8. Dilema

Beth caiu de cara sobre os travesseiros amontoados em cima da cama.

O quarto da hospedagem dava uma tranquila sensação confortável, sentimento este que ela não experimentava havia muito tempo.

Desde que havia deixado a ilha dos avós de Malli, ela se esquecera como era boa a sensação de deitar sobre um colchão. Tanto tempo dormindo sobre o chão gramado das rotas, passando frio e com coceira por todo corpo, a fez esquecer os efeitos de uma boa noite de sono. E o melhor de tudo, não precisava temer por algum Beedrill selvagem a atacar durante o sono profundo.

Beth levantou de suas cobertas e deu um longo bocejo. Logo após se espreguiçar, levantou-se e abriu as persianas do quarto, que logo fora preenchido pelos raios solares do dia.

Pela abertura conseguia visualizar os primeiros sinais de a vida no centro da cidade Violet.

Moradores se movimentavam de um lado para o outro, carregando consigo as compras do dia. Feirantes abriam suas barracas e começavam a divulgar sua lista de produtos do dia. No grande céu azul, um bando de Pidgeys voava em bando em direção ao oeste de Johto.

Desde o encontro com Harold havia passado grande parte da noite refletindo. Sua batalha contra Falkner estava próxima e, após assistir vários treinadores serem derrotados pelo líder de ginásio, ficara temerosa pela sua performance.

E se não fosse forte o suficiente? Só o mero pensamento de ser derrotada e depois esnobada por todos aqueles outros treinadores a deixava atônita.

Tenho que vencer, não importa o quê!

Só assim conseguiria uma vaga na liga pokémon. Já havia decidido o que faria para derrotar Falkner.

Preciso capturar um novo pokémon.

Seu Hoppip não teria nenhuma chance contra um treinador de pokémons voadores. Sua única esperança seria conseguir capturar um pokémom selvagem e o treinar o suficiente para combater o líder de ginásio.

Após contemplar a paisagem uma última vez, Beth usa o banheiro do quarto para tomar uma bela ducha de água quente. Ao fim, enxuga seus longos fios de cor moranga e se arruma para descer para a primeira refeição do dia.

⏰⏰⏰

O refeitório estava cheio de treinadores. Alguns pegavam pequenos pedaços de berries e davam na boca de seus companheiros pokémons, outros se empanturravam com o buffet composto de bolos, panquecas e café expresso.

Beth olhou para Freddy mordiscando um pedaço de bolo de chocolate. Perto dele estava seu Totodile, comendo uma seleção de cereais para pokémons.

Ela caminhou e sentou ao seu lado na pequena mesa circular que compartilhava com seu pokémon.

"Bom dia", disse ele de boca cheia.

"Oi", respondeu Beth. "Então... Como eu peço para comer aqui?"

"Espera ai...", ele limpou o glace preso em sua boca e continuou: "Moça, venha aqui".

Uma funcionária da hospedagem ouviu seu chamado e caminhou até a mesa dos dois.

"Em que posso ajudar", disse ela.

"Minha amiga quer saber qual o cardápio do dia."

A moça pegou um portfólio que carregava consigo e entregou para Beth. "Essas são as refeições disponíveis para os hospedes."

Beth passou a vista rapidamente pela lista e escolheu uma opção aleatória.

"Quero uma panqueca salpicada com queijo de Miltank e um café com leite desnatado, por favor."

A mulher sorriu.

"Ótima escolha. E para o seu pokémon?"

Beth se espantou com a pergunta pois mal se lembrava de seu Hoppip.

"Acho que sim... Pode ser a mesma coisa que o Totodile está comendo."

"Ótimo, daqui a pouco volto com o seu pedido. Tenha uma ótimo dia."

Ela deu de costas e partiu em direção da cozinha.

Beth voltou a fitar Freddy.

"Isso tá muito gostoso. Desculpa minha nojeira, é que eu gosto muito de comer."

"Deu pra perceber", respondeu Beth com as sobrancelhas franzidas. "Freddy, será que eu poderia... não, você já fez o suficiente por mim... não quero abusar da sua boa vontade", mentiu.

"Que nada, pode falar", respondeu ele limpando os restos de guloseimas da boca.

"É que eu estava pensando sobre a minha batalha de ginásio... E percebi que estou em desvantagem com a minha situação atual como treinadora."

"Bom, eu também estou, já que já fui humilhado e derrotado na frente de todos mesmo."

Após o momento de auto depreciação, Beth continuou a falar.

"Então, eu cheguei a conclusão que, para conseguir ter uma chance na minha batalha contra o Falkner, eu preciso capturar um novo pokémon."

Ele cerrou os dentes e começou a limpar sua boca com um guardanapo.

"Boa sorte, eu acho. Só não sei o porquê você está falando sobre um favor. Você não sabe capturar um Pokémon por acaso?"

Beth teve um impulso de levantar.

"CLARO QUE EU SEI, EU NÃO SOU UMA RE...", deixou a frase entrelinhas pois percebeu que havia se exaltado. Todos no salão pararam para olhar para ela.

Beth corou.

"Bom, eu queria dizer que eu pretendo caçar Pokémons em uma área um pouco afastada da cidade... E não posso chegar lá sem um transporte ou veículo."

"Ah, entendi aonde você quer chegar. Tudo bem, eu empresto minha bike...", disse ele. "Com uma condição."

"Qual?"

"Você me deixe acompanhar você! Eu estava precisando mesmo treinar meu Totodile, não é amigão!?"

O Totodile sorriu mostrando suas presas afiadas.

Era só o que me faltava, agora tenho que acompanhar esse bebê chorão como se fosse uma babá, pensou ela. Mas se aquilo era o preço que teria que pagar por tudo que havia conseguido arrancar dele ela pagaria sem resmungar.

"Tudo bem!", respondeu Beth fingindo entusiasmo.

A garçonete chegou com o seu pedido em uma bandeja. Após coloca-lo sobre a mesa, ela despediu-se e foi embora.

Beth chamou sua Hoppip para fora da pokébola. Começaram a comer a refeição.

⏰⏰⏰

Freddy parou a bicicleta no meio da estrada.

Após respirar e suspirar profundamente, ele enxugou o suor do rosto e disse: "Chegamos ao nosso destino."

Beth desceu da garupa e se colocou em pé.

Pegou o mapa de sua mochila e identificou o lugar em que deveriam estar.

Rota 32.

Embrulhou o mapa de volta e colocou em sua mochila.

A frente da estrada era possível de ser identificado um conjunto de placas e cercas com avisos sucintos com o dizer "Cuidado! Área restrita, proibido o acesso por pessoas não autorizadas."

"Então, acho que não podemos passar daqui..." ouviu a voz do menino atrás de si. Por um momento tinha esquecido da sua presença.

"Por que o acesso está proibido?"

"Você não sabe?" respondeu Freddy. "Desde o grande cataclisma os acessos para as Ruinas Alfa estão fechados."

Ruinas Alfa.

Agora ela se lembrava. Havia assistido no noticiário do Notícias de Johto. Um grande terremoto havia assolado a região e causado grandes danos em várias partes da região. Entre elas, a antiga cidade de Ecruteak.

"Soube por rumores que os tremores causaram grandes danos as antigas ruinas. O lugar inteiro estava com risco de desabar então as autoridades de Johto resolveram isolar completamente."

"Agora me lembro", respondeu Beth. "Bom, então vamos logo começar a caçada!"

Ao lado da estrada, grandes faixas florestadas e dominadas por diversos tipos de arbustos se expandiam além do horizonte.

Beth esperou Freddy estacionar a bicicleta em um lugar seguro para então começaram adentrar à área florestada.

⏰⏰⏰

"ALGUMA COISA ME TOCOU", gritou Freddy.

Beth olhou para trás e revirou os olhos.

"É só um galho."

O menino parou de tremer após perceber que um galho havia se prendido em sua camisa.

Ele se recompôs.

"Beth, até que horas nós vamos ficar aqui? Você sabe que durante a noite existem Gastlys que rodam essa rota" ,disse ele enquanto caminhava. "Eles ficam rodando por ai, procurando vítimas desavisadas, tanto pokémons quanto tre-tre-treinadores. Primeiro eles colocam a presa para dormir e então começam a sugar seus pe-pe-pesadelos"

Era só o que faltava.

"Não precisa ficar com medo, eu estou aqui com você. Acredite em mim, eu tenho conhecimento o suficiente para saber que essas histórias não passam de lenda urbana."

"Não sei não... De qualquer jeito acho melhor nós partimos antes do anoitecer."

"Tudo bem, eu não vou demorar muito."

Mas isso não era certeza.

Já se passara duas horas que caminhavam pela mata em busca do pokémon perfeito, mas encontraram apenas pokémons comuns como Rattatas, Zubats e Ekans.

Esses não servirão, preciso de algo mais poderoso...

A incerteza a assustava.

Despertou do transe.

"Beth, acho que vi um Ledyba. Sempre quis ter um, você se importa de eu ir atrás dele?"

Finalmente ele disse algo útil, pensou Beth.

"Sim, mas não se afasta muito para não nos perdermos..."

No final de tudo ainda precisava da bicicleta dele.

Freddy caminhou lentamente para perto do arbusto onde há pouco vira um Ledyba.

Beth continuou caminhando em busca de qualquer pista, a qual levaria até seu objetivo.

Ainda tinha duas pokébolas, teria que escolher com sabedoria pois não teria mais dinheiro para comprar novas.

Andou. Andou. E andou.

Quando finalmente se cansou, resolveu descansar sob uma árvore de uma berry que não sabia identificar.

Enxugou o suor do cabelo e sentou sobre o gramado.

Droga.

Será que estava procurando no local errado? Se fosse isso teria que caminhar por outra parte da rota, porém já estava conformada.

Nenhum milagre aconteceria. Não conseguiria encontrar magicamente o pokémon ideal.

De repente algo líquido começou a cair em sua cabeça.

"Começou a chover..."

Olhou para o céu.

Não era água que caia do céu. Estreitando os olhos pode ver que algo estava grudado na copa das árvores, sugando toda seiva e a despejando em cima dela.

Será que poderia ser...

Sim. Agora que conseguia enxergar melhor não existia dúvida. Era um Heracross.

Não posso deixar ele escapar.

Fazendo o mínimo de silêncio possível, ela esgueirou-se pelo chão. Retirou a pokébola do bolso e mirou na criatura de costas, enquanto ela saboreava a doce ceiva da planta.

Agora.

Justo no momento em que lançara a pokébola, um som surgiu de algum local. O Heracross rapidamente usou suas asas e voou para longe. A pokébola atravessou as folhas da árvore e fora parar em algum lugar longínquo.

Ah não. Justo agora, lamentou-se Beth.

Subitamente uma sombra começou a dominar o local.

Beth sentiu um calafrio atravessar seu corpo. Sentia como se toda a cor do mundo houvesse desaparecido, restando apenas um tom mórbido de mistura entre branco e preto.

Ouviu um som atrás de si. Ela virou-se para ver quem, ou o que, era.

"Freddy, é você...", indagou ela ao olhar a floresta que de repente escureceu como se a noite houvesse antecipado o seu turno.

Um movimento.

Da escuridão surgiram dois olhos de cor escarlate. Eles a fitavam como uma mistura de melancolia e tristeza fantasmagórica.

Uma memória saltou em sua mente. Já havia se sentido daquela maneira antes quando enfrentara o Gyarados, junto com Malli.

As mesmas sensações se misturavam e tornavam-se uma só. Seus pulmões começaram a doer. E, então, respirar passou a ser algo trabalhoso.

A figura saltou das sombras e parou na sua frente.

Beth congelou.

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