13. TROVÃO AMARELO, PARTE I
A floresta de Viridian estava calma e quieta. Apenas os sons dos pokémons insetos que habitavam os bosques do lugar quebravam o silêncio mágico que permeava o local.
No gramado fofo, alguém dormia.
Uma garota loira com aparência androgina. Suas roupas eram compostas de uma túnica amarela em formato de vestido com pontas esverdeadas, por cima de uma camiseta preta de mangas longas, calça justa azul e botas roxas. Por baixo de um chapéu de palha escondia um rabo de cavalo.
As folhas das árvores caiam, enterrando seu corpo. Yellow, por sua vez, não se incomodava nenhum pouco com o fato, visto que ainda continuava adormecida, soltando roncos os quais faziam as folhas flutuarem, deixando apenas o seu rosto amostra.
Sentiu seu corpo ser tocado por cipós.
Ela, lentamente, abriu os olhos, se acostumando com a claridade da manhã.
Era Sauro, seu Bulbasaur.
Percebeu que Chuchu parecia ter uma discussão acalorada com ele. Kitty observava tudo enquanto batia suas asas de borboleta.
"Pika Pika!"
"Bulbasauuuuur!?"
"Pika Pika."
"Bulba!"
Aparentemente o motivo da discussão era o fato de Sauro ter tentando acordar Yellow do seu sono, já que Chuchu havia claramente o ordenado para não a incomodar enquanto ela estivesse dormindo.
Yellow sentou no chão, coçando os olhos.
"Já discutindo a essa hora da manhã?", perguntou ela.
Os dois viraram a cara um para o outro.
Desde que Yellow se conhecia por gente ela possuía aquele poder inexplicável de entender os sentimentos e a língua dos pokémons. Quando era apenas um bebê a garota fora abandonada naquela floresta em uma cesta, apenas com um lenço e uma mamadeira. Quem eram seus pais? Ela não fazia a menor ideia - e preferia nem saber.
Afinal, uma pessoa que abandonou uma criança para morrer em um lugar hostil como a floresta de Viridian não poderia ser alguém de boa fé.
Apesar do fato todas as probabilidades de sobreviver estivessem contra ela, de alguma forma, Yellow sobrevivera, sendo cuidada pelos pokémons da floresta como se fosse uma de suas filhas. Uma garota, cujas roupas do corpo não passavam de tentativas rústicas de se proteger do frio e a sujeira que impregnavam o local conforme as estações do ano. Criada como se fosse um pokémon selvagem.
Aprendera a se esconder pela mata e evitar o contato com os humanos que transitavam por ali. Rápida como um Beedrill.
Sorrateira como um Venonat. Dura como um Metapod. Veloz como um Pidgey.
Quando completara 9 anos ela decidira, pela primeira vez, deixar a floresta para conhecer o mundo afora que, para ela, até então, era completamente desconhecido.
"Hoje estarei partindo por um tempo. Existe um mundo de possibilidades que eu ainda preciso conhecer. Agradeço por terem cuidado de mim, e prometo que logo voltarei", dissera ela na linguagem dos pokémons, se despedindo dos habitantes da floresta.
Carterpies, Venonats, Weedles, Beedrills, Venomoths, Pidgeys, Oddishs e Bellsprouts.
Sua verdadeira família.
Quando chegara na cidade de Viridian, descobrira coisas novas. Soube que aquele mundo desconhecido era regido por algo chamado "dinheiro". Os pokémons eram utilizados para propósitos de interesse dos líderes do topo da cadeia daquela sociedade, sendo utilizados para o entretenimento e ambição daqueles chamados "treinadores pokémons" em batalhas sucessivas, muitas vezes, lutando até a morte. Guardados em esferas minúsculas. Também eram comidos por eles, conhecimento este que a aterrorizou.
A simples ideia de se alimentar dos restos de um pokémon era algo impensável para ela, quase como se estivesse cometendo canibalismo.
Humanos. Seres preenchidos por sentimentos sórdidos como inveja, avareza, luxúria, ódio, sede de vingança. Apesar de assustada com aquele conflito entre mundos, Yellow também estava intrigada e curiosa para conhecer mais sobre aqueles seres.
Após viver por um tempo em vielas, se alimentando de restos de comida jogados no lixo e observando de longe o cotidiano dos moradores da cidade, ela fora aborda por uma mulher.
Usava um tipo de roupa preta que cobria todo seu corpo e carregava consigo um saco cheio de marmitas. Mais tarde ela descobrira que aquele tipo de pessoa era chamada "freira".
"Venha pequena, não tenha medo", dissera ela. Apesar disso, Yellow não entendia nada do que ela falava, afinal, ainda não havia dominado a linguagem humana.
Yellow se escondeu por um momento na escuridão, hesitante. Então, deu um passo para frente e pegou a marmita. Abriu ela de forma rústica e, ao sentir o cheiro que vinha de dentro, começou a comer a comida velozmente com a mão.
"Qual o seu nome?", perguntou a mulher.
Yellow apenas rosnou.
"Entendo, então você não sabe falar. Algo extremamente curioso, se me permite dizer", disse a mulher mesmo sabendo que a garota não havia entendido nada do que ela havia falado.
A mulher continuou visitando Yellow regularmente a partir daquele dia.
Eventualmente, ela ganhou sua confiança.
Yellow não se lembra bem quando fora parar naquele orfanato. Nem quando aprendera a falar e se comunicar utilizando do código linguístico dos humanos. Era aquele tipo de coisa que parecia simplesmente acontecer.
Em um ano, já estava completamente adaptada. As crianças e as cuidadoras do orfanato já faziam parte de sua família. Aprendera a ler, escrever e dominar a língua. Também a se comportar de acordo com a norma social vigente. Havia feito amizade com Chuchu e Kitty, o Pikachu e Butterfree que moravam perto do bosque do orfanato. Porém, por vezes, durante calada da noite, pegava-se devaneando no dormitório enquanto olhava para a lua no céu noturno, pensando na família que havia deixado para trás na floresta de Viridian.
Sinto tanta falta de vocês..., pensava ela derramando lágrimas.
"Hora do café da manhã", disse Yellow se espreguiçando.
Chuchu, Kitty e Sauro pularam em cima dela.
"Vocês estão me fazendo cócegas", disse Yellow enquanto gargalhava. Rolou na grama junto com os pokémons. "Eu amo vocês."
Enquanto tivesse ao lado dos seus amigos nada tinha a temer.
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