Ao seu lado, a batalha dos dois garotos prosseguia.

"Cauda do Dragão. Cauda do Dragão, Cauda do Dragão...", ordenava Harold suscetívamente.

O dragão acertava o chão com a sua cauda ferozmente, com o intuito de arrancar o Totodile dela. O Pokémon, porém, continuava com seus dentes cravados na pele do outro, aguentando todas as pancadas e o impacto com o chão. O seu semblante já estava bastante abatido, quando, por fim, ele não aguentou mais e desabou no chão, extremamente machucado.

"Finalmente esse parasita largou", debochou Harold, rindo. "Ele só irá soltar quando eu mandar o escambau", zombou ele em uma imitação tosca da voz de Freddy. 
Freddy gritou, desperado: "TOTODILE!"

O Pokémon estava deitado no chão. Ao ouvir a voz do seu treinador, fez todo o esforço que podia para levantar.

"Sabe, eu tenho pena de treinadores como você. Filhinhos de papai que pensam saber como se faz para ser um treinador Pokémon. Uma pena que os seus pais não podem pagar uma coisa impossível de se conseguir com dinheiro. Talento."

Freddy abaixou a cabeça e ficou sombrio.

"Não diga que você vai chorar? Sério, se eu fosse você eu me matava, pois nem na próxima encarnação você conseguirá nascer com determinação o suficiente para se alto denominar um treinador Pokémon."

Beth notou que Freddy se controlava para não chorar ali na frente de todos.

"Ei cara, essa sua atitude foi a de um completo cuzão!", falou uma voz do meio das pessoas que assistiam a batalha.

"Idiota."
"Desgraçado."
Xingamentos começaram a partir de todo o lado.

Harold apenas sorriu.

"Meros normais como vocês nunca entenderiam a verdadeira arte da batalha", disse ele com os braços nas costas. "Patético."

Uivos foram soltados por alguns.

"Ei, Harold. Não é porque você é bonitinho que significa que vou deixar você humilhar ele assim", disse Dorothy, séria. "Só eu posso zoar meu primo." 

Freddy estava em silêncio, quando subitamente falou: "Você tem razão."

Harold olhou para ele e sorriu. "Viram, ele concorda comigo."

"Eu só perco. Sou um inútil, patético, fracote, covarde, seja lá como queira chamar." Ele levantou a sua cabeça, limpando as lágrimas. "Ninguém é perfeito, eu sei, mas eu estou trabalhando para isso. Desde o dia em que eu recebi o meu Totodile eu decidi que me tornaria um treinador pokémon e deixaria a minha zona de conforto."

Beth surpreendeu-se pelo tom de voz usado por Freddy. Por um momento, ele não parecia aquele garoto que chorava, gagueja e ficava vermelho em situações delicadas.

"Nunca menti sobre a minha condição financeira. E é justamente por causa dela que eu decidi esse caminho. Quero provar para todos que eu sou muito mais do que os meus pais representam. Vou provar para todo mundo que eu não dependo de dinheiro para alcançar meus sonhos. Essa será a minha ascensão!", discursou ele emocionado. "E eu não vou mais deixar ninguém me rebaixar."

O Totodile, talvez movido pelo discurso do garoto, encontrou as forças em seu corpo para levantar do chão.

Harold suspirou. "Esse parasita ainda tem forças para lutar? Apenas vai acabar passando vergonha." Ele pegou no seu cabelo e o repartiu ao meio. "Se é isso que você quer, isso terá. Me certificarei que esse Totodile aprenda uma lição e nunca mais tente bater de frente com os seus superiores."

O Totodile estava em posição de batalha, apenas esperando o comando do seu treinador.

"Não gosto de usar esse golpe... mas é a nossa única opção", disse Freddy, pensativo. 

"Dragonair, Twister", ordenou Harold. 

O dragão invocara um pequeno tornado na arena e lançara em direção do Totodile.

Os cabelos de Beth foram soprados pelos ventos violentos, tampando a sua cara. 

"Totodile, Fúria!"

O Totodile continuou na sua posição, sem fazer um movimento.

O que ele tá pensando..., pensou Beth. Seria aquela alguma forma de Kamikaze?

"Freddy-", Beth ia o alertar quando fora interrompida pelo mesmo.

"Confia em mim", disse ele, a olhando diretamente nos olhos.
Beth apenas deu de ombros.

O Twister acertara o Totodile e o lançara pelo ar através dos ventos fortes, o lançando no chão.

Beth não conseguia enxergar qual a lógica daquela estratégia.

O Totodile se levantou do chão.

"Beth, diga pro seu Tyrogue atacar o meu Totodile."

"Que", perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

"Acredite em mim", disse ele confiante.

Beth não teve outra alternativa a não ser acreditar nele.

O seu Tyrogue tentava golpear através do escudo do Sirfetch'd, quando ele ouviu a ordem: "Tyrogue, ataque o Totodile com Soco Projétil."

O Tyrogue ficou confuso por um momento, então, partiu em direção do Tododile com seu punho metalizado em forma de um soco. 

O golpe havia acertado o Totodile em cheio, porém, não fora muito efetivo.

Água resiste a Metálico, lembrou-se.

O Tododile começava a ser circundado por uma aura branca, a medida que a sua fúria aumentava a cada golpe acertado.

Entendi!

"Tyrogue, acerte ele novamente com Soco Projétil."

O Tyrogue, novamente, acertou outro soco no Tododile.

A energia do Totodile aumentava, a medida que seu poder crescia em proporção aos ataques.

Ouviu Harold gargalhar intensamente do outro lado.
"Ué, desistiram de tentar me derrotar e estão lutando entre si? Patético." Ele ficou sério. "Dragonair, Investida do Dragão."

Freddy sorriu sem mostrar os dentes. "Se eu fosse você eu não me subestimava. Existe um ditado que diz:  o bater de asas de um Butterfree pode causar um grande tufão. Totodile, agora, libere toda a sua Fúria!"

O Totodile acenou em compressão, então, partira em direção do Dragonair o qual disparava como um foguete em direção a ele.

Os dois se colidiram, porém, algo inacreditável acontecera. O Totodile fora o vencedor do embate, lançando o Dragonair para o alto com todo o seu poder.

O Dragonair caiu no chão, gemendo de dor.

"Filho da puta", irritou-se Harold. "Eu vou acabar com você. Dragonair, Cauda do Dragão!"

O Dragonair se recuperou da queda e lançara a sua longa cauda brilhante em direção do Tododile.

O Tododile, no entanto, apenas agarrara o membro do dragão, sem aparentar nenhum esforço.

"Totodile, revide com a sua Fúria!"

Em seguida, agarrou o membro do Dragonair e rodara ele, como se fosse uma roleta russa. O oponente foi lançado no chão com força, causando rachaduras nas paredes do túnel.

"Caraca, nunca vi tanto poder assim em um pokémon desse tamanho", falou algum impressionado do grupo de pessoas que assistia a batalha.

"DROGONAIR, LEVANTA DAI!", gritou Harold.
Dorothy e Beth assistiam tudo acontecer, mais interessadas na batalha dos seus companheiros do que as suas próprias.

O Dragonair fez um esforço para levantar do chão, dessa vez aparentando ferimentos graves.

"Enrolamento!", ordenou ele.
O dragão partira em direção do jacaré, dessa vez lançando toda a sua extensão do seu corpo para enrolar o Totodile.

O Totodile fora embrulhado pelo longo comprimento do Dragonair. Em seguida, estava sendo prensado pelas escamas do dragão, as quais o esmagavam com grande força.

Ele não aguentou muito e desmaiou.

"Não solte esse verme. Eu vou ensinar uma lição que ele nunca mais vai esquecer."

O Dragonair continuou prensando o Totodile.

"Já chega, ele já desmaiou", disse Dorothy, olhando para a cena lamentável.

Harold não ouviu ela.

"Cauda do Dragão. Vamos jogar pingue-pongue."
O Dragonair lançou o pokémon para o alto com a sua cauda. Em seguida, o aparou e lançou novamente para o alto, sucessivamente. O Totodile era lançado, inconsciente, para o lado e para o outro pelo ar, como uma bola de pingue-pongue.

"Para...", disse Freddy olhando seu pokémon ser acertado pelos golpes. "Para, para, para, PARA", gritou ele, chorando.

Uma movimentação começou a tomar conta do lugar. Beth vira todos os curiosos que estavam assistindo a batalha saírem correndo em alta velocidade, fugindo pelos túneis.

"O que...", indagou-se Beth. Então, viu. Do lado contrário do caminho ao qual tomavam vinham correndo um grupo de policiais. Eles carregavam cassetetes e portavam armas consigo.

Acompanhados deles, vinham dois Arcanine em grande velocidade.

Beth chamou seu Tyrogue de volta para a pokébola.

"Temos que vazar daqui, agora", avisou ela.

Os outros três olharam para a confusão e também notaram. 
"Droga", reclamou Harold.

"Dragonair, vem aqui."
O Dragonair saiu de sua posição de batalha, deixando o Totodile inconsciente no chão.

"Adios, perdedores." Harold subiu nas costas do dragão e saira rastejando em grande velocidade pelo caminho.

"Esse garoto é problemático...", disse Dorothy chamando seu Sirfetch'd de volta para pokébola. "Mas eu gosto disso. Sorry gente, vou ter que deixar vocês. Bye Bye."

Então, ela chamou seu Flygon para fora de uma pokébola e partira voando nas costas do dragão.

Beth olhara para trás e vira que os polícias já estavam perto.
Freddy chamou o Totodile de volta para pokébola.

"E agora, o que a gente faz?", perguntou ele, a fitando.
Beth só tinha uma resposta para aquela pergunta: "CORRE."

"É MELHOR VOCÊS CORREREM BANDO DE VAGABUNDOS. SE EU PEGAR VOCÊS VOU ME CERTIFICAR QUE NEM A FAMÍLIA DE VOCÊS RECONHECERÁ O QUE RESTOU", gritou um dos políciais pelas costas deles. 

Os dois começaram a correr, ao som dos latidos dos Arcanine que ecoavam pelos túneis subterrâneos de Goldenrod.

✳️✳️✳️

A enfermeira Joy fez uma careta quando a viu entrar no centro pokémon. 

Em seguida, caminhara em direção deles com os braços cruzados em consternação. 

"Você... Qual parte sobre não se meter em confusão exatamente não entendeu?" 

Beth sorriu, envergonhada. 

"Eu não estava metida em confusão..."

"Sério? Pois algo sobre o fato de estar andando na rua a essa hora da noite me diz exatamente o contrário", ralhou ela. 
Beth deu de ombros. 

"Não sou eu que vou atrás da confusão, é a confusão que vem atrás de mim",  respondeu, sinceramente. 

E não estava mentindo. O tanto de situações que aconteceram com ela desde o início de sua jornada a fazia acreditar que o mundo conspirava contra ela. Parecia até que era uma protagonista de uma daquelas séries de aventuras que passava constantemente na televisão. 

"Uhum, vou fingir que acredito", disse Joy. "O que querem aqui a essa hora?" 

"Nós queremos que você cure nossos pokémons, só isso." 
Ela franziu as sombrancelhas.
"Passem as pokébolas aqui."
Beth e Freddy entregaram as esferas para ela. Em seguida, sentaram em uma das poltronas do centro, enquanto aguardavam seus pokémons serem cuidados pela enfermaria Joy. 

Beth fitou Freddy que, no momento, estava estranhamente silencioso. 

Ela decidiu pegar sua DexGear para passar o tempo. Ligou na função de rádio do aparelho. 
Uma música tocava na estação principal. 

"Estou em pedaços, eu estou dividido

Eu ainda vejo seu rosto quando você não está por perto

Sento-me aqui na miséria se perguntando se algum dia serei

Metade do homem que você queria que eu fosse

Aqui eu flutuo no ar como uma cachoeira

Que eu desviar para o fundo como uma bala de canhão

Tendo dificuldade para respirar, de repente eu estou gritando

Por que não fui bom o suficiente

Mesmo sabendo que você não vai voltar

Eu não posso lavá-lo"

Ela achou a música auto depreciativa demais para o seu gosto. Mudou a estação de rádio. 

"Últimas notícias. Caminhão com berries exportadas de Sinnoh é roubado por criminosos. Motorista diz que foi parado no meio da estrada pelas Ruinas Sinjoh. Me deixaram apenas com as roupas de corpo, disse ele. 

Campeão Ethan Gold será um dos avaliadores da edição de verão do Concurso Pokémon de Johto. Será uma honra participar dessa competição, disse ele quando fora perguntado sobre o tópico em umq coletiva de imprensa. A edição será realizada nas cidades de Olivine, Mahogany e Cianwood e, como tradição, possui como convidados treinadores renomados. Para essa edição, já temos a confirmação dos seguintes nomes como jurados definitivos: Jasmine, Gold e Eusine. Atenção as datas coordenadores de toda a região, essa pode ser a sua chance de entrar na história como um top performista.

Caso do roubo do laboratório de Elm acaba ficando mais cabeludo. Após análise das fitas de vídeo..."

Beth desligou o aparelho na hora.
 

"Você concorda com o que ele disse?", ouviu a voz de Freddy. 

O pânico a tomou. "C-c-concordo com q-q-q-que?" 

"Com o que o Harold falou sobre mim." 

Beth suspirou de alívio. 

"Com que parte exatamente?" 

"Quando ele disse que eu sou sem talento e só estava roubando a vaga de alguém com determinação real de ser um treinador pokémon."

"Não", mentiu. "Não liga para o que aquele panaca falou. Eu já conheço o Harold de outras épocas, ele é assim com todo mundo."

Continuou: "Aliás acho até irônico o fato de ele ter chamado você de filhinho de papai sendo que ele é a pessoa mais entojada que eu conheci na vida. Quando eramos crianças, em New Bark, o grupo de amigos dele queria ditar quem eram os descolados e quais eram os pobretões. Como você deve imaginar, eu estava dentro do grupo dos excluídos pelo simples fato de ser pobre, então vivia sofrendo bullying dos coleguinhas dele."

"Que horrível..." 

"Apenas não liga pra o que ele diz."

A enfermeira Joy fora ao encontro deles com as duas pokébolas em uma bandeja. 

Ela entregou para eles.

"Seu Totodile estava muito machucado, o que aconteceu com ele?", perguntou ela para Freddy. 

Beth olhou seriamente para ele, tentando mandar o sinal para ficar calado.

"Nada não. Apenas batalhando demais contra pokémons selvagens."

Joy ficou cética. 

"Vou fingir que acredito. Não quero pagar de chata, mas, ao contrário do que as pessoas popularmente acreditam, pokémons não são imortais. Se fosse por isso não precisariam existir hospitais e cemitérios exclusivamente para eles", explicou ela. "A próxima vez que seu pokémon estiver bastante machucado se dirija ao centro pokémon o mais rapidamente possível. A demora mata, lembre-se disso." 

Beth bocejou de sono. 

Os dois saíram pela porta do cento pokémon e caminharam pelas ruas desertas de Goldenrod.
 

A cada hora que corria, Beth estava cada vez mais próxima de enfrentar a sua batalha de ginásio. 

~~~~~~~~~~~~~~

Eita, capítulo emocionante. Eu deixei várias dicas de alguns pontos que serão trabalhos nos próximos capítulos, desafio vocês a descobrir quais dicas foram deixadas no texto, valendo um bombom (mentira). No próximo capítulo teremos a volta de um personagem importante, então não deixe de acompanhar Pokémon Copper!