48. Fantasmas Do Passado
Já era fim de tarde quando finalmente chegaram em Ecruteak.
Logo no seu início havia uma grande placa de madeira. Nela estava gravado o nome da cidade e seu slogan.
"Nova Ecruteak, a cidade onde o passado encontra o futuro."
Haviam poucas construções. Algumas casas, construídas com uma arquitetura tradicional, eram possíveis de serem observadas do alto. Eram construídas com madeira, claramente de maneira provisória. Um centro pokémon improvisado podia ser avistado na área central do lugar.
A urbanização era tão carente que Beth questionava o status de cidade. Estava mais para um vilarejo do que qualquer outra coisa.
Alguns idosos bebiam chá enquanto sentavam-se na sacada das residências, observando o movimento da rua. Crianças corriam pelas ruelas, brincando. Alguns Poliwags nadavam em uma poça de água que dava em um poço. Pidgeys repousavam em galhos de árvores, descansando em seus ninhos.
Forçando ainda mais sua visão e cobrindo seus olhos para se proteger do sol da tarde, Beth podia avistar ao longe as ruínas da antiga cidade.
Desde que Ecruteak fora destruída pelo grande cataclisma de Johto, a maioria de seus habitantes havia se mudado para cidades próximas. Porém, uma parcela da cidade escolheu permanecer nela com o intuito de reconstrui-la. Uma pequena comissão formada pela associação de moradores de Ecruteak iniciara o processo de restauração.
Voluntários, antigos moradores da cidade, juntaram forças para reconstruir aquele local que um dia haviam considerado os seus lares.
Beth percebia o quanto já tinham avançado em seu propósito. O que começou como apenas algumas construções de madeira rústica e um centro pokémon improvisado, agora já começava a florescer em uma nova cidade.
O Skarmory pousou próximo ao centro pokémon.
Beth e Souto desceram do veículo voador. Jill descera do pokémon de metal, chamando-o de volta para a pokébola.
"Você fez um ótimo trabalho amigão… Hora de descansar", disse ele ao enviar seu pokémon para dentro da pokébola.
Beth espreguiçou-se. Após passar tanto tempo sentada finalmente podia alongar o seu corpo livremente.
"Então essa é a Nova Ecruteak…", falou enquanto olhava para todo o lado. A população os fitava com curiosidade que apenas aqueles que moravam em lugares pacatos poderiam ter.
Souto respondeu: "É incrível como em pouco tempo eles conseguiram reconstruir parte da cidade destruída."
"Isso é verdade", respondeu com certa melancolia.
Apesar de estar feliz por eles terem conseguido se reerguer, sentia uma certa tristeza ao lembrar de tudo que havia sido perdido pelo terremoto. Ecruteak era conhecida por ser o centro cultural de Johto. Suas torres históricas, as quais as lendas diziam um dia serem habitadas por pokémons lendários, haviam sido reduzidas a escombros.
Se sentia mal por saber que nunca conheceria o lugar em seu auge.
Jill havia retirado os caixotes com leite de Miltank que haviam trazido da fazenda Moomoo.
"Tenho que levar a encomenda para a distribuidora da cidade. Vocês já podem ir até o Centro Pokémon da cidade, tenho certeza que seus pokémons precisam de um check-up. A enfermeira Joy daqui é muito competente, tenho certeza que ela atenderá vocês bem."
O homem partiu com os caixotes, deixando os dois sozinhos.
"Bom, acho melhor nós irmos logo afinal já vai escurecer", disse Souto olhando para o céu alaranjado de fim de tarde.
O interior do centro pokémon era mais modesto quando comparado com o das outras cidades que Beth já visitara.
"Prazer em recebê-los. Acredito que sejam treinadores, estou certa? Em que posso ajudar vocês?", disse Joy ao recebê-los.
Beth pegou suas pokébolas e entregou para a mulher. Souto fez o mesmo.
"Cuidarei dos seus pokémons com bastante cuidado, aguardem alguns instantes por gentileza."
Então, a enfermeira levou as pokébolas em uma maca em direção do ambulatório do centro pokémon.
Os dois treinadores sentaram em uma poltrona do lobby do estabelecimento. A TV pregada na parede estava ligada em um programa de culinária. Uma mulher preparava um bolo enquanto um Vulpix observava a massa dentro de um recipiente de vidro ser preparada.
"Então, você disse que eu teria uma surpresa ao conhecer o líder de ginásio", disse Beth quebrando o silêncio que havia se prolongado. "Já estou aqui na cidade. Será que você pode ao menos dar uma dica sobre qual o tipo em que ele - ou ela - se especializa?"
Ela precisava reunir todas as informações possíveis para se preparar para a batalha de ginásio que logo enfrentaria.
"Bom-", Souto ia falar quando de repente ele abriu os olhos, como se tivesse espantado com um fantasma.
Apontou em sua direção.
Beth percebeu que uma criança, não deveria ter mais do que cinco anos, sentava ao seu lado. Seu cabelo era roxo e vestia uma espécie de fantasia cosplay de um Gengar a qual cobria-o da cabeça aos pés.
O menino virou seu olhar para Beth, a fitando com um olhar risinho.
"Kek Kek", ele riu. Uma risada estranha e peculiar.
Beth não entendeu qual era a graça, muito menos como ele havia chegado sorrateiramente ao seu lado sem ela perceber.
"Qual é a graça?", falou levemente irritada com a possibilidade de estar sendo feita de chacota.
"Kek kek, nada não", ele respondeu. "É só que acho que você está curiosa para saber quem em sou."
"E por que eu estaria interessada em saber sobre a vida de um pirralho como você? Aliás, sua mãe deve estar te procurando. É sabido que criancinhas não devem andar sozinhas pela noite."
Ele ficou sombrio.
"Não me importo com isso… Afinal eu não tenho mãe de qualquer jeito."
Beth ficou sem reação.
"Desculpa, não sabia, sinto muito por você."
"Kek Kek, acho que não me entendeu. Minha mãe não existe mais no plano físico, porém eu falo com ela o tempo inteiro através do plano espiritual."
Beth estava começando a achar aquele garotinho perturbador.
Que esquisito.
O menino levantou. Retirou algo de dentro de sua fantasia de Gengar e segurou em sua mão.
Era um sino.
Espera aí… Será que isso poderia ser…
"O sino dos espíritos!", exclamou em voz alta, apontando para o objeto.
"Vejo que isso é de seu interesse… Não é mesmo, Beth Copper?"
"Como você sabe meu nome..."
"Kek kek os espíritos me avisaram sobre a sua chegada", disse ele. "Se você quiser o sino dos espíritos me encontre no meu ginásio, hoje à noite… kek kek." Então, a criança saiu correndo do centro pokémon como se estivesse brincando sozinha.
Beth olhou para Souto, confusa.
"Não vai me dizer que esse pirralho é o líder de ginásio daqui?"
"Era isso que eu ia falar… De fato, ele é. Gaspar, o filho do antigo líder de ginásio da cidade, Morty."
"Afinal de contas onde ficar esse ginásio?"
Não lembrava de ter avistado nenhuma estrutura que lembrasse um ginásio enquanto chegava na cidade.
Souto fez uma cara feia, como se estivesse relutante em responder.
"Bom, sobre isso…"
⏰⏰⏰
A mão de Beth tremia. O frio da noite dominava seu corpo.
Apontava a lanterna para a frente, tentando enxergar no meio daquela nevoeiro que se expandia por toda a parte.
No céu era impossível de saber se ainda era dia ou noite, afinal aquela camada branca de ar impedia a visão de qualquer coisa.
Embaixo de seus pés, o resto das ruínas da antiga cidade de Ecruteak. Telhados destruídos, vigas de ferro, massas de concreto, e seja lá o que mais estivesse enterrado naquele cemitério a céu aberto.
Quem achou que seria uma boa ideia fazer um ginásio nesse lugar?, questionou-se enquanto caminhava com cuidado no meio de toda àquela destruição.
Começou a sentir que algo espreitava pelo denso nevoeiro, observando-a.
De repente imaginou que a qualquer momento uma mão emergiria do chão e agarraria suas pernas, puxando-a para dentro do solo.
Um arrepio subiu à sua espinha.
Acelerou os passos.
Tomara que eu esteja perto.
Sentiu uma sonolência dominar o seu corpo. A mesma sensação que havia sentido na floresta da fazenda Moomoo, quando havia sido salva pelo Houndour.
"Ah não", foi a última coisa que conseguiu falar antes de desabar de sono, inconsciente.
⏰⏰⏰
Estava em um campo florido.
À distância conseguia observar a silhueta de cinco mulheres. Faziam movimentos de dança tradicional. Todas elas vestiam kimonos de diversas cores. Acompanhando elas estavam cinco pokémons.
Um Flareon, um Vaporeon, um Jolteon, um Espeon e um Umbreon.
Acompanhavam suas donas fazendo movimentos graciosos de dança.
Beth caminhou pela campo florido, tentando alcançar aquelas misteriosas mulheres que tanto intrigavam-a.
Quando finalmente chegou perto do grupo, tocou as costas de uma delas e perguntou: "Com licença… Pode me dizer onde estou?"
Porém, quando a mulher virou a cara para Beth a alma da menina pareceu sair de seu corpo.
Em seu rosto, maquiado com pó branco, não havia nada. Nem olhos, nem nariz, nem boca.
A menina soltou um grito que ecoou por todo aquele mundo desbotado.
Quando Beth acordou percebeu que sua energia vital estava sendo sugada. Deitada no chão, Gastlys cercavam-a por toda a parte. Fez um esforço para se levantar, extremamente cansada e sem energia.
"SAIAM DAQUI", gritou ela, espantando as bolas gasosas que fugiram.
Encontrou forças que não sabia ter e saiu correndo, desesperada para deixar aquele lugar o quanto antes.
Depois de correr por tanto tempo finalmente a neblina começara a se dissipar.
À sua frente, um ginásio de arquitetura tradicional apareceu.
Ela parou para descansar, ofegante de tanto cansaço. Parecia que havia percorrido uma maratona de tanta exaustão que sentia.
Finalmente.
Caminhou lentamente, ainda se recuperando do cansaço. Sua energia roubada pelos fantasmas começava a voltar.
Subiu as escadas que levavam para o ginásio e adentrou.
Chegou em seu interior. Havia uma grande arena de batalha, porém, nenhuma alma viva à vista. Na frente da arena de batalha haviam duas estátuas do que pareciam ser dois pokémons lendários.
Ho-oh e Lugia.
"Booo", sentiu uma mão tocar as suas costas.
Era Gaspar, risonho.
"Desculpa se te assustei, kek kek. Aposto que está cansada depois de ter sua energia sugada pelos fantasmas daqui", disse ele. "Eles não podem evitar… Vivem com fome, então sempre que aparece um treinador pokémon por aqui eles devoram seus pesadelos como se não houvesse amanhã."
"Então era um pesadelo…"
"O que exatamente você sonhou?"
"Bom, haviam cinco mulheres vestidas de kimono-"
Beth nem havia terminado de falar quando fora interrompida pelo garotinho.
"Ah, tô ligado. Você deve estar falando sobre as garotas kimonos. Um grupo de mulheres que dançavam na antiga Torre do Sino da cidade, as escolhidas de Ho-oh."
Ela ficou curiosa à menção do pokémon lendário.
"Onde elas estão agora?"
"Mortas. Assim como meu pai e minha mãe, engolidos pelas ruínas da cidade", disse Gaspar casualmente, como se estivesse tratando de um assunto qualquer.
Ele esbarrou em Beth e saiu correndo em direção do outro lado da arena.
"A proposta é a seguinte: se você me vencer em uma batalha dois versus dois terá o sino dos espíritos e a insígnia da névoa… Porém, se perder, não terá nem um, nem outro, kek kek. Está de acordo?"
Beth engoliu o seco. Tudo bem que o garoto não era a figura mais intimidadora que encontrara em sua jornada. Sua fantasia de Gengar era mais cômica do que assustadora. Porém, se ele era um líder de ginásio tão jovem, com certeza a sua capacidade de batalhar não deveria ser subestimada.
Beth se posicionou em seu lado da arena de batalha e respondeu, confiante: "É claro que eu aceito!"
Havia viajado uma grande distância para alcançar a cidade. Precisava do sino para convencer Jasmine a voltar a batalhar em seu ginásio. Além disso, sua segunda insígnia era bastante importante para seu sonho de batalhar contra seu ídolo, Gold.
Muita coisa estava em jogo. Perder não era uma opção.
Pegou uma pokébola de seu bolso. Acionou a esfera em miniatura, a qual havia adquirido o tamanho padrão.
Os dois invocaram seus respectivos pokémons.
"Vamos mostrar para ela o que é um verdadeiro pesadelo, Haunter!"
"Seja forte, Butterfree!"
O fantasma e a borboleta materializaram-se no campo de batalha.
A terceira batalha de ginásio de Beth estava prestes a começar.
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No próximo cap tem #batalha. E aí, quais pokémons você acha que cada um vai usar? Comenta aí!
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