5. A fúria do Gyarados

Beth submergiu do mar. As ondas, antes calmas, agora se agitavam com a presença da grande serpente marinha. Seu olhar percorreu por todas as direções em busca de Malli.

De repente, o Lapras surgiu do fundo das águas. Grudado no seu casco estava a garota que procurava.

"VOCÊ ESTÁ BEM?", gritou ela ao avistar Beth.

"POR ENQUANTO SIM", berrou em resposta.

Beth mudou seu olhar para o Gyarados o qual continuava as fitando com seus olhos vermelhos. Seu corpo estava envolvido por uma estranha neblina escura.

"JÁ VOU AÍ". Malli dara a ordem para o Lapras ir a buscar: "Lapras, resgate ela!"

O Gyarados abriu a boca. Uma luz brilhante começou a ser emitida do seu interior.

Beth olhou em direção do Lapras nadando a seu encontro e, logo após, para o Gyarados.

Não vai adiantar.

"Malli ele está preparando para lançar um golpe", avisou. "Não vem atrás de mim, tenta atacar ele com o Lapras. É a nossa única chance."

Malli se apavorou.

"Eu não sei quais golpes o Lapras sabe..."

Fala sério, uma treinadora que não sabe os golpes do seu próprio pokémon. Sua situação só piorava.

"Tenta o... deixa eu ver... Raio de Gelo!", sugeriu.

"Está bem...". A menina mudou seu foco para o Gyarados. "Lapras, Raio de Gelo!"

Se não estava enganada o golpe possuía uma grande chance de congelar completamente o adversário. Teriam que contar com a sorte já que congelar um pokémon daquela magnitude não era uma tarefa nada fácil.

O Lapras preparou-se para lançar o golpe. Mirou seu chifre na direção do Gyarados e lançou, de lá, um raio congelante azulado.

O Gyarados se debateu ao receber o golpe.

De repente, seu corpo começou a se solidificar e, após alguns minutos, estava coberto por uma cobertura de gelo sólida.

"Rápido, antes que ele acorde", Beth chamou a atenção para si.

O Lapras voltou a nadar em direção à Beth. Ao chegar perto ela escalou o seu casco, voltando à sua posição original.

"Agora nós temos que sair daqui o mais rápido possível antes que...". Nem terminara a frase quando ouviu o som de algo se partindo. O Gyarados começou a agitar-se. Rapidamente o gelo quebrou, libertando o pokémon.

"E agora?", perguntou Malli. O Gyarados as fitava se preparando para lançar o golpe que executava antes de congelar.

"Não sei." Beth olhava para a luz vindo ao seu encontro e pôde ver um filme de sua vida passar em sua mente.

Então é assim que as pessoas se sentem antes de morrer, pensou.

Porém, o golpe não chegara nelas. Um feixe de luz surgiu dos céus e o repeliu para longe das meninas.

"Mas o que..."

Beth Olhou para o céu cegamente em busca da direção em que o feixe partira. Então, avistou.

Um Dragonite voava na imensidão do céu azul e, em suas costas, uma pessoa.

"Vovô!", exclamou Malli ao seu lado. Olhava alegremente para a criatura voadora.

O Gyarados mudou seu foco para os dois, lançando raios sucessivos. Porém, o pokémon desviava fazendo acrobacias no ar e revidando com feixes de luz.

"Acho melhor nós fugirmos enquanto podemos", disse Beth enquanto o Gyarados estava distraído com as novas aparições.

"Certo. Lapras, fuja o mais rápido possível."

O Lapras começou a nadar e logo a batalha ficou para trás, longe o suficiente para os dois pokémons tornarem-se apenas duas figuras minúsculas à distância.

⏰⏰⏰

O Lapras chegou ao caís da pequena ilha e as deixou em solo firme.

"Você foi muito bem, agora volte." Malli chamou o pokémon de volta para a pokébola.

"Nem acredito que a gente conseguiu chegar a salvo", disse Beth suspirando de alívio.

Olhou para ilha. Havia uma pequena casa de madeira a vista. Ao seu redor, era cercada por pedregulhos dos quais seu solo também era formado. Tinham Nidorans espalhados por toda parte, correndo e grunhindo.

"Lar doce lar", disse Malli. Então, deu um grande respiro e soltou o ar de satisfação.

Enquanto Malli a apresentava a ilha e os Nidorans criados por seu avô e sua avó, Beth não conseguia parar de pensar em como alguém poderia viver naquele pedaço de terra, longe de todo mundo.

Uma sombra passou voando pela ilha. Olharam para o céu e viram um Dragonite descer e pousar a salvo no solo.

As duas foram correndo na direção dele.

O homem era um idoso, tão velho que Beth temera que ele fosse quebrar umas costelas ao descer das costas do dragão. Porém, ele era ágil e rapidamente desmontou o pokémon.

"Muito bem campeão, você fez um bom trabalho." O velho acariciou o Dragonite o qual soltara grunidos de prazer.

"Vovô, ainda bem que você chegou!". Malli correu e o deu um abraço apertado. "Nem sei o que aconteceria se você não tivesse chegado a tempo."

"Os tempos são difíceis Malli, os pokémons estão agindo de forma estranha ultimamente". Ele notara Beth. "Quem é essa?"

"Uma amiga treinadora. Ela é iniciante, que nem eu". Malli desfez o abraço.

"Como você está filha?"

"Estou bem". Então, Beth finalmente notou o estado no qual estava. Suas roupas estavam molhadas, sua mochila pesada e acreditava que entrara água em seus ouvidos. "Só um pouco encharcada."

"Vocês duas estão molhadas até o osso! Vamos entrar para secar essas roupas."

O homem as guiou calmamente até dentro da casa de madeira. Ao entrarem pela porta foram recebidos por uma mulher igualmente idosa.

"Se meteu em confusão no mar de novo Joaquim?", perguntou ela quando a porta fora aberta. Ajustou seu óculos para enxergar melhor. "Malli, você por aqui! Achei que já tinha partido para Violet."

"É... eu acabei passando por aqui para dar um oi, quando fui atacada", respondeu a menina.

"Atacada?"

"A história é longa, vamos entrar primeiro."

Entraram na casa e foram direto para o quarto de Malli. A garota a ofereceu um par de roupas limpas enquanto as suas secavam. Aproveitou para tirar a água da sua mochila e remover suas coisas para secar ao sol. Ao terminarem de se arrumar, foram para a sala.

O cômodo era preenchido por vários retratos, alguns dos avô e avó de Malli, outros da garota e um casal de adultos juntos e inúmeras do avô de Malli com outras pessoas que julgou serem treinadores.

"Meu avô trabalhava como guia da cidade, por isso ele conhece vários treinadores", disse Malli ao ver Beth olhando os retratos. "Ele gosta de guardar esses retratos e vive se gabando de já ter conhecido a maioria dos grandes treinadores de Johto em seu início de jornada."

Beth continuou passeando pelos retratos para ver se reconhecia alguém. Parou em frente a um. Um menino usava boné ao contrário e posava para câmera ao lado do homem.

Eu conheço esse rosto de algum lugar...

Ela passou alguns segundos buscando na mente de onde vinha a semelhança, porém, nenhuma resposta veio a sua mente.

Olhou para uma foto de Malli criança pousando em frente a um homem e uma mulher no que, aparentava ser, a torre de rádio de Goldenrod. Seus cabelos loiros estavam amarrados em dois tufos por marias-chiquinhas.

"Quem são eles?", interrogou Beth.

"Meus pais."

"Nossa, vocês já foram para Goldenrod", disse com certa inveja. Goldenrod era a grande cidade de Johto e o sonho de moradia de todos na região. Seus inúmeros cassinos, o grande departamento de lojas e o mais recentemente construído cinema pokémon colaboravam para a grandiosidade da cidade.

"Na verdade, nós morávamos lá, antes de... antes de..."

"Antes do que?"

"Deles morrerem em um acidente de carro."

Ela olhou para o chão com pesar.

"Ah desculpa, eu não sabia", repreendeu-se por sua falta de sensibilidade.

"Tudo bem". Ela sorriu. "Meu pai nasceu e passou a maior parte de sua vida aqui. Então, ele partiu em uma viagem para Goldenrod a serviço do meu avô quando conheceu minha mãe. Meu pai decidiu que havia encontrado o amor de sua vida e foi morar em Goldenrod junto com ela."

Malli tocou o retrato.

"Depois que eles morreram eu vim morar com meu avô e avó. Desde então passei a maior parte da minha vida aqui, com eles."

"Eles parecem legais."

"Eles são as melhores pessoas que eu conheço. Mas sabe, até hoje eu não consigo parar de pensar em como minha vida poderia ter sido diferente se o acidente não tivesse acontecido..."

Sentiu sua consciência pesar. Tinha dois pais vivos e que a amavam mas os abandonara para seguir seu sonho, deixando apenas uma carta mal escrita e vaga para trás.

"Já terminaram de se trocarem? Venham aqui, o almoço está pronto!", ouviu a voz da avó de Malli as chamar.

Beth seguiu Malli para cozinha enquanto seu estômago roncava de fome com o cheiro que rondava o ar.

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Glossário de Golpes

Raio de Gelo: Tipo Gelo. O usuário dispara um raio congelante em direção do oponente.

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