12. ISSO É REALIDADE

Tw: Gore

Ash e Gary observavam de longe, esperando o primeiro sinal de partida para o início do plano.

Espero que dê tudo certo, pensou Ash esperando pelo melhor.

Seu Porygon e o Charmander estavam presos dentro do robô daquele grupo de bandidos. Seu querido Poly. 

Lembrou-se do dia em que o professor Carvalho havia o dado a tarefa de cuidar do pokémon:

"Eu queria dar o Porygon para meu sobrinho, mas infelizmente faz algum tempo que não consigo fazer contato com ele. Então, Ash, você poderia aceitar a tarefa de cuidar dele?", tinha dito ele. 

"É claro", havia respondido ansioso pela ideia de ter um novo companheiro. 

Naquele momento, o homem havia depositado em Ash toda a sua confiança. Tinha que proteger o Poly, era uma questão de honra. 

Não posso decepcionar ele!

De repente, um som começou a ser transmitido pelo depósito.

"Clefairyyyyy Clefairyyyyy Clefairyyyyy."

Era Luna. Aquilo significava que estava prestes a começar.

Sentiu a sua mão gelar de nervosismo.
Gary pareceu ler a sua mente pois logo sussurrou: "Eu sei que você tá nervoso, mas vai tudo dar certo. Confia em mim."

Ele tocou no seu ombro. 

Ash fitou os olhos dele. 

Naquelas últimas horas estava conhecendo um lado de Gary que nem ele mesmo sabia existir. Quem diria que por baixo daquela camada de ignorância e soberba existia uma pessoa genuinamente legal. 

Se ele fosse assim o tempo todo talvez eu não tivesse o odiado por tanto tempo..., refletiu Ash lembrando da época quando estavam na escola pokémon. O bullying, as zombacões, as intimidações, a rivalidade.

Talvez a gente possa ser amigo.

Ele despertou do devaneio e voltou a realidade.

"Um Clefairy!?", ouviu a voz confusa de Jessie.

Se esgueirando, os dois conseguiram ver que os três olhavam para o Clefairy o qual remexia as mãos, de um lado para o outro, de forma repentina.

"Como esse pokémon conseguiu entrar aqui?", disse James.

Jessie deu de ombros. 

"He he he, parem de enrolar. Vocês sabem que Clefairys são pokémons extremamente raros. Já pensou como o chefinho vai reagir quando entregarmos ele de mãos beijadas."

Os três abriram largos sorrisos. 

Então, começaram a correr em direção do pokémon.

"Clefairyyyyy." Luna saiu flutuando e desapareceu pelo labirinto de caixotes, sendo seguida pela gangue de interesseiros.

Ash e Gary saíram de onde estavam, carregando os cassetetes improvisados consigo.

Quando chegaram próximo ao robô, o Porygon e Charmander, que até então estavam com olhares cabisbaixos e tristes, começaram a se animar. Então, bateram desesperadamente no vidro tentando se libertar.

"Shiii." Ash fez sinal para que eles não fizessem nenhum barulho.

Os dois obedeceram.

Ash virou e olhou para Gary. O garoto acenou em concordância.

"Vamos começar."

Os dois levantaram os cassetetes e começaram a bater com força no vidro.

Trec. Trec. Trec. 

A madeira batia no resistente vidro, causando um som ensurdecedor. Seria questão de tempo até a equipe rocket descobrir o que estava ocorrendo. Até lá tinham que ter libertado seus pokémons. Do contrário...

Prefiro nem pensar nisso.

O impacto das pauladas começaram a causar pequenas rachaduras no vidro espesso.

"Vamos lá, só mais um pouco...", dizia Gary frenético.

Trec. Trec. Trec.

As rachaduras começavam a aumentar de tamanho.

De repente, ouviram passos atrás de si. Viraram a tempo de ver o trio voltar ao ponto de onde haviam partido. O homem carregava em suas mãos o Clefairy, aparentemente inconsciente. Eles arregalaram os olhos.

"O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI?", gritou Jessie.

"Viemos recuperar o pokémon que vocês roubaram da gente sua vadia", respondeu Gary irritado. Começou a portar seu cassetete em posição ofensiva.

Ash sabia o que seguiria a partir dali.
Agora é questão de vida ou morte, pensou temeroso. Começou a tremer.

Memórias do dia em que achou que seu Clefairy tinha morrido brotaram em sua mente.

Não vou me acovardar! Levantou seu cassetete em posição ofensiva.

"Vadia é a puta da tua mãe que botou um merdinha como você no mundo!", exclamou Jessie ao se sentir ofendida. Ela retirou uma pokébola do seu bolso e a acionou. "Vai, Arbok."

A serpente saiu da pokébola e se materializou no campo.

O Meowth começou a mostrar suas garras afiadas. "Irão se arrepender de terem se metido com a equipe rocket, pirralhos!", disse ele.

Em seguida, os dois partiram para cima de Ash e Gary.

O Arbok disparou em direção de Gary, o qual desviou a tempo de escapar da sua Mordida a tempo. 

O Meowth, por sua vez, partiu correndo em direção de Ash com sua garra à mostra. Ash mirou o pedaço de pau em direção do gato, porém, acabou errando. 

O gato subiu no rosto de Ash a começou a arranhá-lo. 

"AHHHHHHHHHHH", gritou Ash ao sentir a dor extrema causada pelo golpe. 

Sangue começou a escorrer de sua face. Sua visão se tornou vermelha. 

Ash agarrou o gato com violência, em seguida, o chutou na barriga. O gato arfou de dor e saiu voando pelo ar, caindo no chão. 

"Pirralho maldito", amaldiçoou o gato.
Gary por sua vez, havia sido pego pelo enrolamento do Arbok. Seu rosto estava roxo e ele gemia de dor enquanto era espremido pelas escamas da serpente.

O Charmander e Porygon assistiam tudo, desesperados, de dentro do aprisionamento.

Ash não pensou duas vezes e correu em direção dos dois. Pegou seu cassetete e atacou a serpente em sua cabeça. O pedaço de pau acabou quebrando. Ela olhou para Ash com seu olhar sombrio. Libertou Gary e partiu para cima de Ash com as presas envenenadas amostra.

Gary havia segurado a calda da serpente, dando tempo para Ash escapar de sua Mordida.

A serpente, por sua vez, havia usado sua cauda para lançar Gary para longe. O garoto acabou batendo com sua perna em um caixote, soltando um grande grito de dor. 

"James para de ser inútil e ajuda a gente a acabar com esses pivetes", Jessie ralhou.
James segurava o Clefairy inconsciente.
"Mas-"

"Sem mas. Faz logo o que eu tô me mandando!"

"Tudo bem..." Ele deu de ombros. Largou o Clefairy no chão e lançou um pokémon para fora de uma pokébola. "Vai, Weezing. Use o Jato de Lama."

O pokémon venenoso lançou de sua boca um jato venenoso em direção dos garotos.

Ash e Gary foram acertados pela rajada de lama. O cheiro havia causado náuseas em Ash e ele acabou vomitando seu almoço no chão.

Subitamente, o Clefairy, o qual até então estava inconsciente no chão, levantou-se e flutuou pelo ar. Luna parou em frente aos dois.

"Cheguei atrasada?", disse ela.

"Luna!", exclamou Ash, surpreso.

"Foi fácil demais enganar esses bocós."

Ash entendeu. Luna havia fingido que havia sido nocauteada pela equipe rocket e se deixou ser levada por eles. Apesar de esse não ser o plano original - as ordens haviam sido para ela conseguir distrair os rockets pelo máximo de tempo o suficiente - Ash ainda se sentiu feliz por ela estar bem. Por um momento, até havia esquecido todo o ocorrido na rota 1.

Ash virou seu boné para trás. Em seguida, falou com determinação: "Hora da Batalha! Luna, Mega Soco!"

Luna acertou o compartimento aonde os dois pokémons estavam, quebrando o vidro e os libertando.

"Ember!", falou Gary. O Charmander veio correndo e pulou no colo dele. "Vamos acabar com esses desgraçados!" O garoto, com dificuldade, levantou do chão, mancando. 

Os rockets vacilaram sabendo que tinham perdido a vantagem.

"Não fique tão confiante, essa batalha ainda não acabou. Arbok, Cauda Envenenada no Clefairy!", ordenou Jessie.

A cobra mirou sua cauda afiada em direção de Ash. O Clefairy rebateu com o Mega Soco. Os golpes colidiram, causando um atrito. Os dois pokémons foram lançados para longe.

"Charmander, Lança Chamas!", dessa vez foi Gary a dar o comando.

O largato de fogo lançou uma rajada de fogo em direção do gato, que fugiu com medo das chamas. As chamas atingiram os caixotes, os quais começaram a queimar.

Uma cortina de fumaça foi lançada no local.

Ash tossiu.

"Jessie, esse lugar vai ser consumido pelo fogo, precisamos fugir", alertou James.

Jessie estava furiosa. Do nada, começou a gritar: "AHHHHHHHH ESTAVA TUDO CERTO. A PROMOÇÃO, O RECONHECIMENTO, A GLÓRIA DA EQUIPE ROCKET... TUDO DESTRUÍDO POR UM BANDO DE PIRRALHOS COMO VOCÊS."

Ela retirou um canivete do seu bolso e partiu correndo em direção de Gary. O garoto estava tão ocupado batalhando contra o Weezing que nem percebeu a mulher dominada pelo ódio correr em sua direção.

Ash foi mais rápido e correu em direção de Jessie, dando uma rasteira nela. Os dois caíram no chão. A rocket saiu rolando. Seu longo cabelo roxo estava todo desgrenhado. Ela se levantou. Fitou Ash com o olhar mortal. Então, partiu em direção dele punhando o canivete.

Ash pegou a lasca do que havia restado do seu cassetete jogado no chão e mirou em direção da mulher. O pedaço de pau afiado acabou acertando o seu olho direito, perfurando o glóbulo ocular dela. Onde, até então, havia um olho, agora restava apenas um buraco vazando sangue. 

"AHHHHHHHHHHHHH", berrou a mulher em agonia. "MEU OLHO. VÃO SE FUDER."

Ash sentiu remorso.

"D-d-desculpa, eu só tava me defendendo."
As chamas começavam a avançar pelo teto.
Jamies correu em direção de Jessie e a guiou para longe, em direção da saída. O Arbok, Weezing e Meowth seguiram eles, batendo em retirada. 

Ash levantou do chão. Olhou para Gary, o qual se mantinha em pé com dificuldade.

"Você consegue andar?", perguntou Ash ao parar próximo ao menino.

"Tenho dificuldades... Acho que meu pé foi quebrado."

Ash ordenou para que ele se apoiasse em seu ombro. Em seguida, se juntaram a eles o Clefairy, Charmander e o Porygon.

"Preciso que todos vocês segurem em mim", ordenou Ash. Os pokémons encostaram seu corpo aos dois. Em seguida, ele tocou em seu Porygon. "Teleporte a gente para fora daqui."

O Porygon seguiu a ordem. Logo, o grupo começou a sentir o espaço ao seu redor mudar de forma, espremendo-se. Então, começaram a girar em espiral. Seus corpos haviam adquirido uma flexibilidade imensa.

Ash começou a sentir náuseas e tontura enquanto olhava por um túnel um mar de imagens distorcidas. Quando chegaram ao fim do túnel, uma imagem sólida começava a ser projetada.

Em um piscar de olhos estavam do lado de fora do depósito, olhando todo lugar sendo consumido pela fúria das chamas.

Eles sentaram no gramado, aliviados por terem escapado com vida - apesar do plano não ter sido executado como o planejado.

"No fim deu tudo certo", disse Gary.

Ash suspirou.

"Botamos aqueles desgraçados pra correr... Apesar de eu ter ficado com um pouco de pena daquela mulher."

"Não fique. Aquela baranga não pensaria duas vezes se mataria você ou não, caso tivesse a oportunidade."

"É, acho que sim..."

Apesar de estarem distante o suficiente do depósito a fumaça ainda impregnava pelo ar.

Ash tossiu. "Temos que ir ao hospital ver como tá essa pé aí", disse Ash olhando para o pé de Gary com um hematoma roxo.

"Além disso acho que a oficial Jenny vai ficar bem interessada em saber sobre essa tal equipe rocket."

"E você o seu rosto." 

O momento de euforia havia feito o garoto esquecer das marcas das garras do Meowth desenhadas em seu rosto. 

Gary riu ao notar a expressão de Ash. 
Ash e Gary chamaram seus respectivos pokémons para dentro da pokébola. Luna pousou em seu ombro, até se lembrar da discussão que havia tido com Ash e fazer um movimento para sair. 

"Se você quiser pode subir no meu ombro. Acho que depois do que você fez hoje estou disposto a te perdoar."

Luna sorriu. "Falou e disse." 

 Ela continuou no seu ombro.

Em seguida, Gary se apoiou no ombro de Ash e os dois seguiram a pé para longe dali.
Caminhavam através daquele matagal, tentando o mais rápido possível chegarem à área urbana de Viridian, quando ouviram uma voz gélida falar as suas costas:
"Você não achava mesmo que sairia impune após me deixar caolha."
Ash virou apenas a tempo de ver Jessie olhar para eles com um olhar sádico, acompanhada de seu Arbok. O sangramento de seu olho direito furado havia parado. 

Então, tudo pareceu ocorrer de forma dolorosamente lenta.

O Arbok disparou sua Cauda Evenenada na direção de Ash.
Gary havia empurrado Ash com força, o fazendo ser lançado para o lado.

A cauda havia acertado Gary em cheio no peito, o lançado pelo chão e fazendo uma grande quantidade de sangue roxo ser emitida do ferimento. 

Jessie sorriu ao ver que seu objetivo tinha sido atingido. Em seguida, subiu em cima de seu Arbok, o qual começou a se deslocar pela mata até sumirem de vista. 

Ash correu em direção de Gary, esparramado no chão. Ele se engasgava em seu próprio sangue.

"GARY!", Ash remexeu ele de um lado para o outro. "Vamos, temos que ir correndo para o hospital."

Gary sorriu. 

"Temo que a minha jornada acabe por aqui." 

As lágrimas desciam dos olhos de Ash, molhando Gary. 

"Mas... Mas... Você tinha prometido na escola pokémon que você se tornaria o campeão de Kanto, os líderes de ginásio e todos os outros que se intrometessem no seu caminho. Você prometeu..." 

Lembrou de um dia específico na escola pokémon. 

A professora Matilde havia chamado os alunos para discursar para classe inteira. 

"Quero que vocês expliquem para seus colegas quais os sonhos almejam para sua vida", tinha explicado ela para os alunos. 
"Enfermeira!" 
"Polícial!" 
"Líder de Ginásio!" 
"Jardineiro!" 

As respostas eram as mais variadas. 

Quando chegara a vez de Ash, ele respondeu sem hesitar: "Quero ser um mestre pokémon!" 

A classe toda havia rido da resposta dele, o fazendo ficar vermelho de raiva. 

"E o que seria uma mestre pokémon, Ash?", perguntara a professora Matilde com as sobrancelhas arqueadas. 

"Um mestre pokémon é aquele que almeja se tornar o mais forte de todos, é claro!", tinha respondido com determinação. 

Quando chegara a vez de Gary todos haviam feito silêncio. Ele era conhecido como sendo um dos garotos mais populares da escola. Neto do professor Carvalho, destinado a grandes feitos, era o que todos falavam. 

"Eu sonho em me tornar o mais forte treinador de Kanto, o campeão. Diferente de certos idiotas delusionais..." Ele olhara para Ash com desdém fazendo o menino esboçar uma careta. "Eu conheço meus limites. A glória dos Carvalho irá progredir para mais uma geração." 

Gary cuspiu sangue roxo. Naquele ponto o veneno do Arbok já estava começando a fazer efeito em seu corpo. 

"A... A.... Ash", disse ele. 

Ash soluçou enquanto tentava tampar o sangue que escorria do peito do garoto com as mãos. Luna o ajudava na tarefa. "O que?" 

"Preciso que... v-vo vo", ele se esforçava para falar de forma coesa. "Você precisa fazer uma promessa para mim." 

"Que promessa?"

Ele fez um movimento com a sua mão para retirar algo de seu bolso.

"Vo-Vo-você t-te.. Tem que me pro-prometer que vai cuidar bem dele." Ele entregou a pokébola do Charmander na sua mão. Ash a pegou, molhando-a com o sangue de Gary. 

Apertou a esfera. 

"Eu prometo", respondeu Ash. 

O nariz de Gary começou a sangrar. Então, ele fechou os olhos. 

Ash olhou para o corpo sem vida de Gary repousado no chão, sombrio. Sons de sirenes começaram a serem emitidos, porém, Ash estava tão abalado que o mundo ao seu redor simplesmente se diluiu. 

Ele lembrou do dia em que partira de casa. 

"Ash, você ainda é muito novo para conhecer a dura realidade da vida adulta. O mundo não é esse conto de fadas que vocês crianças acreditam ser", dissera Delia.

"Acredito que um dia você vá aprender tudo isso da forma mais dolorosa possível."

Ash só não esperava que, mais do que um aviso, aquilo era um prelúdio. Um prelúdio do rumo que a sua vida levaria a partir daquele dia trágico. 

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