32. Bolo de Chocolate

A brisa leve da tarde soprava as folhas das árvores, as quais insistiam em cair exatamente no cabelo de Malli.

Ela retirou a folha de sua cabeça e a jogou no chão.

"Você quer mais chá?", perguntou ela para a garota em sua frente.
Ela confirmou com a cabeça.

"Quero sim." 

Malli pegou a garrafa térmica de dentro da cesta e a retirou. Abriu e despejou o líquido morno na xícara de Alana. 

Ao repousar na xícara, a água soltara fumaça, indicando que ainda não esfriara por completo. 

"Obrigado", agradeceu Alana, após beber um gole da bebida. "Então, como eu ia dizendo..."
Malli observava a grande torre de longe, a qual se mexia para o lado e para o outro, como se fosse feita de borracha.

 A Torre Bellsprout. 

Através dos campos gramados, seu Marill e Cyndaquil corriam pelos campos, livres. Acompanhados deles estavam os pokémons de Alana, Sentret e Wooper. 

Malli achava incrível como os pokémons podiam ter personalidades e naturezas tão diferentes. Seu Faísca era marrento e não gostava muito de carinho. Todos os acessórios que havia comprado para ele haviam sido perdidos ou queimados pelas suas chamas. Sr. Bolotas, pelo contrário, amava os laços os quais ela comprava, e também adorava comer berries como se não houvesse amanhã. 

Ela sabia que existiam pessoas que achavam vergonhoso e ridículo dar nomes aos seus pokémons, mas Malli não ligava para a opinião dos outros. Daquela forma, sentia como se criasse uma espécie vínculo com seus pokémons.

Ela vira um grupo de Butterfree voar pelos céus, despejando na terra seus pólens fertilizadores. 
O cheiro doce chegou a sua narina. 

"Você não está prestando atenção no que eu tô dizendo, não é mesmo", a voz a despertou do devaneio. 

Olhou para Alana com a sua cara marrenta. 

Malli conhecia a garota apenas há alguns dias, mas já conseguia ler a suas linhas como se fossem amigas de infância. Esse sempre fora um dom seu. Não sabia o porquê, mas ela tinha aquela habilidade desde sempre. 

Com um simples olhar conseguia identificar se alguém estava triste, feliz, cansado, mentindo, e todo e qualquer tipo de emoção imaginável. Ao mesmo tempo que aquilo era impressionante também era assustador. Às vezes, ela desejava que simplesmente não soubesse qual era a emoção sentida por alguém. 

A mentira, às vezes, é mais confortante do que a verdade. 

"É claro que eu estava...", mentiu Malli. 

A verdade é que não fazia a menor ideia sobre o que a garota estava falando. 

"Ah, é mesmo?", perguntou ela, sorrindo. "Então sobre o que eu estava falando..."

Malli fitou o macacão vestido pela garota, analisando em sua mente. Encontrara a resposta.

"Concursos Pokémon." 

"Certo, e o que são coordenadores?" 

Malli deu de ombros. 

"Okay, eu me perdi um pouco, mas não era porque a conversa tava chata...", respondeu, sinceramente. "Apenas estou nervosa para minha batalha contra o Falkner." 

Ela segurou suas mãos. 
"Tenho certeza que tudo dará certo", confortou ela. 

Malli apertou a mão dela. As duas soltaram. 
"Bom, como eu ia dizendo... Se não prestar atenção dessa vez vou matar você." Malli riu. "Como eu estava explicando, Concursos Pokémons são espetáculos onde os competidores, chamados de coordenadores, criam perfomances juntos com seus Pokémons e competem uns com os outros pelas fitas que são, tipo, uma versão mais glamurosa de uma insígnia de ginásio", disse ela. "Antes de chegarem em Johto os concursos já faziam o maior sucesso em Hoenn e Sinnoh." 

Malli bebeu um pouco de chá da sua xícara. Em seguida, cortou uma fatia de bolo de chocolate com a faca e colocou em um pratinho.

"Acho que entendi...", disse, antes de colocar o pedaço de bolo na boca. Mastigou. 

Apesar de ter passado a sua vida inteira trancafiada em uma ilha e longe da civilização, sendo, como os outros diriam, uma caipira, Malli não era burra. 

 "Só não sei o porquê de você insistir tanto nessa conversa justamente comigo."

"Achei que estava óbvio. Você é fofa, bonita e determinada, logo, é uma perfeita candidata para ser uma coordenadora pokémon." 

Malli riu tanto que temeu ter espirrado creme de chocolate pelo seu nariz.

"Eu? Determinada?"

"Sim, você. Para partir em uma jornada pokémon e enfrentar os líderes de ginásio você tem que ter muita determinação e força de vontade."

Quem vai avisar pra ela?, pensou Malli.

Malli apenas saira de sua casa por pressão de seus avós, que esperavam que ela partisse em sua jornada em busca de um sonho Porém, aquele era o problema. Ela não tinha nenhum sonho ou ambição.

Diferente de Beth, a garota que conhecera há pouco tempo em Cherrygrove e possuía a verdadeira determinação de uma treinadora pokémon.

Nem em batalhas ela era boa. Tentara batalhar contra pokémons selvagens, porém, acabou perdendo feio para a maioria deles. Apenas conseguira capturar o seu Marill, o qual ela suspeitou ter aceitado ter sido capturado apenas para ter algo para comer.

"Confio no seu potencial, Malli. Eu e um grupo de coordenadores estamos organizando uma caravana a caminho de Olivine. Você sabe, é muito mais barato e seguro viajar em bando do que sozinha."

"Olivine?"

"Sim. Estão rolando boatos que já estão sendo feitos os preparativos para o começo da temporada de Concursos Pokémons. Olivine é uma das cidades de Johto que possuí um salão de competições."

"E o que seriam Salões de Competições?"

Alana suspirou.

"São grandes estruturas criadas para serem sedes das competições. É tipo um ginásio para coordenadores."

"Tá bom... e quais o propósito de coletar essas fitas? Quero dizer..."

"O coordenador que conseguir três fitas de Salões de Competições são classificados para o grande festival, onde apenas os mais habilidosos performistas disputam para ganharem o troféu e se tornarem top coordenadores."

Malli terminou de comer o pedaço de bolo e colocara o prato em cima do pano do piquenique. 

"Parece legal... Agora me conta um pouco mais sobre como são essas perfomances."

Alana se animou, percebendo que finalmente havia fisgado o interesse da treinadora.

As duas passaram todo o resto de tarde conversando sobre o assunto.

✳️✳️✳️

A batalha não estava indo nem um pouco boa para Malli.
Seu Cyndaquil já estava cansado de desviar dos ataques do Pidgeotto. E, para completar, não havia acertado muitos golpes no adversário.

"Faísca, Brasas!", ordenou Malli novamente.

O pequeno rato acentiu e disparou pela sua boca fagulhas de chamas em direção do pássaro.
O Pidgeotto fora mais rápido e desviara do ataque.

"Contra ataque com Bicada." Falkner deu o comando e o passaro partira voando pelo alto do ginásio, com seu bico brilhando.

Malli não era muito boa em batalhas, mas sabia que o próximo golpe que seu Cyndaquil recebesse seria fatal.

"Faísca, Cortina de Fumaça."

O Cyndaquil invocara no campo uma espessa cortina de fumaça escura, a qual escondia a sua presença.

Falkner apenas sorriu.

"Rajada de Vento."

Em um balançar de asas o Pidgeotto enviara uma rajada de ar em direção do Cyndaquil, dissipando a cobertura.

Acabou, pensou ela.

O Pidgeotto descera do ar e acertara o Cyndaquil com sua Bicada.

Após sofrer o dano do golpe, o Cyndaquil desmaiou.

De alguma forma Malli já esperava que aquela batalha acabaria daquele jeito.

O juiz levantou a bandeira vermelha.

"Cyndaquil está fora de combate, declaro Falkner como vencedor." Em seguida, gritou para a aglomeração de treinadores assistindo a batalha da arquibancada. "PRÓXIMO, Trant Robson!"

Um garoto começou a descer as escadas do ginásio e se encaminhou para a arena.
Malli chamara seu Cyndaquil de volta para a pokébola. "Volte." Guardou em sua bolsa de braço e caminhou para o portão de saída do ginásio.

"Boa sorte...", falou ela para o treinador antes de sair de sua posição na arena.

Enquanto caminhava para fora da arena, ouviu o juiz oficializar a batalha seguinte. "Que comece a batalha."

Ao deixar a estrutura, ela caminhara pelas ruas da cidade, perdida em seus pensamentos.
Aonde eu vou agora?

Ela poderia ir ao centro pokémon pedir para a enfermeira Joy cuidar do seu Cyndaquil. Não que ele estivesse muito machucado – ela acreditava que um simples revive recuperaria a sua saúde complemente, mas ela gostava da sensação de adentrar um centro e entregar os seus pokémons aos cuidados de um profissional.

Ou podia ir até a hospedaria aonde estava instalada na cidade, trancar-se no seu quarto e dar uma soneca.

Porém, a vontade que possuía naquele momengo era de continuar caminhando aleatoriamente, até seus pés falharem.

Ela escolheu a última opção.
Os seus pés já estavam formando alguns calos quando Malli chegou em algum lugar qualquer.

Aonde eu estou?

Deveria ser algum distrito qualquer da cidade.

Continuou andando.

O que eu estou fazendo da minha vida?

Havia tido a sua primeira batalha de ginásio oficial e ainda assim não conseguia sentir a determinação para ser uma treinadora fluir pelas suas veias.

A verdade é que durante toda a batalha ela sentira como se estivesse em piloto automático.
As ordens saiam da sua boca, porém, era como se outra pessoa estivesse falando no lugar dela.

Quase como se estivesse assistindo de longe tudo acontecer, enquanto se esforçava para manter seu interesse na cena a sua frente.

E aquilo a assustava.

Malli nunca na vida havia se sentido daquele jeito. Nem quando seu avô precisara ser internado em um hospital e correu risco de morte. Nem quando fora envenenada por um Tentacool enquanto pegava um pouco de água do mar para dar banho nos Nidorans da ilha aonde morava. Nem quando...

Meus pais morreram.

"MALLI", um grito a despertou do transe.

Ela virou para trás e vira Alana correr atrás dela.

Ela parou em sua frente. "Como foi a batalha de ginásio?"

Ela carregava consigo sacos com verduras. Seus cabelos morenos estavam presos em um coque. 
Malli mexeu a cabeça em negação.

"Nada bom."

Alana ficou condolente ao ouvir sua reposta. "Que merda." Ela tocou seu ombro. "Eu sinto muito."
Malli controlou-se para não desabafar na frente dela.

Não posso ser fraca!

"O que você está fazendo aqui?", perguntou ela.

Malli riu.

"Na verdade, nem eu sei. Apenas sai andando por aí sem saber para onde ia."

"Vamos lá em casa."

"Você mora aqui por perto? Que coincidência."

"Eu moro logo ali."

Ela apontou em direção de uma casa com um jardim em sua frente.

Malli a seguiu e as duas caminharam em direção da residência.

"Alana, você já foi comprar as verduras que eu pedi?", falou a mãe de Alana pela janela, ao ver ela adentrar o quintal da casa.

"Comprei sim."

Ela entregou as sacolas para sua mãe.

"Quem é essa?", perguntou a mulher ao repousar os olhos em Malli.

"Essa é a Malli. É uma amiga que conheci há pouco tempo."

Malli sorriu e apresentou-se.

"Me chamo Malli, é um prazer conhecer-lá."

A mulher riu.

"É educada e delicada, diferente dessa minha filhinha que tanto amo." A mulher passou a mão em seus cabelos loiros.

Alana fez uma careta.

"Sinta-se em casa."

"Obrigado, adorei o seu jardim. É lindo."

Após o elogio, as duas se dirigiram ao jardim da casa.

O Sentret e o Wooper brincavam pelo quintal.

As duas deitaram na grama fofa do jardim e admiraram o céu azulado.

"Olha só o que minha mãe comprou." 

Alana mostrou uma pokébola para Malli. "Ela finalmente conseguiu juntar dinheiro para comprar uma pokébola. Ainda to pensando em qual deles dois eu vou usar ela."

Ela olhou para os dois Pokémons correndo pelo quintal, em dúvida.

"Também vou precisar de selos de pokébola... mas eles não vendem aqui em Violet."

Malli não fazia a menor ideia do que seriam selos de pokébola. 

"Só uma?", perguntou Malli, em dúvida.

"Sim... nós só temos dinheiro para comprar uma. Quando eu conseguir juntar o suficiente comprarei outra."

Malli teve um choque de realidade.

Às vezes, esquecia que nem todos os habitantes de Johto tinham a mesma condição financeira. De certa forma, ela era privilegiada.

Preciso tomar cuidado com a minha poupança, pensou ela.

Aquele dinheiro que seus avós haviam juntado para que partisse em sua jornada não poderia ser desperdiçado. Não depois de todo o esforço deles para que ela conseguisse o suficiente para suprir todas as suas necessidades.
Malli olhou para o seu.

Um bando de Hoppip aparecera no céu azul, planando.
Subitamente, Malli lembrou de sua amiga Beth.

Onde ela está agora?

Imaginou em que cidade ela estaria no momento.
Alana levantou do chão, animada.

"Preciso da sua opinião!", falou ela.
Malli franziu as sobrancelhas.
"Sobre o que?"
"Estava praticando a minha performance para utilizar no concurso de Olivine. Preciso de seu opinião se está boa o suficiente ou não..."

De novo estavam naquela conversa.
Malli balançou a cabeça em concordância.

A garota ficara em pé. Malli sentou no chão com as pernas cruzadas.

A garota chamou a atenção de seus dois pokémons, em seguida, os três estavam posicionados para a perfomance.

Alana começou a fingir uma apresentação. "Um bom dia a todos e todas. Público, jurados, agradeço a todos que dedicaram o seu tempo para assistir a essa performance feita com muito amor e carinho."

A garota lançou um beijo no ar.
Malli se concentrou para não cair na gargalhada.

"Sentret, agora!"

O Sentret usara sua longa cauda e dara um salto, fazendo uma manobra no ar. 

"Wooper, Jato de Água!"

O Wooper lançara a corrente de água em direção do Sentret, o qual partia para o alto, impulsionado pela sua cauda. 
"Sentret, Golpes de Fúria."

O Sentret partira em direção do Jato de Água do Wooper, usando as suas garras para recortar a água, a lançando por todo o lado como se fosse uma chuva de verão. 

As gotas de água caíram por todo o lado, molhando o rosto de Malli.

O Sentret pousara no chão, fazendo uma pose fofa.

"E ai, o que achou?" 

Malli não soube como as lágrimas começaram a descer de seus olhos e molharem seu vestido.
Havia feito esforço, porém, a torneira fora ligada.

"Isso foi... fantástico", disse Malli, emocionada.

Alana a olhou, preocupada.

"Você está chorando... tem certeza que tá tudo bem?"

Malli limpou as lágrimas de seus olhos.

"É só que... por que tudo é tão difícil?", disse ela. "Por que eu tenho que tomar decisões, ter ambição, seguir algum caminho... eu não posso apenas ser eu mesma?"

Naquele momento Malli apenas desejava ser criança novamente. Não precisaria se preocupar com aquelas questões, muito menos tomar decisões por si mesma.
Alana foi consolar ela.

"Você não precisa ter uma ambição. Mas é sempre bom ter uma. Sabe, faz parte do crescimento e do amadurecimento. É graças aos seus sonhos que a vida faz sentido de ser vivida."

Então era isso?, pensou Malli. O motivo de todos aqueles sentimentos conflitantes dentro de si era porque não queria crescer?

Ela criara uma bolha ao redor de si. Porém, agora percebia. Precisava fura-lá para que pudesse amadurecer.

Ninguém é criança pra sempre.

"Você tem razão", respondeu com os ânimos revigorados. Sua voz dava a sensação de confiança. "Eu já decidi, vou pra Olivine com seu grupo!" Ela sorriu.

Alana sorriu de ponta a ponta.

"Eu sabia que conseguiria convencer você. Não se preocupe, pois a experiência de participar de um Concurso Pokémon não é, nem um pouco, tão traumatizante se comparada as de batalhas de ginásio."

Alana começou a explicar para ela todos os pormenores os quais não havia falado durante o piquenique do dia anterior.
Malli prestava atenção.

Uma coordenadora pokémon... quem sabe.

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Ohaio. Nesse cap tivemos a volta da best girl Malli. Com certeza muitos momentos emocionantes e de fazer chorar T-T. Agora tô animado com o fato de ela poder ser uma coordenadora pokémon, será que tudo vai dar certo? Só acompanhando pra saber... 

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