55. Memórias de Ouro
O céu que cobria a cidade litorânea de Olivine estava cinzento. As nuvens escuras, carregadas de água, ameaçavam desabar a qualquer momento. Trovoava ainda de maneira tímida.
Gold levantou o capuz do seu moletom rapidamente, tentando sentir aquela refrescante brisa que soprava sobre os seus fios de cabelo castanhos. Os óculos escuros permaneceram, tornando ele apenas mais apenas mais uma figura comum entre os habitantes.
Desde que chegara na cidade, a perseguição constante da mídia parecia não ter fim. Imaginou que os repórteres e paparazzis uma hora ou outra se cansariam de manterem-se a par dos seus passos, para onde quer que fosse. Anos de experiência sendo uma figura conhecida - uma celebridade - haviam o preparado bem para aquela vida registrada por câmeras.
O assédio era constante, porém, desde os últimos acontecimentos, parecia ter se intensificado exponencialmente.
“Campeão, qual é a sua opinião sobre o retorno da equipe rocket?”
“Quais medidas estão sendo tomadas para interceptar o esconderijo deles?”
“Qual é a sua relação com o novo líder da organização? É verdade que estamos tratando do filho de Giovanni?”
Silver.
Ainda não sabia o que pensar sobre aquele fato.
Lembrava perfeitamente do dia em que começara a sua jornada.
Havia acordado com euforia por finalmente realizar o sonho de todos os garotos de sua idade: iniciar sua primeira jornada pokémon.
Ao chegar ao laboratório do Professor Elm, avistara um garoto ruivo. Espiava pelas janelas de vidro o que acontecia dentro do local.
Parecia atônito. Olhava para um lado e para outro, quase como se não quisesse ter a sua identidade revelada.
Naquele momento, Gold achava se tratar de outro treinador que, assim como ele, iniciaria a sua jornada naquele dia. Possuía longas madeixas de cabelo ruivo, característica que o fazia se destacar entre os demais.
“Bom dia! Também vai escolher o seu pokémon inicial com o professor Elm?”
O menino virou seu olhar para sua direção. Havia fúria em seus olhos.
Ele respondeu com ignorância: “Vaza daqui seu pirralho! Se não te meto a porrada.”
“Calma cara… qual a necessidade disso?”
O menino veio correndo em sua direção e o empurrou com toda a força.
Gold foi lançado para trás e caiu no chão.
“Qual é o seu problema?”, gritou Gold, chocado com o que acabara de acontecer.
Ele tinha voltado ao seu ponto de tocaia, apenas ignorando a sua existência.
Não posso arrumar confusão logo no dia da minha escolha de inicial, pensou Gold, decidindo retribuir o tratamento.
Quando avistou os três pokémons em cima da mesa do professor Elm, a sua conexão foi instantânea.
“Acredito que o Cyndaquil combine comigo!”
Pegou o pokémon no colo, acariciando as suas costas que logo se incendiaram com a alegria do pokémon ao ser escolhido pelo seu futuro treinador.
“Awn, que fofinho”, comentara Kris ao seu lado.
Kris era sua vizinha e, assim como ele, também escolheria seu pokémon inicial naquele dia.
Após a decisão de Kris, a qual havia escolhido o pokémon de grama, Chikorita, os dois passaram pelo processo padrão de todo início de jornada. Ouviram o discurso genérico do Elm sobre as maravilhas do mundo pokémon, e receberam suas pokédex.
Mais tarde, através de uma ligação via pokégear, Gold ficara sabendo do ocorrido.
“Um desastre! Imagina que perigo, ser roubado por um ladrão em plena luz do dia… Fico com mais pena ainda do pokémon que foi roubado, mal sabe ele na situação em que se encontra…”
Ao ouvir o relato do homem, um tique pareceu clicar em sua mente.
Lembrou do menino agressivo que avistara do lado de fora do laboratório. Percebeu, naquele exato momento, que ele havia sido o responsável pela invasão e roubo, disso não tinha dúvidas.
Alguns dias depois, quando estava próximo de adentrar o território da cidade Cherrygrove, encontrou o menino novamente.
“Você também conseguiu um pokémon no laboratório?... Que desperdício… Justo um panaca como você… Para o seu azar, eu também tenho um pokémon raro. Vou mostrar para você o que eu quero dizer!”
Então uma batalha se iniciou.
Os dois pokémons, Cyndaquil e Totodile, não tinham experiência em batalha. Além disso, nenhum dos dois tinha ataques super efetivos contra o outro.
Após alguns minutos desferindo ataques de impacto corporal, o jacaré finalmente foi nocauteado.
“Tisc, está feliz que venceu? Aproveite, pois não irá durar muito tempo! A próxima vez que nos encontrarmos eu estarei mais forte e irei varrer o chão com o rosto do seu pokémon. Anote meu nome: SIlver, o futuro maior treinador do mundo!”
Após a ameaça, o menino fugiu correndo. Logo após a sua partida, um policial havia aparecido, perguntando a respeito do seu paradeiro.
Além dessa situação, ao longo de sua jornada, os dois ainda tiveram inúmeros outros embates, sempre resultando em um derrota para o ruivo. A cada derrota sua fúria parecia aumentar ainda mais, até que chegou o dia da batalha decisiva.
Gold estava caminhando pela estrada da vitória. Seu objetivo era alcançar a liga pokémon, da qual faria parte, localizada no planalto índigo da região de Kanto. Naquele ponto de sua jornada já havia coletado todas as insígnias da região Johto.
Quando estava perto de alcançar a saída daquele calabouço escuro e hostil, encontrou Silver. Ele interditou o caminho e o desafio para uma batalha
“Espera aí, você vai desafiar a liga pokémon? Até parece que um treinador patético e fraco como você conseguiria vencer…”
Gold já estava de saco cheio daquela mesma conversa repetida.
“Olha aqui cara.... nesse ponto da história você já deve ter perdido, pelo menos, umas seis vezes para mim, então acho melhor abaixar a bola. Se, segundo as suas palavras, eu sou um treinador fraco, pelos meus cálculos, você deve ser mais patético que um Magikarp, pois seu histórico de vitórias contra mim atualmente é zero.”
Ao ouvir a provocação ele fez uma careta. O tipo de expressão que alguém faz ao saber que não tem como argumentar sobre uma discussão já perdida.
“Você com certeza é mais fraco que eu. Não sou o mesmo de sempre, agora eu tenho os melhores e mais fortes pokémons comigo. Eu vou te mostrar isso aqui e agora.”
E tiveram mais uma batalha. O fim? O mesmo de sempre.
Ao ver a expressão de choque que o menino fez ao assistir o seu Feraligatr desabar no chão, nocauteado, Gold aconselhou: "Reconheço que seus pokémons estão mais fortes. Porém, ainda falta algo essencial: uma conexão com seus parceiros. Enquanto você permanecer considerando os seus pokémons apenas como ferramentas, nunca irá conseguir me derrotar”.
Tentava genuinamente ajudar o seu rival, mesmo que ele tenha cometido, oficialmente, vários crimes.
“...Eu ainda não desisti de ser o maior treinador do mundo. Irei descobrir o que está me impedindo de vencer e me tornar mais forte. Quando eu encontrar a resposta o desafiarei novamente, e o derrotarei com toda a minha força!”, respondeu Silver.
Tiveram outros encontros. Desde então, ele percebeu que Silver estava mudando. Estava construindo maior confiança em seus pokémons, algo que podia ser notado ao atestar o tom de sua voz de comando durante as batalhas. Antes era ríspida e grosseira, agora, calma e cuidadosa.
“... Já faz tempo… Desde que eu perdi para você… Andei refletindo sobre o que está faltando para mim e meus pokémons… E nós encontramos uma resposta”, disse ele ao se encontrarem dentro do Monte da Lua. Em seguida, o desafio para mais uma batalha.
Naquele ponto, Gold já havia vencido a liga pokémon, a elite dos quatro e Lance, sendo considerado o treinador mais forte de Johto. Seu próximo objetivo era enfrentar aquele que os boatos diziam ser o treinador mais forte da região Kanto, o silenci Red.
Após a vigésima derrota, ele finalmente admitiu:
“Você venceu, de novo. Justo, eu admito. Mas esse não é o fim. Eu ainda serei o maior treinador que já existiu, porque esses caras estão ao meu lado. Tisc, escuta, Gold, um dia desses ainda irei o derrotar e provar o quão bom eu sou.”
Desde então não haviam mais se encontrado.
Ficou sabendo por terceiros que Silver passava seu tempo treinando na Toca do Dragão, uma caverna subterrânea localizada na cidade de Blackthorn, onde dizem terem treinado os mais poderosos treinadores de dragão do mundo. Também descobrira que o menino era filho do antigo líder da equipe rocket, Giovanni, fato que esclareceu o porquê de ele agir daquela maneira.
Achou que o seu antigo rival estava seguindo o caminho correto para se tornar uma pessoa melhor, por isso, o recente anúncio feito em escala regional o pegou de surpresa.
E para completar, o desaparecimento das bestas lendárias apenas aumentavam as suas suspeitas.
Não podia ser coincidência, os dois fatos com certeza tinham algum tipo de ligação. E sua intuição dizia que era algo nada bom.
Relembrar aquelas lembranças havia o deixado nostálgico de uma época simples de sua vida, em que podia apenas se aventurar pelo mundo sem maiores preocupações, treinando pokémons, acampando no meio de uma floresta, pescando pelas águas de Johto ou chegando em alguma cidade qualquer. Agora já era um jovem adulto e tinha preocupações muito mais urgentes, principalmente por exercer o cargo com mais responsabilidades de todos: o campeão.
Chegou ao Olivine Café.
Conversas surgiam de todas as partes. Garçons e garçonetes carregavam bandejas em direção às mesas. Também anotavam em blocos de notas os pedidos dos clientes.
Ao entrar no restaurante, percorreu o seu olhar pelo estabelecimento, até encontrar a mesa.
O homem bebia um café com leite. O prato, em cima da mesa, estava coberto por Croissants. Seu nome era Eusine, um sujeito excêntrico. Seu cabelo era castanho. Vestia um terno roxo com uma gravata vermelha estilo borboleta em seu pescoço. Em suas costas havia uma curta capa branca, o que dava a ele uma aparência de mágico.
Gold sentou na cadeira em sua frente. Ao avistá-lo, Eusine sorriu.
“Sei que você não é um cara que costuma estar atento às tendências de moda recentes, mas esse visual é tenebroso até para o seu histórico.”
Gold pegou um croissant e comeu.
“Alguém como eu não pode chamar atenção, principalmente considerando os acontecimentos recentes. Agora, mais do que nunca, todos os holofotes estão sendo apontados para a minha direção”, falou enquanto mastigava. "Qualquer coisa que eu faça, por mais insignificante que seja, irá estampar os jornais e programas da fofoca de Johto.”
Eusine limpou sua boca com um guardanapo de pano.
“Então chega de enrolação e vamos direto à conversa principal…”
Eusine era aquilo que chamavam de um Poké Maníaco. Treinadores que dedicam as suas vidas para encontrar pokémons raros e lendários. No seu caso, seu objetivo de vida era documentar informações sobre o trio de bestas lendárias de Johto. Entei, Raikou e Suicune, os pokémons ressuscitados, mortos durante o incêndio da Torre Queimada e revividos por Ho-oh. Lendas vivas que percorriam a região, compartilhando de seus poderes místicos com os outros pokémons.
Atualmente, estavam desaparecidos, sem relatos de avistamento. E se havia alguém que poderia saber alguma informação a respeito do paradeiro dos pokémons, esse alguém era Eusine.
“Sinto atestar o óbvio, mas parece que o seu antigo amigo fez algo muito mais grave do que apenas hackear as redes de comunicação de toda região…”
Então, começou a contar tudo.
Do lado de fora, a chuva iniciou-se.
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Atualizações da Wiki. Perfil da Malli adicionado à seção de personagens. Página com informações sobre os golpes/movimentos utilizados na fanfic inaugurada. No próximo capítulo voltaremos com o pov da protagonista.
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