45. Decisão
As figuras fantasmagóricas fugiram ao ouvirem o potente rugido do pokémon ecooar pela floresta escura. As mãos de Beth tremeram, fazendo a sua DeXGear cair no chão.
Beth finalmente estava se livrando da sonolência que a havia acometido.
Esfregou os olhos tentando enxergar melhor naquela escuridão.
Viu um pokémon parado, mostrando suas presas de forma ameaçadora em sua direção.
Beth engoliu o seco, sem coragem para fazer uma movimentação sequer. Do contrário, achava que poderia soar de forma ameaçadora e tudo que não queria naquele momento era ser atacada por um pokémon selvagem.
"Ca-calma", falou enquanto lentamente dava um passo para trás sem retirar seus olhos do pokémon.
Pegou sua DexGear jogada no chão e apontou a lanterna para a direção da figura escondida pela escuridão.
Finalmente pôde ter um vislumbre completo do pokémon.
Andava em quatro patas, como um canino. Sua pele tinha uma pelagem preta. Sua barriga e focinho eram vermelhas. Em seu rosto, uma máscara parecida feita de ossos logo acima dos olhos.
A criatura se acalmou. Em seguida, sentou com suas duas patas traseiras, sua língua para fora da boca.
Beth se acalmou.
Soltou um suspiro de alívio que não sabia estar segurando por todo aquele tempo.
"Nossa, você me deu um susto", agradeceu ela. "Se não tivesse chegado a tempo nem sei o que teria acontecido."
O Pokémon apenas latiu.
"Dour Dour."
Ela apontou sua pokédex na direção do pokémon, curiosa para descobrir de qual espécie era.
A informação apareceu na tela do dispositivo:
"Houndour, o pokémon sombrio. Tipo: noturno e fogo. Esse pokémon utiliza seu rugido para se comunicar com outros de sua matilha e marcar seu território. Quando se torna o seu parceiro, Houndour se manterá leal ao seu treinador, obedecendo todas as suas ordens sem pestanejar."
Tipo noturno, pensou Beth. Agora havia entendido o porquê dos fantasmas terem fugido daquele pokémon apesar de estarem em vantagem numérica.
Percebeu que algo de forma rendonda estava estirado logo a frente do pokémon.
Ela ajoelhou no chão para enxergar melhor com a ajuda da luz de sua lanterna.
Era pedaço de queijo que o pokémon havia roubado da fazenda Moomoo.
"Então foi você que roubou a casa da Helena, né?"
Beth riu. Em seguida, complementou: "Acho que não posso julgar você já que fiz coisa parecida…"
Não tinha moral nenhuma pois, assim como o Houndour, já tinha roubado também múltiplas vezes.
Beth afagou o pelo do pokémon que grunhiu de prazer com o toque.
"Acho que você gosta de mim", disse.
"Dour Dour."
O Pokémon pareceu lembrar de algo.
Bruscamente, pegou o pedaço de queijo da boca e saiu rumando pela floresta.
Pra onde ele vai?
Beth decidiu segui-lo, já que havia chegado tão longe. Então caminhou sorrateiramente, apontando sua lanterna pela frente e seguindo os rastros do pokémon. O silêncio da noite só era quebrado pela canção dos pokémon selvagens que descansavam tranquilamente.
Chegaram em frente de uma grande árvore. No seu tronco havia um buraco, fato que a levou a acreditar se tratar de um ninho de pokémon.
O Houndour havia deixado o pedaço de queijo no chão, em um espaço de terra fofa que destoava do resto da vegetação da floresta, claramente cavado. Também havia uma pilha de queijos já mofados e algumas frutinhas no espaço de terra marcada Em seguida, entrou dentro de seu ninho e deitou no chão da toca, pregando os olhos.
Beth começava a raciocinar, lembrando do pokémon que havia avistado escondido na mata enquanto assistia a sua batalha contra Souto.
Será que…
Tinha quase certeza que era aquele pokémon que estava bisbilhotando mais cedo.
Deve gostar de batalhas, pensou, apesar de achar que ele parecia ser solitário enquanto dormia sozinho naquele lugar.
Olhou para o céu ainda escuro e viu que logo amanheceria. Então, voltou para a fazenda rapidamente, tomando cuidado para evitar contato com pokémons selvagens.
⏰⏰⏰
Na mesa da casa todos haviam sentado para fazer a primeira refeição do dia.
Beth observava o seu leite fazer pequenas ondas enquanto olhava para a mesa, a cabeça cheia de pensamentos.
"Pensando na morte da Mareep?", ouviu a voz da criança falar.
Percebeu que a garotinha, Magnólia, filha de Helena, a fitava com olhar interrogativo. Um pedaço de baicon em sua boca enquanto mastigava.
"Nada não…"
Mas não era verdade.
"Escuta, seu eu falar sobre algo promete que não irá contar para ninguém?"
"Óbvio", respondeu ela com a boca cheia.
Então, Beth começou a falar tudo, desde o momento que avistou o pokémon selvagem roubar da fazenda até a parte em que havia sido encurralada por fantasmas na floresta.
"Ah, tendi. Você deve tá falando do pilantrinha?"
"Você conhece ele?"
"Na verdade todo mundo aqui de casa conhece. Vive roubando as coisas da geladeira e fugindo durante à noite."
"Bom, eu tava com medo de o entregar, já que tinha sido salva por ele… mas já que não é novidade me sinto mais confortável."
A menina deu um longo sorriso mostrando seus dentes.
"Na verdade a gente já sabe que ele rouba as coisas mas mesmo assim deixamos. Se ocê soubesse da história dele também sentiria um pouco pena do pobre pokémon…"
"Que história?"
Magnólia começou a contar a história.
Diariamente, durante a noite, dois pokémons costumavam invadir a propriedade da fazenda para roubar leite e queijo dos depósitos. Uma mãe e seu filhinho recém nascido. Porém, um dia, os roubos haviam parado. Helena, estranhando a súbita abstenção, resolveu investigar na toca da floresta o paradeiro da dupla. Foi quando descobriram que a mãe do Houndour estava doente. Agonizava na toca e mal tinha forças para levantar. Seu orgulho impedira que ela se deixasse ser levada para o centro pokémon perto da cidade para ser tratada.
O inevitável aconteceu: ela acabou falecendo. A mãe e o pai de Magnólia escolheram um lugar para enterrar ela, mas seu filho não deixara que ninguém a tocasse. Desde então, Houndour permanecia dentro de sua toca, esperando que um dia sua mãe retornasse.
"Até hoje ele guarda comida pra ela. Minha mãe acha que Houndour cavou uma cova para sua própria mãe dentro da toca onde eles viviam. Bem perturbador, né?"
Beth lembrou da noite na floresta. O pokémon havia deixado o pedaço de queijo sobre o monte de terra fofa.
Saber que ali estava os restos mortais da mãe do pokémon de alguma forma a perturbava.
"Sobre o que vocês estão falando?", perguntou Jill olhando na direção das meninas que trocavam conversa baixa.
"Eu-", Beth ia responder mas Magnólia fora mais rápida.
"Coisas de menina", disse a menina. Então, piscou para Beth.
⏰⏰⏰
Beth organizou suas coisas em sua mochila, preparando para a partida.
Então, saiu do quarto de hóspedes, deixando a casa e se encaminhando para o lado de fora.
Um Skarmory baita suas asas, se preparando para partir.
Caixotes com unidades de leite estavam sendo embalados para serem colocados no porta malas. Na embalagem dos frascos de vidro havia o logotipo da marca "Leite Moomoo". Uma ilustração de uma Miltank segurando um frasco estampava a embalagem, divulgando a marca.
Souto trocava conversa com Helena e Jill as quais observavam os produtos serem alocados dentro do veículo voador.
Enquanto caminhava em direção do táxi voador, preparada para partir, aqueles pensamentos não deixavam a sua mente.
Sentia pena do pequeno Houndour que havia a protegido na floresta.
Eternamente esperaria sua mãe retornar, mas ela nunca viria. Questiona-se se ele sabia que ela havia morrido ou se apenas era ingênuo demais para saber o que significava o conceito de morte.
E aquilo era triste demais.
"Xau Beth, espero que oçê consiga ganhar a sua próxima insígnia", despediu-se a garotinha. Em seguida, abraçou Beth.
"Tenham sorte e mandem um abraço em meu nome para Jasmine quando a encontrarem novamente", despediu-se Helena.
Souto já havia subido no banco dos passageiros.
Jill estava em cima da ave de aço, preparado para dar voo.
Beth ia entrar no veículo quando parou.
"Ainda não!"
Todos olharam para ela, confusos.
Precisava fazer uma coisa antes deixar o local.
"Me esperem", disse antes de sair correndo pela fazenda em direção da floresta.
⏰⏰⏰
Não teve trabalho para encontrar a toca do pokémon, na luz do dia daquela vez.
Ele estava devorando uma berry quando a avistou e saiu correndo, pulando em cima de Beth.
A garota foi jogada no chão com violência, sendo recebida com as linguadas do cão. Seu rosto estava coberto de baba.
Olhou para a direção de onde estava a terra fofa. A pilha de queijo mofado permanecia lá, intocada.
"Estou de partida. Sou uma treinadora pokémon, viajo pelo mundo e batalho contra outros treinadores. Sei que você estava me observando treinar, então certamente gosta de batalhas pokémon, estou certa?"
O Pokémon acenou com a cabeça.
"Então estava pensando… Já que você gosta de mim e está interessado em batalhas… Você poderia se juntar a minha equipe, caso queira."
O Pokémon abanou a cabeça e se livrou de Beth. Caminhou em direção do cova aonde estavam os queijos e apontou com o focinho em sua direção.
"Eu sei que você ainda espera que a sua mãe vai voltar… Mas peço que me dê uma chance e deixe mostrar que existe um grande mundo de oportunidades a serem exploradas. Se você continuar preso a essa lembrança nunca irá saber qual a sensação de fazer algo que realmente gosta. "
Naquele ponto não sabia se estava falando do pokémon ou dela mesma.
"Por favor, me dá uma chance", implorou ajoelhada.
Pegou um pokébola vazia e segurou com as duas mãos.
Quando percebeu, lágrimas estavam desabando de seus olhos.
O Pokémon permaneceu intacto em sua posição, sem emitir nenhum sinal de concordância.
Beth enxugou suas lágrimas. "Bom, acho que não posso forçar você a escolher. No final a decisão tem que ser apenas sua, e se você não quer que eu seja sua treinadora acho que está tudo bem…"
Pelo ao menos havia tentado.
Levantou do chão, e virou as costas para deixar a floresta.
"Dour Dour", ouviu o pokémon latir às suas costas.
Virou para olhar.
Houndour veio em sua direção e arrancou a pokebola vazia de sua mão com a boca. Em seguida, jogou no chão.
"Então você quer ser meu pokémon?"
Ele confirmou com sua cabeça.
Ela sorriu, reluzente.
Beth pegou a pokebola do chão e ia jogar em direção do pokémon quando foi interrompida.
Ele balançou a cabeça em negação.
"O que-"
Entendi, finalmente percebeu o que ele estava sinalizando.
Houndour queria ser vencido em uma batalha antes de ser capturado.
"Nesse caso…", pegou um pokebola de seu bolso. "Tyrogue, eu escolho você!"
Lançou o pokémon no campo.
"Ty!"
"Tyrogue, use o Soco Atordoante."
O lutador partiu para cima do pokémon selvagem com os punhos preparados para atacar.
Houndour havia sido mais rápido e desviou. Em seguida, lançou um golpe de chamas em forma de espiral da sua boca. Tyrogue tinha sido acertado em cheio.
"Ty", grunhiu o pokémon.
"Tyrogue. Chute Alto", instruiu Beth.
Tyrogue aproveitou da distração do pokémon e lançou um chute que o lançou com força. Ele bateu no tronco de uma árvore e caiu no chão.
"Dour Dour", grunhiu ele enquanto se levantou.
No final, a diferença de poder entre o pokémon selvagem e um pokémon treinado como Tyrogue era claramente visível.
Houndour partiu para cima de Tyrogue com sua garra envolta em chamas.
"Tyrogue, Detectar."
Os olhos de Tyrogue brilhavam enquanto o pokémon analisava o melhor movimento para desviar do ataque.
O Tyrogue deu um salto com as pernas e virou cambalhota no ar, parando atrás do Houndour o qual havia acertado o gramado, o queimando com o fogo de suas garras.
"Agora, Soco Atordoante."
Dessa vez o golpe acertou o cão, o deixando confuso.
Houndour vagou pelo campo, desorientado enquanto tentava acertar o ar com sua mordida.
"Finalize com Soco Projétil!"
Tyrogue partiu em direção dele com seu punho metalizado. O soco nocauteou o oponente.
Beth jogou a pokebola em direção do pokémon. Ele foi sugado pelo feixe vermelho. Olhava nervosa a pokebola balançar no chão, emitindo o som de captura.
A esfera remexeu três vezes antes de confirmar a captura.
Ela correu para pegá-la.
"Saia", ela chamou o pokémon recém capturado para dentro.
"Dour Dour", o pokémon latiu em animação.
A treinadora o carregou no colo, confirmando que os dois agora eram parceiros.
Tyrogue revirou os olhos enquanto assistia a cena.
"Tyrogue, dê boas vidas ao seu novo companheiro de equipe", disse Beth para o Tyrogue.
Ele apenas virou a cara. "Ty."
"Não tem como deixar se ser ignorante só por um segundo?", perguntou ela.
Não deixaria a petulância do pokémon estragar o momento.
Chamou ele de volta para a pokebola.
Soltou o Houndour no chão.
"Vamos, temos que ir. Já estão me esperando e logo iremos deixar esse lugar."
Antes de ir o Houndour deu um último vislumbre para sua toca. Ele caminhou em direção do monte de terra e deixou uma marca com a sua pata, despedindo-se de sua mãe pela última vez.
"Dour Dour."
Então os dois saírem correndo pela floresta rumo à fazenda onde Jill e Souto a esperavam, certamente impacientes.
⏰⏰⏰
"VOLTEIIIIIIII", gritava Beth correndo e se aproximando do táxi voador.
Jill e Souto olharam para ela com olhos interrogativos.
"Onde você se meteu?", perguntou Souto.
"Isso não importa… Quero apresentar a vocês meu novo pokémon!"
Apontou para o Houndour parado ao seu lado com a língua para fora.
"Dour Dour", latiu o cão.
Souto deu de ombros.
Jill apenas deu um sorriso sem mostrar os dentes.
"Vejo que o pilantrinha finalmente irá nos deixar, boa viagem Beth, espero que no futuro ele se torne um pokémon muito forte", disse Magnólia enquanto segurava seu Mareep no colo.
"Cuide bem dele", disse Helena com a voz agridoce de alguém que quer se despedir de alguém há muito tempo conhecido.
"Que bom, eu acho. Mas a gente precisa ir", alertou Jill.
Beth subiu dentro do veículo. Houndour sentou em seu colo.
Os dois olhavam enquanto o Skarmory começava a levantar voo pelo céu azul e limpo daquele dia. Magnólia e Helena se tornavam miniaturas enquanto cada vez mais eles subiam de distância. Logo a fazenda começou a se tornar apenas um desenho á distância.
O vento soprava os cabelos ruivos de Beth. Houndour assistia toda a paisagem do alto enquanto conhecia o mundo fora de sua toca.
Seguiam em direção da estrada que levava à rota 38. O tapete de árvores e vegetação se intensificando a medida que se aproximavam de Ecruteak. À frente, o desejo de Beth era obter o Sino dos Espíritos e conseguir a sua segunda insígnia de ginásio.
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E esse foi o resultado da segunda interação da fic, espero que tenham gostado \0/
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