5. LINK TELEPÁTICO

Ash sentiu uma mão tocar no seu rosto e puxar a sua bochecha.

"Mãe... Deixa eu dormir só mais um pouquinho", reclamou ele se revirando por debaixo de seu cobertor.

Sentiu novamente, dessa vez puxou a sua orelha com força.

"AÍ!", gritou ele levantando completamente da cama.

Olhou ao redor do quarto. Não tinha ninguém.

Sentiu algo caminhar pela cama.
Foi então quando viu. O Clefairy estava engatinhando pela sua cama.

"Você! Como saiu da pokébola?" Ash pegou ela pelas mãos e a olhou nos olhos. "Por que me machucou? "

O Clefairy o olhou de cima para baixo com um olhar analítico.

"Que pokémon estranho...", ouviu a voz falar na sua cabeça.

"EU SABIA", gritou Ash de forma acusadora. "Eu sabia que você tinha conversado comigo. E eu não sou um pokémon. Sou um treinador de pokémon!"

"Entendo... Então foi você com quem o link telepático foi formado."

"Link Telepático?"

Ash estava confuso com aquele papo logo ao acordar. Mal tivera tempo para molhar o rosto e escovar os dentes e agora estava ouvindo sobre um termo que sequer conhecia. 

"Vem, você precisa conhecer minha mãe."

Ele segurou o pokémon e o arrastou pelas escadas da casa.

"MÃEEEE", berrou Ash.

Sua mãe estava na cozinha, preparando o café da manhã, quando ouviu a sua voz.

"Animado a essa hora da manhã?", perguntou ela quando ele a deu um abraço. "Não sabe como é bom ver você assim, ontem estava tão tristonho..."

Ash soltou do abraço dela. Em seguida, segurou o pokémon na frente da cara dela. "Quero que você conheça ele, meu pokémon inicial!", apresentou Ash.

Ela fitou o pokémon, curiosa.

"Eu sou fêmea seu idiota! E meu nome é Luna."

Ash ficou vermelho de raiva.

"Eu não sou idiota!", falou alto. 

Sua mãe parou de lavar as louças na pia e olhou para ele.

"Disse algo?"

"Nada não, só queria esclarecer que acabei me confundido. Ela é o meu pokémon inicial", corrigiu Ash revirando os olhos. "E o nome dela é Luna."

Ela voltou a limpar as louças. "Que bom ter conseguido um novo pokémon para si... Mas Clefairys não são raros?" 

Ash pensou em alguma história. 

"Ah, é que... O Professor Carvalho acabou me informando que tinha um Clefairy sem dono em seu laboratório. Acho que ele teve pena de mim e resolveu me dar...", mentiu Ash. 

"E eu não sou idiota, só não me liguei pra essas coisas ainda", sussurrou ele para o Clefairy. 

Ele se sentou à mesa. 

A Clefairy fechou a cara.

Sua mãe colocou a garrafa térmica de café na mesa. Em seguida, pegou um prato com torradas e colocou sobre a mesa.

Ash retirou um pouco de café com leite da garrafa e colocou no seu copo. Pegou uma torrada, passou um pouco de geleia de morango e comeu, acompanhada de um gole de café.

"Eu tô com fome", reclamou Clefairy através do link telepático.

Ash olhou para sua mãe e, ainda de boca cheia, falou: "Mãe coloca algo pra Clefairy comer." Ele lembrou-se. "Ops, pra Luna comer." 

Sua mãe estava bebendo chá.

"Tudo bem, acho que ainda deve ter sobrado um pouco das berries cristalizadas que eu dei para o Mr. Mime."

Ela levantou, abriu um armário e, de lá, retirou um pacote de berries cristalizadas da marca PokéRango. As colocou dentro de uma vasilha e deu para o Clefairy. "Aqui Luna."

O Clefairy começou a comer as berries salpicadas com açúcar em uma velocidade incrivelmente rápida.

Ash riu ao ver a cena.

"Desse jeito vai acabar tendo indigestão", zombou ele.

Luna o olhou com um olhar mortal. Voltou a comer as berries.

"Ah, Ash, nem te digo." Sua mãe parecia querer o contar alguma coisa. "Fiquei sabendo pelos vizinhos que um meteorito caiu aqui por perto. Já pensou o perigo! Não consigo nem pensar na tragédia se acabasse caindo aqui em casa."

Ash quase engasgou com a torrada.

Ao terminar, Ash ficou fitando seus dedos. Tinha uma pergunta entalada dentro de sua garganta e buscava a coragem para finalmente a fazer. 

"Mãe... Sobre o papai..." 

Delia mudou seu semblante carinhoso para um sério. 

"Ash, sempre que acho que você superou esse assunto você insiste em o trazer de volta à tona", ralhou ela. 
Ash fitava suas unhas. 

"É só que... Eu estou partindo em minha jornada.. E um dos meu objetivos é reencontrar ele novamente!" 

Delia bateu com os punhos na madeira. "Seu pai nos abandonou enquanto você ainda era muito novo e sequer teve a decência de enviar qualquer tipo de carta ou ajudar na sua pensão alimentícia", ela despejou tudo para fora. 

Ash abaixou a cabeça, sombrio. 

"É por isso que eu quero reencontrar ele... Quero ouvir da boca dele algumas explicações." 

Tinha que ter alguma explicação! Ash se recusava a aceitar que ele tinha os abandonado sem nenhum motivo. Ou pelo ao menos era nessa esperança a qual ele se agarrava. E se não tiver... Prefiria nem pensar na possibilidade. 

Luna assistia tudo, extremamente interessada. 

Delia remexeu a cabeça em sinal de reprovação. 

"Ash, você ainda é muito novo para conhecer a dura realidade da vida adulta. O mundo não é esse conto de fadas que vocês crianças acreditam que ser", disse ela. "Acredito que um dia você vá aprender tudo isso da forma mais dolorosa possível."

Delia deixou a mesa e fora no seu quarto. Ao retornar carregava consigo uma fotografia. 

Entregou ela para ele. 

Na foto havia um homem. Em cima de sua cabeça estava um Ash criança fingindo que estava montando em um Tauros. 

"Sou eu e meu pai?", indagou mesmo sabendo a resposta. 

Delia não respondeu, apenas balançou a cabeça em confirmação. 

"É a última lembrança que restou desse homem. Acho que como você já está partindo em sua jornada tem direito de ficar com ela para si", disse ela quebrando o momento de silêncio que se seguiu. 

Ash guardou a fotografia em seu bolso. Tinha uma última pergunta. 
"Mãe... Como se chamava meu pai?" 
Delia tomou um gole de seu chá. Respirou fundo. "Giovanni." 

⏰⏰⏰

Dentro do seu quarto Ash começou a arrumar suas coisas dentro da mochila. Colocou seu mapa de Kanto aberto sobre a cama. Analisou bem o caminho que teria que seguir a partir da Rota 1. Se seguisse pela estrada acabaria chegando na Floresta de Viridian, um local infestado de insetos.

E, para seu azar, não tinha nenhum tipo de repelente consigo. 

"Preciso passar por aqui... Se quiser chegar em Viridian", falou para si mesmo.

Luna pulou no ar e flutuou, caindo bem no meio do mapa. Ela o olhava, séria.

"O que é? Não vê que tô ocupado?"

Ela continuou na mesma posição.

"Tenho uma missão... Preciso chegar ao Monte Moon, você sabe aonde fica?"

Ash sentou na cama, pensativo.

"Aqui no mapa tá dizendo que se seguirmos em direção de Pewter e mudarmos para direita", explicava ele enquanto usava seu dedo para ilustrar o caminho no mapa, "estaremos à caminho de lá."

Luna começou a flutuar pelo quarto com a ajuda das suas pequenas asas de fada.

"Preciso que você me guie."

Ash ficou um momento pensando.

"E por que você precisa ir até lá? Não parece um dos locais mais convidativos..."

"Coisa minha... Ainda não posso falar."

Ash estranhou. Era como se ela estivesse escondendo algo dele.
Por fim, Ash concluiu: "Claro que posso levar você, vou ter que passar lá mesmo se quiser chegar em Cerulean."

Ash terminou de guardar todos os pertencentes que levaria dentro da mochila. Dentro havia sua barraca portátil, um jarro com alguns biscoitos de manteiga (seus favoritos), o mapa de Kanto, sua pokédex, uma garrafinha de colocar água, algumas pokébolas e duas poções que tinha guardado em seu PC.

Ao terminar, foi ao banheiro trocar seu pijama por sua vestimenta de treinador a qual consistia de calça jeans, jaqueta azul por cima de uma camiseta preta, tênis esportivos, um par de luvas pretas e seu boné característico.

Olhou-se no espelho.

Estou pronto.

Pegou a pokébola de Luna e a chamou para dentro. Tão logo o pokémon foi sugado pela pokébola, ela foi libertada de novo. Ash a chamou mais uma vez.

Novamente ela saiu da pokébola por vontade própria.

"Você não vai entrar na pokébola não?"
O Clefairy riu.

"Eu não", respondeu ela mentalmente. "Não curto muito ficar enjaulada em algum lugar."

Ash deu de ombros.

"E como você pretende me seguir?"
O Clefairy flutuou pelo ar e pousou no ombro de Ash.

Ash suspirou em desistência mas não podia fazer nada. Se o pokémon não queria ficar dentro da pokébola não poderia - nem conseguiria - manter-la dentro contra sua vontade.

Os dois desceram as escadas e chegaram perto da porta.

"MÃE, JÁ ESTOU INDO", gritou Ash para sua mãe.

Delia limpou suas mãos e foi encontrar Ash do lado de fora. O Mr. Mime a seguiu.

Ash pegou sua bicicleta estacionada, subiu nela e olhou para sacada da casa. Sua mãe chorava e o Mr. Mime acenava com as mãos em despedida.

"Toma cuidado filho e não esqueça de manter o contato quando você chegar em Viridian", disse sua mãe limpando a água que era derramada de seus olhos.

"Tchau pra vocês também", retribuiu Ash, melancólico. Contia as lágrimas para não chorar. Afinal, treinadores pokémon não poderiam demonstrar fraqueza.

Ash pegou Luna e a colocou no cesto da frente de sua bicicleta.

Dai de dentro você não vai cair.

Começou a pedalar pela estrada a caminho da Rota 1, olhando para sol brilhando no horizonte e imaginando o que o aguardava em Viridian. O vento soprava seus fios de cabelos negros e rebeldes.

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