42. A Angústia de Jasmine
Enquanto Beth caminhava, ela pensou em tentar puxar assunto com o garoto que acabara de conhecer, até se dar conta de que não sabia o seu nome.
"Ei... sem querer parecer intrometida mas acho que você não me disse seu nome."
O garoto parou e a fitou.
"Eh, é mesmo. Desculpa eu sou um pouco estranha esquecido mesmo. Me chamo Souto e sou da cidade de Blackthorn, então não conheço bem essas bandas."
"Sou Beth e vim de New Bark. Também estou meio que perdida, confesso. Nunca viajei pra tão longe durante toda a minha vida e mesmo olhando no mapa às vezes acabo me perdendo."
"Está ansiosa para a batalha de ginásio?"
"Sim! Apesar de estar com um pouco de frio na barriga, mas isso é normal, eu acho..."
"Nem me fala. Essa já é minha quarta batalha de ginásio e mesmo assim ainda tremo um pouco quando sou chamado para desafiar um líder de ginásio."
Então ele já enfrentou outros líderes antes, pensou ela.
"Quantas insígnias você já conseguiu?"
Ele pegou as insígnias de um estojo de sua mochila e a mostrou.
" Três. A de Blackthorn, Mahogany e Ecruteak respectivamente."
"Wow", soltou Beth. Olhar aqueles emblemas a fez até ter um pouco de vergonha do fato de até aquele momento ela ter apenas uma.
"E você?", ele perguntou.
Beth quase tropeçou enquanto andava mas logo recuperou a pose.
"Só uma, a de Goldenrod... Eu sei que ainda estou muito atrás, mas quero correr atrás do prejuízo e compensar o tempo que levei pra conseguir vencer meu primeiro ginásio."
Ele deu de ombros. "Bom, você ainda tem um bom tempo pra coletar o resto considerando que o prazo para inscrição na liga só se encerra no fim do ano", disse ele. "Apesar do que no momento mais me preocupa é esse ginásio, já que estou em desvantagem..."
"Desvantagem?"
"Bom, acho esqueci novamente de falar alguma coisa. Sou um especialista em pokémon do tipo normal. Metálico resiste a normal, logo terei dificuldade em encontrar uma estratégia pra derrotar a Jasmine."
Especialista em tipos normais?
Para ela não fazia nenhum sentido alguém ser especialista naquele tipo, já que normal não tinha vantagem a nenhum outro tipo.
Do contrário, apenas tinha fraqueza a lutador e imunidade à fantasma. Além do fato de pokémon do tipo normal não ser considerada lá um dos melhores para se ter em uma equipe competitiva.
"Eu sei o que você está pensando. Por que ele é especialista justo em tipo normal? Bom, é que desde que eu era criança sempre tive uma espécie de identificação com o tipo."
"Você sabe, mesmo sendo um pokémon sem atrativos do ponto de vista competitivo, mas se você se esforçar em superar as adversidades você pode mostrar ao mundo que, às vezes, o seu interior é capaz de enfrentar as adversidades do mundo", disse ele contemplativo e com brilho nos olhos. "É por isso que meu sonho é um dia batalhar contra a minha maior inspiração de vida, a maior treinadora de tipos normais do mundo inteiro, Whitney!"
Beth percebeu que seus sonhos eram parecidos, apenas removendo o fato de que seu ídolo era o campeão da região, enquanto a dele era um membro da elite dos quatro.
Enquanto conversavam mal perceberam que tempo passara voando e logo chegaram perto de uma grande construção que só poderia significar uma coisa: estavam perto do ginásio. Ao chegar na frente do edifício, adentraram os portões e chegaram em uma espécie padrão de recepção aonde as batalhas de costumavam ser agendadas.
Na recepção havia uma mulher folheando uma revista de moda, aparentemente entediada.
Os dois caminharam em direção dela e pararam.
"Oi. Ainda estão agendando batalhas?", perguntou Souto.
A mulher olhou para os dois e revirou os olhos.
"Ninguém merece, mais deles. Não estará acontecendo por agora, e por um bom tempo, eu acho", falou ela com um pouco de sarcasmo na voz. Seu olhar transparecia a sua falta de apreço pelo trabalho. "Nossa líder de ginásio está em luta devido a perda de um ente querido, ou seja, aquele Ampharos mimado e moribundo que apenas estava com os dias contados. Até a nossa dramática senhorita superar a sua perda não estará acontecendo nenhuma batalha. "
"Espera aí... o que você quiz dizer com por um bom tempo."
A mulher riu.
"Pelo visto vocês não conhecem a nossa sensível e delicada líder de ginásio. Quando se trata de seus pokémons, Jasmine é um pouco emocionada demais. Acredita que uma vez ela parou de aceitar batalhas de ginásio por um mês inteiro porque o seu querido Ampharos ficou doente? Não que fosse alguma novidade já que aquele pokémon vivia enfermo. Bom, o fato é que dessa vez o bicho bateu as notas definitivamente. "
Um mês!?
Ela não tinha aquele tempo todo pra esperar.
"Não posso esperar esse tempo todo! Tenho que conseguir todas as insígnias a tempo de participar da liga pokémon."
"Sinto muito, não posso fazer nada." Ela voltou a olhar para sua revista e ignorar a presença dos dois.
Beth olhou para Souto que apenas deu de ombros.
Quando ia virar para dar as costas a mulher disse, ainda sem olhar para eles: "Se quiser tentar a sorte você pode visitar Jasmine naquele farol em que ela vive entocada. Bom, pelo ao menos isso funcionou com o nosso jovem campeão Gold."
O farol.
Beth olhou para Souto que apenas acenou com a cabeça.
"Vamos lá", disse ele.
Assim os dois saíram do ginásio e partiram em direção do próximo destino.
⏰⏰⏰
"Eu não aguento mais!", reclamou Beth após subir aquele que parecia ser a centésima escada.
Souto a seu lado ofegava, cansado. "Bom, olhou pra lá!". Ele apontou pra frente.
Os últimos lances de escadas davam em uma recinto iluminado por luz solar. As brisas desciam as escadas em espiral e refrescava o corpo deles.
Chegaram no topo. Localizado ali, logo acima, estava o projetor de luz apagado. Embaixo havia uma espécie de sala. Uma cama com lençóis bagunçados e uma cadeira aonde, no momento, sentava uma mulher de cabelos rosas.
Uma enfermeira Joy sentava em uma cadeira ao lado da cama, reflexiva. Beth também reparou que havia um caixão logo à frente, algo que enviou arrepios pela sua espinha.
A mulher notou a presença deles.
"Oh, desculpe por não ter notado vocês. Jasmine está logo ali. Imagino que desejem falar com ela, mas vou logo avisando que ela está passando por momentos difíceis."
Ela apontou para uma um corredor exterior do farol.
Beth acenou com a cabeça.
"Obrigado."
Os dois seguiriam pelo corredor. Antes de ir adiante, Beth deu uma olhada para trás e viu que, na sua frente, o caixão era coberto por um vidro onde se era possível avistar um pokémon de olhos fechados.
Morto, pensou ela, lembrando do que a mulher do ginásio havia dito.
Olhou para frente tentando apagar a imagem de sua mente.
Chegaram em um corredor externo do farol onde se era possível ter a vista do mar no horizonte e boa parte da cidade de Olivine.
Uma jovem de vestido azulado e jaqueta branca, enlaçada com um laço vermelho. Seus cabelos castanhos eram soprados pelo vento enquanto ela olhava para o horizonte azul.
Beth olhou para Souto sem saber o que falar.
"O que eu digo?", perguntou.
"Sei lá", respondeu ele.
Olhou para o rosto pálido da jovem mulher, avermelhado em sinal de que já havia derramado uma grande quantidade de lágrimas.
"Jasmine, eu...", Beth ia falar algo quando Jasmine a interrompeu.
"Qual o sentido de viver se um dia todos irão morrer."
Beth não tinha resposta para aquilo.
"Eu não sei mas..."
"Nada faz sentido. Se nada no mundo pode ser eterno então qual o sentido de toda essa existência? Não quero viver em um mundo onde Amphy não tenha o direito de viver."
"Eu... "
Jasmine se calou ainda olhando para o horizonte como se buscasse algo.
Beth deu às costas.
Souto logo a indagou: "E aí?"
Beth deu de ombros. "Acho que, sinceramente, nada que eu disser vá fazer alguma diferença."
Os dois deixaram Jasmine em sua solitude.
Voltaram para o recinto anterior.
Joy olhou para ele e perguntou: "E aí? Conseguiram algo."
Beth fez sinal de negativo com a cabeça.
"Como eu imaginava. Está sendo bem difícil para Jasmine superar o trauma de ver um ente tão próximo ser perdido. Imagina que ela sequer teve tempo de se despedir dele. Foi uma morte durante o sono, então não consigo nem imaginar o quanto tem sido doloroso para alguém tão sensível quanto Jasmine suportar tudo isso", explicou Joy. "Ela se recusa em enterrar e corpo e, como vocês podem perceber, já está começando a se deteriorar."
Beth olhou novamente o corpo no caixão, dessa vez percebendo o que a enfermeira estava dizendo. Sua pele começava a perder as cores e adquirir uma tonalidade escura.
"Infelizmente não podemos fazer nada, somos só treinadores preocupados em conseguir insígnias de ginásio", disse Souto, lamentando.
"Ah, ainda tem isso", disse Joy. "Realmente, não há nada que possamos fazer já que iniciativa deve partir da própria Jasmine. Não podemos a forçar a tomar decisões, mas ando preocupada. Ultimamente ela passa o dia inteiro admirando o nada, quando não está deitada nessa cama encardida, deprimida."
"Nossa, eu sinto muito por tudo isso", disse Beth. "Se pelo ao menos tivesse algo que eu pudesse fazer eu faria, juro."
A enfermeira Joy pareceu devanear enquanto encascutava algo na mente.
"Acho que a maior causa disso é o fato do Ampharos ter partido sem ter tempo de se despedir", disse ela, parecendo sugerir algo. "Se ao menos pudessemos contactar o seu espírito..."
Beth não sabia se ela estava falando sério, mas considerando a situação achava que não tinha outra opção.
"Sim. Mas isso é impossível, não é mesmo?"
"Na verdade..."
Ela só pode estar brincando, pensou Beth.
"Existe um boato da existência de um aterfato em Ecruteak. O sino espiritual. Segundo dizem o artefato é capaz de invocar espíritos que ainda não adentraram o plano espiritual e ainda vagam pelo nosso mundo."
"Isso é..."
Beth ia falar algo quando foi interrompida subitamente por Souto.
"Esse sino definitivamente existe. Vai por mim, eu já estive em Ecruteak, ou pelo ao menos o que restou da cidade, e posso garantir que todo tipo de bizarrice sobrenatural acontece lá."
Beth não sabia o que dizer. Apenas suspirou.
"Está bem. Digamos que esse sino teoricamente existe, Ecruteak fica a uma boa distância de Olivine. Se, hipoteticamente, nós formos atrás desse dito artefato misterioso, que nem sabemos se existe mesmo, como vamos chegar lá a tempo?"
Joy olhou pra eles, com um brilho de esperança nos olhos. "Isso você pode deixar comigo", disse ela com certeza em sua voz.
Eu só queria desafiar o ginásio e conseguir a insígnia, por que essas coisas só acontecem comigo?, pensou ela, já prevendo a enrascada a qual estava se metendo.
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Rip Amphy
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