1. Magikarps saltitantes

Beth lançou novamente a isca da vara de pescar sobre às águas, dessa vez ela esperando conseguir algo além de botas velhas e pedregulhos. O anzol afundou, criando pequenas ondas marítimas.

"Sem sorte hoje hein, Beth", disse Carl irônico com um sorriso entre os lábios.
Ela olhou para o homem na canoa não muito longe dali. Com uma sobrancelha levantada e um sorriso falso, respondeu: "Isso é o que veremos".

Idiota.

Carl era o melhor amigo de seu pai. O homem quase sempre os acompanhava durante as pescas, porém, Beth nunca havia ido muito com a cara dele. E as suas piadas sem graça com certeza não colaboravam para a mudança de sua opinião em relação a ele.

Ela sentiu a linha da corda ser mordida. Começou a puxa-la com toda a força. Ao sair da água, preso ao anzol, estava um Magikarp se debatendo estupidamente.

"Isso ai Beth! Boa fisgada", acenou o seu pai ao lado da canoa.
Ela pegou o pokémon pelas barbatanas e o colocou na grande rede na qual outros Magikarps se debatiam em busca de ar.
"Acho que está bom por hoje. Melhor irmos indo logo antes que os Spearows e Pidgeys começarem a ciscar por aqui", avisou seu pai anunciando que haviam terminado a tarefa do dia.
Beth olhou para o céu.

Um grande Fearow sobrevoava o espaço, olhando com olhos desejosos os Pokémons presos na rede.
Ela havia passado grande parte da tarde fritando no calor infernal. Agora, o sol já começava a se despedir e dar lugar á lua. As nuvens ganhavam um fundo vermelho-alaranjado por entre a imensidão do céu.

Beth e seu pai começaram a remar, acompanhados ao lado pela canoa de Carl rumo à New Bark. Ao chegarem perto do solo, guardaram as canoas no porto e rumaram andando rumo à sua casa, carregando a rede com o resultado da pesca do dia.

New Bark era uma cidadezinha pequena, então Beth conhecia quase todos habitantes de cara. Dona Lucinda toda noite punha berries para seus Furrets de estimação comerem, Valcir passeava em sua bicicleta vendendo leite de Miltank. O professor Elm, desastrado como sempre, estava em seu laboratório fazendo pesquisas pokemón.

Era um lugar bem tranquilo para se viver... mas não para ela.

Seu sonho era se tornar uma treinadora e sair em uma jornada para capturar pokémons, batalhar contra lideres de ginásios e todas as outras coisas que treinadores Pokémon faziam. E não conseguiria realiza-lo se ficasse presa por toda a vida naquele fim de mundo.

Chegaram em sua humilde casa e entraram pela porta. O Growlithe de estimação saiu correndo na sala, pulando em cima de Beth e a lambendo. Sua mãe os esperava enxugando as mãos no seu avental.

"Olá querido", disse Estefania dando um beijo em Antony. "Beth, vejo que tiveram um dia bem lucrativo, a rede está cheia."

Ela olhava para a rede que carregavam consigo, agora cheia de Magikarps.

"Meu dia foi uma saco como sempre e, para completar, estou cheirando a Magikarp. Realmente, que dia lucrativo...", respondeu Beth, ironicamente. Ela jogou a rede no chão.

Seu pai a fitou com um olhar repreensor. "Mais respeito com sua mãe, mocinha. Você sabe muito bem que essa é a atividade essencial da nossa família. Todas gerações de nossa árvore genealógica consistiram de renomados pescadores, é graça a eles que hoje em dia você tem uma vida boa."

Vida boa não sei aonde, guardou aquilo para si mesma.

"O que tem de culto em passar o dia inteiro em uma canoa no sol esperando algum Pokémon morder a isca, e repetir a mesma coisa umas cem vezes?", respondeu já cheia daquela mesma conversa repetida inúmeras vezes.

"Pois deveria agradecer, é graças a isso que você tem o que comer e vestir. Você acha que faria o que mais da vida se não fosse a pesca? Com apenas quatorze anos e sem estudo, tenho certeza que sequer um PokéMart qualquer a aceitaria como funcionária..."

Ela mordeu os lábios.

Sua mãe olhava tudo, desolada. Ela já estava acostumada com aquela discussão, mas Beth percebia que doía profundamente nela.

Seu pai não esperou ela responder e logo falou: "Ah eu vejo, ainda está com aqueles sonhos bobos na cabeça de se tornar uma treinadora Pokémon?"

"Eu VOU ser uma treinadora Pokémon", respondeu irritada.

"É mesmo? Muito bem. Primeiramente você precisa de dinheiro para ter uma Pokédex, sem falar em vestes de treinadores, dinheiro para a alimentação e sua estadia em cidades, e claro, pokébolas". Seu pai elevou o tom de voz." Aonde você pretende arranjar tudo isso?".

Beth se controlava para não chorar.
Ela não entendia o porquê dele sempre fazer questão de a humilhar daquela forma.

"Isso mesmo, é bom você já se conformar com seu destino e passar a gostar na marra. Não fique alimentando fantasias infantis, apenas acabará machucada."

"Chega querido", disse sua mãe tentando apaziguar seu pai.
Beth saiu correndo, subindo as escadas e se trancando em seu quarto.
Ela deitou em sua cama e tapou o grito com o travesseiro.

"Eu com certeza vou ser uma treinadora Pokémon", sussurrou para si mesma.

Não era justo que os outros tivessem direito de partir em uma jornada enquanto ela apodrecia naquela cidade.

Olhou para o pôster na parede do seu quarto. Gold a fitava com aqueles seus olhos animados a lembrando que, se seu plano desse certo, em alguns dias estaria partindo em sua jornada pokémon.

Gold era o campeão da região de Johto. Ele era conhecido por ter derrotado o antigo treinador mais forte da região, Lance, ainda na época em que as elites da região Kanto e Johto eram unificadas. E também havia o boato que corria sobre ele derrotar o lendário treinador Red, mas aquilo não poderia confirmar.

Não vou deixar ninguém ficar no caminho do meu sonho.

Seu sonho era se tornar uma treinadora Pokémon e derrotar todos os líderes de ginásio para ter a oportunidade de batalhar com seu ídolo, porém para isso ainda teria muito caminho a ser andando. E não conseguiria alcançar isso se continuasse ali chorando.

Enxugou o rosto e desceu para jantar.

Quando chegou na sala de estar, seu pai e mãe interromperam a conversa que tinham. Certamente estavam falando sobre ela, pensou. Se sentou à mesa.

"Já está melhor, que bom", disse seu pai, sorrindo.

Beth retribuiu o sorriso.

"Eu pensei muito e você tem razão, pai. O meu futuro está nas águas e eu deveria sentir orgulho disso!" respondeu. Esboçava um sorriso que dizia o contrário daquilo que pensava.

A comida, para variar, era ensopado de Magikarp. Começou a comer pensando no que teria de fazer em poucos dias.

Vocês não perdem por esperar...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top