35. ESCÓRIA DA SOCIEDADE
"Nunca vi essas pessoas na minha vida", respondeu Leaf após analisar o cartaz.
E mesmo se eu soubesse não diria, falou em sua mente. Era um regra implícita entre pessoas que viviam do crime: você não podia entregar um ao outro, caso contrário você é um x9, ou seja, um cuzão.
No cartaz havia uma imagem de um trio formado por uma mulher de cabelo avermelhado, um homem de cabelo azulado e um Meowth. O casal vestia um uniforme branco com um "R" vermelho estampado em suas camisas, a mulher vestia uma mini saia e o homem uma calça. Os três posavam para a foto fazendo caretas claramente em deboche.
Embaixo estava escrito "PROCURADOS! CASO TENHA AVISTADO ESSES INDIVÍDUOS POR FAVOR CONTATAR AS AUTORIDADES MAIS PRÓXIMAS".
A curiosidade bateu em Leaf.
Aquelas pessoas pareciam fazer parte da organização de Giovanni, a equipe rocket, mas ela não imaginava que eles aceitavam pessoas tão patéticas como aquele trio aparentava ser.
A oficial Jenny guardou o cartaz em sua bolsa com um semblante de decepção.
"Desculpa incomodar mas por que eles estão sendo procurados?"
"Jessie, James e Meowth, bandidos da pior espécie! Há relatos de roubos e tráfico de pokémon associados a esse trio, mas por incrível que pareça sempre que chegamos perto de capturá-los os safados sempre acabam escapando", explicou Jenny. "Além disso eles fazem parte da equipe rocket, uma organização criminosa que surgiu recentemente e cujas informações ainda são escassas."
"Nossa, espero que vocês consigam pegar esses bandidos", mentiu ela.
"Estou tentando... Mas infelizmente sou só uma e não posso fazer milagres, mesmo dando o meu máximo para conseguir alguma pista", explicou a policial.
Sei, pensou Leaf, ironicamente. Ela conhecia bem a incompetência das oficiais, afinal, passara muito tempo passando a perna na Jenny de Saffron, às vezes até mesmo roubando bem embaixo do seu nariz, e nunca sequer chegara perto de ser capturada.
A mulher se preparou para deixar o local, não sem antes dar um aviso.
"Se eu fosse você ficaria bem longe dessas redondezas. Essa área da cidade é conhecida pela alta taxa de criminalidade, não é seguro para uma garota como você perambular por aqui sozinha."
Leaf sorriu sem mostrar os dentes.
"Valeu pelo aviso, mas eu sei me virar."
Apalpou Lily em sua bolsa. Se alguém sequer atravesse a cruzar o seu caminho ela certificaria de fazer aquela pessoa pagar caro.
Após o aviso, a oficial Jenny subiu em sua moto e saiu dirigindo pelas ruas noturnas da cidade de Pewter.
Leaf voltou a se encostar na parede logo ao lado da calçada aonde aguardava. Puxou um cigarro de seu bolso e acendeu, o tragando.
Olhou para as redondezas, procurando o homem que estava em sua busca.
O movimento era intenso naquela área da cidade.
Alguns carros transitavam pela rua enquanto mulheres vulgarmente vestidas rodavam bolsinhas pela calçada em busca de clientela. Em um beco uma grande quantidade de fumaça era emitida enquanto gangsters tatuados tragavam cigarros suspeitos. Alguns moradores de rua se reuniam sob uma fogueira feita dentro de uma lixeira, se aquecendo e trocando histórias.
Prostitutas, mendigos e drogados. A escória da sociedade se reunia ali, e ela era um deles.
Soltou uma grande quantidade de fumaça pela boca e começou a contemplar a vida.
Era estranho pensar que, enquanto aquelas pessoas passavam necessidades e lutavam para continuarem vivos, no centro pokémon, um bando de filhinhos de papai desfrutava do bom e do melhor, sem precisar se preocupar com o dia de amanhã.
Treinadores pokémon. Um bando de privilegiados que achavam que o mundo era um grande parque de diversões para suas fantasias infantis.
Para ela, eles eram a verdadeira escória da sociedade.
Leaf parou de devanear ao perceber que um homem cruzava a rua. Estava todo vestido de preto, uma máscara cobrindo sua face. Um roupão de coro tampava todo resto. Andava com discrição, claramente não querendo ser notado.
Parou em sua frente.
"Acredito que seja a Leaf, estou certo?"
Leaf apagou o cigarro e jogou no chão. Em seguida, respondeu: "Sim, sou."
Ele tirou de seu roupão o que parecia ser um aparelho telefônico.
Leaf pegou o aparelho e colocou próximo ao ouvido.
"Acredito que tenha conseguido aquilo que tínhamos combinado, não é mesmo minha querida Leaf", ouviu a voz de Giovanni falar através do telefone.
"Sim, consegui. E aliás não tive trabalho nenhum, afinal a segurança do laboratório do Carvalho não é como se fosse... digamos assim... eficiente."
"Ótimo, ótimo. Agora peço que entregue os dados para meu correspondente, number three."
Leaf revirou os olhos.
"Se acha que vai me passar a perna pode tirar o Rapidash da chuva. Antes eu quero o prometido."
"Calma calma, você acha mesmo que eu não sou um homem que não cumpre aquilo que diz?"
Leaf não respondeu deixando a sua resposta subentendida.
"Por favor, passe o telefone para o correspondente."
Ela deu o aparelho para a figura misteriosa em sua frente.
Após ouvir o que seu chefe dizia ele abriu uma maleta de dinheiro e entregou um grande punhado para Leaf.
Ela pegou nas mãos e conferiu. Guardou em sua bolsa.
O homem devolveu o aparelho.
"Isso não foi o combinado."
Ouviu um riso do outro lado da linha.
"Você realmente achou que seu trabalho era apenas esse? Isso foi apenas o começo, a quantidade generosa que lhe dei é apenas uma garantia de uma parte do dinheiro", explicou.
A quantia realmente era o suficiente para Leaf desfrutar do bom e do melhor por um tempo, mas dinheiro não era infinito, e ela sabia disso.
Entregou o disquete com as informações roubadas do computador do professor Carvalho e entregou para o homem a sua frente.
"Você disse que esse era apenas o começo... Por acaso tem algo mais em mente para mim?"
"Sim, coisas grandiosas, brilhantes eu diria. Imagino que você tenha bisbilhotado os dados dos arquivos roubados, estou certo? Como sei que você é uma menina muito inteligente suponho que já deve ter formado uma teoria do que pretendo alcançar."
"Teoria não, certeza."
Leaf não era boba. Se o líder da Equipe Rocket estava atrás de um pokémon tão poderoso quanto Mew e tinha recursos o suficiente para elaborar uma cruzada atrás de informações privilegiadas sobre ele isso só poderia significar uma coisa.
Obviamente ele pretendia criar um clone do pokémon. Uma espécie de Mew Dois.
"Bom, então, sem mais delongas, irei dar detalhes da próxima missão que você deverá executar ai mesmo, na cidade de Pewter."
Então, ele começou a explicar tudo.
"Isso é tudo?", falou Leaf ao ouvir.
"Você consegue?"
"Se a quantia de dinheiro for dobrada, sim."
"Ótimo. Já que estamos entendidos irei desligar. Preciso me preparar para visitar minha esposa e meu filho em Viridian. Que na próxima vez que conversemos tenha boas notícias para mim. Espero que o cartão de treinador falsificado que consegui para você seja o suficiente para garantir sua estadia no centro pokémon enquanto estiver na cidade. Adeus."
Era até difícil pensar que um homem tão ambicioso quanto aquele se preocupava com coisas tão triviais quanto a sua família.
Após a chamada de Giovanni ser encerrada o homem silencioso partiu com o seu disquete e sumiu de vista.
Leaf, no entanto, ainda tinha que encontrar um velho amigo por aquelas redondezas.
"Saia, Jiggly!"
Chamou o pokémon para fora da pokebola. O Jigglypuff materializou-se na calçada.
"Hora de encontrar um velho amigo."
"Jiggly... Puff?", respondeu o pokémon cantor em dúvida.
As duas começaram a caminhar em busca da boca de fumo mais próxima.
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