36. PEDRAS DE ODDISH

Leaf caminhava por aquele labirinto de becos escuros, enfrentando os olhares daquelas pessoas, que a examinavam de cima para baixo. Jiggly estava ao seu lado, fazendo cara feia.

Porcos, pensou. Se sentia despida diante daqueles olhares insinuosos, aquelas expressões que conhecia bem desde a época em que convivia com a sua mãe e seu padrasto de merda.

Ao redor, haviam homens. Viciados, mendigos, ladrões e assassinos, a mais baixa camada que a sociedade poderia oferecer.

Alguns tragavam alguns cigarros suspeitos, a fumaça cobrindo aqueles becos escuros como uma névoa densa. Uma mulher com aparência maltrapilha, enrolada por um pano sujo e velho, se escorava na parede, os olhos arregalados. Certamente estava tendo uma espécie viagem, um tipo de eufemismo para dizer que estava chapada, delirando sob os efeitos de drogas pesadas.

Um menino, não deveria ter mais de dez anos, raspava o pó de uma pedra e colocava sob o seu nariz, inalando o pó com propriedades alucinógenas.

Um homem de terno, um traficante refinado, negociava os seus produtos dentre aquele povo miserável sem nenhuma expectativa de vida além do consumo incessante de drogas.

Leaf retirou um maço de cigarro do bolso das saias. Na embalagem do produto havia uma figura de um Bellsprout com um cigarro na boca. Pegou um cigarro e acendeu com o isqueiro, inalando a fumaça e a expelindo pelo nariz.

Se tem uma coisa que Leaf nunca teria vontade de fazer na vida era experimentar aquelas substâncias.

Havia três níveis de drogas conhecidas.

O primeiro, os cigarros conhecidos como Folhas de Bellsprout. Um tipo de droga leve, feita a partir do caule do pokémon Bellsprout, que possuía um efeito relaxante sob o corpo humano agindo no sistema nervoso. Porém, quando consumida em excesso, poderia causar o vício.

O segundo, as drogas conhecidas como Pedras de Oddish. Produzidas a partir do pó adquirido da linha evolutiva do pokémon Oddish. Altamente alucinógenas, provocando alucinações ao usuário. Após apenas uma semana de consumo, o usuário passa a se tornar um dependente químico, sendo induzido sob o efeito cruel da abstinência a continuar o seu uso a qualquer custo.

Leaf já ouvira histórias de pessoas que perderam tudo, bens materiais, casa, família, induzidas ao consumo frenético e irregular daquelas drogas. Aquela pessoa que estava prestes a encontrar era uma delas.

O terceiro, o Beijo da Jynx, o nível mais perigoso. Drogas injetáveis, com o efeito de dependência imediato. Produzidas a partir de fluidos corporais do pokémon Jynx. O usuário se torna um dependente químico, quase um zumbi, perdendo o seu senso de moral e sendo capaz de cometer as maiores atrocidades conhecidas para dar continuidade ao consumo do produto.

Inicialmente todos sempre diziam a mesma coisa: eu consigo me controlarObviamente que não irei me tornar uma noiado! Após algumas semanas, estavam deitados em algum banco de praça, apenas pele e ossos, implorando por alguma esmola.

A perspectiva de se tornar dependente daquelas substâncias, sendo fadada a levar uma vida patética, implorando por dinheiro a estranhos na rua para conseguir mais alguns minutos de viagem, era o suficiente para fazê-la permanecer no primeiro nível.

Leaf chegou ao seu objetivo.

Havia uma tenda coberta por panos. Dentro dela, um garoto contava cédulas de dinheiro, um cigarro preso no canto da sua boca.

Na frente da tenda, um brutamontes. Um homem com aparência de líder de gangue, puros músculos e tatuagens, um cordão de ouro no seu pescoço com a palavra “Fodão!” escrita em ouro. Estava com os braços cruzados, em posição de guarda.

Aquele disfarce teria sido efetivo para qualquer outra pessoa, mas não para Leaf. Ao olhar no rosto do homem aqueles olhos estranhamente minúsculos, quase como duas bolas pretas, ela soube na hora de quem se tratava. 

“Ora ora ora, quem diria que encontraria a batedora de carteiras mais frajuta de Saffron por essas bandas”, disse o garoto expelindo fumaça pela boca.

“Seus disfarces um dia já foram melhores, seu cuzão. Então quer dizer que você deu um jeito de escapar daquele sanatório que a sua família lhe prendeu?”

“O nome politicamente correto é reabilitação, sua cretina.”

Leaf revirou os olhos. “É a mesma coisa, você sabe disso.”

Ele deu de ombros. “Tenho meus contatos. Não é como se eles conseguissem me prender por muito tempo. Sou como um Pidgey andarilho e selvagem, nunca consigo permanecer por muito tempo em um lugar.” Voltou a tragar a fumaça e soltou. “Além disso, agora estou limpo e no controle.”

Leaf soltou um riso estridente. “Essa é boa! Vou fingir que acredito.”

“É sério, faz tempo que não cheiro uma pedra de Oddish. Agora, assim como você, estou apenas nos cigarros.”

Realmente sua feição tinha mudado. A última vez que Leaf encontrou o traficante, ele estava magro que nem um palito de fósforo, os ossos ameaçando saltar para fora de sua pele, o rosto seco e cadavérico, os dentes amarelos. Agora, parecia que a carne havia voltado para o seu corpo magicamente.

Ele olhou para o pokémon a seu lado que fazia uma cara feia e disse: “Também é bom ver você, Jiggly!”

Jiggly virou a cara.

O homem que estava parado em posição de vigia mudou sua forma. Seu volume começou a diminuir, até se tornar apenas uma gosma roxa com aparẽncia estúpida.

O Ditto tentou cortejar o Jigglypuff, sendo rejeitado com um olhar virado.

“Creio que ela nunca lhe dará bola, Itto. Apenas siga em frente, existem outros pokémons mais bonitos do que essa bola de chiclete mascado pelo mundo.”

Ao ouvir o insulto, Jiggly inflou de raiva.

Leaf voltou a sua atenção para o garoto. “Como conheço o oportunista que você é, creio que exista algum motivo para você ter vindo para essa cidade sem atrativos…”

“É claro. E não sou oportunista, apenas pŕatico”, corrigiu ele. “Imagino que tenha ouvido falar sobre o torneio que haverá aqui. Haverá uma boa grana em jogo e, não querendo me gabar, sou um ótimo treinador pokémon. Acredito que você já tenha ligado os pontos.”

“Nesse caso, acho que terei que participar desse torneio. Eu odiaria ver a sua cara de presunção ao ganhar desses amadores que acabaram de sair do colo da mãe sem qualquer tipo de competição.”

Ela sorriu, em desafio.

Leaf deu de costas. “Vamos Jiggly, já terminamos o que tínhamos para fazer aqui!”

Antes de se afastar, ouviu o garoto falar às suas costas.

“Você é parecida comigo, então imagino que também tenha seus motivos para estar aqui… Não é mesmo, Leaf?”

Leaf parou no meio do caminho e o respondeu, sem olhar para ele: “Algo grande, enorme. A maior empreitada da minha vida. Talvez em breve você descubra, Red."

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