implorar"
"E o que te faz pensar que eu imploraria?"
"Eu sei o que estou fazendo"
"Duvido que saiba" provoca.
Ou pelo menos eu acho que foi uma provocação.
"Só tem coragem de dizer isso porque não estou aí do teu lado agora. Se eu estivesse, ia tirar tua dúvida em um instante."
"Você sabe o que fazer com garotas. Não sei se sabe o que fazer com mulheres."
"Por que não me dá uma chance de experimentar?"
"Spencer, esse foi o meu jeito educado de dizer 'não'"
"Quer saber o que eu estou fazendo agora?"
Abro o meu cinto e desço o zíper.
"O quê?"
"Enfiando uma mão na minha cueca. Estou flácido e no meio da minha sala. Posso parar se você pedir."
"E que controle eu tenho sobre você?"
"Está me pedindo pra parar?"
"Você faz o que quiser! O que eu tenho a ver com isso?"
Eu faço exatamente o que prometi.
Fecho os olhos por um segundo.
Estou pensando no gosto que um mamilo suado tem quando você prende sua pontinha entumecida entre os dentes. Estou pensando em seus olhos revirando-se com a sobrecarga de tesão quando minha língua cobre os arrepios dos seus peitos experimentando sua pele e seu suor. Não demoro a ficar duro. Fodo meu punho bem devagar. Movimentos muito longos e lentos.
"Quer saber no que eu estou pensando?"
"Eu não perguntei"
Não. Não perguntou.
Mas também não jogou o celular pra longe.
"Estou pensando no gosto do suor direto do teu decote se eu tivesse te lambido naquele provador. Estou pensando no que você teria feita se eu tivesse te bolinado ali mesmo"
Silêncio.
Meu toque sobre meu pau fica mais pesado.
"Você fala sobre eu não estar interessado. Quer ouvir uma verdade, Tati?"
"O quê?"
"Ultimamente, eu fico duro só de pensar no teu decote."
Silêncio.
Não está sequer digitando.
"É mais que isso. Acho que fico duro só de pensar no teu rabo de cavalo".
Nada.
Meu celular arde na minha mão, minhas palavras bastando para me deixar louco. Meu pau endurecendo dentro do meu punho, empurrando meus dedos enquanto a carne se estica e enrijece. O desejo que eu sinto vem misturado com uma raiva que eu não sei dizer exatamente de onde nasceu. Talvez do somatório de frustrações que culminou com a rejeição de Tati. Talvez da vontade de calar sua boca quando acha que sou um garoto que não sabe fazer gozar uma mulher. Talvez do fato de que a cabecinha do meu cacete duro já está babando fartos gole de um pré-gozo pegajoso que eu não queria desperdiçar nos meus dedos, e sim fazer cobrir os dela.
A mensagem que recebo, no entanto, é de Vanessa. Ela quer saber quanto tempo eu demoro, mas eu apenas ignoro a mensagem e sigo digitando outra coisa.
"Faz nenhum sentido isso, ficar excitado por causa de um rabo de cavalo. Mas é isso que tem acontecido. Acho que fico considerando como seria assumir o controle, e te colocar do jeito que eu quisesse."
Meu pau está cheio em minha mão.
Fecho os olhos e sinto ela ali.
Bem ali comigo.
Por favor, responde.
"Será que você pode ir pro quarto?"
"Vem comigo?"
"Se está falando a verdade, seu colega de quarto vai te pegar a qualquer momento!"
"Então, me ajuda a terminar mais rápido".
Não responde.
Eu não sei o que pensar, sabe? Não acho que ela foi embora, ou não teria respondido às últimas mensagens. Também não acho que quer que eu cale a boca ou teria respondido de outro jeito. E se ela nem foi embora nem quer que eu cale a boca, a única alternativa que me resta é continuar. Meu pau lateja tão forte na minha mão que chega a doer.
Tesão é uma coisa com diferentes limites. Quanto mais tesão você tem, menos os arredores se importam. Basta uma vontade um pouco mais forte e você fica duro até no volante, dirigindo no caminho pra casa. Eu não podia ter Tati no meu colo, mas tê-la bem ali, presa nas minhas palavras, acompanhando o meu masturbar era o mais perto que eu conseguia chegar de aliviar a tensão que eu sentia, sem precisar pegar o metrô e ir tocar sua campainha.
"Ainda to fodendo meu punho bem devagar. Vem fazer isso comigo"
Ela não responde.
Não responde, não responde e não responde.
Mas que INFERNO. O que diabos eu preciso fazer pra me enfiar na pele dessa mulher até fazer o desejo dela ser tão insuportável quanto o meu?
"Você ainda está pensando na minha idade?"
Eu sigo mandando mensagens sem esperar mais as suas, já que elas raramente vem:
"Ou no dinheiro?
"Ou nas duas coisas?"
"Eu preferia que você pensasse só no meu pau porque eu to pensando só na tua boceta"
"Se o teu receio é ter algo físico comigo, não acho que isso conta, Tati. São só mensagens" prometo.
"Só mensagens inocentes. Eu posso ser outra pessoa se você quiser. Eu posso ser um cara de 45 anos, divorciado duas vezes e dono de uma concessionária. Serve assim?"
"É isso que sou" decido "Oi, gostosa. Meu nome é Spencer, eu tenho 45 anos e to doido de vontade de te foder. Agora, se fosse possível. Mas como não é, eu fodo minha mão e finjo que é você. Meu pau ta duro. Completamente. Não dá pra ficar maior que isso. Agora você me diz o que quer que eu faça com ele."
É aí que ela finalmente responde:
"Eu nunca fiz isso antes."
"Masturbou um cara? Meu amor... eu preciso ir aí, agora"
"Troquei mensagens eróticas, Spencer. Eu não sei o que espera que eu diga".
Troquei mensagens eróticas.
Isso significa que ela está brincando também, não é?
"Me diz o que está vestindo"
"Roupas"
"Tatiana... me diz a cor da tua calcinha. Quero saber se ela tá bem enfiada na tua bunda e molhada daquele jeito que você sente pesar"
"Eu acho que azul. E um pouco"
"Acha? Fica pelada pra mim e me diz com certeza"
"Não preciso ficar pelada pra saber a cor da minha calcinha"
"Precisa ficar pelada porque eu to mandando"
"Agora" insisto.
Não vou conseguir digitar muito mais. Minha mão achou um ritmo bom e a ideia de Tati tirando as roupas pra mim, mesmo que a distância é suficiente para deixar o toque gostoso daquele jeito que te faz esquecer a vida e o tempo.
O rabo de cavalo enrolado na minha mão, tirando a calcinha azul escuro do caminho pra me deixar tomar sua carne todinha.
De quatro.
Rebolando.
Fecho os olhos.
O esporro sai alto e gordo, sujando minha camisa e, temo, uma das almofadas.
Preciso de alguns segundos para respirar.
Preciso limpar tudo antes que Eric volte.
Mas, acima de tudo, preciso que ela responda.
Minutos se passam. Muitos deles.
Uma hora até.
Afundando-me em desespero de que talvez eu tenha lido sua entonação de um jeito absolutamente errado.
Ela pode estar furiosa.
Pode estar envergonhada.
Pode estar tantas coisas.
Ela não responde.
Eu já respirei, limpei tudo e estou quase dormindo.
E ela não responde.
***************
Tatiana
"Precisa ficar pelada porque eu estou mandando"
Mordo meu lábio inferior e não sei se estou respirando em paz.
Tem algo naquelas palavras que me fazem pensar em um sussurro.
Em intensidade.
Em sexo.
Até porque é exatamente isso que aquelas palavras são.
Parte de mim queria que ele estivesse ali.
Parte de mim queria nunca tê-lo conhecido.
O que as duas partes tinham em comum, no entanto, é que nenhuma das duas sabia o que responder.
Spencer parece ter desaparecido pouco tempo depois. Suspeito que tenha desistido de mim e minhas incertezas. Paciência é uma habilidade que se desenvolve com o tempo e sua juventude não parece ter sido capaz de suportar os dez minutos que eu levei para decidir...
Decidir o quê?
Que eu poderia fingir aceitar a história dos 45 anos?
Que se eram apenas mensagens não era tão errado?
Que somos os dois, apesar da diferença de idade, adultos e que se não estou forçando-o a nada, qual o problema?
Disse a mim mesma que eu precisava de um banho, mas depois que tirei a roupa foi na cama que me enfiei e não no chuveiro.
Destravo o celular e pairo meus dedos sobre as letras enquanto decido o que dizer.
Estou molhada.
Quero muito lhe dizer o que fazer.
Quero muito que me diga o que fazer.
Minha curiosidade é hoje maior que meu arrependimento será amanhã.
Foda-se.
"Azul" digito antes que me falte coragem "Mas não estou mais usando ela".
Aperto a tecla para enviar e fecho o aplicativo depressa, como se tivesse medo que ele pudesse me morder.
Respiro fundo e tento fingir que não acabei de me colocar em uma posição extremamente vulnerável.
Deixo meu celular sobre a cômoda e espero o alerta de notificação enquanto minto para mim mesma que não me importo.
Espero que ele responda.
Espero por uma hora inteira.
Mas a resposta não vem.
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