4. A cidade das fragrâncias florais

"Rattata, Ataque Rápido!", ordenou o treinador.

O Rattata se lançou em um ataque rápido, sem dar chance para escape.

O Hoppip foi acertado e desmaiou.

"Hoppip... volte", Beth chamou o Pokémon para a pokébola. Mais uma decepção para sua lista.

"Agora o dinheiro prometido", cobrou o treinador.

Beth enfiou as mãos nos bolsos de sua bermuda. Não havia uma moeda sequer.

Estava em uma enrascada.

Tenho que fugir daqui o mais rápido possível.

"Claro, já vou pegar." Fez um movimento para abrir a mochila, então olhou para ele e abriu os olhos, tampando sua boca com a mão de forma dramática. "Aquilo é um Ho-Oh!?", exclamou, dramaticamente.

"Onde?"

Apontou para o céu.

O treinador olhou para cima, tentando enxergar na imensidão do céu azul.

"Não tem nada aqui..." Quando ele voltou a prestar atenção nela, Beth já estava à alguns metros de distância, correndo em alta velocidade.

Ele, enfim, percebeu que havia sido ludibriado.

Beth ouvira ele gritar às suas costas: "Pilantra, me dá o dinheiro que você apostou."

Ela acelerou a fuga até sumir de vista do planalto. Ao perceber que havia o deixado para trás e não estava sendo perseguida, voltou a caminhar normalmente.

"Não acredito que eu perdi quase todo meu dinheiro...", disse para si mesma.
Havia desafiado todos os treinadores que encontrara pela rota e perdera uma grande quantia de dinheiro apostando em batalhas. É claro que devia ter parado após a primeira derrota, mas aquela sensação a dizia que deveria batalhar o tanto quanto possível. Assim, ganharia mais experiência e conhecimento sobre as batalhas Pokémons.

E também era viciante.

O lado bom era que ao menos seu Hoppip havia aprendido os golpes Investida e Brisa das Fadas durante as batalhas. Para isso, teve que faze-lo esquecer o inútil golpe Respingo. Aprendera da pior forma que pokémons só se lembravam de executar até quatro golpes.

Pokémon inútil, pensou Beth. Já havia se arrependido de ter capturado aquele Hoppip, na primeira oportunidade de o trocar não pensaria duas vezes.

Perdida em seus pensamentos, ela não percebera o cheiro adocicado que preenchia o ar.

Beth correu o tanto quanto podia e pôde avistar, de longe, a silhueta de várias construções amontoadas. A brisa do mar, mesmo de longe, não lhe era estranha. Estava perto de Cherrygrove.

Apressou o passo se dirigindo para a cidade, acompanhada pela brisa do mar costeiro que enviava cheiros de várias flores perfumadas pelor ar.
Parou perto da entrada da cidade.
Olhou para o lado. Existia uma placa com slogan "A cidade das fragrâncias florais" informando que já estava no território de Cherrygrove.

Ao andar pelas ruas da cidade, Beth percebeu os habitantes realizando suas atividades cotidianas e crianças correndo pelas vielas da cidadezinha, brincando. De repente, fora preenchida por memórias nostálgicas de New Bark.

Até o tamanho delas ajudava para a comparação, já que estavam mais para vilarejos do que cidades em si.

Como será que eles estão?, pensou na reação dos seus pais ao ler sua carta e descobrir que havia fugido. Certamente estavam furiosos e preocupados.

Ela parou em frente ao centro pokémon e entrou.

Alguns treinadores conversavam em voz alta, outros usavam os computadores dentro do centro para realizar transações. Andou em direção à bancada onde uma enfermeira Joy, trajando seu vestido rosa e seu chapéu com o símbolo do centro Pokémon, aguardava o atendimento.

"Bom dia, é uma prazer a receber em nosso centro Pokémon, em que posso ajudá-la?", falou Joy.

Beth pegou sua pokébola e a entregou.

"Meu Hoppip está bastante cansado de tanto batalhar, você poderia cuidar dele?"

"É claro". Ela pegou sua pokébola e colocou em uma máquina que havia no centro. "Só aguarde alguns instantes."
Beth olhou para o grande salão do centro Pokémon, se sentindo meio deslocada no meio daquele tanto de gente.

Identificou uma poltrona vazia e fora se sentar. Em seguida, abriu sua mochila e pegou sua carteira para ver quanto dinheiro restava.

"Só 12 dollars", disse após colocar todo o conteúdo na mão. Aquilo não daria para pagar sequer uma hora em uma hospedaria. Pelo visto, teria que dormir no chão de algum lugar novamente.

Uma menina loira entrou no centro Pokémon e fora se sentar ao seu lado. Usava um vestido branco-rosado e carregava uma bolsa de braço consigo.

"Faísca, eu já disse para você não tirar o laço que eu coloquei", disse a menina lutando para colocar um laço rosa em seu Cyndaquil que claramente não gostava da ideia.

Ela reconheceu a menina. Era uma das treinadoras que vira no laboratório de Elm.

Ela pareceu ler seu pensamento pois a fitou.

"Oi."

"Oi."

"Você é uma treinadora iniciante ou veterana?"

"Iniciante."

"Ah, você sabe, eu também sou! É muito difícil encontrar garotas treinadoras por ai, meu avô mesmo me disse que minha mãe...", ela falava mas

Beth parara de prestar atenção com tédio escancarado em seus olhos.
Bocejou enquanto ouvia ela falar.

"...Ah nem me apresentei, meu nome é Malli"

"Eu já sei..." Percebera que havia falado demais.

"De onde você me conhece?"

Beth olhou para os lados, pensando em um argumento.

"Eu disse que conhecia? Eu queria dizer que... que... Já ouvi esse nome em algum lugar, é isso!", tentou disfarçar.

"Esse não é um nome muito comum...", havia dúvida em sua voz. "Mas voltando ao assunto, eu dizia que eu não sabia quase nada sobre o mundo Pokémon porque, como eu já disse, passei minha vida inteira morando em uma ilha isolada na costa de Cherrygrove com meu avô e avó..."

Beth não estava prestando atenção na conversa então se surpreendeu com a menção da ilha.

"Seu avô mora aqui perto?"

"Sim, em uma ilhazinha na costa da cidade."

Beth começou a ver uma oportunidade para arrumar um lugar para ficar. Só teria que se tornar amiga da garota. Mas isso seria uma tarefa árdua, pois ela já havia percebido que ela era um saco.

"Eu adoraria conhecer o lugar."

A enfermeira Joy a chamou informando que a restauração de seu pokémon estava completa.

Levantou-se e fora pegar a pokébola.
"Volte sempre!", disse Joy sorrindo.

Ela quer que meu pokémon morra por acaso?

Beth guardou sua pokébola na mochila.

Esperou Malli entregar seu Cyndaquil para enfermeira Joy. A mulher disse que não havia nada de errado com o Pokémon, mesmo com a insistência da menina. Malli desistiu e partiu com Beth em direção à orla marítima da cidade.

⏰⏰⏰

As duas adentraram no ponto em que cidade dava lugar à agua. Estreitando os olhos, Beth pôde ver a ilha que a garota falara. E ela não tinha mentido quando disse que era pequena.

Na verdade, minúscula.

Malli retirou uma pokébola de seus bolsos e a lançou.

"Vai, Lapras!"

O Lapras surgiu na água.

"Você tem um Lapras?", disse, espantada à menção do pokémon raro.

Lapras era um pokémon muito requisitado em Johto, devido ao seu potencial de uso como transporte. Ela ouvira falar na TV até que eles estavam em risco de extinção por causa disso.

"Sim, foi meu avô que me deu, mas ele é bem velho... O Pokémon que estou dizendo, mas meu avô também é."

As duas garotas subiram no Pokemon, uma de frente para outra. O Lapras começou a atravessar as águas brandas do mar.

"Calma Faísca." Malli tentava acalmar o Pokémon que se debatia nas suas mãos.

"Acho que não é uma boa ideia levar um pokémon do tipo fogo nas mãos quando nós estamos rodeadas de água", avisou Beth.

Na verdade é bem estúpido.

"Você acha?" Ela continuava tentando colocar o laço no pokémon. "Meu Faísca é tão fofinho, eu não quero que ele evolua nunca."

Que mala, pensou. Qual treinador não queria que seu Pokémon evoluísse? É a lógica simples, quanto mais forte melhor.

O Cyndaquil se agitou, fazendo com que o laço que estava amarrado em seu corpo caísse nas águas.

O laço caiu na água e afundou no fundo do oceano.

"Faísca, olha só o que você fez. Eu gastei uma grana naquele laço." ralhou Malli. Por fim, ela desistiu e chamou o pokémon de volta para dentro da pokébola.

Os ventos atingiram os cabelos de Beth, o fazendo balançar.

"E então... você já sabe que ginásio você vai enfrentar primeiro?", perguntou Beth enquanto olhava Cherrygrove ficar pequena nas costas do Lapras.

"Ainda não pensei, sabe, eu nem sei se quero ser uma treinadora pokémon... Meu avô quer que eu seja, e não quero decepcionar ele. Mas vendo os outros se animando vendo batalhas e ansiosos para viajar para outra cidade... Eu não consigo sentir a mesma coisa." Suas madeixas loiras eram sopradas pelos ventos. Seu olhar era melancólico.

Beth concordou com a cabeça.
Malli estava em uma situação parecida com a sua, só que inversa. Enquanto Beth queria ser uma treinadora, ela não tinha certeza se era isso que almejava ser.

Ela continuou: "Pedi para meu avô um tempo para pensar, só então tomaria minha decisão, mas eu já peguei meu pokémon inicial e ainda assim não tenho certeza...".

"Você já batalhou com alguém?"

"Ainda não..."

"Então é isso! Eu só tive certeza completa de que queria ser uma treinadora depois de batalhar usando um pokémon meu. A sensação é indescritível."

Malli permaneceu pensativa.

"Eu até cruzei com alguns treinadores e pokémons selvagens, mas não pensei em treinar."

"É isso que está faltando para você saber qual caminho seguir. E eu até já sei contra quem você pode batalhar para tirar essa dúvida."

"Com quem?"

"Comigo!"

Ela refletiu bem e pareceu chegar a uma conclusão.

"Então está bem."

As duas sorriram.

Beth olhou para as águas que balançavam conforme o Lapras atravessa o mar. A água era de um azul claro, quase cristalino. Enxergou pela água o contorno de Pokémons azuis e tentáculos.

Tentacool e Tentacruel.

Quando ela e seu pai costumavam pescar, sempre saiam prevenidos de casa. Era de conhecimento comum que as águas do mundo todo eram infectados por uma horda infinita de Tentacools e Tentacruels. Não importava se você estava em alto mar, ou um simples rio de água doce, sempre aquelas criaturas apareciam para atazanar a vida dos pescadores.

"Os Zubats do mar", costumava falar Carl quando avistavam os pokémons.
Em algumas situações, eles costumam atacar pescadores desavisados com seus golpes venenosos e mortais. Era por causa disso que sempre levavam vários repelentes consigo durante os períodos de pesca.

"Eles não atacam?", perguntou.

"Não precisa se preocupar, eles não atacam o Lapras. No entanto, se não estivéssemos em cima dele eles não pensariam duas vezes...", disse Malli ao notar ela olhando as águas. "Meu avô já é conhecido pelos Pokémons dessa área, eles nem se atreveriam a causar mal a qualquer um relacionado a ele."

Beth voltou a olhar as águas.

"Quais pokémons existem aqui?"

Lembrou do canal em que pescava em New Bark. Também existiam outros tipos de pokémon nas águas, mas esses eram espertos o suficiente para escapar das redes e anzóis, então só restavam Magikarps para serem pescados.

"Tentacool, Tentacruel, Magikarp, Krabby, Kingler, Staryu..."

Beth avistou uma sombra gigante se levantar e olhar diretamente com seus olhos vermelhos para sua direção. Seu corpo possuía escamas azuis, e estava encoberto por uma estranha neblina escura.

"Gy-Gy-Gyarados", gaguejou ao avistar o Pokémon.

"Não, não existem Gyarados por aqui", respondeu Malli.

Tremendo, Beth apontou para frente.

O Lapras havia parado sua rota. Malli virou para frente e, ao avistar o titã aquático, seu queixo caiu.

"Isso é impossível, não deveriam existir Gyarados por aqui..."

O Gyarados levantou seu longo rabo de serpente marinha. Em seguida, desceu com todas as forças em direção ao pobre Lapras que não tivera tempo para desviar.

As duas foram lançadas na água, à mercê da própria sorte.

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